O que é um pleonasmo

Pleonasmo é uma figura de linguagem caracterizada pela repetição enfática de uma ideia. Assim, o pleonasmo de reforço ou estilístico pode ser classificado em duas categorias, isto é, semântico e sintático. Já o pleonasmo vicioso, chamado também de redundância, é um vício de linguagem, pois apresenta uma repetição desnecessária e excessiva, já que é a reafirmação do óbvio.

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Tipos de pleonasmo

Pleonasmo de reforço ou estilístico é uma figura de linguagem usada quando o enunciador pretende realçar uma expressão. Para isso, ele recorre à repetição de uma ideia. Assim, o pleonasmo pode ser classificado em:

Esse tipo está relacionado ao significado de uma expressão, como é possível observar no seguinte exemplo:

Eu também não acreditaria se não tivesse visto o massacre com meus próprios olhos.

Quando alguém diz que viu algo, está implícito, no significado do próprio verbo, que a pessoa viu com os olhos. Assim, “ver com os próprios olhos” é uma repetição que enfatiza a ação de ver para dar maior veracidade à afirmação.

O mesmo ocorre nos exemplos a seguir:

  • Arnaldo chorou muitas lágrimas depois que parti.
  • Ana sorria o sorriso vingativo dos impiedosos.
  • Busco viver uma vida sem complexidades.

Nesses exemplos, são ressaltados os atos de chorar, sorrir e viver com base em repetições associadas ao significado desses verbos, uma vez que chorar implica verter lágrimas; sorrir, esboçar um sorriso; e viver, ter vida. Portanto, “lágrimas”, “sorriso” e “vida” são termos usados, pelo enunciador, com a intenção de realçar determinado aspecto no enunciado.

O que é um pleonasmo
A ênfase propicia um melhor entendimento da mensagem.

Nesse caso, o pleonasmo é construído por meio da relação entre os termos da oração ou período:

A ela não lhe cabe decidir quem merece ou não aumento de salário.

Veja que o verbo “caber” exige um complemento indireto, no caso, o pronome “lhe”. No entanto, “lhe” é o mesmo que “a ele” ou “a ela”. Portanto, quando o enunciador usa a expressão “a ela” para enfatizar a quem não cabe decidir sobre o aumento do salário, ocorre um pleonasmo sintático, devido à repetição do objeto indireto.

Assim, ocorre pleonasmo sintático também nesta frase:

Os livros é preciso limpá-los o quanto antes.

No exemplo, observamos que “os livros” é o complemento direto do verbo “limpar”. Esse objeto direto é repetido por meio do pronome “los”, que se refere aos livros. Desse modo, a expressão “os livros” é colocada em evidência.

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Diferença entre pleonasmo e redundância

O que é um pleonasmo
A repetição gerada pelo pleonasmo vicioso é considerada um vício de linguagem.

A redundância ou tautologia, também chamada de “pleonasmo vicioso”, é um vício de linguagem. Ocorre, portanto, devido à desatenção do enunciador. Desse modo, diferentemente do pleonasmo de reforço ou estilístico, a redundância não possui uma intenção expressiva, e seu uso é condenado pela norma culta.

São exemplos de pleonasmo vicioso as expressões “descer para baixo”, “subir para cima”, “entrar para dentro”, “sair para fora”, entre outras, como:

  • O carrasco decapitou a cabeça do condenado.
  • Alessandra, você tornou a repetir o mesmo erro de concordância.
  • É preciso prever com antecedência os perigos do caminho.

Note que o verbo “decapitar” significa cortar a cabeça, “repetir” é o mesmo que tornar a fazer alguma coisa e “prever” é ver algo com antecedência. Dessa maneira, as repetições acabam sendo excessivas e desnecessárias.

Portanto, na redundância, o enunciador acaba afirmando o óbvio. Afinal, só se pode sair para fora, não há como sair para dentro, e não é possível decapitar um braço, pois o verbo apenas se refere ao decepamento de uma cabeça. Já nas frases a seguir, explicitadas anteriormente, isso não acontece:

  • Arnaldo chorou muitas lágrimas depois que parti.
  • Ana sorria o sorriso vingativo dos impiedosos.
  • Busco viver uma vida sem complexidades.

Evidentemente, Arnaldo só pode chorar lágrimas. No entanto, podem ser muitas ou poucas lágrimas. Já a palavra “sorriso” indica a ação de sorrir. Ainda, o ato, com a repetição, não só é realçado mas também qualificado, pois Ana mostra o sorriso vingativo dos impiedosos. Por fim, a vida é o ato de existir, isto é, de viver. O sujeito “eu” busca uma existência sem complexidades, mas poderia buscar o contrário disso.

O que pretendemos deixar claro é que, no pleonasmo de reforço ou estilístico, a repetição provoca algum tipo de efeito expressivo, o qual é essencial para o nosso entendimento do enunciado. Já no pleonasmo vicioso, ou redundância, a repetição não provoca nenhum tipo de alteração no sentido, pois “entrar para dentro” ou “prever com antecedência” não passam de afirmações do óbvio e não acrescentam nada ao que é enunciado.

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Exercícios resolvidos

Questão 1 – Todas as alternativas a seguir apresentam um pleonasmo vicioso, EXCETO:

A) Com a diminuição das exportações, o país apresentou um deficit negativo de 12 bilhões.

B) A empresa de telefonia teve monopólio exclusivo sobre o serviço durante dois anos e meio.

C) Já faz mais ou menos cinco dias que chove uma chuva ácida na grande e bela cidade de São Paulo.

D) A morte do jovem cantor de pagode foi uma surpresa inesperada para todos os seus fãs.

E) É claro que eu deixei de apoiá-lo quando ele reincidiu de novo no mesmo erro e não pediu desculpa.

