Quais seriam os ancestrais comuns entre os primatas inclusive o seres humanos?

Londres - Um grupo internacional de cientistas descobriu no Quênia o crânio de um primata de 13 milhões de anos que pode revelar o ancestral comum entre macacos e humanos, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira pela revista "Nature".

A pesquisa, liderada pelo Turkana Basin Institute da Universidade Stony Brook e de Anza College, ambas nos Estados Unidos, analisa o crânio fossilizado de um filhote de macaco que se encontra "notavelmente completo", explicam os especialistas em um comunicado.

Entre os primatas atuais, e do ponto de vista evolutivo, os humanos estão mais próximos de símios como chimpanzés, gorilas, orangotangos e gibões.

Nesse sentido, nosso antepassado comum com os chimpanzés viveu na África há seis milhões de anos e, graças aos fósseis disponíveis, os especialistas foram capazes de explicar como os humanos evoluíram desde então.

Não obstante, sabia-se muito pouco sobre as características do antepassado comum de símios e humanos atuais antes dessas datas - há mais de dez milhões de anos -, devido à escassez de fósseis em bom estado.

Portanto, até agora os cientistas não tinham como constatar se esse ancestral comum provém da África, e ao mesmo tempo desconheciam que aspecto poderia ter.

Essas questões poderiam ter resposta a partir do estudo do citado crânio fossilizado, batizado como "Alesi" após ser descoberto em 2014 na zona de Napudet, ao oeste do lago Turkana (norte do Quênia).

A análise das imagens tridimensionais de "altíssima qualidade" obtidas através de raios-x revelou que esta criança macaco tinha aproximadamente 16 meses de idade quando morreu e que pertenceu a uma nova espécie de "Nyanzapithecus", ou "Nyanzapithecus alesi", em referência à palavra turkana "ales", que significa "antepassado".

"Até a data, todas as espécies de 'Nyanzapithecus' eram identificadas pelos seus dentes, mas não estava claro se eram símios", aponta no comunicado John Fleagle, da Universidade Stony Brook.

O crânio de "Alesi", do tamanho de um limão, apresenta "tubos auditivos ósseos" desenvolvidos, uma "característica importante" para relacioná-lo aos símios atuais, enquanto seu "pequeno focinho" se assemelha ao de um filhote de gibão, diz Ellen Miller, da Universidade Wake Forest da Carolina do Norte (EUA).

"A impressão inicial é que se trata de um gibão extinto. No entanto, nossas análises demonstram que essa aparência não é exclusiva de gibões, pois estes evoluíram várias vezes entre outros parentes extintos", observa Chris Gilbert, do Hunter College de Nova York (EUA).

Esta nova espécie, constatam os especialistas, não se comportava como um gibão, segundo o estudo do mecanismo responsável pelo equilíbrio encontrado em seu ouvido interno.

"Os gibões são conhecidos por seus movimentos rápidos e acrobáticos nas árvores, enquanto o ouvido interno de 'Alesi' confirma que se movia de uma forma muito mais cautelosa", acrescenta Fred Spoor, da University College London (Reino Unido) e do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva (Alemanha).

A descoberta deste fóssil demonstra que o "Nyanzapithecus alesi" fez parte de um "grupo de primatas que existiu na África durante dez milhões de anos", destaca o principal autor do estudo, Isaiah Nengo.

"Este grupo estava perto da origem dos símios e humanos atuais e essa origem era africana", conclui.

Quais seriam os ancestrais comuns entre os primatas inclusive o seres humanos?
Mesmo o primata mais parecido com o homem, o chimpanzé, é muito distinto do Homo sapiens. Susanne Jutzeler/Pixabay

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Em 1975, foi publicado um artigo na revista científica Science em que um professor da Universidade da Califórnia e sua aluna anunciavam que o DNA do ser humano seria 99% idêntico ao de um chimpanzé, primata que é o parente mais próximo da nossa espécie. O anúncio fez cair por terra a ideia de que a espécie humana é superior às outras. Afinal, como poderíamos sê-lo, se somos praticamente iguais a um macaco, animal muitas vezes retratado como inferior? No entanto, uma parte importante da história é omitida quando se reproduz a ideia de que somos 99% idênticos a eles.

Para chegar a esse número, os pesquisadores responsáveis pelo estudo compararam, é claro, o genoma humano e o genoma desses símios. O que não ficou claro foi a forma utilizada para chegar à porcentagem dos 99%.

O DNA é composto por pares de bases nitrogenadas, as quais codificam informações genéticas. Ao sobrepôr as sequências de bases encontradas em nós e nos chimpanzés, os cientistas se depararam com diversos trechos que não estavam presentes nos dois genomas — isto é, porções de DNA sem correspondência entre os dois animais. Além disso, encontraram trechos que estavam presentes em ambos, mas em porções distintas do DNA, e trechos que de fato eram idênticos, posicionados no mesmo local.

Para escrever o artigo, os pesquisadores desconsideraram as partes sem correspondência nos dois materiais genéticos, o que equivalia a um total de 1,3 bilhões de bases nitrogenadas. Assim, esse número, que representa 18% do genoma dos chimpanzés e 25% do genoma humano, foi ignorado na pesquisa. A comparação propriamente dita se deu entre as bases remanescentes, que eram 2,4 bilhões. Foi entre esses 2,4 bilhões de bases que foi constatada uma similaridade de 99%.

Ou seja: apesar de ser muito significativa, — sobretudo para a década de 70, quando não se dava valor à semelhança que compartilhamos com outros primatas — a simetria encontrada entre nós e eles é muito menor do que aquela que foi propagada por muitos anos.

