A dor fisica é causada por que

Coração acelerado, sensação de agitação e estado de alerta são algumas reações naturais do organismo diante de situações de risco ou em que se requer esforço mental ou físico. Mas quando intenso e constante, o estresse pode causar consequências que se contrapõem à sua função real.

Quando pontual e de curta duração, o estresse é considerado normal e até saudável, um instinto que nos ajuda a sobreviver ou ficar mais forte. Mas é preciso ficar atento, pois ele pode causar problemas físicos e emocionais. E é sobre isso que quero tratar aqui: vamos falar sobre o estresse, suas causas e consequências. No fim do artigo, ainda deixo dicas para mantê-lo sob controle. Acompanhe.

O que pode causar ou aumentar o estresse?

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), cerca de 90% da população mundial sofre de estresse crônico. Diante desse número, já dá para perceber que as chances de você também ser uma vítima do estresse são muito altas, certo?

Entre as causas dessa condição, posso destacar o ritmo de vida nos grandes centros urbanos, as exigências do trabalho, as responsabilidades e questões familiares. E não é só! A cultura da felicidade pelo consumo que domina a sociedade nos faz buscar sempre mais e mais. É uma corrida contra o tempo. Mais que isso, é uma corrida contra si mesmo.

Quais os sinais de que seu nível de estresse está alto?

Até pouco tempo atrás, o estresse era relacionado à impaciência, cansaço e até à grosseria. No entanto, hoje sabemos que não é bem assim. E engana-se quem pensa que trata-se apenas de um mal-estar mental. Sua recorrência costuma apresentar sinais emocionais e físicos, que merecem atenção. Confira os mais comuns:

  • Emocionais: irritabilidade e agressividade; ansiedade e desânimo, problemas de concentração, insônia e sensação de angústia e tristeza, e
  • Físicos: dor de cabeça e tonturas, problemas digestivos, queda de cabelo, alergias, baixa na imunidade, problemas respiratórios e halitose.

Esses sinais podem estar relacionados a outros problemas de saúde. Por essa razão, é importante contar com orientação especializada em um cuidado integrado.

O que o estresse pode causar no organismo?

A Medicina Funcional olha para o ser humano na totalidade, onde é impossível separar condições emocionais e psicológicas das físicas. Assim, o estresse é fator de risco para diversas patologias clínicas, principalmente as que afetam o coração, já que cada episódio de estresse gera alteração no ritmo cardíaco.

Por levar ao desequilíbrio orgânico, sobretudo hormonal, essa condição pode estar relacionada à ocorrência de uma infinidade de doenças, como ficou demonstrado em um estudo sobre as alterações fisiopatológicas associadas ao estresse.

Se convertida em números, a situação é alarmante. Somente no Brasil, a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo registra, todos os anos, cerca de 400 mil mortes por infarto, que tem, entre seus principais fatores de risco, o estresse. Outra doença que pode facilmente se desenvolver é a hipertensão, condição que acomete aproximadamente 30% dos brasileiros e mata mais de 10 milhões de pessoas por ano.

Quais as doenças causadas por estresse?

Como comentei há pouco, há evidências de que grande parte das doenças está intimamente ligada ao estresse crônico. Assim, há sérios riscos de desenvolver problemas psicológicos e físicos, além de doenças graves. Entre as que podem acometer pessoas excessivamente estressadas são:

  • acidente vascular cerebral;
  • colesterol alto;
  • diabetes;
  • úlcera;
  • transtornos alimentares, como anorexia;
  • depressão;
  • síndrome da fadiga crônica;
  • síndrome do cólon irritável, e
  • obesidade, e muitas outras.

Como aliviar o estresse no dia a dia?

Encontrar meios para evitar as doenças causadas pelo estresse pode parecer uma tarefa muito desafiadora. Para tanto, é preciso, antes de tudo, reduzir essa condição. Pensando nisso, preparei algumas dicas que podem ajudar muito nisso. Confira:

Reserve um tempo para si

Parece difícil para por alguns momentos sabendo de tantas coisas por resolver “lá fora”. Mas o descanso e o auto-cuidado são pontos fundamentais para se livrar do estresse. Dedique-se àquele hobby esquecido há tempos ou separe um tempo para, simplesmente, tomar um banho relaxante aproveitando o poder dos óleos essenciais. O importante é conseguir se desligar um pouco da correria e olhar para você mesmo.

