Importância da biodiversidade da Amazônia

Pesquisa sobre população de répteis na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, no Amazonas, a 650 quilômetros a oeste de Manaus, confirma a hipótese de que a terra firme é mais rica em número de espécies, e as  áreas de várzea têm maior quantidade de animais.   A unidade de conservação, de 2,3 milhões de hectares, é banhada pelo rio Solimões e costuma ser inundada na época de cheia - por três a seis meses, com variação do nível de água em até dez metros. O rio Solimões tem 1.700 quilômetros de extensão e, ao se juntar com o rio Negro, forma o rio Amazonas.  

A pesquisa foi feita pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Teve como objetivo “avaliar a diferença de ambientes e a influência sobre a biodiversidade, para entender como funciona a dinâmica do ambiente de várzea, o ambiente de terra firme e como a diversidade local interage com essas situações”, explica o biólogo Yuri Cobra, integrante do Grupo de Pesquisa em Ecologia de Vertebrados Terrestres do Instituto Mamirauá.

 

Em um ano de coleta de animais na unidade de conservação, 512 espécimes (indivíduos) de cobras e lagartos foram coletados. Foram identificadas 39 espécies (tipos) de animais em terra firme e 30 em matas alagadas de várzea.

Quatorze dessas espécies conseguem se adaptar a mais de um tipo de condição ambiental - chão firme, copas das árvores e/ou às áreas inundadas pelo leito do rio. Todos os animais identificados têm hábitos diurnos. Não foram feitas coletas durante a noite.

Importância da preservação

 Para Yuri Cobra, o trabalho de pesquisa básica mostra que “as estratégias de preservar grandes áreas são importantes dentro do processo de conservação, mas não podem ser vistas como único fator decisivo para conservar a biodiversidade. O ambiente saudável é elemento importante para o processo de evolução.” Por causa da localização e da topografia, a unidade de conservação está em uma das áreas mais preservadas da Amazônia.   Conforme o biólogo, o mosaico da região, com áreas úmidas e secas, favorece a qualidade ambiental. Além dos processos ecológicos, a diversidade é virtuosa para o uso sustentável de recursos (como pesca e agricultura familiar) e novas descobertas científicas, como produção de medicamentos a partir de venenos de cobra.  

O Instituto Mamirauá contabiliza que “o Brasil tem o terceiro maior número de répteis do mundo, com 795 espécies descritas. Destes, 753 são espécies de répteis escamosos (lagartos, cobras e anfisbênias), dentre as quais 44% têm ocorrência na Amazônia brasileira – correspondendo a 189 espécies de cobras e 140 de lagartos.”

Importância da biodiversidade da Amazônia
A Amazônia compreende um dos maiores e mais diversificados biomas do planeta contendo uma rica biodiversidade de fauna e flora com alto grau de endemismo. Em uma área de quase quatro mil km² ela integra oito estados brasileiros e 125 unidades de conservação federal.

O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Amazônica - CEPAM é um Centro especializado do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) criado em 2006 como um dos primeiros Centros biomáticos do Instituto. Neste grandioso bioma, o Centro trabalha na geração e gestão de informações que subsidiam a implantação de medidas de conservação, monitoramento e aprimoramento das políticas ambientais voltadas a conservação da biodiversidade amazônica.

Nas atividades executadas pelo CEPAM, destacam-se o monitoramento da biodiversidade aquática amazônica, por meio da coordenação do Subprograma Aquático Continental do Programa MONITORA, a execução da Avaliação do Risco de Extinção das espécies de peixes continentais amazônicas, a atuação em Planos de Ação Nacional para a recuperação de espécies ameaçadas no bioma, participação em projetos de pesquisas e a realização de ações de Educação Ambiental.

O CEPAM encontra-se localizado no município de Manaus, estado do Amazonas. Sua sede foi construída no campus da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, possibilitando uma maior interação com o meio acadêmico no desenvolvimento de projetos de pesquisa e conservação da biodiversidade amazônica.

Coordenação do CEPAM

Rafaela Vicentini



Endereço: Av. Gal. Rodrigo Otávio Jordão Ramos, nº 6.200 Campus Universitário Senador Arthur Virgílio Filho - Setor Sul, Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Coroado, Manaus/AM. CEP 69.077-000

A biodiversidade da Amazônia é gigantesca e essa excepcional variedade de vida tem um papel fundamental para o funcionamento dos ecossistemas e, em última instância, para o bem-estar humano. A sua importância é reconhecida mundialmente, ocupando lugar de destaque no cenário internacional. Infelizmente, porém, as ameaças a essa rica biodiversidade são crescentes. Os desmatamentos e incêndios florestais vem aumentando nos últimos anos. A exploração ilegal de madeira sempre predomina sobre o manejo legal. As hidrelétricas e a mineração promovem mudanças socioambientais drásticas. Para completar, as mudanças climáticas se sobrepõem a todos esses problemas.

