Histórico Show
A primeira de suas nove edições surge em 15 de maio de 1922, aberta por um editorial-manifesto, que define as tendências da revista, marcada pela contradição da necessidade de se abrir para as idéias estrangeiras, porém sem perder de vista o nacional. Os dois últimos números aparecem em uma edição dupla, em janeiro de 1923. A revista publica poemas de escritores brasileiros como Manuel Bandeira (1886 - 1968), artigos do correspondente no Rio de Janeiro, o então jovem poeta e crítico literário Sérgio Buarque de Holanda (1902 - 1982), além de definir-se como internacionalista, contando com os correspondentes Albert Ciana, na Suíça, L. Charles Baudouin (1893 - 1963), na França e Roger Avermaete (1893 - 1988), na Bélgica. Klaxon é pioneira na publicação de crítica cinematográfica no país, em artigos assinados por Mário de Andrade comentando filmes como O Garoto de Charles Chaplin, por exemplo. Além disso, publica artigos sobre cultura, crítica literária, poemas, piadas, anúncios satíricos e gravuras. Além de ter logo na primeira hora acalorado o debate sobre as idéias da Semana de Arte Moderna, a revista ainda é a primeira de muitas publicações importantes que surgem ao longo da década de 1920 em diversos pontos do país como Estética, A Revista, Terra Roxa e Outras Terras, Festa, Verde e Revista de Antropofagia. Ela acaba quando deixa de divertir seus editores. Introdução"E vivemos uns oito anos, até perto de 1930, na maior orgia intelectual que a história artística do país registra." (Mário de Andrade, a respeito. dos anos que se seguiram à Semana de Arte Moderna) Realizada a Semana de Arte Moderna e ainda sob os ecos das vaias e gritarias, tem início uma primeira fase modernista, que se estende de 1922 a 1930, caracterizada pela tentativa de definir e marcar posições. Constitui, portanto, um período rico em manifestos e revistas de vida efêmera: são grupos em busca de definição. Nessa década, a economia mundial caminha para um colapso, que se concretizaria com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929. O Brasil vive os últimos anos da chamada República Velha, ou seja, o período de domínio político das oligarquias ligadas aos grandes proprietários rurais. Não por mera coincidência, a partir de 1922, com a revolta militar do Forte de Copacabana, o Brasil passa por um momento realmente revolucionário, que culminaria com a Revolução de 1930 e a ascensão de Getúlio Vargas. Nelson Werneck Sodré, ao analisar as décadas de 1920 e 30 em História da literatura brasileira, explica:
De 1930 a 1945, o movimento modernista vive uma segunda fase, a qual reflete as .. transformações por que passou o país, que inaugura uma outra etapa de sua vida republicana. Momento HistóricoUm mês após a Semana de Arte Moderna, a política brasileira vive dois momentos importantes: em 1° de março, a eleição para a escolha do sucessor de Epitácio Pessoa na Presidência da República, com a vitória do mineiro Artur Bernardes sobre Nilo Peçanha; nos dias 25, 26 e 27 de março, a realização, no Rio de Janeiro, do congresso de fundação do Partido Comunista Brasileiro. A eleição de 1922 ocorre em meio a grave crise econômica e, contrariando a norma da República do Café-com-leite, polariza-se entre as candidaturas de Artur Bernardes (representante das oligarquias de São Paulo e Minas Gerais) e Nilo Peçanha (representante das oligarquias de Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul). Trata-se de uma disputa motivada por interesses pessoais e locais, e não por propostas diferentes de governo. Entretanto, o acirramento do quadro político e a agitação da campanha eleitoral trazem à tona o descontentamento de importante setor da sociedade: a classe média, representada por jovens oficiais militares, que exige mudanças e tenta impedir a posse de Artur Bernardes. O processo revolucionário tem início com a revolta dos militares do Forte de Copacabana, em 5 de julho de 1922; o movimento, entretanto, dura apenas 24 horas e termina com a caminhada fatal, pelas ruas de Copacabana, de 17 jovens militares e um civil contra mais de 3 mil soldados das forças governistas. Esse episódio, conhecido como Os 18 do Forte, significou, nas palavras do historiador Edgard Carone, "o sacrifício por um ideal", ficando gravado como símbolo de luta. Os primeiros anos do governo de Artur Bernardes são marcados por um constante estado de sítio, censura à imprensa e intervenções nos estados. No entanto, essas medidas não são suficientes para estancar a marcha revolucionária: em 5 de julho de 1924, dois anos após os acontecimentos de Copacabana, estoura uma revolução em São Paulo em que os militares exigem o fim da corrupção, maior representatividade política, voto secreto e justiça. O movimento dos tenentes em São Paulo dura aproximadamente um mês e termina com a retirada dos revoltosos em direção ao interior, onde se encontram com tropas vindas do Rio Grande do Sul, comandadas pelo capitão Luís Carlos Prestes. Para dar continuidade à luta, a saída é a formação de uma coluna