Por que o autor do texto considera o acordar do rei uma cerimônia é um espetáculo

O poder dos faraós O EGITO ANTIGO A primeira organização política do Egito anderSon de andrade piMenteL antigo recebeu o nome de nomos. Eram pe- CHIPRE quenas comunidades agrícolas governadas MAR MEDITERRÂNEO FENÍCIA por chefes locais. Com o tempo, os nomos uniram-se em dois reinos: o do Alto Egito, no sul, e o do Baixo Egito, no norte. Por volta de 5 mil anos atrás, Menés, um rei PALESTINA BAIXO EGITO Gizé semilendário, teria unificado os dois reinos. Deserto Mênfis Segundo a tradição, ele foi o fundador da da Líbia primeira das 33 dinastias que governaram Península Akhetaton do Sinai o Egito por mais de três mil anos e também Abidos MAR VERMELHO Deserto N o primeiro faraó. Arábico NO NE Vale dos Reis Karnak Rio Nilo O faraó era a maior autoridade religiosa, Tebas OL política, administrativa, jurídica e militar no SO SE S 170 km Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Egito. Para o povo, o faraó era muito mais ALTO EGITO Assuã Zona fértil cultivável que um rei. Durante a vida, ele era o deus Sol Oásis (às vezes Hórus, o Sol nascente; às vezes Rá, TRÓPICO DE CÂNCER 35º L Limite entre o o Sol em seu esplendor). Depois de morto, Baixo e o Alto Egito Abu Simbel ele era identificado como Osíris, o deus dos Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. p. 6. mortos e da ressurreição. Por isso era temido, venerado, respeitado e considerado o responsável por tudo o que acontecia no Egito, até mesmo pelas cheias do Nilo. O poder do faraó era hereditário, ou seja, passava de pai para filho. Explore Na escala social do Egito antigo, abaixo do faraó estavam, em ordem • Por que o Rio Nilo decrescente de importância, os sacerdotes, os altos funcionários do aparece como fonte da governo, os chefes militares, os escribas, os comerciantes, os artesãos, os vida na tradição mítica camponeses e os escravos. egípcia? o termo faraó significa “casa grande” e era usado originalmente para designar o palácio do soberano. Saiba mais Adoração ao Nilo De acordo com a tradição mítica egípcia, Nun, deus sombrio, fonte e eriCH LeSSing/aLbuM/LatinStoCk - Escultura do princípio do universo, era água parada. Quando acordou de seu torpor, MuSeu do LouVre, pariS século VI a.C. Nun criou uma terra lamacenta, que viria a ser a terra do Egito. Em segui- representando da, criou os deuses e uma flor de lótus, da qual Rá, o deus Sol, emergiu. a cheia do Rio Nilo como uma O Egito nasceu, assim, das águas de Nun, divinização do Nilo e fonte de divindade. Museu toda a vida. Reconhecendo a importância do rio, os egípcios o saudavam do Louvre, com um hino e festejavam a cada ano o início das suas cheias. França. A figura traz nas mãos “Salve, tu, Nilo! uma bandeja Que te manifestas nesta terra com oferendas, E vens dar vida ao Egito! [...] representando as Ao irrigar os prados criados por Rá, dádivas do rio. Tu fazes viver todo o gado [...] Tu crias o trigo, fazes nascer o grão, Garantindo a prosperidade aos templos. [...]” Anônimo [1800-1500 a.C.]. In: Coletânea de documentos históricos para o 1o grau: 5a a 8a séries. São Paulo: SE/Cenp, 1980. p. 55. 99 EGITO ANTIGO ¬ HISTÓRIA A sociedade egípcia Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. POLÍTICA Para garantir a administração de todo o império, os faraós atribuíam 525 a.C. grande parte de suas responsabilidades a sacerdotes e funcionários Invasão persa do Estado. • Os sacerdotes estavam encarregados de administrar os templos, as 1069 a.C. Terceiro Período cerimônias e as festas religiosas. Intermediário • O vizir, responsável pela administração pública do reino, era o fun- 1570-1069 a.C. cionário mais importante do faraó. Sua função era criar impostos e Novo Império controlar a arrecadação, recrutar pessoas para o trabalho nas cons- 1785 a.C. truções, fiscalizar as obras públicas e presidir o tribunal de justiça. Segundo Período Intermediário • Os escribas cobravam impostos, escreviam leis, fiscalizavam as contas do reino e faziam o censo da população. c. 2040-1782 a.C. Médio Império A partir do Médio Império (veja linha do tempo ao lado), quando o Egito começou a se envolver em grandes disputas territoriais, os 2200 a.C. chefes militares passaram a ser mais respeitados e reconhecidos na Primeiro Período sociedade. O crescimento do comércio com os povos vizinhos também Intermediário promoveu o enriquecimento dos comerciantes, que formaram uma camada social poderosa. 2700-2181 a.C. Antigo Império Os artesãos produziam desde embarcações, ferramentas, armas, Construção das móveis e utensílios até roupas, joias e brinquedos. Podiam trabalhar para pirâmides de Gizé templos, palácios, comerciantes e famílias abastadas. c. 3200-2700 a.C. A maior parte da população do Egito era constituída de camponeses, Período Arcaico os chamados felás. Eles cultivavam as terras dos templos, do faraó ou dos nobres em troca de uma pequena parte do que produziam. Na época das Os acontecimentos dessa linha do cheias, os felás podiam ser convocados para trabalhar nas obras públicas tempo não foram representados em e servir o exército nas campanhas militares. escala temporal. Os escravos eram geralmente inimigos capturados nas guerras. Eles trabalhavam sobretudo em minas e pedreiras, mas também realizavam serviços domésticos nas residências dos nobres. a. JeMoLo/aLbuM/ akg-iMageS/LatinStoCk - MuSeu egípCio, Cairo Maquete de madeira, c. 1990 a.C., representando escribas (sob a cobertura) fazendo o inventário do rebanho de um alto funcionário do império. Desde os cinco anos, os meninos das famílias ricas estudavam os hieróglifos em escolas especiais para se tornarem escribas. Museu Egípcio, Egito. 100 As escritas no Egito antigo O hieróglifo, que significa “escrita sagrada”, foi a primeira forma de es- Papiro: espécie de papel que leva o crita desenvolvida no Egito. Era um sistema complexo, no qual um símbolo nome da planta com a qual é feito. podia representar um som da fala ou uma palavra completa. A figura do abutre, por exemplo, simbolizava o som da letra “a”. Nessa escrita, uma ideia era representada pela combinação de símbolos fonéticos e imagens. Os hieróglifos eram usados para textos sagrados e gravados nor- malmente em pedra, metal, paredes das pirâmides e de outros grandes monumentos. Por ser uma escrita muito complexa, apenas sacerdotes, nobres e escribas dos templos a dominavam. A escrita hierática era uma simplificação da hieroglífica e se difundiu depois que os egípcios desenvolveram o papiro. Os textos em hierático eram escritos com pincel nos papiros ou em madeira. Essa escrita era utilizada principalmente em textos oficiais, poéticos e religiosos. A escrita demótica surgiu no século VII a.C. Bem mais simples que Supõe-se que os ensinamentos a Merikare as outras duas, aos poucos substituiu a escrita hierática, exceto nos do- tenham sido dados pelo faraó kethi iii, que cumentos de caráter religioso. seria seu pai, mas não há certeza sobre isso. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. O texto a seguir traz alguns ensinamentos a Merikare, encaminhados por seu pai, um dos tantos faraós desconhecidos da X dinastia, e redigidos por um escriba. Note que essas lições, mesmo antigas (por volta de 2100 a.C.), Explore tratam de um tema muito atual. “A língua é a espada do rei. 1. Quais são os três A palavra é mais poderosa que qualquer outra arma. conselhos do faraó ao seu filho? [...] um povo rico não se levanta para rebelar-se. Não o empobreças, 2. Em sua opinião, de maneira que não se veja levado à rebelião, pois é o povo pobre aquele que fomenta o distúrbio. qual deles é o mais importante? Por quê? [...] Não faças diferença entre o filho de um homem de qualidade e 3. Por que o faraó anuncia ”o de um homem comum [...]. Ensinamentos a Merikare. In: FERREIRA, Olavo Leonel. Egito: terra dos faraós. que “a língua é a espada 2. ed. São Paulo: Moderna, 2005. p. 75. (Coleção Desafios) do rei / a palavra é mais poderosa que qualquer outra arma”? bridgeMan iMageS/keyStone braSiL - MuSeu do LouVre, pariS professor, estimule os alunos a perceberem a rela- ção entre poder e palavra, especialmente a palavra escrita. a palavra difamatória é capaz de destruir carreiras e vidas, da mesma forma que palavras de elogio e exaltação podem levar um indivíduo a dirigir empreendimentos, exércitos e governos. Cena em caixa funerária egípcia descrevendo o ritual de pesagem do coração, momento em que se decidia se o morto (à direita) poderia continuar sua caminhada pela eternidade. Detalhe de pintura egípcia em madeira do Novo Império, c. 1000 a.C. Na parte superior da cena, há passagens do Livro dos mortos na escrita hieroglífica. Museu do Louvre, França. Nesta cena podemos notar duas características importantes da representação das figuras na arte egípcia. Observe com atenção a figura do morto e dos deuses Anúbis (em pé à esquerda) e Tot, ao lado dele. Quais características são essas? a primeira é a rigidez na representação das figuras (ausência de movimento e de perspectiva); a segunda é o que chamamos de lei da frontalidade, pela qual o tronco das figuras era sempre representado de frente, enquanto as pernas e o rosto ficavam de perfil. 101 Sandro Vannini/CorbiS/Senet, jogo de tabuleiro egípcio. Peça Aspectos da vida cotidiana LatinStoCk –de mármore encontrada na tumba do jovem faraó Tutancâmon, c. 1323 a.C. Os egípcios vestiam trajes simples e leves: os homens usavam um MuSeu egípCio, CairoMuseu Egípcio, Egito. tipo de saia curta, e as mulheres, vestidos longos e perucas. Os mais ricos Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Julgamento dos mortos diante tinham as roupas bordadas com contas ou pedras e usavam joias. de Osíris, ilustração do início do No verão, por causa do calor intenso, era comum as crianças e os século XX feita com base no Livro adultos que exerciam atividades pesadas andarem nus. dos mortos do Papiro de Ani, datado de c. 1250 a.C. (1) O morto Também era frequente o uso de perfumes e diferentes tipos é conduzido diante de Anúbis, de cosméticos no Egito antigo. A galena, uma espécie de minério que pesa seu coração tendo como de chumbo, por exemplo, era triturada e misturada com creme ou contrapeso Maat, a deusa da óleo para pintar os olhos. Óleos perfumados eram usados por homens verdade, geralmente representada e mulheres para se protegerem de insetos e impedir o ressecamento da como uma pluma; (2) Amut, com pele, que ficava muito tempo exposta ao sol. Para facilitar a higiene, os cabeça de crocodilo, espera para pais mantinham a cabeça das crianças raspada. devorar o coração caso ele pese mais que a pluma, indicando que o No antigo Egito, a maioria das crianças não frequentava a escola. Os morto não tinha sido honesto durante meninos aprendiam o ofício do pai e as meninas ficavam em casa com a vida; (3) Hórus conduz o morto as mães. Apenas os filhos de famílias ricas recebiam educação formal. diante do tribunal de Osíris (4). Os meninos eram encaminhados à escola, onde seriam preparados para exercer o ofício de sacerdote, escriba, entre outros; as meninas geralmente tinham educadores particulares. Os jovens das camadas mais ricas tinham aulas de leitura, escrita, matemática e religião. Assim como ocorre atualmente, no Egito antigo, as crianças jogavam bola, praticavam outros jogos em grupo e tinham brinquedos. Entre os vestígios dessa civilização foram encontrados piões, bolas, bonecos e jogos de tabuleiro. Os egípcios também praticavam natação, luta, pesca e caça. As celebrações religiosas eram importantes no cotidiano desse povo. Pou- co conhecidas, em virtude da escassez de registros, essas celebrações deviam durar vários dias. A mais tradicional era o Festival de Osíris, em que se celebravam o renascimento do deus Osíris e a vitória de Hórus, seu filho, sobre os inimigos do pai. 12 102 A religião egípcia Francisco Po EgEa A religião tinha presença marcante na vida cotidiana dos egípcios. Eles eram politeístas e acreditavam que a vontade dos deuses decidia desde os fatos cotidianos até os fenômenos naturais, como as cheias do Nilo ou os períodos de grande seca. Os egípcios também adoravam o Sol e a Lua, e atribuíam característi- cas divinas a animais, como o gato, o boi, o crocodilo e o falcão. Por isso, as divindades podiam ter forma animal (zoomorfismo), humana (antro- pomorfismo) ou mesmo as duas formas juntas (antropozoomorfismo). O Sol era uma das principais divindades do Egito antigo. Provavelmen- te, os egípcios já tinham conhecimento do papel do Sol na germinação das plantas; por isso ele era identificado como Ré ou Rá, o deus que dava vida. Posteriormente, o Sol foi identificado com Amon, o deus de Tebas, e passou a ser conhecido como Amon-Rá, o “rei dos deuses”. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. A crença na vida após a morte Sarcófago com múmia de uma sacerdotisa egípcia, c. 1000 a.C. Os egípcios acreditavam que a vida continuava após a morte. Quando A mumificação do morto era um dos uma pessoa morria, no túmulo era colocado pelo menos um trecho do principais rituais funerários no Egito Livro dos mortos, uma espécie de manual com fórmulas mágicas, hinos antigo. O objetivo era purificar o corpo e orações que poderiam ajudar o morto na passagem entre os mundos. e deixá-lo o mais parecido possível O livro também orientava o morto a se apresentar diante do tribunal com a forma que tinha em vida. de Osíris, o deus dos mortos, momento em que seria julgado por tudo o que tivesse feito durante a vida. Os mortos eram sepultados com objetos que poderiam ser úteis em sua nova vida: alimentos, utensílios domésticos, objetos pessoais, joias, armas etc. Assim, a vida além-túmulo não seria apenas a existência de uma alma descolada do corpo. Para os egípcios, a morte física interrompia a viagem do indivíduo em direção à eternidade. Para que retomasse essa caminhada no mundo inferior, seu corpo deveria ficar livre de toda podridão. Com o corpo purificado, o morto poderia renascer e trilhar o caminho da eternidade. Mary Evans/DioMEDia 34 103 aMPLie seU CONHeCiMeNtO A prática da mumificação A preocupação com a vida após a morte ajuda a explicar por o cérebro era removido por um gancho que o revolvia por cerca de 20 minutos, que os antigos egípcios mumificavam os mortos. O objetivo desse transformando-o em uma substância com procedimento era proteger o corpo do morto e eliminar as impurezas consistência de cola. o cérebro era, então, capazes de impedir sua viagem pelo mundo inferior. drenado pelo nariz. Depois de lavado com vinho e O sal de natrão era água, o corpo do morto tinha usado para remover as vísceras removidas. todo o líquido do corpo para melhor preservá-lo. Os órgãos eram lavados, Após várias semanas, o enfaixados e colocados corpo, já desidratado, era em vasos com tampas preenchido e coberto com que representavam o deus resinas aromáticas e óleos. protetor de cada órgão. Sobre o local do coração, considerado o centro da vida, colocava-se um amuleto. O ritual de orLy wanderS enfaixar o corpo durava quinze dias. Fontes: Mumificação no Egito antigo. Revista Um sacerdote, Aventuras na História, n. 57, abr. 2008. p. 22-23; utilizando a máscara de ROSS, Stewart. Egito antigo. São Paulo: Anúbis, entoava Companhia das Letrinhas, 2005. p. 14-15. cânticos mágicos. (Coleção Histórias da Antiguidade) Questões Responda em seu caderno 1. Por que os egípcios mumificavam seus mortos? 2. A técnica de mumificação desenvolvida pelos antigos egípcios revela que eles dominavam vários tipos de conhecimento. Cite alguns. 3. Além da mumificação artificial, como a adotada pelos egípcios, também existe a mumificação natural. Como ela acontece? 