Que mudanças começaram a ocorrer em toda a Europa durante esse período que contribuíram com a queda do sistema feudal?

A transição do feudalismo para o capitalismo foi um fenômeno que começou no século XIV e já foi objeto de discussão entre vários historiadores.

Que mudanças começaram a ocorrer em toda a Europa durante esse período que contribuíram com a queda do sistema feudal?
As trocas monetárias sofisticadas da Baixa Idade Média contribuíram decisivamente para o desenvolvimento do capitalismo

Por Me. Cláudio Fernandes

A chamada transição do feudalismo para o capitalismo (ou do sistema econômico feudal para o sistema econômico capitalista) começou no período da Baixa Idade Média, especificamente a partir do século XIV. Entretanto, a expressão “transição” supõe um processo de continuidade progressiva, como se não houvesse, nesse período, processos complexos de avanço e retrocesso econômico tanto no campo quanto na cidade medieval.

Esse tema da “passagem” ou “transição” da economia feudal para a capitalista foi (e ainda é) objeto de discussão entre várias correntes historiográficas. Dentro do campo marxista, autores como – além do próprio Marx – Maurice Dobb, Paul Sweezy e Ellen M. Wood estão entre os que mais debateram essa questão. Além dessa corrente, outros autores como Henri Pirenne, Max Weber, Ludwing Von Mises, Vilfredo Pareto, entre outros, também deixaram importantes contribuições a esse debate.

Mas o fato é que o sistema feudal entrou em profunda crise no século XIV em razão de fatores como a ascensão da burguesia nas cidades medievais, que passaram a ter uma intensa movimentação comercial nesse período; a crise no campo, as revoltas camponesas, a Peste Negra, entre outros. Essa crise forçou tanto os senhores feudais quanto os burgueses que estavam em ascensão a traçarem estratégias de desenvolvimento de suas estruturas econômicas.

Não se pode dizer, portanto, que as forças do capitalismo estavam em latência apenas nos comerciantes das cidades. Estavam elas também no campo, nos feudos, haja vista que o desenvolvimento comercial acabou favorecendo, em alguns casos, os senhores feudais. Não há uma causalidade direta que implique a passagem do feudalismo para o capitalismo centrada no renascimento comercial e urbano.

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O declínio do feudalismo e a origem do capitalismo foram, em grande parte, dois fenômenos históricos independentes, apesar de se desenrolarem simultaneamente. Foi do campo que nasceram as bases materiais para a indústria, sobretudo no caso inglês, e, ao mesmo tempo, a experiência do comércio nas cidades criou a sofisticada relação de troca monetária, que foi a base do crédito e do sistema financeiro que se desenvolveu a posteriori.

A Revolução Inglesa do século XVII foi decisiva para o fomento das condições de aparecimento da industrialização. Com a indústria, o sistema capitalista passou a ser imperativo e complexo, gerando a divisão acentuada do trabalho nas cidades e o aumento do grande fluxo da massa de operários.

Que mudanças começaram a ocorrer em toda a Europa durante esse período que contribuíram com a queda do sistema feudal?

Portos, navios e aviões cargueiros, todo esse imenso sistema de transportes de produtos nasceu para comportar a complexidade do sistema capitalista

Toda a complexa rede industrial e comercial, a nível mundial, que vemos hoje, atrelada ao também complexo sistema financeiro – bancos, bolsas de valores etc. – é fruto desse processo de ascensão do sistema capitalista, que começou no século XIV.

A crise do século XIV é como os historiadores resolveram chamar a sucessão de acontecimentos catastróficos que afetaram a Europa medieval. Entre as tragédias, constam os grandes ciclos de fome — causados por mudanças climáticas —, as guerras, a ocorrência de revoltas populares e a peste negra. Acredita-se que esse ciclo tenha acelerado o fim do feudalismo.

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Europa na Baixa Idade Média

Na Baixa Idade Média (a partir do século XI), a Europa passou por uma série de transformações que elevou até certo ponto o modo de vida do homem. O primeiro aspecto significativo foi um pequeno avanço no cultivo agrícola por meio de novas técnicas de arado do solo e pelo uso da rotatividade trienal do solo, por exemplo.