A perda de biodiversidade pela degradação dos ecossistemas leva a prejuízos inestimáveis. Um dos principais é o rompimento de uma teia de processos e interações biológicas essenciais para a saúde ambiental e humana. Por exemplo, a redução na diversidade de árvores de crescimento lento leva a uma menor capacidade de absorver carbono da atmosfera, contribuindo para agravar as mudanças climáticas globais. Menos árvores significam também menor evapotranspiração e uma redução das chuvas na América do Sul. A redução da diversidade de besouros leva à menor dispersão de sementes que, por sua vez, impede a recuperação natural dos ecossistemas aos distúrbios. A perda da biodiversidade também compromete o potencial do seu uso sustentável e de prosperidade para as populações locais e outras ao redor do mundo pelo aproveitamento de bioprodutos em indústrias.

A despeito da sua importância, o desconhecimento da biodiversidade amazônica e de seus serviços ecossistêmicos ainda é um grande obstáculo na atualidade. A falta de compreensão sobre o grau de integridade e as consequências da degradação dos ecossistemas amazônicos limita a tomada de decisão e a promoção da sustentabilidade na região. Há muitos grupos de pesquisa, em diversas instituições, se dedicando a mapear a distribuição das espécies amazônicas. Porém, apesar do acúmulo de conhecimentos taxonômicos, ao longo dos séculos, há muito menos pesquisas com abordagens ecológicas, particularmente sobre as respostas da biodiversidade à degradação dos ecossistemas. Além do mais, o conhecimento existente ainda é pulverizado, separado por grupos taxonômicos, por distúrbios e ambientes específicos e em localidades isoladas.

O Synergize é um projeto do Centro de Sínteses SinBiose que foi criado para abordar estas lacunas. Seu objetivo é sintetizar o conhecimento sobre a biodiversidade em toda a Amazônia brasileira e compreender o grau de integridade e ameaça às florestas, rios e igarapés amazônicos.

O Synergize vem estabelecendo uma das mais extensas redes de pesquisa e está criando uma das maiores bases de informações sobre a biodiversidade da Amazônia. O projeto já consolidou uma rede de colaborações com cerca de 337 pesquisadores de 150 instituições do Brasil e do mundo; e que atuam ou atuaram em pesquisas com a vegetação lenhosa, a fauna terrestre e os ecossistemas aquáticos da Amazônia. Os dados de vegetação estão sendo organizados sistematicamente através de uma parceria com a rede ForestPlots. Ao se depositar os dados na plataforma, estes são automaticamente padronizados, atualizados e submetidos a um controle de qualidade rigoroso. Os dados da fauna terrestre vem sendo padronizados e serão depositados em uma base de dados criada através de uma parceria entre o Synergize e a empresa Quipo Tech. Essa base de dados da fauna receberá informações sobre amostragem, dados de espécies, indivíduos, variáveis ambientais e traços funcionais. Além disso, a ampla base de dados com informações sobre espécies de peixes, macrófitas e macroinvertebrados e seus habitats vem sendo consolidada.

O primeiro esforço do Synergize foi investigar a representatividade atual dos estudos ecológicos da vegetação lenhosa, da fauna terrestre e da biodiversidade aquática ao longo da região amazônica. Para isso, buscamos responder várias perguntas, dentre as quais: [1] Quais são as regiões onde se concentram mais estudos e quais fatores contribuem para isto? [2] Onde estão as lacunas do conhecimento? [3] Qual a representatividade de estudos nas áreas protegidas? [4] As parcelas de estudo abrangem as regiões com mais mudanças climáticas esperadas no futuro? As respostas a essas perguntas irão orientar políticas públicas de conservação, estratégias de manejo sustentável, futuras pesquisas e investimentos em Ciência e Tecnologia.