Resolução

Alternativa C. As expressões “deficit negativo” (alternativa A), “monopólio exclusivo” (alternativa B), “surpresa inesperada” (alternativa D) e “reincidiu de novo” (alternativa E) são pleonasmos viciosos. A exceção, portanto, é a alternativa C, que apresenta o pleonasmo de reforço ou estilístico “chove uma chuva ácida”.

Questão 2 – Leia o “Soneto de fidelidade”, de Vinicius de Moraes:

De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

MORAES, Vinicius de. Nova antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

Nesse poema, é possível identificar um pleonasmo de reforço ou estilístico no seguinte verso: A) “De tudo, ao meu amor serei atento” B) “E rir meu riso e derramar meu pranto” C) “Quem sabe a morte, angústia de quem vive” D) “Quem sabe a solidão, fim de quem ama”

E) “Que não seja imortal, posto que é chama”

Resolução

Alternativa B. A expressão “rir meu riso” é um pleonasmo de reforço ou estilístico, já que enfatiza a ação de rir, além de qualificar tal ato como pertencente ao eu lírico.

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O pleonasmo compõe o conjunto de figuras de sintaxe. Trata-se dos fenômenos linguísticos relacionados diretamente com a construção frasal, com a estrutura dos elementos sintáticos na oração.

Neste caso, o pleonasmo configura-se por uma repetição, para alguns gramáticos sua característica principal é o excesso.

Dessa forma, define-se o Pleonasmo pela repetição de um termo já expresso ou de uma idéia já sugerida, com a finalidade de enfatizar a mensagem ou torná-la clara e compreensível. Por esta razão, para alguns gramáticos, esta figura de construção ocorre como um excesso na oração, um elemento que não oferece perda de sentido caso seja retirado do contexto. É uma redundância, a repetição de palavras apenas para reforçar a ideia expressa.

Com isso, o pleonasmo pode ocorrer como uma repetição desnecessária. Nesse caso o pleonasmo se torna vício de linguagem e é denominado pleonasmo vicioso. Acontece comumente na interação oral entre os falantes.

Por exemplo: “descer para baixo”, “subir para cima”, “sair para fora”.

O caso do pleonasmo vicioso é a caracterização da superabundância de palavras para expressar uma ideia ou um desejo.

No exemplo à seguir, construiu-se situações para a fala popular, observe como ocorre o pleonasmo vicioso neste tipo de interação lingüística:

São situações cotidianas:

Situação 1: a mãe de uma criança está chamando-o para entrar em casa:

- Entre para dentro, João.

Situação 2: um chefe nervoso com seu funcionário que não realizou uma tarefa:

- Suba lá em cima agora, imediatamente, nesse momento e traga os documentos, Marcos.

Estes são apenas exemplos, situações hipotéticas, de como os falantes se valem desse recurso, muitas vezes de maneira não refletida, mas sim envolvidos pela emoção do contexto, para se comunicar. O que leva à conclusão, que geralmente, o pleonasmo não se trata de um recurso estilístico da linguagem a ser utilizado na literatura, por exemplo, ou em textos rebuscados. Mas sim, um recurso de expressividade da comunicação oral.

O pleonasmo só se justifica para dar maior relevância, para emprestar maior vigor a um pensamento ou sentimento. Nesse sentido, para alguns estudiosos, quando o pleonasmo ocorre sem acrescentar peso ou ênfase às emoções expressas, sem que coloque na situação uma relevância maior, ele se torna desnecessário, e logo significa uso inadequado da linguagem. Alguns autores classificam este tipo de uso como resultado apenas da ignorância do sentido exato aos termos empregados, tornando-se uma falta grosseira. Estão neste caso frases como:

Manter monopólio exclusivo.

Ser o principal personagem protagonista.

Nessas frases o adjetivo denota um exagero condenável, próximo do erro: não há monopólio que não seja exclusivo; o protagonista significa principal personagem.

Ocorre uma manifestação do pleonasmo que se distingui da redundância viciosa: trata-se do emprego do adjetivo como efeito de natureza em expressões do tipo “sol claro”, “rio doce”, “céu azul”

Este é um modo do uso do pleonasmo que ocorre com maior freqüência nos contextos poéticos e literários, nesse sentido é tomado como um recurso estilístico, o que não parecia possível no pleonasmo vicioso.

Conforme a “Nova gramática do português contemporâneo”, dos autores Celso Cunha e Lindley Cintra, “não se trata de inútil reiteração da ideia que já se continha no substantivo. O adjetivo insiste sobre o caráter intrínseco normal ou dominante do objeto. É uma forma de ênfase, um recurso literário.” O que significa afirmar, que o pleonasmo pode funcionar como ferramenta para desenvolver um texto com estilo e beleza através do efeito que a repetição de sentidos das palavras confere às orações.

Bibliografia:

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CASTILHO, Ataliba T. de. Nova gramática do português brasileiro. – 1. Ed., 4ª reimpressão – São Paulo: Contexto, 2016

CITELLI, Adilson. Linguagem e Persuasão. 15. Ed., 4° reimpressão – São Paulo: Ática, 2002.

CUNHA, Celso e CINTRA, Luís F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. – 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

GARCIA, Maria Cecília. Minimanual compacto de gramática da língua portuguesa: teoria e prática – 1. ed. – São Paulo: Rideel, 2000.

Koch, Ingedore Grunfeld Villaça. A inter-ação pela linguagem. 5 ed. – São Paulo: Contexto, 2000 – Coleção: Repensando a Língua Portuguesa

MARTELOTTA, Mário Eduardo. (org.) – Manual de Linguística. – 1ª ed., 2ª reimpressão.- São Paulo: Contexto, 2009.