Desde então, muitos outros estudos foram publicados em que a se investigou a semelhança do DNA do Homo sapiens com seus parentes. As porcentagens estimadas foram de 96%, 98%, entre outras conjecturas. Um parecer mais recente que foi aprovado por grande parte da comunidade científica é bem menor: 70%. Esse, sim, levaria em conta as partes não correspondentes entre os materiais genéticos.

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Seja como for, as correspondências são inegavelmente muitas. Contudo, não é difícil encontrar diferenças genéticas entre o homem e os chimpanzés. Há muitos casos que servem para ilustrar a longa lista de distinções encontradas quando comparamos os nossos materiais genéticos.

Um deles foi explorado na edição número 2644 de VEJA, na qual se fala sobre um estudo que revelou o motivo pelo qual o ser humano é, de longe, o animal com maiores chances de ter doenças cardíacas. Tudo se deve ao desaparecimento de um gene do DNA de um ancestral do Homo sapiens que, entre outras coisas, regula a produção de uma molécula ligada à formação de gorduras nos vasos sanguíneos. Em nenhum outro ser vivo (em seu estado natural), nem mesmo nos primatas, pode ser observada a síntese de gordura nas artérias de forma tão frequente.

Um outro bom exemplo é a refinada habilidade de comunicação. Chimpanzés possuem, sim, a capacidade de se expressar e de trocar informações uns com os outros. No entanto, a presença da linguagem de forma mais estruturada e elaborada é exclusividade humana — e grande parte do processo se deve à genética. De acordo com estudos recentes, o gene FOXP2, presente apenas na nossa espécie, é responsável pela habilidade de associar automaticamente palavras a imagens e experiências. Sem ele, a linguagem como a conhecemos seria impossível.

Outra distinção, também a nível microscópico, entre nós e os grandes primatas (isto é, gorilas, chimpanzés e orangotangos) é o número de cromossomos. O ser humano apresenta 23 pares de cromossomos, à medida que os membros do outro grupo têm 24. A assimetria vem do fato de que, depois de nosso ramo evolutivo se separar do ramo que originou os macacos modernos, dois cromossomos do homem se fundiram, diminuindo o nosso número cromossômico. O dos símios, no entanto, permaneceu intacto. Essa mudança ocorreu por meio da mutação, processo evolutivo aleatório e despropositado.

Ainda outra diferença traz resultados que podem ser observados a olho nu: é também a genética que explica o porquê de sermos o primata com mais tendências a engordar. Enquanto os outros membros do grupo possuem taxas de gordura corporal de menos de 9%, nós, graças a uma mudança na forma como o DNA é armazenado nas células de gordura, costumamos ter entre 14% e 31%. Um maior acúmulo desse tipo de tecido, que pode ser transformado em energia, foi uma grande vantagem evolutiva, já que nossos cérebros desenvolvidos — proporcionalmente muito maiores do que os de quase todos os outros mamíferos — exigem muita energia para operar.

Apesar das muitas distinções já constatadas, pode-se questionar: e se a semelhança dos genomas inteiros, inclusive as partes ignoradas pelos pesquisadores em 1975, fosse realmente de 99%? Ainda assim, haveria inúmeras divergências entre nossos materiais genéticos.

Pense assim: o DNA é formado pela combinação entre pares de bases nitrogenadas. A estimativa é de que cada célula humana contenha aproximadamente três bilhões de pares de bases. Se o que nos separa dos chimpanzés é 1% do DNA, isso equivaleria a 30 milhões de diferenças dentro de uma única célula — das quais temos trilhões. 

De qualquer forma, é um verdadeiro abismo genético que nos separa até mesmo dos nossos parentes mais próximos. Dadas as gigantescas dimensões do DNA, não é de se admirar. Nosso material genético é armazenado de forma compacta, em que as moléculas se enrolam em si mesmas e, assim, permitem que guardemos muita informação biológica em um minúsculo espaço físico. Se fosse possível desenrolar o DNA de apenas uma célula e então colocá-las lado a lado, a estimativa é de que seu comprimento seria de cerca de 2 metros. Juntando todas as células do corpo humano, teríamos DNA suficiente para percorrer duas vezes o diâmetro do sistema solar. Imagine quantas diferenças cabem nesse espaço.

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Quais são os ancestrais comuns entre os primatas inclusive os seres humanos?

3) O possível ancestral comum entre os seres humanos, o chimpanzé, o gorila e o orangotango seria o Ramapithecus, já que ao observar o cladograma, ele é o último nó entre essas especies.

Qual o ancestral comum entre os primatas?

Os fósseis de Ardipithecus kadabba, Sahelanthropus tchadensis, e Orrorin tugenensis são os mais próximos em idade e morfologia esperada ao ancestral comum entre chimpanzés e humanos e sugerem que ele pode ser mais antigo do que 7 milhões de anos.

Quais as semelhanças biológicas entre o ser humano e outros primatas?

Com base nas características anatômicas: rotação e liberdade de movimentos dos ombros e dos braços, a habilidade das mãos, tendo o primeiro dedo oponível funcionando como pinças para agarrar, foi possível o desenvolvimento de técnicas e ferramentas empregadas para caçar insetos, bem como abrir nozes, misturar alimentos ...

Quais são os ancestrais dos seres humanos?

Ancestrais dos seres humanos modernos.
Sahelanthropus tchadensis (6-7 milhões de anos atrás) ... .
Ardipithecus ramidus (4,4 milhões de anos atrás) ... .
Australopithecus afarensis (2,9-3,8 milhões de anos atrás) ... .
Australopithecus africanus (2,1-3,3 milhões de anos atrás) ... .
Homo habilis (1,4-2,33 milhões de anos atrás).