Houve também um aumento das terras que eram cultivadas por meio da drenagem de pântanos e da derrubada de florestas. Isso permitiu um pequeno aumento na produção agrícola, o que fez recuar, sobretudo no século XIII, a fome. Um dos principais efeitos disso foi o crescimento demográfico na Europa Ocidental, isto é, o aumento da população.

Além disso, a Europa presenciou um certo renascimento comercial e urbano, isto é, o comércio ganhou força e as cidades começaram a crescer e ganhar mais expressão. O renascimento comercial permitiu o desenvolvimento de rotas e pontos de comércio na Europa e garantiu um crescimento econômico entre os anos de 1200 e 1316.

No caso do crescimento urbano, registrou-se o surgimento de novos ofícios, uma vez que aqueles que chegavam às cidades precisavam de meios para sobreviver. Por fim, sobretudo no caso francês, houve relativa paz, isto é, a guerra, uma realidade tão comum durante a Alta Idade Média (séculos V ao X), tornou-se menos frequente.

Tudo isso começou a mudar a partir do século XIV, quando um cenário de crise se instalou na Europa Ocidental e acelerou transformações em curso na Europa. Basicamente, a crise do século XIV apressou a decadência do feudalismo na Europa. A junção dessas crises ao longo desse século foi chamada pelos historiadores de crise do século XIV.

Fome e revoltas sociais

Uma das primeiras tragédias que aconteceram na Europa durante esse século foi o retorno da fome. Isso aconteceu por uma série de fatores, mas tiveram destaque as mudanças climáticas. Os historiadores apontam que, no começo do século XIV, houve um resfriamento do clima, e o período de 1315  a 1322 foi marcado por chuvas além do normal.

A crise do século XIV intensificou as tensões sociais, que resultaram em diversas revoltas camponesas e urbanas.

Além disso, a Europa vivia um momento em que não havia mais expansão das terras cultivadas e a produtividade do solo era a mesma de séculos atrás. Esse fator, somado às questões climáticas, fez com que as colheitas, principalmente no ciclo 1315-1317, fossem muito ruins. A diminuição na quantidade de alimentos aumentou o preço da comida e fez com que muitos passassem fome.

Entre os séculos XIV e XV, registraram-se na Europa Ocidental cinco grandes ciclos de fome. Somente em Portugal, registraram-se 21 crises de falta de alimento|1|. Já na França, um relato de 1316 fala que as chuvas fortes e a fome que se espalhou contribuíram para debilitar as pessoas e espalhar doenças, causando milhares de mortes.

As dificuldades na produção de comida atingiram a economia, fazendo com que muitos camponeses se mudassem para as cidades. Por sua vez, os trabalhadores urbanos passaram a enfrentar uma redução salarial e aumento no desemprego. O resultado desse contexto foi o aumento da miséria e, consequentemente, o crescimento das tensões sociais.

Esse quadro permitiu que uma série de revoltas acontecesse, tanto no campo quanto nas cidades. Nas cidades, o aumento do desemprego, a grande quantidade de pessoas miseráveis, a falta de alimentos, os baixos salários e a intensa exploração dos artesãos motivaram revoltas populares em diversas cidades europeias.

No caso do campo, a miséria do campesinato e a intensificação da exploração nos laços servis (como aumento nos impostos) serviram de motivação para que camponeses realizassem revoltas contra os senhores feudais. No contexto francês, as revoltas de camponeses foram muito frequentes e receberam o nome de jacquerie.

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Guerra

As guerras recuperaram sua força no século XIV e trouxeram destruição, morte, fome e peste para as populações na Europa.

O século XIV ficou marcado também pelo aumento da violência por meio de guerras. O caso mais notável é o da Guerra dos Cem Anos, conflito entre ingleses e franceses que se arrastou de 1337 a 1453, totalizando 116 anos de guerra. Um fator importante é que as guerras desse período incorporaram avanços tecnológicos e novas armas, como os canhões.

O aumento da pobreza fez com que muitos miseráveis se dedicassem à guerra como forma de sobrevivência, passando a oferecer os seus serviços como mercenários. Segundo o historiador Jacques Le Goff, muitos homens formavam grupos militarizados, oferecendo seus serviços para cidades e reinos locais, enriquecendo e ganhando prestígio|2|.