Tenha uma vida social saudável

Os amigos — aqueles poucos e bons — são pessoas que ajudam a atravessar a rotina com mais suavidade, partilhando as conquistas e apreensões. Sempre que puder, crie encontros para conversar com amigos e familiares. Para isso, é sempre bom manter as conversas em assuntos mais animados e leves. Mas, se precisar desabafar, tudo bem… Amigos são para essas horas, também!

Mantenha a mente equilibrada

Essa dica parece simplória demais quando estamos falando sobre reduzir o estresse, não é? Mas, se é na mente que tudo começa, é preciso exercitar o equilíbrio. Para isso, você pode, por exemplo, praticar meditação.

Além disso, procure se conectar (ou reconectar) com o sagrado. Independentemente da sua crença, desenvolver a espiritualidade nos traz a serenidade necessária para enfrentar o caos — esteja ele dentro ou fora de nós.

Leia também: 7 Terapias alternativas para combater o estresse

Tente pensar menos

Isso mesmo! Quando ficamos revivendo os acontecimentos, há uma grande probabilidade de resgatarmos frustrações e angústias. Não vale a pena reviver o que já passou, concorda?

Da mesma forma, evite se preocupar com aquilo que não é controlável, com o que ainda vai acontecer. Esse hábito gera ansiedade e uma sensação de impotência, já que não podemos acelerar o tempo. Ou seja, um prato cheio para as crises de estresse. Melhor evitar sempre que puder.

Exercite a resiliência

Ninguém acerta tudo, o tempo todo. Por isso, ter flexibilidade para lidar com os pequenos fracassos é fundamental para manter a sua saúde mental. Se você exagerar na auto crítica, vai se colocar sempre em estado de alerta, precisando fazer o impossível para chegar à perfeição. Cobre menos de você mesmo — e dos outros.

Corpo são, mente sã

A expressão é antiga, mas nunca sai de moda. Cuidar bem do seu corpo ajuda a manter o estresse sob controle. Neste sentido, a prática de atividades físicas é uma grande aliada. Ela ajuda na regulação hormonal, liberando serotonina, dopamina e endorfina, os chamados “hormônios da felicidade”. Auto-explicativo, não é?

Combinada com os exercícios, uma alimentação leve e equilibrada vai fazer o seu organismo trabalhar de forma mais leve, sem sobrecargas que levam a inflamação e estresse oxidativo, podendo gerar diversas doenças. Por isso, é sempre bom manter-se afastado dos alimentos inflamatórios.

Para finalizar, relembro a importância de contar com um médico que entenda a sua saúde na totalidade. Essa é a abordagem da Medicina Funcional, que busca entender as causas das doenças nos âmbitos físico, mental e espiritual. Quer saber mais sobre esse cuidado? Siga meu perfil no Facebook ou no Instagram e fique por dentro de todas as atualizações.

Você já deve ter ouvido histórias de pessoas que vão ao médico, fazem mil exames e não conseguem descobrir a causa da dor ou, pelo menos, justificativas coerentes para ela, não? Pode ser até que conheça alguém que tomou remédios fortes e, ainda assim, não viu a dor totalmente controlada. E o que dizer, então, da misteriosa dor do membro fantasma, aquela que a pessoa sente na parte do corpo que foi amputada? Como é possível sentir esse incômodo em um lugar que não existe mais?

Boa parte da resposta para esses casos é que a interpretação da dor está mais no cérebro do que no corpo em si. A forma como pensamos, compreendemos as coisas, onde estamos inseridos e o jeito como nos comportamos influenciam diretamente nossa sensação e percepção da dor.

A neurociência nos ensina que a reação dolorosa é produzida no sistema nervoso central, num eixo que compreende cérebro e medula espinhal. Múltiplas partes desse sistema trabalham juntas em resposta a estímulos do corpo e do ambiente, podendo gerar, assim, a experiência da dor. Ainda que muitas vezes ocorra um dano em uma parte do corpo, o desconforto só vem à tona quando é disparado pelo cérebro e pela medula.

Em 1977, o psiquiatra americano George Engel propôs o chamado modelo biopsicossocial, que coloca a avaliação do estado de saúde e de doença de um indivíduo em um patamar mais amplo, considerando os contextos biológico, psicológico e social. Dentro dessa proposta, a dor deixou de ser associada a uma mera lesão em um tecido e pôde ser compreendida de uma maneira dinâmica e multidimensional, com vários mecanismos relacionados.