104 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Grandes construções para os mortos As pirâmides de Gizé, na cidade do Cairo, Egito. Fotografia de 2010. A preocupação com a vida após a morte também levou os egípcios a A maior delas, dedicada ao faraó construírem monumentos funerários. O objetivo dessas edificações era Quéops, tem 146 metros de altura. abrigar e proteger o corpo do morto e os objetos que eram enterrados com ele. Até mesmo a população mais pobre, como os camponeses, construía túmulos com esse objetivo. As grandes construções, porém, por seu elevado custo, só se destinavam às camadas mais privilegiadas: faraós, altos funcionários e principais sacerdotes. A primeira construção funerária do Egito imperial foi a mastaba, uma cobertura feita de adobe que protegia o túmulo. O sarcófago situava-se em câmaras profundas alcançadas apenas por meio de longos poços. A construção das pirâmides teve início no Antigo Império, aproxi- madamente em 2650 a.C. Feitas geralmente de pedra, elas abrigavam o túmulo dos faraós. As pirâmides de Gizé, que são as mais famosas, são conhecidas pelo nome dos faraós que ordenaram sua construção: Quéops, Quéfren e Miquerinos. Estima-se que a construção da pirâmide de Quéops, a maior delas, tenha demorado mais de vinte anos e empregado milhares de trabalha- dores. Por envolverem altos custos, no Médio Império os egípcios passa- ram a construir monumentos funerários mais simples, como o hipogeu, palavra grega que significa “debaixo da terra”. Tutmósis I, no final do século XVI a.C., foi o primeiro faraó a ser enter- rado sob as rochas em um vale na cidade de Tebas. Depois dele, por mais de quatrocentos anos os faraós foram sepultados nesse mesmo local, que ficou conhecido como Vale dos Reis. SCuLpieS/SHutterStoCk 105 BRIDGEMAN IMAGES/KEYSTONE BRASIL Pintura da tumba do faraó Seti I, O conhecimento científico Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. do Novo Império (c. 1300 a.C.), encontrada no Vale dos Reis, na Os egípcios conheciam bem a anatomia, que estava relacionada àAGE FOTOSTOCK/KEYSTONE BRASIL antiga cidade egípcia de Tebas. prática da mumificação. A medicina egípcia desenvolveu-se em diferen- A imagem mostra como os egípcios tes especialidades. Havia médicos para tratar as doenças dos olhos, da viam e imaginavam as constelações cabeça, dos dentes e dos órgãos internos. Segundo o grego Heródoto, os no céu noturno do hemisfério norte. egípcios eram o povo mais saudável que ele já tinha visto. Note que a constelação conhecida como Ursa Maior, formada de sete Os egípcios também desenvolveram a matemática, aplicando essa estrelas principais, é representada ciência na construção dos grandes edifícios e na contabilidade. Eles pela figura de um touro puxando um também se destacaram pelos seus conhecimentos de astronomia. Como homem na horizontal. outros povos antigos, os egípcios contemplavam o céu com espanto, admiração e respeito. Observando os astros celestes, aprenderam a Explore medir a passagem do tempo e a prever a periodicidade das enchentes, conhecimento que lhes permitiu planejar as atividades agrícolas e obter • Segundo a União o máximo proveito dos recursos naturais. Astronômica Contudo, o uso dessas ciências tinha como objetivo principal resolver Internacional (IAU em problemas imediatos, como prever a época das chuvas para planejar a inglês), constelação agricultura. Eles não se preocupavam em organizar as descobertas que é a divisão da esfera faziam nem em aprofundá-las por meio de pesquisas. Por isso não houve celeste em 88 regiões grandes mudanças no conhecimento científico ao longo da história da ou partes, cada uma civilização egípcia. delas formada por um conjunto de estrelas e Mapa astronômico outros objetos celestes. de 1824 mostrando Ao longo da história, a Constelação cada povo, ao olhar para de Ursa Maior, a o céu do ponto da Terra mais conhecida onde vivia, criava suas constelação do próprias constelações, hemisfério celestial ou seja, seu próprio norte, que recebeu conjunto de objetos esse nome dos celestes interligados. De antigos gregos. que maneira a pintura egípcia reproduzida acima mostra que as constelações e as figuras formadas por elas são criações de cada sociedade? 106 Núbia: terra do ouro anderSon de andrade piMenteL A NÚBIA ANTIGA A Núbia era um extenso território situado entre a primeira e a sexta MAR MEDITERRÂ catarata do Rio Nilo, no local onde hoje estão partes do Sudão e do Egito. Ela era o principal ponto de comunicação entre a África central, BAIXO o Mar Vermelho, a Europa mediterrânica e o Oriente Médio. EGITO Acredita-se que o povoamento da Núbia tenha se iniciado por volta ALTO MAR VERMELHOTebas de 7000 a.C. Porém, não se conhecem evidências de que havia uma EGITO diferenciação clara entre a cultura egípcia e a núbia nos primórdios das Rio Nilo duas civilizações. Como no Egito, as primeiras comunidades viviam da TRÓPICO DE CÂNCER Elefantina Assuã caça, da pesca e da coleta. Com o tempo, os núbios desenvolveram a 1ª Catarata criação de gado e a agricultura. Abu Simbel Os núbios cultivavam sorgo (planta semelhante ao milho), trigo, 2ª Catarata lentilha, pepino e melão, aproveitando as águas do Nilo e a fertilidade do solo proporcionada pelas cheias periódicas do rio. Eles também se NÚBIA dedicavam ao artesanato, destacando-se na produção de cerâmica e de objetos de metal. 3ª Catarata Kerma 10º N Fontes arqueológicas indicam que, por volta de 3000 a.C., já havia Djebel Barkal 4ª Catarata diferenças entre o modo de vida dos egípcios e o do núbios. O terri- 5ª Catarata tório núbio era muito rico em minerais, como ouro, granito, turquesa Napata e ametista, e em artigos feitos com peles e plumas de animais. Esses N recursos atraíram os egípcios, que procuraram obter o controle do co- NO NE 6ª Catarata Méroe mércio da região. Expedições egípcias percorriam os territórios núbios e realizavam trocas com os chefes de cada comunidade. OL Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Por volta de 2600 a.C., os egípcios iniciaram uma política de ocu- SO SE Rio Nilo Rio Nilo Azul andré HeLd/akg-iMageS/aLbuM/LatinStoCk pação da Núbia. Durante centenas de anos, períodos de dominação S egípcia no território se alternaram com fases de autonomia. 250 km 30º N Fonte: MOKHTAR, G. (Coord.). História geral da África: África antiga. 2. ed. Brasília: Unesco, 2010. v. 2. p. 216. a imagem mostra que os núbios pagavam tributos ao faraó. ao interpretar essa fonte histórica, pode- -se concluir que a núbia, na ocasião, estava subme- tida à dominação política egípcia. Pintura encontrada em tumba egípcia representando comitiva de núbios entregando tributos a faraó egípcio, c. 1346-1337 a.C. O que essa imagem nos revela a respeito das relações entre egípcios e núbios? 107 Explore Kerma: a primeira capital cuxita Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 1. Observe a cena pintada Por volta de 1800 a.C., o Egito, enfraquecido por invasões externas, perdeu o controle sobre a Núbia. Nesse período, emergiu uma grande na tumba de Huy. O que potência núbia, conhecida pelos egípcios como Reino de Cuxe (veja mapa as pessoas retratadas da página 107). A cidade de Kerma, capital do reino, reunia mercadores na cena representam? de várias partes do mundo antigo. O que algumas delas estão carregando? A função de Kerma tem sido motivo de muitas polêmicas entre os pesquisadores. Segundo alguns, a cidade teria sido uma fortaleza ou 2. Que características um posto comercial egípcio. Outros pesquisadores, analisando sepul- turas na região, concluíram que a cidade era o centro político de uma da arte egípcia estão cultura local, núbia, independente do Egito. presentes nessa imagem? Seja como for, por volta de 1580 a.C., os egípcios conquistaram nova- mente a Núbia. A cidade de Kerma praticamente desapareceu e os núbios se tornaram súditos do faraó egípcio. A presença egípcia na Núbia Durante a dominação egípcia, os faraós ordenaram a construção de templos por toda a Núbia. Ao redor deles desenvolveram-se cidades, organizadas segundo padrões egípcios. A administração desses centros era feita por vice-reis, homens que se encarregavam de recolher os tributos da população e de entregá-los ao faraó. Esses vice-reis estimulavam os chefes núbios a enviar seus filhos para estudar no Egito e garantir que incorporassem a cultura egípcia. Os núbios passaram, então, a adorar algumas divindades egípcias, além de adotar práticas funerárias daquela civilização. A influência egípcia também estava presente na arquitetura e nas artes. Isso pode ser observado no estilo de construção de alguns templos e palácios, nas esculturas e nas pinturas em vasos de cerâmica. Além disso, a escrita hieroglífica egípcia passou a ser utilizada nas inscrições dos templos núbios. eriCH LeSSing/aLbuM/LatinStoCk - bibLioteCa naCionaL da FranÇa, pariS Mural na tumba de Huy, vice-rei da Núbia durante o governo de Tutancâmon (século XIV a.C.), que representa núbios carregando oferendas. Biblioteca Nacional da França. 108 O “renascimento” cuxita os gregos antigos chamavam toda a região ao sul do egito de etiópia, e seus habitantes de A partir do século X a.C., rivalidades entre os povos que ocupavam etíopes, que significa “aqueles que possuem o Alto e o Baixo Egito abalaram a dominação egípcia. Beneficiada pela o rosto queimado”. Segundo a tradição mítica desorganização imperial egípcia, uma dinastia cuxita que governava a grega, Hélio, personificação do Sol, percorria cidade de Napata, capital do Reino de Cuxe, conquistou grande poder. o céu todos os dias em um carro flamejante, que levava luz e calor aos homens. um dia, o Os soberanos dessa dinastia consideravam-se verdadeiros herdeiros filho de Hélio, Faeton, roubou a carruagem do das tradições egípcias. Então, sob as ordens do rei Kashata, em 750 a.C. pai, na tentativa de se dirigir ao Sol e provar eles iniciaram uma ofensiva militar, conquistando o Egito e a Líbia. Por sua descendência divina. ao longo do trajeto, cerca de cem anos, os núbios governaram o Egito, fundando a XXV di- Faeton teria passado perto demais da terra nastia, chamada de “dinastia etíope” pelos viajantes gregos. e queimado o solo e a pele dos homens, que teria ficado negra. A partir do século VII a.C., iniciou-se um período de conflitos militares estudos recentes apontam que a mudança entre os núbios e os assírios. Por volta de 660 a.C., os assírios invadiram, de capital de napata para Méroe pode ter ocuparam e saquearam Tebas. Com a conquista de Tebas, o domínio nú- ocorrido por razões ecológicas. o pastoreio bio no Egito se encerrou, e os núbios foram forçados a se retirar para o sul. era a principal atividade econômica da região. Mas, como era feito de maneira desordenada, teria causado a erosão do solo e forçado a busca por novas planícies com áreas de pasto para o gado. Méroe, a nova capital No século VI a.C., Napata foi tomada por uma expedição egípcia. Os cuxitas, então, transferiram a capital do reino para Méroe, cidade situa- da mais ao sul (reveja o mapa da página 107). As bacias de irrigação em Méroe garantiam boas condições para a agricultura e havia árvores em abundância, que forneciam lenha para o processamento de diversos tipos de minério. Napata, porém, continuou sendo a capital religiosa do reino. A transferência dos cuxitas para o sul modificou toda a história do Vale do Rio Nilo. O Egito tornou-se cada vez mais mediterrânico, já que seu poder estava contido por um Estado poderoso ao sul. O Reino de Cuxe distanciou-se da influência egípcia e, aos poucos, recuperou antigas práticas e tradições núbias. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. HerMeS iMageS/tipS/gLow iMageS Vista das pirâmides da necrópole de Méroe, no atual Sudão, construídas por volta dos séculos IV e III a.C. Os núbios incorporaram as práticas egípcias de mumificação e de construção de pirâmides. 109 werner ForMan arCHiVe/ A política no Reino de Cuxe dioMedia - MuSeu Méroe era a sede da realeza e da administração do Reino de Cuxe. arQueoLÓgiCo do SudÃo Funcionários reais cuidavam do tesouro, dos celeiros, dos exércitos, das comunicações, entre outras tarefas atribuídas pelo rei. Esses funcioná- Fragmento de joia com painéis de rios contavam com o apoio de escribas, de administradores locais e de ouro decorados com hieróglifos sacerdotes. proveniente de Méroe ou de Napata, em fotografia de 2012. Museu As rainhas (mães ou esposas dos reis) eram chamadas candaces. Elas Arqueológico de Cartum, Sudão. educavam os filhos, comandavam alguns ritos religiosos e eram respon- sáveis por estabelecer relações diplomáticas com outros reinos. Entre os séculos II a.C. e I d.C., algumas rainhas-mães assumiram o poder político Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. e o comando dos exércitos. O cotidiano dos cuxitas Os cuxitas viviam em cidades que se espalhavam ao longo do curso do Rio Nilo. Elas possuíam prédios públicos, mercados e templos. As casas, feitas de tijolos, tinham tetos planos e eram separadas umas das outras. Os habitantes das cidades meroítas praticavam a agricultura e criavam gado. O comércio também se tornou ativo com a capital em Méroe. A cidade atuava como um entreposto comercial das rotas de caravanas entre o Mar Vermelho e a região do Nilo. Os cuxitas também se dedicavam a atividades artesanais, como a tecelagem e a produção de cerâmica. Eles fabricavam vasos decorados com desenhos de cenas do cotidiano, animais, flores e plantas. A joalheria foi outro importante ramo do artesanato cuxita. Mui- tas placas, colares, braceletes, brincos e anéis feitos em ouro, prata e pedras semipreciosas foram encontrados nos sítios arqueológicos e, principalmente, nos túmulos reais. CRONOLOGIA DO REINO DE CUXE c. 2700 a.C. c. 1750 a.C. c. 1580 a.C. c. 750 a.C. século VI a.C. Evidências de um A cidade de Kerma A invasão Os cuxitas A capital cuxita reino organizado na era o centro da egípcia instalam sua nova desloca-se para Méroe e região da Núbia. civilização cuxita. interrompe o capital em Napata o reino atinge o apogeu. crescimento do e conquistam o Reino de Cuxe. Egito. deagoStini/ werner ForMan arCHiVe/ getty iMageS gLow iMageS werner ForMan arCHiVe/ Heritage iMageS/gLow iMageS Pingente de quartzo e ouro, c. de 2000 a.C., encontrado como Recipiente de cerâmica Detalhe de relevo representando oferenda em um sepultamento no pintada da cultura de a candace cuxita Amanitare, no Deserto da Núbia. Kerma, da antiga Núbia, Templo de Naga, em Méroe, no datada de c. 1800-1600 a.C. atual Sudão, c. 300-100 a.C. Os acontecimentos dessa linha do tempo não foram representados em escala temporal. 110 Religião e escrita no período meroíta C. Sappa/dea piCture Library/gLow iMageS Os cuxitas cultuavam muitas divindades egípcias. Os reis considera- Pedra com inscrição meroíta, vam Amon, o deus Sol, a divindade mais importante e acreditavam ser datada dos séculos VI a.C.-IV d.C., investidos de poder por ele. Os cuxitas também cultuavam os deuses localizada no sítio arqueológico de Ísis, Hórus, Tot e divindades meroítas, como Sebiumeker e Apedemak. Méroe, atual Sudão. Este último, representado na forma de leão, era considerado protetor Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. dos exércitos. O culto aos deuses meroítas ganhou importância com a diminuição da influência egípcia, a partir do século V a.C. Também datam desse período as primeiras inscrições nos templos feitas na escrita meroíta. Ela era gravada em hieróglifos semelhantes aos egípcios, mas escritos e lidos em sentido contrário ao dos textos egípcios. Também existia um tipo de escrita meroíta cursiva, versão simplificada da escrita hieroglífica, que era utilizada em documentos cuxitas. Sabe-se que o alfabeto meroíta era composto de 23 caracteres, que representavam vogais e consoantes. Dois pontos geralmente separavam uma palavra da outra. No entanto, ainda não foi possível traduzir alguns grupos de caracteres da escrita meroíta, fato que limita o conhecimento sobre essa civilização. aFripiCS.CoM/aLaMy/ O declínio de um grande reino otHer iMageS Por volta do século III da era cristã, o Reino de Cuxe iniciou um período de longa decadência. A grande quantidade de rebanhos e o uso intensivo da irrigação teriam causado danos irreversíveis ao solo e prejudicado a prática da agricultura e a criação de gado. O Egito, sob domínio romano, encontrava-se empobrecido, o que diminuiu o volume de comércio entre Cuxe e os egípcios. Além disso, populações nômades passaram a utilizar dromedários e a praticar saques e pilhagens, tornando a atividade comercial bastante perigosa. O crescimento do Reino de Axum, que se localizava a sudeste de Méroe, chocou-se com os interesses dos cuxitas. Uma série de conflitos entre ambos enfraqueceu ainda mais Cuxe e facilitou o domínio da Núbia por outros povos. Esculturas no Templo do Leão de Naga, no atual Sudão, 2004. Os relevos desse templo cuxita, construído entre os séculos III a.C. e I d.C., estão entre os exemplos mais representativos da arte meroíta. 