Houve também locais que optaram por profissionalizar seus soldados, criando exércitos regulares que ficavam à disposição do reino, como no caso francês. Esses soldados ficavam disponíveis integralmente ao rei e recebiam um soldo pelos seus serviços.

Peste negra

Estima-se que o surto de peste bubônica, conhecido como peste negra, tenha causado a morte de 500 milhões de pessoas.

Outro fator que ampliou a situação caótica que a Europa experimentou nesse século foi a peste negra, uma pandemia de peste bubônica que levou caos e morte para quase todo o continente. Essa doença é transmitida para os seres humanos por meio de ratos contaminados com uma bactéria.

A doença foi trazida para a Europa por embarcações genovesas que fugiam de Caffa, por conta de um cerco realizado por tropas tártaras contra essa cidade. A doença se espalhou pela cidade quando as tropas tártaras decidiram jogar cadáveres contaminados para dentro de Caffa. Acredita-se que esse surto de peste bubônica tenha se iniciado em algum local da Ásia Central.

A doença chegou à Europa em 1347 e, no ano seguinte, já tinha se espalhado para todo o continente. A difusão dessa doença foi intensificada pelo fato de que, quando ela afeta humanos, pode ser transmitida pela via respiratória, tornando-se altamente contagiosa. Assim, milhões de pessoas contraíram a doença e, em questão de dias, faleciam.

A peste negra intensificou a desordem na Europa, pois destruiu governos, ampliou a fome, intensificou a violência e matou milhões. A medicina da época não tinha respostas sobre como combater a doença, mas logo se percebeu que o isolamento dos doentes era uma forma eficaz de evitar que a enfermidade se espalhasse.

Novos estudos apontam que a peste negra pode ter sido responsável pela morte de até 50 milhões de pessoas e que a Europa antes da doença possuía cerca de 80 milhões de habitantes. Os estudos antigos apontavam que 1/3 da população havia morrido, mas os novos estudos apontam estimativas que falam que de ½ a 2/3 da população europeia tenha morrido.

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Consequências

Todos esses acontecimentos tornaram o século XIV um período de intensas transformações na Europa. Os laços feudais se enfraqueceram e, consequentemente, as relações sociais se transformaram. A economia ganhou novas dinâmicas, enquanto na política o poder real começou a se fortalecer e a se centralizar.

A crise do século XIV marcou o fim do feudalismo, permitindo que o mercantilismo e o absolutismo começassem a se estabelecer. Por fim, novas classes começaram a surgir, com destaque para a burguesia.

Notas

|1| FRANCO JÚNIOS, Hilário. A Idade Média: nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2006, p. 47.

Que mudanças começaram a ocorrer em toda a Europa durante esse período que contribuíram com a queda do sistema feudal cite pelo menos duas?

Aumento da circulação de moedas. Surgimento de novas classes sociais. Antes os senhores feudais tinham todo o prestígio, com a queda do sistema, o comércio passou a ser dominado pela burguesia, classe com alto poder econômico. Expedições marítimas e descoberta de novas terras.

Quais foram as principais mudanças que ocorreram na Europa feudal?

Uma das primeiras mudanças ocorridas esteve ligada com o aumento da produção agrícola, que graças ao incremento de novas técnicas, permitiu uma maior circulação de mercadorias pela Europa. Novas rotas terrestres e marítimas se instalaram chegando a integrar a Europa a outras regiões do Oriente.

Quais foram os três principais fatores que contribuíram para as mudanças na Europa feudal?

Conheça um pouco mais sobre a história dos povos árabes e a origem da religião islâmica. Nesta aula, saiba mais sobre os três principais fatores que levaram à crise do sistema feudal: a fome, a peste negra e as guerras.

Quais foram as principais mudanças na Europa feudal no momento da transição da Idade Média para a Baixa Idade Média?

4) A transição da Alta Idade Média para a Baixa Idade Média é marcada por uma série de inovações técnicas, e consequentemente, uma expansão das áreas cultiváveis e da agricultura, o que gera uma maior produção de alimentos e maiores trocas comerciais.