A partir da compilação de mais de 11.436 parcelas de estudo, nossas primeiras análises de síntese mostram aspectos importantes (Figura 1). A amostragem das plantas ainda é mal distribuída na Amazônia brasileira. Observamos que mais de um terço da região não tem qualquer sítio de estudo em um raio de 100 km. Além disso, cerca da metade das parcelas estão localizadas em áreas com projeções de aumento das secas. Para a fauna terrestre, dados a partir de >4700 sítios de coleta e 256 estudos ecológicos demonstram que a maioria dos estudos de aves, formigas e besouros escarabeíneos estão concentrados em bacias hidrográficas da Amazônia Central e Oriental, evidenciando uma falta de amostragem principalmente no leste e sudeste amazônico. Por último, a biodiversidade aquática também é desconhecida. Descobrimos que apenas uma de 36 bacias hidrográficas avaliadas tem uma boa representatividade de estudos ecológicos de peixes, enquanto muito pouco se conhece sobre insetos aquáticos e macrófitas, particularmente no oeste da Amazônia.

Nossas pesquisas irão informar onde amostragens futuras devem ser concentradas e o esforço necessário para aumentar a representatividade do conhecimento da biodiversidade dos ecossistemas terrestres e aquáticos da Amazônia. Informar políticas públicas de conservação com evidências científicas é essencial para a proteção e manutenção da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos da Amazônia frente à crescente degradação causada por atividades humanas e estresses climáticos. As sínteses do conhecimento do Synergize serão disponibilizadas amplamente visando oferecer evidências científicas para orientar mudanças transformadoras na região amazônica.

Para saber mais: Veja o blog com os primeiros resultados do Synergize

Importância da biodiversidade da Amazônia

Figura 1– Distribuição dos estudos na Amazônia brasileira sobre a biodiversidade terrestre (aves, besouros e formigas), aquática (invertebrados aquáticos, macrófitas e peixes) e vegetação. Os dados de mais de 150 grupos de pesquisa foram compilados pelo projeto Synergize, por meio do contato direto e parceria com os colaboradores de dados individuais ou em redes de pesquisa (ForestPlots e ATDN). Cada ponto corresponde a um transecto/plot amostrado.

Raquel Carvalho - Doutora em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais pela UFU (2020). Suas pesquisas focam no impacto de atividades antrópicas na biodiversidade e funcionamento dos ecossistemas tropicais. Atualmente, atua como pesquisadora de pós doutorado do projeto Synergize, principalmente no Eixo Fauna Terrestre.

Fernanda Martins - Doutora em Ecologia e Evolução pela UFG (2016). Suas pesquisas investigam determinantes da biodiversidade sob uma perspectiva local e biogeográfica, e como estressores antrópicos, em particular as mudanças climáticas, afetam a biodiversidade. Atualmente, colabora como pesquisadora no Eixo Aquático do projeto Synergize.

Angélica Resende - Doutora em Botânica pelo INPA (2019), com atuação na ecologia de florestas tropicais, restauração florestal e sensoriamento remoto aplicado à vegetação. Concluiu um ano de pós-doutorado no Synergize-RAS (Eixo Vegetação) e atualmente atua como colaboradora no projeto.

Erika Berenguer - Pesquisadora Sênior das universidades de Oxford e Lancaster no Reino Unido. Junto da Rede Amazônia Sustentável (RAS) atua investigando os impactos da extração madeireira, dos incêndios florestais e das mudanças climáticas na ciclagem de carbono e na biodiversidade amazônica.

Filipe França - Pesquisador Sênior na Lancaster University (LU, Reino Unido) e doutor em Ecologia Aplicada e Science of Tropical Environments pela UFLA e LU (2015). Seus estudos se concentram nos impactos ecológicos das atividades humanas e estressores climáticos em ecossistemas tropicais. Membro do comitê gestor da RAS e co-coordenador do projeto Synergize.

Joice Ferreira - Pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, doutora em Ecologia pela UnB (2006). Atua em pesquisas socioecológicas na Amazônia brasileira, envolvendo respostas da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos à degradação dos ecossistemas. Co-fundadora da RAS e Co-coordenadora do projeto Synergize.

O Synergize é um dos sete projetos aprovados na primeira chamada do SinBiose/CNPq. O projeto reúne 29 pesquisadores, incluindo pós-doutorandos, estudantes de doze instituições nacionais e cinco internacionais. A saber: Embrapa Amazônia Oriental, Instituto Nacional de Pesquisa na Amazônia, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Lancaster University, Manchester Metropolitan University, Museu Paraense Emílio Goeldi, Naturalis Biodiversity Centre, Universidade de São Paulo, Universidade Federal de Lavras, Universidade Federal do Acre, Universidade Federal do Amazonas, Universidade Federal do Mato Grosso, Universidade Federal do Pará, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Federal Rural da Amazônia, University of Leeds e Virginia Tech.