111 atividades Responda em seu caderno Compreender os conteúdos (Medida em pés)Ampliar o aprendizado anderSon de andrade piMenteL 1. Responda às questões a seguir. 5. Observe o gráfico e responda às questões. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. a) As civilizações egípcia e núbia podem ser CHEIA E VAZANTE DO RIO NILO consideradas civilizações fluviais? Justifi- EM UADI-HALFA (1931-1932) que sua resposta. 30 b) Que ações precisaram ser adotadas pelas duas sociedades para garantir o máximo 25 aproveitamento das águas do rio? 20 c) Qual é a importância da pedra de Roseta para o estudo da civilização egípcia? 15 d) Por que o conhecimento que temos a 10 respeito da civilização núbia ainda é limitado? 5 2. O ritmo de trabalho dos felás era determina- 0 maio jun. jul. ago. set. out. nov. dez. jan. fev. mar. abr. do pelo regime de cheias do Rio Nilo. Quais eram as principais tarefas desses campone- Fonte: CASSON, Lionel. O antigo Egito. ses e quando eles as realizavam? Rio de Janeiro: José Olympio, 1981. p. 34. 3. As frases a seguir estão desordenadas. Em (Coleção Life) seu caderno, reescreva-as na ordem correta a) Em quais meses indicados nesse gráfico e complete o texto final com uma frase que as cheias do Rio Nilo ocorreram? dê sentido a ele. b) Em que período do ano as águas do Rio a) Segundo a interpretação mais aceita, a so- Nilo baixaram? ciedade egípcia, profundamente religiosa, mumificava seus mortos com o objetivo c) Considerando o ciclo do Rio Nilo, qual era de purificar o corpo e preservar as formas a época do ano mais indicada para semear físicas que o falecido tinha em vida. a terra? b) Ter um corpo purificado e preservado para d) Imagine que você seja um importante prosseguir no mundo inferior, contudo, funcionário do Estado no Egito antigo. Que não era suficiente para o falecido trilhar medidas você tomaria para aproveitar os o caminho da eternidade. recursos do Rio Nilo e aumentar a produção agrícola? c) As múmias encontradas nas tumbas egíp- cias são fontes valiosas para o estudo das 6. Analise o documento abaixo, que descreve crenças, dos costumes e dos conhecimentos dos antigos egípcios. um dia na vida de um faraó. d) Dessa forma, com o corpo purificado, o “Mal acordava, manhã cedo, [o faraó] lia morto poderia continuar sua viagem pelo mundo inferior. seu correio, ditava as respostas e, sendo caso disso, convocava o conselho. Depois de banhar- e) Ao analisar as múmias e o interior das -se, e revestido de insígnias da realeza, oferecia tumbas, os estudiosos queriam saber por um sacrifício aos deuses, escutava as preces do que grande parte dos egípcios mumificava grande sacerdote, repartia o seu tempo entre seus mortos. as audiências, os julgamentos, o passeio e os prazeres. [...] 4. Atividade em dupla. Apesar das relações O acordar do rei era uma cerimônia e um es- instáveis e por vezes conflituosas, núbios e petáculo, a que se admitiam somente as pessoas egípcios estabeleceram um rico intercâmbio reais, o primeiro ministro, o grande sacerdote, os cultural. Expliquem o sentido dessa afirma- altos funcionários. ção e citem exemplos de trocas feitas entre os dois povos. Entravam o barbeiro, a manicure, o pedicuro. O rei era lavado, untado, perfumado. 112 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Na cabeça, de cabelo curto, punha uma peruca. 7. Em 2007, a Escola de Samba Acadêmicos do [...] Sobre ela usava um diadema ou uma coroa, segundo o caso. [...] Salgueiro, do Rio de Janeiro, prestou uma homenagem às candaces e à cultura africana. Uma tanga plissada, mais rica e de forma Leia um trecho do samba-enredo e responda diferente das outras pessoas, constituía o es- às questões a seguir. sencial do vestuário. Ao pescoço, vários colares preciosos, de que pendia um peitoral; nos braços “Majestosa África e pernas, pulseiras. Às vezes, vestia sobre tudo isso uma túnica leve e transparente de mangas Berço dos meus ancestrais curtas. Os pés descalços, ou calçados de ricas Reflete no espelho da vida A saga das negras e seus ideais ”sandálias. Mães feiticeiras, donas do destino... MONET, Pierre. A vida quotidiana no Egito. Senhoras do ventre do mundo FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de história. Raiz da criação Lisboa: Plátano, s/d. v. I. p. 35-36. Do mito à história Encanto e beleza a) Por que o autor do texto considera o acordar Seduzindo a realeza do rei “uma cerimônia e um espetáculo”? Candaces, mulheres guerreiras Na luta... justiça e liberdade b) O texto revela que a atividade dos arte- Rainhas soberanas sãos era fundamental para demonstrar a importância do faraó. Como essa ideia ”Florescendo pra eternidade [...]. aparece no texto? BOTELHO, Dudu; MOTTA, Marcelo; ZÉ PAULO; PIÃO, Luiz. Candaces. Disponível em www.vagalume.com.br/salgueiro/ c) Identifique nesse documento e anote no samba-enredo-2007.html. Acesso em 16 jan. 2015. caderno dois exemplos de cada um desses aspectos da sociedade egípcia: costumes; a) Quem eram as candaces? divisão de trabalho; objetos usados pelo faraó; religião. b) Como os compositores apresentam essas personagens na canção? Insígnia: sinal distintivo de poder. c) De acordo com a canção, que papel as candaces desempenhavam? História feita com arte Arte núbio-egípcia 8. Atividade em dupla. Observem as miniaturas abaixo, feitas durantea. JeMoLo/dea/aLbuM/LatinStoCk - MuSeu egípCio, Cairo um dos períodos de dominação egípcia na Núbia, e respondam. a) Que característica importante da antiga civilização núbia a imagem destaca? b) Quais técnicas desenvolvidas pelos núbios podemos identificar na imagem? c) Comparem as figuras que aparecem nessa imagem com as da maquete egípcia reproduzida na página 100. Quais características da arte núbio- -egípcia notamos nessas imagens? Miniaturas em madeira representando arqueiros núbios, encontradas na tumba de Assiut, c. 2040 -1990 a.C. Museu Egípcio, Egito. Os arqueiros núbios empunhavam longos arcos e eram descritos por cronistas e viajantes como guerreiros fortes e de excelente pontaria. 113 CAPÍTULO Hebreus e fenícios 8 Respostas e comentários Palestina: uma terra de conflitos estão no Suplemento de apoio ao professor. A região conhecida como Palestina se localiza no Oriente Médio e é banhada pelas águas do Mar Mediterrâneo. Nessa região, estão situados atualmente o Estado de Israel, os territórios palestinos e a Jordânia. No centro do território israelense, encontra-se Jerusalém, cidade que abriga lugares considerados sagrados para os judeus, os cristãos e os muçul- manos. A Palestina, no entanto, tem destaque no noticiário por uma triste realidade: a guerra entre palestinos e judeus. Os conflitos tiveram início na década de 1940 e permanecem ainda hoje. alVaro leIVa 003-f-EH6-C08-G 114 Imagine como deve ser o cotidiano daqueles que vivem em uma re- Da esquerda para a direita: interior gião em permanente estado de guerra. Como será o dia dessas pessoas? da Basílica do Santo Sepulcro, Conseguem se divertir, realizar suas atividades, levar uma vida normal? 2012; fiéis oram diante do Muro Neste capítulo, você vai estudar alguns acontecimentos da história das Lamentações, 2013; dos hebreus, povo que se estabeleceu na Palestina por volta de 1800 a.C. Ao estudá-los, você compreenderá os laços entre os antigos hebreus e os vista do Domo da Rocha, 2014. judeus da atualidade. Além disso, estudará os fenícios, povo de grandes As três construções, localizadas comerciantes marítimos que fundou várias colônias por todo o Medi- em Jerusalém, são sagradas para terrâneo na Antiguidade. o cristianismo, o judaísmo e o • O que você já ouviu falar sobre os antigos fenícios? Que território eles islamismo, respectivamente. habitavam? • Do ponto de vista religioso, o que diferencia os hebreus da maior parte dos povos da Antiguidade? IAN WALTON/GETTY IMAGES CREDITO OLEKSANDR LYSENKO/SHUTTERSTOCK 115 Hebreus: um povo Como os historiadores estudam monoteísta os hebreus Quando você estudou os antigos egípcios e os Você conhece a Bíblia? Alguma vez você já leu povos da Mesopotâmia, percebeu que todos eles, algum trecho dessa obra? A Bíblia cristã divide-se na maior parte de sua história, veneravam vários em duas grandes partes: o Antigo Testamento e o deuses. Neste capítulo, ao estudar o povo hebreu, Novo Testamento. Composta de uma coletânea de você concluirá que a religião talvez fosse a principal textos escritos em diferentes épocas, a Bíblia narra a diferença cultural entre a civilização hebraica e as história do mundo desde a criação até o nascimento demais civilizações antigas. Isso porque os hebreus e a morte de Jesus Cristo no século I. acreditavam em um único Deus. Nos livros bíblicos, podemos encontrar valiosas O monoteísmo, ou seja, a crença na existência de informações sobre os povos da Antiguidade: dados um deus único, além de ser uma marca diferencial históricos e descrições detalhadas de hábitos e no mundo antigo, também foi o principal legado dos costumes de muitas sociedades do passado. Sua hebreus para as sociedades atuais. Em razão disso, as leitura ajuda a compreender a cultura e o modo três principais religiões monoteístas da atualidade, de vida dessas civilizações. o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, têm sua origem nas crenças e tradições dos antigos hebreus. A Bíblia judaica, porém, é formada apenas dos livros do Antigo Testamento. Ela está dividida em 24 As três religiões têm um tronco comum porque livros, entre os quais está a Torá, os livros sagrados compartilham a crença em Abraão, o patriarca do judaísmo. Uma das principais fontes de pesqui- fundador do monoteísmo hebraico. De acordo com sa da história do povo hebreu, a Torá corresponde a tradição bíblica, Abraão, certo dia, recebeu uma aos cinco primeiros livros do Antigo Testamento: mensagem divina para partir com sua família do sul Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Na da Mesopotâmia, onde vivia, em direção a Canaã tradição cristã, a Torá é conhecida como Pentateuco. (Palestina), para ali estabelecer o povo de Deus. A Bíblia, no entanto, não é um documento À esquerda, jovem judeu ora em sinagoga na cidade neutro e imparcial, que deva ser lido como verdade de Nova York, Estados Unidos, em dezembro de 2014; incontestável. As narrativas, escritas do ponto de no centro, padre católico durante celebração de missa vista dos hebreus e dos cristãos (no caso do Novo em igreja na cidade de Paris, França, em junho de 2013; Testamento), são o testemunho da fé, das crenças à direita, homem realiza suas orações em mesquita na e dos costumes dessas culturas. Como toda fonte cidade de Amã, Jordânia, em janeiro de 2014. histórica, a Bíblia precisa ser lida de modo crítico. Qual é a ordem cronológica em que essas religiões foram criadas? Ira Berger/alamy/glow Images FrIedrIch stark/alamy/latInstock Peter adams PhotograPhy ltd/alamy/glow Images Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. a ordem cronológica de criação dessas religiões é a mesma em que suas respectivas imagens foram dispostas, da esquerda para a direita: judaísmo, cristianismo e islamismo. 116 De Ur para Canaã De acordo com a Bíblia, cerca de 4 mil anos atrás, os hebreus viviam como Saiba mais simples pastores. Eles estavam divididos em grupos nômades, chefiados por anciãos. Um dos primeiros e mais importantes desses líderes foi Abraão. O território da Palestina Ele teria sido orientado por Deus a deixar a cidade de Ur, no sul da O uso do termo Palestina Mesopotâmia, e a se mudar, com sua família, para a Palestina e as terras para designar o território onde a leste do Rio Jordão. Chamada na época de Canaã, a nova terra seria hoje se localizam Israel, Jordâ- um presente de Deus a Abraão e seus descendentes, com a condição nia e os territórios palestinos de que abandonassem o culto a outros deuses e adorassem um único tem um sentido geográfico deus (Javé ou Iahweh). e didático e não político. A área abarcada pela Palestina Abraão confiou na palavra divina e comandou a viagem de seu clã na Antiguidade corresponde familiar. Quando chegaram à Palestina, os hebreus encontraram outros ao palco das histórias bíbli- povos que habitavam a região. cas, tanto a planície costeira (originalmente habitada pelos A sobrevivência na Terra Prometida filisteus), como as terras altas do norte, o Vale do Rio Jordão Canaã, a Terra Prometida na narrativa bíblica, era uma região árida onde e as terras a leste desse rio. os recursos naturais eram escassos. As terras férteis se localizavam princi- Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Rio Nilopalmente no Vale do Rio Jordão. Nessa área, os hebreus desenvolveram a Rio Jordãoagricultura, fazendo uso da irrigação e de outras técnicas para melhorar anderson de andrade PImentel a produtividade do solo. Eles cultivavam principalmente frutas, legumes, trigo, cevada, pepino, cebola, alho e diferentes variedades de abóbora. Os hebreus também criavam animais. O gado bovino era largamente utilizado na agricultura, na alimentação e nas cerimônias religiosas. Os cavalos e as mulas, pouco empregados na agricultura, eram aproveitados nas corridas, no transporte e nas guerras. A criação de cabras e de ovelhas se espalhava por toda a Palestina. Ancião: pessoa idosa. Nas terras desérticas, era a atividade central. O rebanho de ovinos e de caprinos fornecia leite, carne e lã, além de servir como oferenda dos hebreus nos OS DESLOCAMENTOS DOS HEBREUS sacrifícios oferecidos a Javé. N Os hebreus também eram apicul- Haran Montes Zagros NO NE tores, ou seja, criavam abelhas para a produção de mel e de cera. O clima OL seco e a diversidade da flora favoreciam essa prática, mencionada várias vezes SO SE na Bíblia. S A descoberta das ruínas de uma 200 km fábrica de queijos no norte de Jeru- salém levou os pesquisadores a con- Halab (Alepo) Rio Eufr Rio Tig cluir que a produção de laticínios pro- Hamath vavelmente tenha se desenvolvido MESOPOTÂMIA MAR re MEDITERRÂNEO ates Mari 33°N CANAÃ Damasco Babilônia Jerusalém CALDEIA Tânis Deserto da Arábia Hebron Siquém Ur na região. Mênfis Cades EGITO Ezion-Geber Fonte: VIDAL-NAQUET, Pierre; BERTIN, Monte Sinai A grande marcha de Abraão (c. 1800 a.C.) Jacques. Atlas histórico: da Pré-história aos nos- sos dias. Lisboa: Círculo de Leitores, 1990. p. 39. MAR O Êxodo do Egito com Moisés (c. 1250 a.C.) VERMELHO ( outro itinerário possível) 35°L Regiões férteis 117 A família hebraica Peter wIllI/BrIdgeman Images/glow Images — museu de Belas artes, rouen De acordo com a Bíblia, os hebreus constituíam fa- Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. mílias numerosas. Diferentemente da família nuclear de nossos dias, formada por pai, mãe e filhos, a família he- braica era patriarcal e ampliada. O chefe da família era o homem, o pai. Abaixo dele vinham a mãe, as concubinas, os filhos, os genros e as noras, os netos e outros parentes que não tinham condições de garantir o próprio sustento, os escravos e os criados da casa. A principal função da mulher era procriar. A