Com esse raciocínio podemos concluir que não vale a pena tratar a dor, sobretudo o tipo persistente e crônico, baseados apenas nos estímulos físicos que a provocam. Precisamos investigar o aspecto comportamental e ambiental para decifrar sua origem e propor a melhor estratégia para minimizá-la.  Daí o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas apoiadas numa junção dos conhecimentos da neurociência com o suporte da terapia comportamental e de técnicas integrativas particularmente bem-vindas na dor crônica.

Essas abordagens permitem que, com a ajuda de um profissional, possamos entender quais as nossas fraquezas e fortalezas, como nossos valores e crenças influenciam nossas percepções e sensações e de que forma devemos buscar o autoconhecimento para tratar a dor. Rever nosso comportamento é uma estratégia cientificamente eficiente. E, para tanto, são de grande valia métodos como meditação, alongamentos e técnicas que trabalham aspectos psíquicos e motores.

O tratamento da dor crônica em particular precisa levar em conta que somos mente e corpo. A partir desse autoconhecimento o paciente poderá perceber que ele não só deve aderir ao tratamento médico, mas também assumir novas atitudes, organizar práticas diárias, incorporar atividade física adequada, entre outras estratégias que reduzem e controlam as dores.

A dor é individual. Como lidar?

Segundo a Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED), “a sensação de dor é subjetiva e individual”. Assim, a melhor evidência para guiar os profissionais em relação aos sintomas de quem sente dor é o relato do próprio paciente. Com isso em mente podemos dar um passo além e dizer que a pessoa com dor também precisa se sentir protagonista para conseguir vencer seus sintomas.

Nesse caminho, é importante encontrar um profissional de saúde que ajude a estimular e estruturar um processo de autoconhecimento atrelado à mudança de hábitos. Esse é um caminho investigativo, que passa por descobrir o que alivia e o que piora a dor — e só o paciente poderá descortinar isso.

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Entender que a dor vem do cérebro ajuda a desmistificar por que ela se torna persistente. É nessas horas que o indivíduo terá de se perguntar: o que estou fazendo (ou deixando de fazer) em minha rotina que está contribuindo para essa dor?

Retomando os conceitos de Engel, aquele médico americano citado há pouco, o tratamento da dor passa por aqueles três contextos: o biológico, o psicológico e o social. No plano biológico entram as doenças de base e os resultados dos exames clínicos e laboratoriais.

No psicológico temos as emoções, os medos, a depressão e a força para enfrentar o problema. E, no social, aparecem as relações familiares, o contato com os amigos e profissionais de saúde, o emprego e o nível socioeconômico. Ao contemplar esse modelo, conseguimos entender em que áreas temos o maior peso e as maiores influências para a dor e pensar em quais intervenções seriam mais satisfatórias.

A dor crônica deixa as pessoas isoladas. Isso pode acontecer por escolha própria ou pela incompreensão dos outros ao redor. Procurar grupos de apoio e suporte é recomendado nesse sentido para perceber que o indivíduo não está sozinho e precisa empreender mudanças comportamentais.

Estudos recentes indicam vantagens em tratamentos que incluem o trabalho em grupo. Segundo o psicólogo e pesquisador Ali Miller, do Instituto de Estudos Integrais da Califórnia (EUA), “estar em grupo ajuda a se relacionar com os outros (e consigo mesmo) de maneira mais saudável. O grupo fornece uma rede de segurança. As pessoas acabam se unindo e aprendendo com a experiência do outro.”

Montar uma rede de apoio em que as pessoas possam compartilhar dúvidas, ansiedades, obstáculos e vitórias, reconhecendo inclusive seus próprios sentimentos e necessidades, aprimora o autoconhecimento e ajuda a vencer os desafios, entre eles o da convivência com a dor. Para que a pessoa não se perca nessa rota e tenha resultados, é fundamental receber a assistência de um profissional capacitado, que auxilie a organizar expectativas e mudanças de planos.

Fica aqui um estímulo para todo mundo rever seus conceitos sobre dor crônica. E que possamos lapidar nossas crenças, valores e hábitos de modo que possamos usá-los a nosso favor na prevenção e na melhora da dor.

* Mariana Schamas é cinesiologista, pós-graduada em dor pelo Hospital Sírio-Libanês (SP), secretária do Comitê de Práticas Integrativas e Complementares da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED) e cofundadora da Athena Integralidade do Ser

Samia Schiller é fisioterapeuta especializada em neurologia e cofundadora da Athena Integralidade do Ser