Porque a polêmica sobre a classificação dos vírus como seres vivos?

Jean-Michel Claverie, virologista de um laboratório público francês, não tem mais dúvidas: os vírus são realmente seres vivos. O fato de que eles podem adquirir doenças causadas por outros vírus  é um de seus argumentos para contestar a antiga afirmação de que os vírus eram inanimados. Em estudo publicado na Nature de 7 de agosto, precedido por um artigo que inclui o comentário de Claverie, equipes de quatro centros de pesquisa francês e de um norte-americano mostraram, por meio de microscopia eletrônica, como vírus gigantes que infectam bactérias, conhecidos como mimivírus, podem ser, eles próprios, infectados por outros vírus chamados Sputinik, de apenas 21 genes.

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Porque a polêmica sobre a classificação dos vírus como seres vivos?

RIO - Nunca a palavra “vírus” foi tão consultada no Brasil como no último mês de março. Segundo as ferramentas de pesquisa do Google, houve um crescimento de 285% no interesse de busca pelo termo nesse período. O crescimento acontece com o avanço da pandemia da Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, e o começo das medidas de isolamento social, para quem pode ficar em casa.

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Uma das dúvidas que surgiram na última semana em relação ao vírus é a pergunta: “vírus pode ser considerado um ser vivo justifique”. Segundo a biomédica Mirella Costa, a resposta é não:

- Há muito debate nessa área, não é uma resposta tão óbvia como parece. Mas o que sabemos é que o vírus, por não ter qualquer atividade metabólica fora da célula, por não captar nenhum nutriente, nem utilizar energia ou realizar qualquer atividade biossintética fora da célula hospedeira, não pode ser considerado um ser vivo.

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A bióloga Ana Luz Passos reforça que, de fato, a dúvida dos internautas é a mesma que muitos na comunidade científica:

- Há uma corrente que diz que eles não seres vivos por não possuírem células em sua composição, o que o impossibilita de sobreviver sem um hospedeiro. Porém, como eles podem sofrer mutações e se reproduzir, como outros seres vivos, há uma corrente que diz que eles poderiam ser considerados seres vivos. Há uma grande discussão sobre o assunto.

Pesquisas em relação ao coronavírus aumentam

Pesquisas relacionadas ao coronavírus também tiveram aumento expressivo na busca: o termo pandemia, por exemplo, teve crescimento de 2.250% no país no último mês.

Apenas nos últimos sete dias, as principais consultas relacionadas à palavra vírus são: coronavírus; coronavírus Brasil; sintoma coronavírus e casos coronavírus.

A comunidade científica está chegando a um consenso sobre a natureza desses seres que ficam entre o mundo dos vivos e dos não vivos

Por Ana Luísa Fernandes Atualizado em 31 out 2016, 19h04 - Publicado em 29 set 2015, 19h15

Porque a polêmica sobre a classificação dos vírus como seres vivos?
Wikimedia Commons /

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Por muito tempo os vírus têm causado um nó na cabeça dos cientistas. Há quem diga que eles são seres vivos, há quem diga que não. Na escola, você provavelmente aprendeu assim: vírus não são seres vivos porque não se reproduzem sozinhos – precisam de um hospedeiro para isso – e não têm metabolismo próprio. Na prática, isso significa que os vírus até podem sobreviver sem uma célula hospedeira, mas não conseguem produzir proteínas a partir de seu material genético. E isso impossibilita a reprodução independente para eles.

Em 2003, a descoberta dos mimivírus reacendeu a pergunta: os vírus realmente não são vivos? Confundidos com bactérias por quase 10 anos, os mimivírus são vírus gigantes, que até podem produzir algumas proteínas. E agora um novo estudo da Universidade de Illinois, que traçou a história evolutiva dos vírus, mostra evidências de que sim, eles são seres vivos.

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Para fazer isso, foram analisadas “dobras” de mais de 5 mil organismos, entre eles, 3,5 mil vírus. Essas dobras são estruturas de proteína que ficam inscritas no genoma de células quaisquer e dos próprios vírus. Resultado: 442 dobras são comuns entre vírus e células, e apenas 66 são exclusivas dos vírus.

Isso quer dizer que, evolutivamente, os vírus compartilhavam material genético com as céluas, mas em algum momento se tornaram entidades diferentes. Em entrevista, o líder da pesquisa, Caetano-Anollés, disse: “O simples fato de existir uma biologia universal unificando vírus e células, agora justifica a construção de uma árvore da vida que englobe vírus do lado das células”. Será que os livros de biologia serão reescritos?

Por que os vírus não são classificados como um ser vivo?

Os vírus não possuem células (acelulares): a unidade estrutural e funcional dos seres vivos. Essa característica contraria a teoria celular, que diz que todos os seres vivos são formados por células. Assim sendo, por não possuírem células, muitos afirmam que os vírus não são seres vivos.

Por que os vírus não estão incluídos nas propostas de classificação dos seres vivos como o sistema de três domínios que vimos anteriormente?

De acordo com Woese, existem três domínios: Archaea, Bacteria e Eukarya. Ressaltando que os vírus, apesar das controvérsias a respeito, são atualmente considerados formas particulares de vida, mas não se incluem em nenhum desses reinos, pois são acelulares.

Por que alguns pesquisadores afirmam que os vírus são seres vivos?

Quem defende que os vírus são seres vivos, argumenta que eles desenvolvem atividades consideradas complexas, já que conseguem burlar o sistema imunológico de outros seres, a ponto de provocarem doenças. Outro argumento que reforça a tese é o fato de que neles há a presença de material genético como DNA e/ou RNA.

Por que os vírus são seres vivos?

Jean-Michel Claverie, virologista de um laboratório público francês, não tem mais dúvidas: os vírus são realmente seres vivos. O fato de que eles podem adquirir doenças causadas por outros vírus é um de seus argumentos para contestar a antiga afirmação de que os vírus eram inanimados.