sociedade hebraica seguia à risca a mensagem de Deus: “Crescei e multiplicai-vos”. Por isso, a incapacidade de gerar filhos era vista como uma punição terrível, um mal que deveria ser sanado de qualquer maneira. No dia a dia, a mulher devia cuidar da casa, criar e educar os filhos e preservar a “pureza e a santidade” do lar, devendo ser fiel, forte e discreta. Os meninos e as meninas recebiam tratamento e edu- cação diferenciados. Desde cedo, as meninas aprendiam as tarefas domésticas e eram preparadas para o casamento. Elas não podiam brincar com os meninos e ficavam em casa a maior parte do tempo. Quando se casavam, tornavam-se propriedade do marido. Ruth e Naomi, pintura de Émile Levy, 1859. Museu de A partir de 10 anos de idade, os meninos começavam Belas Artes de Rouen, França. Na narrativa bíblica, a ser preparados para chefiar a casa ou a tribo. Eles ti- Ruth é uma estrangeira que é acolhida por uma nham aula de leitura e escrita, faziam exercícios físicos família hebraica ao se casar com o filho de Naomi. e estudavam história. Eram os homens que escolhiam as mulheres para se casarem. Concubina: mulher que vive Como em muitas outras sociedades, entre os hebreus o ofício da fiação maritalmente com um homem e da tecelagem era parte das tarefas do lar e cabia às mulheres realizá-lo, sem ser casada com ele. como mostra o texto a seguir. Bilro: pequena peça com formato “Sempre em casa, a mulher fiava, tecia e tingia seus tecidos. Fiar era de fuso utilizada para fazer rendas ou penteados. um passatempo útil das mulheres, como ainda recentemente o tricotar. [...] Os bilros são encontrados no solo desde o Período Neolítico, feitos Cardado: penteado. de pedra, marfim, osso, barro ou, mais tarde, estanho – os de madeira não resistiram ao desgaste do tempo. Explore A lã de carneiro constituiu a matéria-prima mais comum das fiandei- ras. Ela era tosada, lavada, cardada, tingida e fiada. O linho também era • Entre os hebreus, a empregado, porém, menos do que no Egito, onde constituía a matéria essencial da indústria têxtil. fiação e a tecelagem eram ofícios Tal como a fiação, a tecelagem pertencia a uma das atividades do- predominantemente mésticas reservadas à mulher ou às servas e escravas. No entanto, os femininos. No Brasil, tecidos de luxo, reservados para os usos sagrados ou para os mais ricos, atualmente, pode- se dizer que essas ”eram preparados por tecelões especializados. atividades também CHOURAQUI, André. Os homens da Bíblia. são assumidas São Paulo: Companhia das Letras/Círculo do Livro, 1990. p. 94. principalmente por (Coleção A vida cotidiana) mulheres? Comente. 118 A escravidão no Egito Conta a tradição que, por volta de 1600 a.C., uma longa estiagem afetou os recursos alimentares da Palestina. Como as condições de so- brevivência tornaram-se muito precárias, os hebreus decidiram deixar a região e procurar terras mais férteis. Segundo a Bíblia, os hebreus migraram para o Egito, onde permane- ceram por aproximadamente quatrocentos anos. Nesse período, o Egito estava dominado pelos hicsos, povo de origem semita que teria facilitado a presença dos filhos de Israel no local, permitindo que comprassem terras e prosperassem. Após a expulsão dos hicsos, os israelitas, acusados de colaborarem com o invasor, foram perseguidos e escravizados pelos egípcios. Por volta do século XIII a.C., o novo faraó ordenou que todos os meninos hebreus recém-nascidos fossem atirados ao Rio Nilo, pois o governante egípcio temia o crescimento populacional dos hebreus. Segundo a narrativa bíblica, uma mãe conseguiu salvar seu filho dos soldados do faraó. Secretamente, ela o colocou em um cesto e o soltou nas águas do Rio Nilo. O bebê foi encontrado por uma princesa egípcia, que o adotou e deu-lhe o nome de Moisés, que significa “tirado das águas”. A criança foi criada como um príncipe egípcio. Quando cresceu, Moisés descobriu sua verdadeira história. Certo dia, revoltado com o tratamento agressivo que seu povo recebia, brigou com um egípcio para defender um hebreu que estava sendo maltratado. Moi- sés então matou o agressor e foi obrigado a deixar o Egito para escapar de sua pena. Ele foi viver na terra de Midian, região que fica a sudeste da Palestina, onde viviam algumas tribos nômades. Saiba mais História sem confirmação O período de permanência dos hebreus no Egito é, sem dúvida, um dos acontecimentos mais importantes para a história do povo hebreu. No entanto, ainda não foram encontradas fontes arqueológicas ou registros escritos que confirmem a presença desse povo em terras egípcias. Como essa história está relatada apenas na Bíblia, muitos pesquisadores con- testam sua veracidade. Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Israel: novo nome que recebeu BrIdgeman Images/glow Images - guIldhall art gallery, londresJacó, neto de Abraão. Seus descendentes ficaram conhecidos como israelitas. Israelitas no Egito, pintura de Edward J. Poynter, 1867. Galeria de Arte Guildhal, Inglaterra. 119 Pesquisadores acreditam que a fuga dos hebreus, se for verídica, teria ocorrido por volta de 1250 a.c., período em que o egito era governado por ramsés II. no entanto, a ausência de evidências arqueológicas dificulta uma datação precisa do fato. Saiba mais A fuga do Egito A Escola de Copenhague A Bíblia conta ainda que, durante o exílio na terra de Midian, Moisés Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. recebeu de Deus a missão de conduzir os hebreus de volta à Terra Pro- “A Escola de Copenhague, popu- metida (reveja o mapa da página 117). Para convencer o faraó a libertar larmente conhecida como ‘Minima- os israelitas, Deus lançou várias pragas contra o Egito. A última delas, a lismo’, é um [...] método de estudo morte de todos os primogênitos, atingiu o filho do faraó. Derrotado e na área dos estudos bíblicos. Surgiu abalado pela perda do filho, o faraó libertou os hebreus, mas ordenou pela necessidade dos estudiosos de aos soldados que os perseguissem. explicar as discrepâncias entre os textos bíblicos e as descobertas O livro bíblico do Êxodo conta que, durante a viagem a Canaã, quando dos arqueólogos. Ela propõe ver se viu encurralado entre o Mar Vermelho e os egípcios, Moisés dividiu a literatura bíblica como mera es- as águas do mar, abrindo caminho para a travessia de seu povo. Quando tória [narrativa ficcional] ao invés os soldados começaram a atravessá-lo, as águas voltaram a seu lugar, de literatura historiográfica [...]. O matando todo o exército do faraó. método minimalista propõe usar apenas a arqueologia para o pro- O povo hebreu seguiu Moisés pelo deserto em direção a Canaã. Duran- pósito de reconstruir a história.” te o percurso, no alto do Monte Sinai, a Bíblia conta que Moisés recebeu das mãos de Deus as Tábuas da Lei contendo os Dez Mandamentos. Eles ATHAS, George. Minimalism: the selaram uma nova aliança entre Deus e o povo hebreu. Copenhagen School of Thought in Biblical Studies. In: BERLESI, Josué. A libertação dos hebreus da escravidão no Egito foi chamada de Pás- O êxodo do hebreus segundo historia- coa (Pessach, ou “passagem”, em hebraico), episódio relembrado ainda dores e arqueólogos: ênfase na pers- hoje pelos judeus. pectiva minimalista a partir da obra de Finkelstein e Silberman. História em O Êxodo é considerado um dos episódios fundadores do povo e da reflexão. Disponível em www.historia civilização hebraica. A historicidade desse evento bíblico tem gerado distintas interpretações e um debate que provavelmente jamais terá emreflexao.ufgd.edu.br/historia fim. Nessa polêmica, tem se destacado uma corrente de pesquisadores emreflexao_ed3/Exodo_Hebreus.pdf. conhecida como minimalistas. Dirigida por importantes arqueólogos judeus, essa corrente procura combater os estudos fundamentalistas, Acesso em 12 mar. 2015. ou seja, que analisam a narrativa bíblica com uma visão religiosa e não científica. Para os minimalistas, é necessário separar as narrativas religiosas Explore do conhecimento histórico e arqueológico. • De acordo com os Conheça, no boxe ao lado, algumas ideias dos minimalistas. minimalistas, como os relatos bíblicos devem ser vistos pelos pesquisadores? Primogênito: o primeiro filho. BIBlIoteca BrItÂnIca, londres Gravura medieval da Bíblia de Nuremberg, que representa Moisés recebendo os Dez Mandamentos, século XV. Biblioteca Britânica, Inglaterra. 120 O período dos juízes AS DOZE TRIBOS DE ISRAEL Segundo a Bíblia, os hebreus levaram cerca de quarenta anos para Rio Orontes HITITAS anderson de andrade PImentel voltar à Palestina. Como Moisés morreu pouco antes de chegar a Canaã, Josué foi o escolhido para chefiar a luta contra os filisteus e outros povos Hamath que viviam na região. Após vários anos de combates, os hebreus saíram vitoriosos. As terras foram divididas entre as doze tribos originadas das Arados Tadmor famílias dos filhos de Israel (veja o mapa ao lado). FENÍCIA Kadesh Cada uma das doze tribos era independente e liderada por um prínci- MAR Biblos ARAMEUS pe. Caso fossem ameaçadas, seus líderes se aliavam e escolhiam um chefe MEDITERRÂNEO militar, que era chamado de juiz. A sua missão era preparar os exércitos para derrotar os inimigos. Sidon Tiro ASSER NEFTALI O Reino de Israel 33°N ZABULÃO O desenvolvimento da vida urbana e a preocupação em assegurar uma defesa mais eficaz contra os inimigos levaram as tribos de Israel a ISACAR MANASÉS criar um Estado centralizado. Por volta de 1030 a.C., Samuel, o último EFRAIM juiz, coroou Saul como o primeiro rei de Israel. Rio Jordão GAD Deserto da Após a morte de Saul, Davi, o chefe do exército, tornou-se rei. Por volta DAN do ano 1000 a.C., Davi conquistou Jerusalém e transformou a cidade em Arábia capital do reino. Depois disso, o Reino de Israel viveu um longo período BENJAMISNiquém AMONITAS de paz e prosperidade. Gaza FILISTEUS Jericó Com a morte de Davi, seu filho, Salomão, assumiu o trono. Em seu Jerusalém governo, o Reino de Israel atingiu o apogeu. Salomão aumentou os im- postos para arrecadar mais recursos e fortalecer o exército. Ele também MAR RUBEM dinamizou as atividades urbanas e o comércio com outros povos, princi- SIMEÃOJUTDaÁmMarORTMOOABITAS palmente com os fenícios. Além disso, Salomão comandou a construção Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. do Primeiro Templo de Jerusalém. EDOMITAS N NO NE OL SO SE S 90 km 35°L Tribos hebreias Limites do reino hebreu sob Davi (c. 1000 a.C.) Possível expansão sob Salomão (c. 950 a.C.) Povos Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. p. 8. Saiba mais nIr alon/alamy/latInstock Os judeus falashas da Etiópia Mulet Hararo, jovem estudante etíope judeu, participa da marcha que reuniu milhares de etíopes Você sabia que na África existe uma comunidade negra em Jerusalém contra a discriminação que os negros judaica muito antiga? Chamados de falashas ou Beta-Israel, sofrem no país. Israel, janeiro de 2012. Beneficiados eles vivem na Etiópia há milhares de anos. Quando entra- pela Lei do Retorno, a partir da década de 1990 ram em contato com missionários ocidentais, no século milhares de judeus etíopes migraram para Israel XIX, os falashas viviam isolados no território e mantinham fugindo da guerra civil e da seca. Hoje, lutam para se práticas descritas na Torá, como o ritual do Shabat, a proibi- integrar à sociedade como cidadãos plenos. ção de comer carne de porco e a circuncisão dos meninos. Segundo a Torá e a tradição etíope, os hebreus teriam entrado em contato com esse povo por meio do rei Salo- mão. Sua fama e sabedoria teriam chegado aos ouvidos da rainha do Reino de Sabá, que incluía a Etiópia e o Iêmen. Admirada pela figura do rei hebreu, ela o teria visitado levando muitos presentes. Desse contato, teria nascido uma grande amizade; para alguns, o relacionamento foi mais profundo e gerou descendentes na terra dos etíopes. 121 nedal eshtayah/anadolu agency/aFP A divisão do Reino Samaritanos rezam pouco antes da peregrinação Após a morte do rei Salomão, por volta de 930 a.C., Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. ao Monte Gerizim, em Israel. Fotografia de 2014. o novo governo enfrentou uma grave crise. A po- Ao longo da história, os samaritanos, mesmo pulação se rebelou, pois estava descontente com após a ruptura com os judeus, mantiveram os os impostos abusivos e com a distribuição desigual pontos centrais da religião hebraica: a crença em das terras. um único Deus (Javé), o respeito ao Shabat e o caráter sagrado dos livros da Torá. O resultado foi a divisão do Reino de Israel em dois Estados distintos: o Reino de Judá, ao sul, com capital em Jerusalém, e o Reino de Israel, ao norte, com capital em Samaria. Os habitantes do Reino de Israel continuaram conhecidos como israelitas, e os que viviam no reino de Judá passaram a ser cha- mados de judeus. A divisão dos hebreus ocasionou o enfraquecimen- to político e econômico do grupo. Debilitados, os dois reinos foram invadidos por outros povos. Em 722 a.C., foi a vez dos assírios. Eles tomaram o Reino de Israel, mais rico que o de Judá, deslocaram a população pelo Império Assírio e instalaram nas terras israelitas povos trazidos de outros territórios. Distribuídos pelo território assírio, os israelitas ou samaritanos se misturaram a outros povos. Os habitantes do Reino de Judá, antigos rivais do Reino de Israel, passaram a hostilizar os samaritanos e a chamá-los de “tribos perdidas de Israel”. OS REINOS DE JUDÁ O Cativeiro da Babilônia E DE ISRAEL anderson de andrade PImentelFENÍCIA Por volta de 585 a.C., o rei babilônico Nabucodonosor II conquistou o Rio Jordão Reino de Judá e deportou parte dos judeus para a Mesopotâmia, episódio MAR conhecido na Bíblia como Cativeiro da Babilônia. MEDITERRÂNEO Em 539 a.C., Ciro, rei da Pérsia, conquistou a Babilônia e permitiu que REINO DOS os judeus retornassem e reconstruíssem o Templo de Jerusalém, destruído ARAMEUS pelos exércitos de Nabucodonosor II. Segundo a narrativa bíblica, Ciro teria sido guiado por uma orientação divina, que o ordenava a libertar e REINO DE REINO DOS enviar os judeus de volta à Terra Prometida. ISRAEL AMONITAS Samaria 32°N REINO Jerusalém DOS FILISTEUS MAR MORTO “O Senhor despertou o espírito de Ciro, rei da Pérsia, a fim de que em todo o seu reino fizesse publicar uma proclamação, e até um documen- REINO DE to escrito, para dizer: ‘Assim fala Ciro, rei da Pérsia: Todos os reinos JUDÁ da terra, o Senhor, o Deus dos céus, os deu a mim, e ele mesmo me en- N NO NE carregou de construir-lhe uma casa em Jerusalém que está em Judá. OL SO SE Dentre vós, quem pertence a todo o seu povo? Que seu Deus esteja com S ele, e que suba a Jerusalém, em Judá, para construir a casa do Senhor, 60 km ”o Deus de Israel [...]’. Esdras, 1, 1-3. Bíblia: tradução ecumênica. 35°L São Paulo: Loyola, 1994. p. 1.404. Fonte: PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. 24. ed. São Paulo: Contexto, 2008. p. 111. 122 A diáspora judaica Felipe Melani Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. De volta a Canaã, os judeus reconstruíram o Templo de Jerusalém, que O Muro das Lamentações, a única havia sido destruído pelos babilônicos. Tempos depois, Canaã foi tomada pe- parede do Segundo Templo que ficou los macedônios e, no século I a.C., conquistada pelos romanos. Inicialmente em pé após a destruição romana, é o controlado à distância pelas autoridades de Roma, no final do século I a.C., local mais sagrado para o judaísmo. o território dos judeus foi incorporado ao Império Romano como província Jerusalém, 2013. da Judeia, governada diretamente por um oficial romano. professor, por ser um site institucional judaico, No período em que o território permaneceu como província romana, importantes construções da cidade velha de os judeus se levantaram inúmeras vezes contra a dominação estrangeira. Jerusalém, como o domo da rocha, o Santo Em 70 d.C., legiões romanas invadiram novamente o território e destruí- Sepulcro e a Via-Crúcis, infelizmente não são ram a cidade de Jerusalém, inclusive o Segundo Templo, construído após mostradas nessas imagens. os conflitos e a o Cativeiro da Babilônia. Deste segundo templo, apenas o muro ocidental intolerância que caracterizam hoje as relações permaneceu em pé. entre judeus e outros povos na região nos im- pedem, neste caso, de apreciar o patrimônio Derrotados pelos romanos e com sua capital destruída, a maior parte histórico representativo de outras identidades dos judeus foi expulsa de Canaã e se dispersou pelas terras do Império culturais e religiosas de Jerusalém. Romano. O episódio, conhecido como diáspora judaica, transformou os judeus em um povo sem território e sem Estado independente. O retorno à Palestina Em 1948, com a criação do Estado de Israel, muitos judeus retornaram ao território ocupado pelos antigos hebreus. No entanto, durante os qua- se 2 mil anos em que os judeus estiveram espalhados pelo mundo, muitos povos se estabeleceram na Palestina, principalmente árabes muçulmanos. A criação de um Estado israelita na Palestina gerou uma disputa por terras entre judeus e árabes que parece cada vez mais difícil de ser solucio- nada. A cada dia, os conflitos entre judeus israelenses e árabes palestinos ganham novos capítulos, fazem novas vítimas e levantam “muros” que separam povos e famílias na chamada Terra Santa. Navegue neste site 3. Observe a vista e, depois, clique na seta em quereprodução aparece a indicação Western Wall Plaza. Jerusalem 360 4. Observe as pessoas que oram próximas ao muro, Neste site, você pode realizar um passeio virtual por a única parede do Segundo Templo de Jerusalém Jerusalém, cidade considerada sagrada pelas três prin- que resistiu à destruição romana. cipais religiões monoteístas do mundo. O site permite conhecer mais de cem localidades diferentes, como o 5. Selecione outro local da cidade e descubra o que Muro das Lamentações, a tumba do rei Davi e o interior há de interessante nele. de algumas sinagogas. Página No site também há várias fotos de construções ju- inicial do site daicas da cidade velha e da cidade nova de Jerusalém. Jerusalem Mesmo com textos disponíveis apenas em inglês ou em 360. hebraico, é de fácil navegação, capaz de nos conduzir, por meio das imagens, ao passado dessa antiga cidade. 1. Acesse o site www.jerusalem360.co.il/eng. 2. Do lado esquerdo da tela de navegação, clique em The Western Wall Square (Praça do Muro das Lamentações). 123 THE ART ARCHIVE/ALAMY/LATINSTOCK - MUSEU Os fenícios ARQUEOLÓGICO NACIONAL, CAGLIARI A antiga civilização fenícia desenvolveu-se onde hoje estão situados o Detalhe de colar fenício encontrado Líbano e pequenos trechos da Síria e de Israel. Acredita-se que esse povo ANDERSON DE ANDRADE PIMENTEL em Olbia, na Sardenha (Itália), tenha se estabelecido no local por volta de 2000 a.C., mas foi a partir Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. datado dos séculos IV e III a.C. do século XVII a.C. que as cidades fenícias cresceram e prosperaram. O Museu Arqueológico Nacional de território no qual se fixaram, situado entre o Mar Mediterrâneo (a oeste) Cagliari, Itália. e as montanhas (a leste), era estreito e árido, condições geográficas que dificultavam a comunicação com o interior. Seu litoral era formado por numerosas ilhas e portos, localizados no cruzamento de importantes rotas comerciais marítimas da Antiguidade (veja o mapa abaixo). Nas poucas faixas de terra fértil, os fenícios cultivavam azeitona e trigo. Ao longo de toda a sua história, no entanto, as cidades fenícias dependeram de produtos agrícolas trazidos de outras regiões. A proximidade do mar e a escassez de terras férteis impulsionaram os fenícios ao comércio marítimo. A inclinação desse povo para a navegação foi facilitada, também, pela existência de extensas florestas de cedro em seu território. Essa árvore fornecia um tipo de madeira leve e resistente, apropriada para construir embarcações. Especialistas em viagens marí- timas, os fenícios realizaram importantes inovações nos barcos a vela e incrementaram as técnicas de navegação. Além de excelentes navegadores, os fenícios eram artesãos e comercian- tes. Produziam cerâmica, vidro, tecidos, joias, perfumes, armas e comercia- lizavam esses produtos por todo o litoral do Mar Mediterrâneo. Também desenvolveram a agricultura, a metalurgia, a tecelagem e a tinturaria. Um dos principais produtos comercializados por esse povo era a tinta púrpura, extraída do molusco múrice. O múrice é uma espécie de caracol que contém em uma das suas extremidades um líquido avermelhado chama- do púrpura. O múrice fenício era de um vermelho-violeta muito apreciado, conhecido como púrpura real, e era utilizado no tingimento de tecidos. COLÔNIAS E ROTAS COMERCIAIS FENÍCIAS (SÉCULOS IX a.C.–VII a.C.) OCEANO CeltasMERIDIANO DE GREENWICH N ATLÂNTICO NO NE OL SO SE S 330 km Lígures MAR NEGRO Iberos CÓRSEGA Rio NiloÁSIA MENORPersas SARDENHA Cádiz Málaga BALEARES Etrúria Biblos Beirute SICÍLIA Rodes CHIPRE Cartago MALTA Siracusa Sidon Fonte: KINDER, 0° Númidas MAR CRETA Tiro Hermann; HILGEMANN, MEDITERRÂNEO Fenícia Werner. Atlas histórico Colonização fenícia LÍBIA EGITO mundial: de los orígenes Rotas comerciais a nuestros dias. 22. ed. Madri: Akal, 2007. p. 38. 124 Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. As cidades-Estado fenícias Armador: construtor de navios. Na antiga Fenícia não se formou um Estado centralizado, como no Explore Egito, mas coexistiam várias cidades-Estado independentes. As principais 1. Como os fenícios eram Tiro, Biblos e Sidon. comercializavam suas Cada cidade-Estado tinha seu próprio rei. Nelas, um conselho de mercadorias? comerciantes e armadores limitava o poder político do monarca. Dois grupos faziam parte das cidades-Estado: o grupo dominante, 2. Por que, segundo formado por comerciantes ricos, proprietários de terras, armadores e sacerdotes; e o grupo menos privilegiado, constituído por artesãos, Heródoto, as transações camponeses e escravos. comerciais não prejudicavam fenícios As colônias fenícias nem nativos? Os fenícios dominaram portos de importância estratégica e comercial Ruínas da antiga cidade de Cartago, no norte da África, na Península Itálica e em várias ilhas do Mar Medi- conquistada pelos romanos no terrâneo. Entre os séculos IX a.C. e VII a.C., a avançada navegação fenícia permitiu-lhes fundar várias colônias, que serviram de base para a troca século II a.C. Subúrbio de Túnis, de muitos produtos. A mais importante dessas colônias foi Cartago, capital da Tunísia, situada no norte da África. em fotografia de 2011. O texto a seguir, escrito pelo grego Heródoto, descreve como os fenícios realizavam o comércio com outros povos. “Após [os fenícios] chegarem e descarregarem as mercadorias, dispondo-as em ordem na praia, voltam às suas embarcações e fazem sinais de fumaça. Os nativos veem a fumaça e, aproximando-se do mar, colocam ao lado das mercadorias o ouro que oferecem em troca, retirando-se a seguir. Os fenícios retornam e examinam o que os nativos deixaram. Se julgarem que a quantidade do ouro corresponde ao valor das mercadorias, tomam-no e partem; do contrário regressam aos navios e aguardam. Aqueles [os nativos], voltando, vão acrescentando ouro até eles [os fenícios] se julgarem satisfeitos. Nenhuma das partes ”prejudica a outra. Heródoto. Comércio e transportes na Antiguidade. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. História da civilização. São Paulo: Nacional, 1975. p. 44. FIlIP FuXa/alamy/latInstock 125 Mirra: resina aromática O comércio e o artesanato egmont strIgl/ImageBroker/glow Images extraída de um arbusto e usada Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. principalmente na fabricação de Por terra e por mar, os fenícios se espalharam por todo o mundo an- perfumes e óleos. tigo, vendendo produtos trazidos de outras regiões ou que eles mesmos Ônix: mineral de forma cristalina fabricavam. Com seus barcos e camelos, montaram uma rede de carava- usado na fabricação de adornos. nas que ligava o Mar Cáspio e o Golfo Pérsico com o Mar Mediterrâneo, por onde transportavam produtos vindos da África, da Europa e da Ásia. Porto histórico de Biblos, no Líbano, As redes de comércio estabelecidas pelos fenícios permitiram que eles em fotografia de 2012. realizassem trocas culturais com diversos povos da Antiguidade. Veja a seguir as principais regiões de onde vinham as mercadorias comercializadas pelos fenícios: • Egito: papiro, linho, algodão e cavalos; • África saheliana: ouro, ébano, marfim e plumas de avestruz; • Península Ibérica: trigo e prata; • Ilhas gregas: cobre, estanho, mármore e púrpura; • Cáucaso: metais e escravos; • Arábia: incenso, mirra e ônix; • Índias: pedras preciosas, especiarias e madeiras perfumadas. O comércio de escravos foi também uma importante fonte de riqueza para os fenícios. A maior parte dos escravos era constituída de prisioneiros de guerra obtidos na Etiópia (África), na Grécia (Europa) e no Cáucaso, região situada entre a Europa e a Ásia. Os fenícios também eram hábeis artesãos. Produziam esculturas, cerâmica, vidro, tecidos, joias e perfumes. Eram também especialistas em produzir armas e objetos de metal. Seu artesanato mais valorizado eram as peças feitas de vidro e os tecidos tingidos de vermelho-púrpura. 126 A religião dos fenícios ZEV RADOVAN/BRIDGEMAN IMAGES/GLOW IMAGES- COLEÇÃO PARTICULAR O pouco que se sabe da religião fenícia tem como fonte principal a Bíblia. Os fenícios eram politeístas e cada cidade-Estado tinha seu pró- prio deus, que se chamava Baal. Eles também adoravam uma divindade feminina chamada Baalit ou Astarte. O Baal representava, em geral, o Sol, dono do Céu e da Terra. Segundo a Bíblia, Baal era cruel, acostumado a exigir terríveis sacrifícios dos fiéis, como a imolação de crianças. Astarte representava a Lua, a deusa do amor e da primavera; a ela cabia presidir os rituais de desaparecimento e renascimento, como o ciclo da agricultura. Os fenícios levaram seus deuses para toda a região do Mar Mediterrâneo, influenciando outros povos e recebendo influência deles. Acredita-se, por exemplo, que Astarte fosse a versão fenícia de Afrodite, deusa dos gregos, assim como Melkart, o Baal da cidade de Tiro, representasse Hércules. Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. O alfabeto fenício Estatueta de ouro representando divindade Atualmente, muitas pessoas utilizam seus celulares ou aplicativos em feminina fenícia, c. 2000 a.C. tablets e computadores para conversar com amigos e familiares. Esse tipo de comunicação exige uma linguagem própria, diferente da fala e Imolação: morte em sacrifício a da escrita formal. um deus. Os internautas usam frases curtas, palavras abreviadas e substituem Ambas as invenções visam tornar a comuni- os acentos por outras letras para tornar a digitação mais rápida. Por cação mais rápida e eficiente. exemplo: a maioria das pessoas escreve vc (você), eh (é), qdo (quando) etc. Em um bate-papo virtual escrito, é importante escrever rapidamente Conversa em um aplicativo de para dar mais velocidade ao diálogo. comunicação virtual instantânea. O que há de semelhante entre a Os fenícios também sentiram necessidade de um tipo de linguagem invenção do alfabeto pelos fenícios mais eficiente para se comunicar com outros povos do Mediterrâneo. e a criação de uma nova linguagem Essa necessidade provavelmente contribuiu para que se desenvolvesse, pelos usuários de aplicativos de por volta de 1700 a.C., um novo sistema de comunicação escrita, visando troca de mensagens? facilitar e organizar as atividades comerciais: o alfabeto. FERNANDO FAVORETTO O alfabeto fenício tinha 22 letras, mas nenhuma vogal. As vogais foram acrescentadas posteriormente pelos gregos. Esse alfabeto foi mui- to importante para o desenvolvimento e a expansão do comércio e o intercâmbio entre os mais diversos povos. Ele constitui a base da escrita usada pela maioria dos povos do mundo moderno. EL NARIZ/SHUTTERSTOCK 127 ENQUANTO ISSO... A língua aramaica erIch lessIng/alBum/latInstock - Enquanto os hebreus disputavam o domínio da terra de Canaã, os ara- museu do louVre, ParIs meus, um povo nômade e semita, começavam a se expandir pela região do Oriente Médio. Os arameus foram talvez os primeiros a domesticar Tabuleta de terracota, datada o camelo, animal que se tornaria o principal meio de transporte usado de 566 a.C., com inscrição em nos desertos da região. aramaico. Museu do Louvre, França. Nos séculos XI a.C. e X a.C., ao se expandirem pela região, os arameus criaram pequenos reinos na Síria e na Mesopotâmia. Eles não consegui- ram criar um império unificado, mas sua língua foi muito utilizada no comércio e nas relações diplomáticas por toda a região, provavelmente por ser mais prática que as demais. Por exemplo, durante o Cativeiro da Babilônia, iniciado por volta de 585 a.C., os judeus aprenderam a língua falada na Babilônia, o aramaico. Ao retornarem do cativeiro, os judeus promoveram o encontro do ara- maico com o hebraico, utilizado em Jerusalém. Diversos textos em aramaico foram encontrados em contratos comer- ciais dos assírios, textos de sacerdotes judeus, correspondências pessoais, trechos e livros do Velho Testamento. Acredita-se, inclusive, que essa era a língua utilizada por Jesus e pelos apóstolos para falar com o povo simples. OS ARAMEUS E SEUS VIZINHOS (SÉCULO X a.C.) CIMÉRIOS TRÁCIOS Vale do Kuban MAR DE Rio MAR NEGRO Montes Cáucaso MAR ARAL Danúbio CÁSPIO ontes GREGOS HITITAS Montes Tauros Zagros LUVITAS MITÂNIOS Pérsico MAR MEDITERRÂNEO DHFeEEAsNBeARRÍrCAtSEIoSUOMÍdRSSEaIUOSSSíriaRioTigreRioEufrates M Golfo EGÍPCIOS VERMELHO MAR Nilo Pastores Rio seminômades TRÓPICO DE CÂNCER Fonte: Atlas da história do mundo. N SEMITAS DO SUL anderson de andrade PImentel São Paulo: Times/Folha de S.Paulo, NO NE (ÁRABES) 1993. p. 60-61. OL OCEANO ÍNDICO SO SE S 45º L 350 km 128 Vista da cidade de Maalula, na Síria, 2013. yIldIZ celIk/demotIX/corBIs/latInstock O futuro do aramaico depende dos poucos moradores dessa pequena cidade das montanhas da Síria e de aldeias vizinhas. Eles são os últimos falantes dessa língua. Uma língua em extinção Diferentemente de línguas indígenas ou afri- Cerca de 3 mil anos depois, o aramaico ainda canas, que provavelmente morrerão sem deixar sobrevive em dialetos falados na região. No entanto, esta língua antiga está rapidamente desaparecendo. registros, o aramaico é bastante estudado por lin- Com o surgimento e a expansão do islamismo guistas e historiadores. Mas isso não a torna uma a partir do século VII d.C., o aramaico foi, aos pou- cos, sendo substituído pelo árabe, que nos dias de língua viva. Para tanto, ela precisa ser praticada hoje é a língua oficial da maior parte dos países do Oriente Médio. em seu local de origem. Em Maalula, onde 25% da Mesmo assim, o aramaico sobrevive em dialetos população é muçulmana, foi inaugurada, no ano falados por comunidades pequenas da Síria. Mas, infelizmente, essa língua está com os dias conta- passado, uma escola que dá aulas de aramaico. dos. Como o número de falantes dos dialetos do aramaico vem diminuindo ano após ano, a língua A ideia é fazer com que as crianças da cidade usada por Jesus estará extinta, segundo especia- listas, até o final deste século. aprendam a falar e escrever a língua que vem dan- “No mapa das línguas em risco está o aramaico, do sinais de cansaço, na cidade onde, entretanto, a aquela que foi supostamente a língua materna de ”missa ainda é rezada na língua de Cristo. Jesus Cristo, hoje falada só na região de Maalula, [...] BETING, Graziella. A língua de Cristo luta contra a extinção. História Viva, 28 maio 2008. Disponível em www.uol.com.br/historiaviva/ na Síria. Uma das línguas com maior permanência noticias/a_lingua_de_cristo_luta_contra_a_extincao.html. Acesso em 14 maio 2015. na história, com mais de 3 mil anos, que chegou a Questões Responda em se espalhar por todo o Oriente Médio, o aramaico seu caderno tornou-se um dialeto local (que não é mais escrito), 1. Qual foi a principal influência cultural que falado atualmente por cerca de 1.800 moradores de os hebreus receberam do povo arameu? Que evento histórico marcou o início dessa Maalula, segundo dados da Unesco. influência? 2. O que vem acontecendo com a língua aramaica atualmente? 3. É possível evitar o desaparecimento dessa língua? Como? Pense e exponha sua opinião para os colegas. 129 ATIVIDADES Responda em seu caderno Compreender os conteúdos c) Quais são as implicações da crença em ILUSTRAÇÕES: ROKO uma \"terra prometida\" no mundo con- Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 1. Compare as características da civilização temporâneo? fenícia e da hebraica e responda. 4. Atividade em dupla. Leiam o texto a seguir, a) Do ponto de vista geográfico, qual diferença que descreve a difusão e o aperfeiçoamento entre elas podemos destacar? do alfabeto fenício, e observem o quadro comparativo dos alfabetos fenício, grego e b) Do ponto de vista da organização política, latino. Depois disso, responda às questões. as duas civilizações se assemelhavam ou se diferenciavam? Por quê? “Antes de chegar a Roma, o abc passou c) A religião desses dois povos se aproximava pela Grécia [...]. Os gregos copiaram e aper- da religião egípcia? Justifique. feiçoaram o que tinham aprendido com os fenícios [...]. Como eles eram comerciantes, d) A língua dos fenícios e a dos hebreus per- estavam sempre trazendo e levando mercado- tenciam ao mesmo tronco linguístico. Qual rias de um lugar para outro. Além de tecidos, é ele? Que outras línguas antigas e atuais joias e cerâmicas, os fenícios também levaram pertencem a essa mesma família de línguas? o seu alfabeto para outras terras. Mas havia um problema com a grande invenção fenícia: o 2. O primeiro dos Dez Mandamentos da Bíblia alfabeto não possuía vogais. Elas foram cria- das pelos gregos. [Estes] aprenderam a ler e diz: “Não terá outros deuses diante de mim”. a escrever com facilidade, pois não era preciso decorar centenas de sinais. Bastava conhecer a) Qual característica do judaísmo está rela- cionada a este mandamento? ”as 22 letras e seus respectivos sons. [...] Revista Semanal da Lição de Casa, n. 9. b) Você conhece outras religiões com essa São Paulo: O Estado de S. Paulo, s/d. mesma característica? Quais? Fenício c) Quais povos estudados anteriormente não Grego seguiam esse mandamento? Latino Ampliar o aprendizado Fonte: ROSA, Gabriele de; CESTARO, Antonio. Mito, storia, civilità. 3. Leia, abaixo, um dos salmos da Bíblia para, Milão: Minerva Itálica, 1981. em seguida, responder às questões. a) Qual é a principal diferença entre o alfabeto grego e o fenício? “Junto aos canais de Babilônia b) Por que o alfabeto criado pelos fenícios nos sentamos e choramos [...] facilitava a leitura e a escrita? Lá, os que nos exilaram pediam canções, c) Demonstrem, com base na imagem acima, nossos raptores queriam diversão [...] que os alfabetos grego e latino originaram- Como cantar um canto de Javé -se do alfabeto fenício. em terra estrangeira? Se eu me esquecer de você, Jerusalém que seque a minha mão direita. Que a minha língua se cole ao paladar, se eu não me lembrar de você, e se eu não elevar Jerusalém ”ao topo da minha alegria! Salmo 137. Bíblia sagrada: edição pastoral. São Paulo: Paulus, 1990. p. 821. a) A que período da história dos hebreus o salmo se refere? b) De que maneira esse salmo, cântico sagrado dos hebreus, se refere à Palestina? 130 5. Asterix e Obelix são dois personagens de uma série de histórias A série de histórias em quadrinhos de Asterix e em quadrinhos que vivem em uma vila da Gália (França atual), no Obelix foi criada em 1959 ano 50 a.C., e lutam para impedir que a vila seja conquistada pelos por Albert Uderzo e René romanos. Nos quadrinhos a seguir, Asterix e Obelix fazem uma Goscinny. Os quadrinhos viagem de navio em direção à Fenícia, onde esperam encontrar reproduzidos aqui fazem óleo de rocha, ingrediente essencial no preparo da poção mágica parte da história A odisseia que proporciona força sobre-humana aos gauleses. Com um colega, de Asterix, lançada em 1981. leiam os quadrinhos para responder às questões. Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. a) Na história em quadrinhos, a que cidade da Fenícia Asterix e Obelix se dirigem? b) Que características da civilização fenícia você pode identificar nesses quadrinhos? O que o mapa do primeiro quadrinho nos mostra sobre os fenícios? Aluno cidadão Centenas de países, milhares de culturas 6. Vocês perceberam, no estudo deste capítu- Em grupo, vocês irão escolher dois países atuais para pesquisar a diversidade cultural lo, que havia grandes diferenças culturais existente entre eles. Pode ser diversidade lin- entre os povos da Antiguidade? De fato, as guística, religiosa, de vestimentas, costumes diferenças entre os indivíduos e as cultu- alimentares, festividades tradicionais, prefe- ras são características da espécie humana. rências musicais, danças etc. Com o resultado, Mesmo hoje, com a disseminação da televi- produzam um álbum destacando as princi- são, da internet e das redes sociais, veículos pais características culturais dos dois países. que tendem a criar padrões de moda, de Insiram imagens e suas respectivas legendas conduta e de gostos, cada povo tem suas e exponham o resultado para a classe. particularidades. 131 CAPÍTULO A civilização grega 9 O que é democracia? A palavra democracia tem origem grega e significa poder (kratos) do povo (demos). Democracia é, portanto, um regime político em que todos os cidadãos podem discutir e decidir as questões que dizem respeito à vida de sua cidade, de seu estado ou de seu país. No Brasil (e na maior parte dos países da atualidade), os cidadãos participam das decisões políticas principalmente quando elegem re- presentantes para os cargos do Poder Executivo e do Poder Legislativo. A cada dois anos, os brasileiros são convocados a votar nas eleições para os cargos políticos  prefeito e vereador ou presidente da república, governador, deputado e senador. Como nesse modelo de democracia as decisões políticas não são tomadas diretamente pelos cidadãos, mas por seus representantes, ele é chamado de democracia indireta ou representativa. Esse modelo é diferente da democracia direta, na qual todos os cidadãos podem participar diretamente da tomada de decisões. É o que acontece, por exemplo, nas assembleias sindicais e estudantis, nas quais todos os participantes analisam as várias propostas e decidem, por meio do voto, as que devem ser aprovadas. Idosa vota em uma urna eletrônica LUCIANA WHITAKER/PULSAR IMAGENS no segundo turno das eleições DAMIEN MEYER/AFP de 2014, no Rio de Janeiro (RJ). Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Estudantes franceses votam em uma assembleia geral na cidade de Rennes, convocada para organizar a mobilização contra a reforma da previdência proposta pelo governo francês em 2010. 132 SPENCER PLATT/GETTY IMAGES J. DURAN MACHFEE/FOLHAPRESS Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Na área da Times Square, em Nova York, manifestantes Manifestantes reunidos na Avenida Paulista, em declaram solidariedade aos movimentos pró-democracia São Paulo, pedem a intervenção militar no país, em em Hong Kong, na China. Estados Unidos, outubro de 2014. dezembro de 2014. Ao estudar este capítulo, você verá que a democracia surgiu em Atenas, Respostas e comentários na antiga Grécia, no século VI a.C. No entanto, apesar de os atenienses exer- estão no Suplemento de cerem a democracia direta, o direito de fazer parte do governo era restrito aos apoio ao professor. homens livres maiores de 18 anos, nascidos em Atenas. Ou seja, apenas um grupo pequeno de pessoas tinha o direito de opinar sobre os rumos da cidade. Atualmente, em vários países a maioria da população exerce o direito de escolher seus representantes. No Brasil, por exemplo, homens e mulheres maiores de 16 anos e até estrangeiros naturalizados têm o direito de votar nas eleições. No entanto, a conquista e a manutenção desse direito enfrentam, ainda hoje, muitas dificuldades. Em diversas ocasiões, grupos que discordam da política dos governantes brasileiros, em vez de protestarem no terreno da de- mocracia, exigem, por exemplo, a intervenção de militares, desconsiderando o fato de eles não terem sido escolhidos pela população e terem atuado na história recente do Brasil contra princípios básicos da democracia. A manutenção da democracia tem sido, em muitos países, uma árdua tarefa. Muitas pessoas admitem que a democracia representativa possui falhas, mas, ao mesmo tempo, reconhecem que o caminho não é destruí-la, mas aprimorá-la. • Que outras formas de governo, além da democracia, você conhece? • Em sua opinião, quais são os problemas da democracia brasileira? • Para você, quem são os responsáveis pela manutenção da democracia? 133 GRÉCIA ANTIGA (SÉCULO VII a.C.) MAR ANDERSON DE ANDRADE PIMENTEL NEGRO 40°N Península Itálica Península BalcânicaMACEDÔNIA TRÁCIA Troia ÉPIRO MAR ÁSIA MENOR EGEU MAR ÁTICA JÔNICO Atenas PELOPONESO RODES Esparta N Fonte: OVERY, Richard. Atlas de l’histoire Grécia continental MAR MEDITERRÂNEO Cnossos NO NE du monde: des origines de l’humanité Grécia peninsular CRETA au XXIe siècle. Bagneux: Sélection du Grécia insular OL Grécia asiática Faístos Mália Readers’ Digest, 2005. p. 76-77. Magna Grécia SO SE 25°L S 140 km A Grécia antiga Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Analise atentamente os mapas desta página. O mapa acima apresenta as principais áreas onde viviam os antigos gregos. Observe que, no sécu- lo VII a.C., eles ocupavam uma área muito além da chamada Grécia con- tinental, região que concentrava as principais cidades do mundo grego. A Grécia também se estendia pelas ilhas do Mar Egeu, pela Ásia Menor, chamada Grécia asiática, e pelo sul da Península Itálica, conhecida como Magna Grécia. Observe também as faixas de terra cercadas pelo mar e o grande nú- mero de ilhas, sobretudo no Mar Egeu. O território da Grécia continental é marcado pelo relevo acidentado e por poucas terras férteis. As poucas áreas propícias para a agricultura e o litoral entrecortado, com muitos por- tos naturais, impulsionaram o comércio marítimo e a expansão territorial. GRÉCIA ATUAL (2013) As montanhas e os grandes vales existentes no ter- ritório constituíam uma barreira natural para a forma- ANDERSON DE ANDRADE PIMENTEL 25º L ção de um Estado unificado, como era o Egito antigo. Desse modo, em vez de se organizar como um poder BULGÁRIA centralizado, a Grécia dividia-se em pequenas unidades político-administrativas. Apesar de independentes poli- MACEDÔNIA TURQUIA (parte europeia) ALBÂNIA Tessalônica GRÉCIA ticamente, as cidades-Estado gregas estavam unidas pela 40º N língua e por tradições culturais. TURQUIA Compare agora os dois mapas. Note que a Grécia antiga, no século VII a.C., abarcava uma área muito mais extensa N Patras Atenas do que a atual e dividia-se em três importantes regiões: a NO NE Creta Grécia continental, a Grécia insular e a Grécia peninsular. OL Ao iniciar um segundo movimento de expansão terri- torial (650-550 a.C.), os gregos fundaram novas colônias SO SE Rodes no sul das atuais França e Espanha e no norte da África. S As marcas da presença grega nessas regiões permanece- 100 km MAR MEDITERRÂNEO Fonte: FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: ram nas construções, na pintura em vasos de cerâmica, espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 89. no alfabeto e no conhecimento científico e filosófico. 134 A civilização cretense a civilização cretense também é chamada de minoica, palavra que deriva de Minos, lendário soberano da ilha de creta. Cerca de mil anos antes da formação da sociedade grega, desenvolveu- Aqueu: povo indo-europeu -se na Ilha de Creta, ao sul da Grécia continental, a civilização cretense. seminômade, originário do norte A atividade econômica mais importante dos cretenses era o comércio da Europa, que chegou à região marítimo com o Egito e com os povos vizinhos da Ásia Menor. da Grécia por volta de 2000 a.C. Por meio do comércio, Creta estabeleceu relações com muitas ilhas do Mar Egeu e também com a Grécia continental. Esse contato estreito deixou suas marcas culturais na civilização que, mais tarde, nasceria nessa área. Os cretenses elaboraram um tipo de escrita chamada pelos estudiosos de Linear A. Essa escrita ainda não foi totalmente decifrada; por isso, mui- tos aspectos da cultura cretense causam controvérsias. O que sabemos até agora tem como base o trabalho da arqueologia. Pesquisas realizadas no sítio arqueológico de Cnossos, em Creta, indicam que os cretenses dominavam técnicas avançadas de constru- ção. Foram encontrados palácios luxuosos de cerca de 2000 a.C. que Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. guardavam joias, peças de cerâmica, pinturas e estatuetas de grande Sala do trono do Palácio de Cnossos, QuintaniLLa/sHutterstocK valor artístico. em Creta, na Grécia. Principal centro Por volta de 1450 a.C., a sociedade cretense entrou em declínio. É pro- político da sociedade cretense, o vável que fatores climáticos tenham motivado a migração dos aqueus para palácio começou a ser construído por a região. Os aqueus impuseram sua economia e sua língua, mas também incorporaram muitos aspectos da cultura cretense. volta de 1900 a.C. A sala do trono, porém, é datada do século XV a.C. Que técnicas construtivas e artísticas podem ser vistas nessa sala? os cretenses utilizavam colunas para sustentar suas construções. uma das marcas da arquitetura cretense era a confecção de colunas mais estreitas na 135base do que na parte superior. a sala do trono desse palácio foi decorada com afrescos de traços curvos e leves, predominantemente vermelhos e brancos. Elmo: espécie de capacete que A civilização micênica PAUL WILLIAMS/ALAMY/LATINSTOCK compunha a armadura utilizada Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. pelos soldados. Uma das principais cidades fundadas pelos aqueus foi Micenas, na Península do Peloponeso, por volta do século XV a.C. Por esse motivo, a Parte de uma necrópole real civilização formada por eles foi chamada civilização micênica. A escrita do século XV a.C., localizada micênica, a Linear B, é considerada a forma mais antiga da escrita grega. no sítio arqueológico de Micenas, na Grécia. Os micênicos dominavam a arte da guerra, e empregavam avança- das técnicas de combate. Os soldados usavam armaduras de bronze, lanças, escudos e elmos. Esses guerreiros eram temidos por outros povos da época. A sociedade micênica era governada por um rei e uma elite guerreira, que viviam em palácios. Ao redor desses palácios desenvolveram-se es- paços urbanos, cercados de muralhas, onde viviam os artesãos. Fora dos limites da muralha, havia aldeias de camponeses. Eles deviam entregar uma parte dos produtos agrícolas ao rei. Também havia escravos, que se dedicavam à produção de tecidos. Por razões ainda não claramente definidas pelos historiadores, a civilização micênica foi destruída por volta de 1200 a.C. Os palácios foram substituídos por construções mais simples. As aldeias passaram a ser organizadas em genos, pequena comunidade unida pela crença em um antepassado comum, em geral um herói ou mesmo uma divindade. Cada genos era comandado por um rei, que governava auxiliado por uma assembleia de guerreiros. Nessa mesma época, novos povos indo-europeus chegaram à região. Os jônios e os eólios se estabeleceram na Grécia continental e os dórios se fixaram no sul, na Península do Peloponeso e na Ilha de Creta. 136 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. A Guerra de Troia: lenda ou história? Explore Uma das histórias mais famosas da Grécia antiga trata da cidade de 1. Você conhece o Troia, que teria sido destruída pelos aqueus (gregos) após uma guerra que durou dez anos. Não se sabe ainda se a Guerra de Troia é apenas obra da desfecho da história? imaginação poética ou se de fato ela aconteceu. Escavações arqueoló- Conte aos colegas. gicas feitas nos séculos XIX e XX na província de Çanakkale, na Turquia, revelaram a existência de uma cidade reconstruída sucessivamente no 2. A Guerra de Troia mesmo local. É possível que essa cidade fosse a lendária Troia. deu origem a duas Localizada em uma importante rota comercial entre o Mar Negro e o Mar expressões muito Mediterrâneo, a cidade encontrada na Turquia era muito rica, e tudo indica utilizadas ainda hoje: que tenha sido alvo de constantes ataques de povos que tentavam saqueá-la. “presente de grego” As escavações também encontraram vestígios de uma imensa muralha, o e “agradar a gregos e que comprova que a cidade possuía um eficiente sistema de defesa. troianos”. Explique-as. Uma das principais fontes para o estudo da formação do povo grego 3. Você já ouviu falar são dois poemas épicos, a Ilíada e a Odisseia, atribuídos ao poeta Homero, que teria vivido por volta do ano 800 a.C. A Ilíada narra os acontecimen- dos “cavalos de troia” tos do último ano da Guerra de Troia (chamada de Ílion pelos gregos) da informática? Que e os feitos de deuses e de heróis. A Odisseia relata as aventuras do herói relação há entre eles grego Odisseu (ou Ulisses) em sua viagem de retorno à sua terra natal, e o cavalo citado na após lutar dez anos na guerra. narrativa da Guerra de Troia? Segundo a tradição mítica, a guerra foi motivada pelo rapto da bela Helena, esposa de Menelau, rei de Esparta, pelo príncipe troiano Páris. Tirinha de Frank & Ernest, do Os aqueus organizaram uma expedição, reunindo os heróis Aquiles e cartunista Bob Thaves, 2005. Odisseu, e partiram para Troia, dispostos a resgatar Helena. Agamenon, rei de Micenas, assumiu o comando do exército. Depois de dez anos de luta, os aqueus venceram os troianos, graças à astúcia de Odisseu. “Odisseu, o mais astuto dos gregos, teve então uma ideia: mandou fazer um enorme cavalo de madeira. Esse cavalo foi colocado em frente às portas, como se fosse um presente. [...] Quando os troianos viram isso, acharam que os gregos tinham desis- tido da guerra. Vieram logo olhar o presente. E quiseram levar o cavalo para dentro da cidade. [...] Mas eles não sabiam que dentro do cavalo estavam escondidos ”os melhores guerreiros gregos [...]. ROCHA, Ruth. Ruth Rocha conta a Ilíada. São Paulo: Moderna, 2010. p. 131-132. FRANK & ERNEST, BOB THAVES © 2005 THAVES / DIST. BY UNIVERSAL UCLICK FOR UFS 137 Aristocracia: grupo de pessoas A pólis grega Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. que detêm privilégios e controlam o poder em determinada Por volta do século VIII a.C., o crescimento do genos deu origem a sociedade; nobreza; elite dirigente. outra forma de organização social e política: a cidade-Estado, chamada pólis pelos gregos. A pólis era um centro político independente. Tinha seu próprio governo, exército, moeda e leis. O centro político da pólis era a acrópole, formada por um conjunto arquitetônico que reunia os tem- plos religiosos e os prédios mais importantes. Normalmente construída no local mais alto da cidade, também servia de refúgio em caso de perigo. A ágora era a praça onde os indivíduos se reuniam para discutir ques- tões que afetavam a vida da comunidade e para realizar trocas comerciais. Fora das muralhas ficavam as terras agrícolas e os bosques, que também faziam parte da pólis. Entre os séculos VIII e VI a.C., apenas os nobres, proprietários das terras mais férteis, tinham direito de intervir no governo e de ocupar os cargos administrativos. Essa poderosa aristocracia elegia um rei, que governava com o auxílio dos nobres. Assim, nessa fase da história grega, havia uma pólis aristocrática, pois o poder político era controlado por um grupo reduzido de pessoas. A expansão colonial grega Por volta do século VIII a.C., houve grande aumento populacional no mundo grego. As terras mais férteis foram se tornando insuficientes para produzir alimentos para toda a população. Para agravar o problema, cam- poneses pobres, donos de terras pouco férteis, acabavam se endividando e perdendo suas terras para os aristocratas. Muitos desses camponeses, por não poderem quitar suas dívidas, foram escravizados. A saída encontrada para reduzir as tensões sociais foi buscar novas terras fora da Grécia. Assim, muitos gregos empobrecidos abandonaram suas poleis (plural de pólis) e fundaram colônias na costa do Mar Medi- terrâneo e do Mar Negro. A EXPANSÃO COLONIAL GREGA (SÉCULOS VIII-VI a.C.) CEL TA S anderson de andrade PiMenteL Ólbia 40ºN sula Ibérica Massília Península Itálica ILÍRIA MAR NEGRO Odessa Penín TRÁCIA Bizâncio Calcedônia MERIDIANO DE GREENWICH Nápoles Tarento Lesbos LÍDIA ÁSIA MENOR N MAR MAGNA NO NE AgrSiIgCeÍMLnIEAtDoITGSEiRRraÉRcCÂuIAsNOaElíOmEsppiaaCrotarinMCAtoRtéeEgnTaaArsaSamMRoiolsedteos OL SO SE NUMÍDIA CHIPRE S FENÍCIA 370 km 0° Fonte: DUBY, Georges. Áreas de colonização Grécia continental Cirene Apolônia Atlas historique mondial. grega Baska Colônias gregas Barcelona: Larousse, Náucratis 2010. p. 34. Grécia peninsular Cidades-mães EGITO Grécia insular 20ºL 138 Atenas: uma pólis democrática A POPULAÇÃO DE ATENAS NO SÉCULO V a.C. Fundada pelos jônios na planície da Ática, próximo ao Mar Egeu, Atenas era uma das principais poleis do mundo grego. Inicialmente go- vernada por uma elite de grandes proprietários de terra, a pólis ateniense desenvolveu uma forma de governo que permitia a participação de todos os cidadãos nas decisões que diziam respeito aos interesses da cidade. Como isso aconteceu? No início do século VI a.C., Sólon, legislador e membro da aristocracia ateniense, aboliu a escravidão por dívidas e limitou os poderes dos aris- tocratas. Ele criou, ainda a Eclésia, a Assembleia Popular, da qual todos os cidadãos atenienses com mais de 18 anos de idade podiam participar. No entanto, apenas os mais ricos podiam ser eleitos governantes. Na Eclésia eram discutidos os problemas que afetavam a vida da cidade. Ela funcionava em conjunto com a Bulé, conselho composto de quinhentas pessoas que preparavam os assuntos que seriam discutidos e votados na assembleia. Entre 509 a.C. e 507 a.C., Clístenes, outro aristocrata, eliminou a divisão da sociedade ateniense de acordo com a riqueza e estabeleceu a igualdade de todos os cidadãos perante a lei. Era o início da democracia em Atenas. Na democracia ateniense, porém, só eram considerados cidadãos os homens maiores de 18 anos, filhos de mãe e pai atenienses. As mulheres, os estrangeiros e os escravos não tinham direito à cidadania. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.135 mil 40 mil Mourão Panda/Fotoarena120 mil Luiz rubio60 mil Cidadãos Mulheres e crianças Escravos Estrangeiros Fonte: FINLEY, Moses. Os gregos antigos. 2. ed. Lisboa: Edições 70, 1988. p. 27. Saiba mais Motorista desrespeita faixa de pedestres em Belo Horizonte (MG), em fotografia de 2014. Cidadania Por que, em sua opinião, muitos motoristas e pedestres desrespeitam as leis de trânsito A palavra “cidadania” pode ser definida, no no Brasil? sentido original, como o direito que o indivíduo tem de participar da vida política. A cidadania resposta pessoal (oral). é, portanto, o conjunto dos direitos políticos de que goza um indivíduo e que lhe permite intervir na direção dos negócios públicos do Estado, participando de modo direto ou indireto na formação do governo e na sua administração. No sentido mais amplo, no entanto, cida- dania é muito mais que o direito ao voto e à participação política. Ser cidadão é ter direito à educação, à saúde, à moradia e a uma vida digna. É atuar na sociedade pela concretização desses direitos. Cidadania também envolve um conjunto de deveres na relação com a coletividade, uma ati- tude de respeito aos interesses públicos. Ser ci- dadão significa, dessa forma, respeitar as regras de convivência social e a natureza: obedecer às leis de trânsito, respeitar o idoso, combater a indiferença diante dos problemas sociais do nosso tempo, preservar o patrimônio cultural e o ambiente, entre muitas outras ações. 139 tHe bridgeMan art LibrarY/KeYstone brasiL - Museu nacionaL A sociedade ateniense de arQueoLogia, nÁPoLes No século V a.C., Atenas tinha uma população estimada em 350 mil Platão conversa com seus pupilos, pessoas, a maior de toda a Grécia. Perante a lei, seus habitantes podiam mosaico romano do século I a.C. ser cidadãos, metecos ou escravos. Museu Nacional de Arqueologia, Itália. • Cidadãos. Grupo formado por homens livres, filhos de mãe e pai atenienses. Apenas eles podiam participar da vida política e adquirir Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. propriedades de terra. • Metecos. Eram os estrangeiros. Dedicavam-se ao comércio e ao arte- sanato. Eles podiam participar das cerimônias e festividades religio- sas, mas não tinham o direito de atuar na vida política nem de ter a propriedade da terra. • Escravos. Grupo constituído geralmente de prisioneiros de guerra ou filhos de escravos. Eles não tinham direitos políticos, econômicos nem militares. Trabalhavam na agricultura, nas tarefas domésticas, nas minas ou no artesanato. Para os cidadãos atenienses, a política era a atividade fundamental, que conferia ao indivíduo sabedoria e o respeito da comunidade. O trabalho manual e o ofício de comerciante eram menosprezados, principalmente pelos cidadãos mais ricos. Na concepção deles, o cidadão devia dedicar-se à política, à filosofia e à ginástica. A educação ateniense Em Atenas, as famílias decidiam como educar os filhos. Por volta dos sete anos, os meninos das famílias mais ricas tinham aulas de gramática e música, além de aprender a declamar poemas. Aos quinze anos, os rapazes iam para os ginásios, onde praticavam atividades físicas e tinham aulas de leitura, escrita, cálculo, poesia e música. Aprendiam os poemas de Homero e de Hesíodo e as fábulas de Esopo. Também estudavam política e filosofia, preparando-se para atuar na vida pública. As meninas geralmente não eram ensinadas a ler nem a escrever. Elas permaneciam em casa aprendendo as prendas domésticas, como fiar, tecer e cozinhar. Os pais casavam suas filhas ainda muito jovens. Vale a pena ler reProduÇão Fábulas de Esopo Russell Ash e Bernard Higton (Orgs.). São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1994. Segundo o historiador Heródoto, Esopo nasceu escravo na região da Frígia (atual Turquia) no século VI a.C. Libertado por seu senhor, Esopo viajou por vários lugares do Oriente e pela Grécia contando histórias para o povo, que as apreciava e as repetia. Suas histórias só foram transcritas para o papel cerca de duzentos anos após a sua morte. As lições de suas fábulas podem ser aplicadas a diversas situações e são conhecidas até hoje. 140 Esparta: uma sociedade militarizada A cidade de Esparta, situada na região da Lacônia, na Península do Peloponeso, foi fundada no século X a.C. pelos dórios. Seus descenden- tes, anos mais tarde, expandiram a área conquistada e dominaram a população nativa, exercendo sobre ela grande pressão militar para evitar qualquer rebelião. Ao contrário de Atenas, onde o regime aristocrático caminhou para a democracia, a atividade política em Esparta permaneceu dominada por um número reduzido de homens. Por essa razão se diz que a cidade caracterizou-se por ser uma oligarquia, ou seja, o regime político con- trolado por uma aristocracia poderosa e guerreira. A sociedade espartana Os espartanos criaram uma estrutura social rigidamente hierár- quica, em que somente eles tinham direitos sociais e políticos. Havia Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. roKo três grupos sociais claramente definidos em Esparta: os espartanos, os A SOCIEDADE ESPARTANA Espartanos periecos e os hilotas. Periecos • Espartanos. Também chamados de homoioi (“iguais”), descendiam dos antigos dórios e eram os únicos considerados cidadãos. Apenas eles podiam ter terras, escravos e ocupar cargos públicos. Os espartanos dedicavam-se à atividade militar. Viviam a maior parte de suas vidas nos quartéis, onde eram preparados para ser hábeis guerreiros. • Periecos. Homens livres que viviam nos arredores de Esparta e se dedicavam à agricultura e ao comércio. Não tinham direitos políticos, mas deviam pagar tributos e prestar serviços ao exército espartano. • Hilotas. Formavam a população mais numerosa de Esparta. Como haviam se rebelado contra os antigos dórios, perderam sua liberdade e qualquer direito civil, político e social. Os hilotas pertenciam ao Estado e deviam trabalhar nas terras dos espartanos. A extrema violência contra a população hilota marcou a sociedade espartana. No início de cada ano, segundo relato do filósofo Aristó- teles, os espartanos declaravam guerra aos Hilotas hilotas. Era a cryteia, espécie de ritual de passagem dos meninos espartanos quando eles, ao iniciar a vida adulta, tinham que caçar e matar hilotas. Ilustração representando as três camadas principais da sociedade espartana nos séculos VI-V a.C. Fontes: POWELL, Anton; STEELE, Philip. The Greeks News. Londres; Boston; Sidney: Walker Books, s/d. p. 12 e 29; MACDONALD, Fiona. Como seria sua vida na Grécia antiga? São Paulo: Scipione, 1996. p. 23. 141 THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/KEYSTONE O regime oligárquico de Esparta BRASIL - MUSEU DO LOUVRE, PARIS O governo da pólis espartana era exercido por uma diarquia, ou seja, Fundo de vasilha encontrada na dois reis com poder hereditário e vitalício. Com pouco poder, os reis se Lacônia, região da cidade histórica encarregavam de comandar o exército e as cerimônias religiosas. de Esparta, mostrando caçada a um javali, c. 550 a.C. Museu do A Gerúsia, um conselho formado pelos dois reis e pelos anciãos das Louvre, França. famílias mais poderosas, definia as propostas que seriam submetidas à votação na assembleia. Vitalício: que dura a vida inteira. A assembleia ou Ápela era formada por todos os cidadãos e votava os projetos apresentados pela Gerúsia. Porém, o poder de decisão da as- Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. sembleia era formal, pois podia ser dissolvida pela Gerúsia, que também BRIDGEMAN IMAGES/KEYSTONE tinha autoridade para anular uma votação com resultado desfavorável. BRASIL - MUSEU BRITÂNICO, LONDRES A mais alta autoridade espartana era exercida pelos éforos, cinco membros eleitos para controlar a vida dos cidadãos e supervisionar a Gerúsia, os reis e a assembleia. Os éforos tinham poder de veto sobre as decisões da Ápela e da Gerúsia. Educação para a guerra Acredita-se que Licurgo, legislador lendário que teria vivido no sécu- lo VIII a.C., tenha lançado as bases do sistema de educação espartano. Chamado de agogê, palavra grega que significava treinamento ou orien- tação, o sistema espartano foi reformado ao longo da história da cidade, incorporando o pensamento de outros pensadores até pelo menos o século V a.C. Como se orientava a formar futuros guerreiros leais à pólis, a edu- cação espartana era pública e obrigatória para os meninos. O agogê era, na realidade, condição para a obtenção da cidadania. Por isso, era supervisionado pelo Estado e pela comunidade. Aos sete anos, os rapazes das famílias ricas saíam de casa e iam viver em quartéis, onde permaneciam até por volta dos seus trinta anos. Lá, o treinamento consistia em exercícios de preparação física e atletismo. A disciplina era rígida e incluía castigos físicos por parte dos professores. Ao sair dos quartéis, o cidadão devia casar e ter filhos, mas não podia ter uma rotina familiar. Por exemplo, os homens deviam co- mer juntos, e não com suas famílias. Um cidadão espartano podia ser convocado para a guerra até os sessenta anos. As mulheres de Esparta praticavam exercícios e participavam dos jogos. Desde a infância, elas passavam por treinamento físico e psicológico e se preparavam para a vida de mães e esposas de guer- reiros. Elas também frequentavam reuniões públicas, praticavam esportes e ajudavam os maridos a administrar a economia familiar; portanto, tinham mais liberdade que as mulheres de qualquer outra cidade da Grécia. Escultura de bronze de uma garota correndo, encontrada próximo à cidade de Esparta, na Grécia, século VI a.C. Museu Britânico, Inglaterra. As mulheres espartanas praticavam exercícios físicos visando gerar valentes guerreiros. 142 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.As Guerras Greco-Pérsicas PETER OSHKAI/ALAMY/LATINSTOCK No início do século V a.C., algumas cidades gregas e o poderoso Império Persa se enfrentaram nas chamadas Guerras Greco-Pérsicas. Como os gregos chamavam os persas de medos, o confronto também ficou conhecido como Guerras Médicas. O conflito foi resultado da expansão dos persas pela costa do Mar Egeu, onde se situavam cidades gregas fundadas pelos jônios. Ao domi- nar as cidades, os persas obrigavam seus moradores a pagar tributos e a enviar soldados para o seu próprio exército. As cidades jônicas se rebelaram contra o domínio persa e receberam o apoio de Atenas e de outras cidades-Estado gregas. O rei persa Dario I sufocou a rebelião e decidiu, em 490 a.C., enviar uma frota para derrotar os atenienses. Segundo o relato do historiador grego Heródoto, o exército ateniense venceu os persas na Batalha de Maratona. Dez anos depois, os persas, já sob o reinado de Xerxes I, retomaram a ofensiva e invadiram o território grego por terra e por mar. Em apoio a Atenas, os espartanos enfrentaram o exército invasor na Batalha das Termópilas. Enquanto os espartanos resistiam, Atenas foi evacuada. Depois de vários dias, os persas venceram a batalha e marcharam rumo a Atenas, destruindo-a. No entanto, ao retornar às suas embarcações, o exército persa acabou surpreendido pela esquadra ateniense. Apesar de numericamente in- feriores, os atenienses possuíam embarcações menores e, portanto, mais ágeis, fator determinante para a vitória grega na Batalha de Salamina. Os gregos ainda enfrentariam os persas em várias outras batalhas, como as de Plateia e de Mícale. Após serem der- rotados nessas batalhas, os persas recuaram e desistiram de dominar a Grécia. Para expulsar os persas dos territórios gregos e prevenir novos ataques, os atenienses formaram a Confederação ou Liga de Delos, uma aliança defensiva que reunia as ilhas do Mar Egeu e as poleis da Ásia Menor. O objetivo era organizar uma poderosa frota marítima, financiada com os recursos recolhidos das cidades participantes. Cada pólis se comprometia a entregar para a Liga de Delos navios, homens ou dinheiro, a fim de financiar os custos com a de- fesa. O fundo levantado pelas cidades seria guardado na Ilha de Delos. Estátua do rei espartano Leônidas erguida em 1968 na moderna cidade de Esparta, na Grécia. Fotografia de 2014. Criou-se, ao longo dos séculos, um mito em torno da resistência de Leônidas e dos 300 guerreiros espartanos na batalha contra o exército persa de Xerxes, no desfiladeiro das Termópilas, em 480 a.C. Sinônimo de glória e heroísmo dos helênicos, a Batalha de Termópilas desafia os historiadores em seu esforço de separar a fantasia dos fatos históricos. 143 Álvaro de leiva rodríguez Vista da acrópole de Atenas, na Atenas e o século de Péricles Grécia, com o Partenon no centro. Por volta do ano 450 a.C., durante o governo do aristocrata Péricles, o tesouro da Ilha de Delos foi transferido para a cidade de Atenas. O dinheiro Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. foi investido na construção de uma grande frota comercial e no embeleza- mento e na fortificação da cidade, que havia sido destruída pelos persas. O esplendor de Atenas nesse período marcou o chamado século de Péricles. Péricles incentivou as artes, iniciou a reconstrução da acrópole e man- dou construir o Partenon, em homenagem a Atena, a deusa da cidade. No campo econômico, graças ao controle da Liga de Delos, Atenas conseguiu dominar as rotas comerciais do Mar Negro e exportar seus produtos para todo o Mediterrâneo. Além disso, Péricles aprofundou a democracia em Atenas. Uma das medi- das foi a decisão de remunerar os cidadãos que participavam das assembleias ou assumiam cargos públicos. A novidade possibilitou que os mais pobres pudessem deixar o trabalho para poder dedicar-se à atividade política. A Guerra do Peloponeso Ao terminarem as Guerras Médicas, a frágil aliança que unia as cida- des gregas começou a se romper. Esparta recusou-se a compor a Liga de Delos, liderada por Atenas, e formou, com outras cidades, a Liga do Peloponeso. As cidades aliadas de Atenas também questionavam o uso do tesouro da Liga de Delos em benefício da pólis ateniense. O conflito entre Atenas e Esparta se iniciou em 431 a.C. e se prolongou, por terra e por mar, até 404 a.C. A guerra passou por várias fases e ter- minou com a derrota de Atenas e a imposição da supremacia espartana sobre as demais poleis gregas. Menos de um ano depois, Atenas e outras cidades gregas se rebelaram contra Esparta, iniciando um período de lutas internas que enfraqueceu todas as cidades-Estado gregas. Debilitada, a Grécia não pôde evitar o domínio de uma nova potência: a Macedônia. 144 A conquista macedônica CULTURE CLUB/GETTY IMAGES Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. A Macedônia, situada ao norte da Grécia, era ha- Batalha de Issos, detalhe de um bitada por um povo que falava uma língua similar à mosaico encontrado na antiga dos gregos. Era governada por um monarca e sua base cidade romana de Pompeia. Nessa econômica era a agricultura. batalha, ocorrida em 333 a.C., o exército de Alexandre Magno No século IV a.C., o rei Filipe II reorganizou e moder- nizou o exército macedônico e iniciou um processo de venceu os soldados persas. expansão territorial e conquista de zonas gregas ricas em minerais. As cidades gregas, desunidas e debilitadas pelas guerras, não conseguiram resistir à ofensiva dos exérci- tos macedônicos. As poleis reconheceram a autoridade da Macedônia e incorporaram-se à Liga de Corinto, comprometendo-se a fornecer soldados, navios e armas e a prestar obediência ao rei macedônico. Com a morte de Filipe II, em 336 a.C., seu filho, Alexandre Magno, assumiu o poder e deu continuidade à política expansionista do pai. Em onze anos, seus exércitos conquistaram a Pérsia, o Egito, a Síria, a Mesopotâmia e chegaram ao Rio Indo, na Índia. A Macedônia tornou-se o centro do maior império formado até então, estendendo-se da Grécia até a Índia (veja o mapa abaixo). O IMPÉRIO MACEDÔNICO NO SÉCULO IV a.C. TURQUESTÃO ANDERSON DE ANDRADE PIMENTEL ILÍRIA Rio Danúbio MAR Rio Jaxant DE TRÁCIA MAR NEGRO MAR CÁSPIO ARAL es MACEDÔNIA Bizâncio MESOPRROiiooTÂTiMgrIeeAs GEsRDCpÉoaeCrrlIftiAnoatsoHTaAelbticJeaaÔnsHrNanesIalAesPsspoéorgnSataomPrIdSoeÁNÍDsSicIIGAoAómMrédEdioNiaOR PONTO ARMÊNIA Samarcanda Alexandria CIRMENAARICAMCERDEITTAE Antioquia Rio Oxo HIMALAIA GANDARA BACTRIANA CHIPRE Arbela MÉDIA R O Tiro Ecbátana AFEGANISTÃO Niceia Alexandria R Â N E SÍRIA Eufrat ASSÍRIA PÁRTIA ARACÓSIA Templo Alexandria PALESTINA Rio Indo de Jerusalém Babilônia Susa Amon SUSIANA 30° N Pasárgada Mênfis EGITO Golfo Persépolis MAR VERMELHOTebas PÉRSIA CARMÂNIA Porto de ÍNDIA Alexandria Alexandria Rio Nilo Pérsico MAR ARÁBICO N ETIÓPIA ARÁBIA Territórios dominados Estados independentes NO NE Territórios aliados Itinerário de Alexandre 50° L OL SO SE S 320 km Fonte: KINDER, Hermann; HILGEMANN, Werner; HERGT, Manfred. Atlas histórico mundial: de los orígenes a nuestros días. 22. ed. Madri: Akal, 2007. p. 64. 145 atividades Responda em seu caderno Compreender os conteúdos Em vez de amolecer seus pés com sapatos ou Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. sandálias, decretou que deveriam endurecê-los 1. Identifique as afirmações incorretas e as andando descalços [...] determinou que usassem um só traje o ano inteiro porque desta maneira corrija em seu caderno. suportariam melhor as variações de calor e frio. a) Os genos eram pequenas comunidades ur- O prefeito ou cabeça de bando vigiava para banas que se formaram durante o período que seu grupo não comesse demais nas refeições de hegemonia da civilização micênica. coletivas para que não se tornasse indolente ou desconhecesse as agruras da vida pobre. b) As poleis gregas eram unidades políticas independentes entre si. Elas tinham go- Sua crença era que, com este ensinamento na verno, moeda e exército próprios. infância, [...] poderiam lutar com estômago vazio c) Nas cidades-Estado da Grécia antiga, a ”quando fosse necessário. ágora era uma praça onde os cidadãos Xenofonte [430 a.C.-354 a.C.]. A Constituição dos lacedemônios. se reuniam para discutir os assuntos de In: Coletânea de documentos históricos para o 1o grau: interesse para a cidade. 5a a 8a séries. São Paulo: SE/Cenp, 1980. p. 62. d) A acrópole era um conjunto de terras onde a) Qual era a intenção das normas criadas se praticavam a agricultura e a pecuária. pelo legislador Licurgo? e) Na democracia ateniense, era cidadão todo b) A educação defendida por Licurgo existiu indivíduo do sexo masculino que possuísse em Atenas ou em Esparta? Justifiquem. a renda determinada pela lei. c) Por que Licurgo teria decidido retirar a edu- 2. Que semelhanças e diferenças podemos cação dos meninos da guarda de seus pais? destacar entre as sociedades espartana e d) O modelo de educação que aparece nesse ateniense no século V a.C.? texto existiu em toda a Grécia? Expliquem. 3. Construa uma ficha com os principais dados 5. Atividade em dupla. As fábulas de Esopo, como relacionados ao Império Macedônico. Consi- vocês aprenderam, eram contadas e repetidas dere as seguintes questões. em toda a Grécia e desempenhavam um papel importante na formação moral dos jovens ate- a) Em que região o império se originou? nienses. Conheçam agora uma dessas fábulas. b) Quem foram os principais comandantes “Morta de fome, uma raposa foi até um vinhedo do império? c) Em que século o império se formou? sabendo que ia encontrar muita uva. A safra havia d) Que territórios foram conquistados pelos sido excelente. Ao ver a parreira carregada de ca- chos enormes, a raposa lambeu os beiços. Só que macedônios? sua alegria durou pouco: por mais que tentasse, não e) Por que os macedônios conquistaram com conseguia alcançar as uvas. Por fim, cansada de tantos esforços inúteis, resolveu ir embora, dizendo: facilidade as cidades gregas? — Por mim, quem quiser essas uvas podem Ampliar o aprendizado levar. Estão verdes, estão azedas, não me servem. 4. Atividade em dupla. Leiam o pequeno trecho ”Se alguém me desse essas uvas eu não comeria. ASH, Russell; HIGTON, Bernard (Orgs.). Fábulas de Esopo. de um documento grego para responder às São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1994. p. 68. questões. a) Qual é a crítica ou a lição de moral trans- “Mas [o legislador] Licurgo, em vez de dei- mitida por essa fábula de Esopo? xar a cada cidadão o encargo de escolher um b) Que função uma fábula como essa teria escravo-tutor para seu filho, designou um [...] na educação das crianças gregas? guardião público dos meninos [...] com total autoridade sobre eles. c) Vocês acham que essa crítica pode ser aplicada aos tempos atuais? Expliquem. Para auxiliar o educador, criou um corpo de jovens fortes, portando chicotes para infligir castigos quando necessário. [...] 146 aluno cidadão Cidadania: substantivo feminino Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.6. Atividade em grupo. Nas cidades da Grécia an- a) Sob a orientação do professor, formem um Yassine gaidi/anadoLu agencY/gettY iMages grupo de trabalho para investigar quais tiga, as mulheres em geral exerciam funções são as principais dificuldades enfrentadas restritas ao espaço doméstico. Em cidades pelas mulheres do bairro ou da cidade onde como Atenas, por exemplo, elas não tinham vocês moram. A investigação será feita nenhum direito de cidadania, reservados ape- por meio de entrevistas com mulheres nas aos homens. Educadas para permanecer selecionadas pelos grupos. em casa servindo ao marido ou cuidando dos filhos, elas não podiam frequentar a escola, b) Antes da realização da entrevista, elaborem participar das assembleias ou exercer funções um roteiro com as principais questões que políticas e administrativas. A vida pública das serão investigadas. Podem ser questões mulheres em Atenas se restringia aos eventos relacionadas à dupla jornada de trabalho, religiosos exclusivamente femininos. salários, discriminação, entre outras. Nos dias de hoje, é comum vermos mulheres c) Escolham as mulheres que serão entre- vistadas (entre parentes, vizinhos, amigos exercendo as mais diferentes funções em nos- ou conhecidos no bairro) e combinem sa sociedade, desde o trabalho de operárias nas com elas uma data para a conversa. No fábricas, docentes em todos os níveis da edu- dia da entrevista, levem um aparelho de cação e comerciantes, a postos de comando em gravação de áudio e/ou um caderno de bancos, empresas de comunicação e na admi- anotações. Caso as mulheres entrevista- nistração pública. Mas as coisas nem sempre das autorizem, vocês podem tirar fotos e foram assim. Para você ter ideia, somente em gravar essa experiência. 1827 as mulheres foram autorizadas a estudar no Brasil, e o direito ao voto elas conquistaram d) Organizem um relatório com os resultados apenas na década de 1930. da entrevista e o ilustrem com fotografias Porém, apesar de muitas conquistas, as mu- e outras imagens. Montem na classe um lheres, principalmente as mais pobres, ainda mural com os relatórios das entrevistas. enfrentam muitas dificuldades. 026-f-EH6-C09-G Marcha de mulheres abre o Fórum Social Mundial (FSM) em Túnis, capital da Tunísia, em 2015. As mulheres tunisianas tiveram papel expressivo na luta por democracia em 2010-2011 e hoje lutam no país por dignidade, direitos e contra a opressão promovida por grupos fundamentalistas islâmicos. 147 CAPÍTULO Cultura e cotidiano na Grécia antiga 10 Respostas e comentáriosLeeMaGe/unIverSaL IMaGeS GrOuP/Getty IMaGeS - Dança em homenagem aos deuses estão no Suplemento de MuSeu arqueOLóGIcO nacIOnaL/tarantO, ItáLIa apoio ao professor. Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. “Na cultura grega, a dança ocupava um lugar muito importante. Em 148 documentos e livros podemos verificar como a dança estava presente na vida do cidadão grego. Imagens mostram a dança nos ritos religiosos, nas festas, no treinamento militar, na educação das crianças, na vida cotidiana, enfim. E era acessível a todos. [...] Os cidadãos gregos acreditavam no poder das danças mágicas e dançavam para seus inúmeros deuses. Um dos mais conhecidos é o deus Dionísio, deus da fertilidade e do vinho. Acredita-se que a orquestra (repre- sentação que incluía música e dança) nasceu com os agricultores, que tra- ziam a uva para a praça, no centro de Atenas, para fazer a pisa. Enormes cachos de uva eram esmagados com os pés, em um movimento coordenado. Os pisadores deslocavam-se em forma de roda, invocando o deus Dionísio com sua dança e canto. Dançarinos de ambos os sexos uniam-se pelos pulsos ou pelas mãos e, dessa maneira, pareciam um grande ramo de folhagens. Ligavam-se uns aos outros também pelos ombros ou por um pedaço de suas roupas. Quando a dança tinha mímica — ideias e sentimentos acompanhados de gestos e expressões fisionômicas —, os dançari- nos se separavam para ficar com as mãos livres. Essas danças, em sua maioria, eram leves e rápidas, associadas à poesia, e duravam ”vários dias. RENGEL, Lenira; LANGENDONCK, Rosana van. Pequena viagem pelo mundo da dança. São Paulo: Moderna, 2006. p. 12-13. Dançarinas, escultura grega de terracota, século III a.C. Museu Arqueológico Nacional, Itália.