com aproximadamente mil homens, sob o comando de Prestes, que correria o Brasil, difundindo os ideais revolucionários. Depois de percorrer 24 mil quilômetros e enfrentar tropas do exército, forças regionais, jagunços e os cangaceiros de Lampião, a Coluna Prestes embrenhasse em território boliviano. O período de 1922 a 1930 também se caracteriza por definições no quadro político partidário: em 1922, sob o impacto da Revolução Russa, é criado o Partido Comunista, que contava, entre seus fundadores, com vários elementos egressos das lutas anarquistas; em 1926 surge o Partido Democrático, de larga penetração entre a pequena burguesia paulista e que teve, entre seus fundadores, Mário de Andrade. A situação política e social brasileira é de aparente calma com a eleição de Washington Luís para sucessor de Artur Bernardes. Mas, na realidade, o país caminhava para o fim desse período de convulsões sociais com a ocorrência da Revolução de 1930 e a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, iniciando-se uma nova era da história brasileira. Mário de Andrade dá seu depoimento:
CaracterísticasO período de 1922 a 1930 é o mais radical do movimento modernista, justamente em consequência da necessidade de definições e do rompimento com todas as estruturas do passado. Daí o caráter anárquico dessa primeira fase e seu forte sentido destruidor, assim definido por Mário de Andrade:
Ao mesmo tempo que se procura o moderno, o original e o polêmico, o nacionalismo se manifesta em suas múltiplas facetas: uma volta às origens, a pesquisa de fontes quinhentistas, a procura de uma "língua brasileira" (a língua falada pelo povo nas ruas), as paródias - numa tentativa de repensar a história e a literatura brasileiras - e a valorização do índio verdadeiramente brasileiro. É o tempo do Manifesto da Poesia Pau-Brasil e do Manifesto Antropófago, ambos nacionalistas na linha comandada por Oswald de Andrade, e do Manifesto do Verde-Amarelismo ou da Escola da Anta, que já traz as sementes do nacionalismo fascista comandado por Plínio Salgado. Como se percebe já no final da década de 20, a postura nacionalista apresenta duas vertentes distintas: de um lado, um nacionalismo crítico, consciente, de denúncia da realidade brasileira, politicamente identificado com as esquerdas; de outro, um nacionalismo ufanista, utópico, exagerado, identificado com as correntes políticas de extrema direita. Dentre os principais nomes dessa primeira fase do Modernismo e que continuariam a produzir nas décadas seguintes, destacam-se Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Antônio de Alcântara Machado, além de Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida e Plínio Salgado. As revistas e os manifestosKlaxonA revista Klaxon - Mensário de Arte Moderna foi o primeiro periódico modernista, fruto das agitações do ano de 1921 e da grande festa que foi a Semana de Arte Moderna. Seu primeiro número circulou com data de 15 de maio de 1922; a edição dupla, de números 8 e 9, a última da revista, saiu em janeiro de 1923. Klaxon foi inovadora em todos os sentidos: desde o projeto gráfico (tanto da capa como das páginas internas) até a publicidade das contracapas e da quarta capa (propagandas sérias, como a dos chocolates Lacta, e propagandas satíricas, como a da "Panuosopho, Pateromnium & Cia." - uma grande fábrica internacional de... sonetos!). Na oposição entre o velho e o novo, na proposta de uma concepção estética diferente, enfim, em todos os aspectos, era uma revista que anunciava a modernidade, o século XX buzinando (Klaxon era o termo empregado para designar a buzina externa dos automóveis), pedindo passagem.
Manifesto da Poesia Pau-BrasilO manifesto escrito por Oswald de Andrade foi inicialmente publicado no jornal Correio da Manhã, edição de 18 de março de 1924; no ano seguinte, uma forma reduzida e alterada do manifesto abria o livro de poesias Pau-Brasil. No manifesto e no livro Pau-Brasil (ilustrado por Tarsila do Amaral), Oswald propõe uma literatura extremamente vinculada à realidade brasileira, a partir de uma redescoberta do Brasil. Ou, como afirma Paulo Prado ao prefaciar o livro:
A seguir, alguns trechos do Manifesto:
A RevistaA Revista foi a publicação responsável pela divulgação do movimento modernista em Minas Gerais. Circularam apenas três números, nos meses de julho e agosto de 1925 e janeiro de 1926; contava entre seus redatores com Carlos Drummond de Andrade. Em seu primeiro número, o editorial afirmava:
Verde-AmarelismoEm 1926, como uma resposta ao nacionalismo do Pau-Brasil, surge o grupo do Verde-Amarelismo, formado por Plínio Salgado, Menotti del Picchia, Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo. O grupo criticava o "nacionalismo afrancesado" de Oswald de Andrade e apresentava como proposta um nacionalismo primitivista, ufanista e identificado com o fascismo, que evoluiria, no início da década de 30, para o Integralismo de Plínio Salgado. Parte-se para a idolatria do tupi e elege-se a anta como símbolo nacional. Oswald de Andrade contra-ataca em sua coluna Feira das Quintas, publicada no Jornal do Comércio, com o artigo "Antologia", datado de 24 de fevereiro de 1927. Nele, Oswald faz uma série de brincadeiras, utilizando palavras iniciadas ou terminadas com anta. Em 1928, o mesmo Oswald escreve o Manifesto Antropófago, ainda como resposta aos seguidores da Escola da Anta. O grupo verde-amarelista também faria publicar um manifesto no jornal Correio Paulistano, edição de 17 de maio de 1929, intitulado "Nhengaçu Verde-Amarelo - Manifesto do Verde-Amarelismo ou da Escola da Anta", que, entre outras coisas, afirmava:
Manifesto Regionalista de 1926Os anos de 1925 a 1930 marcam a divulgação do Modernismo pelas vários estados brasileiros. Assim é que o Centro Regionalista do Nordeste, com sede em Recife, lança o Manifesto Regionalista de 1926, em que procura "desenvolver o sentimento de unidade do Nordeste" dentro dos novos valores modernistas. Apresenta como proposta "trabalhar em prol dos interesses da região nos seus aspectos diversos: sociais, econômicos e culturais". Além de promover conferências, exposições de arte, congressos, o Centro editaria uma revista. Vale lembrar que, a partir da década de 1930, o regionalismo nordestino resultou em brilhantes obras literárias, com nomes que vão de Graciliano Ramos, José Lins do Rego, José Américo de Almeida, Rachel de Queiroz e Jorge Amado, no romance, a João Cabral de Melo Neto, na poesia. Revista de AntropofagiaA Revista de Antropofagia teve duas fases (ou "dentições", segundo os antropófagos). A primeira contou com 10 números, publicados entre os meses de maio de 1928 e fevereiro de 1929, sob a direção de Antônio de Alcântara Machado e a gerência de Raul Bopp. A segunda apareceu nas páginas do jornal Diário de S. Paulo foram 16 números publicados semanalmente, de março a agosto de 1929, e seu "açougueiro" (secretário) era Geraldo Ferraz. O movimento antropofágico surgiu como uma nova etapa do nacionalismo Pau-Brasil e como resposta ao grupo verde-amarelista, que criara a Escola da Anta. Em janeiro de 1928, Tarsila do Amaral pintou uma tela para presentear seu então marido Oswald de Andrade pela passagem de seu aniversário. A tela impressionou profundamente Oswald e Raul Bopp, que a batizaram com o nome de Abaporu (aba, "homem"; poru, "que come"), daí nascendo a ideia e o nome do movimento. Em sua primeira "dentição", iniciada com o polêmico Manifesto Antropófago, assinado por Oswald de Andrade, a revista foi realmente um espelho da miscelânea ideológica em que o movimento modernista se transformara: ao lado de artigos de Oswald, Alcântara Machado, Mário de Andrade, Drummond, encontramos textos de Plínio Salgado (em defesa da língua tupi) e poesias de Guilherme de Almeida, ou seja, de típicos representantes da Escola da Anta. Já a segunda "dentição" apresenta-se mais definida ideologicamente - houve, até mesmo, uma ruptura entre Oswald de Andrade e Mário de Andrade. Afinal, vivia-se uma época de definições. Continuam antropófagos Oswald, Raul Bopp, Geraldo Ferraz, Oswaldo Costa, Tarsila do Amaral e a jovem Patrícia Galvão, a Pagu. Os alvos das "mordidas" são Mário de Andrade, Alcântara Machado, Graça Aranha, Guilherme de Almeida, Menotti del Picchia e, naturalmente, Plínio Salgado. Do Manifesto Antropófago, transcrevemos alguns trechos:
Oswald de Andrade Em Piratininga. Ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha. Outras revistasAlém das revistas e manifestos já citados, deve-se mencionar ainda a Revista Verde de Cataguazes, de Minas Gerais, que teve cinco edições entre setembro de 1927 e janeiro de 1928, trilhando o caminho aberto por A Revista. No Rio de Janeiro, em 1924, circulou a revista Estética; em São Paulo, no ano de 1926, havia a revista Terra Roxa e Outras Terras, de pequena expressão, apesar de contar com a colaboração de Mário de Andrade e de Rubens Borba de Moraes. Em 1927, no Rio de Janeiro, circulou a revista Festa, fundada por Tasso da Silveira, que tentava revalorizar a linha espiritualista de tradição católica e tinha Cecília Meireles como colaborado Qual revista começou a ser publicada ainda em 1922 como PortaAssim se apresentava no primeiro número, de 15 de maio de 1922, Klaxon: Mensário de Arte Moderna, principal porta-voz do ideário da Semana de Arte Moderna e do modernismo – o movimento inspirado nas vanguardas europeias de início do século que renovou a literatura e as artes no Brasil, ao romper com a estética ...
Qual o nome da revista que surge com propostas modernistas?Orfismo - A primeira fase do Modernismo em Portugal se deu com o lançamento da revista Orpheu. Fundada em 1915 por um grupo de escritores e artistas plásticos, a revista foi responsável pela divulgação das tendências modernistas presentes na Europa no século XX.
Quais foram as revistas do modernismo?As revistas Klaxon (SP, 1922-23), Estética (RJ, 1924-25), A Revista (Belo Horizonte, 1925-26), Terra Roxa e Outras Terras (SP, 1926), Verde (Cataguases, 1927-29) e Revista de Antropofagia (SP, 1928-29) são as primeiras publicações brasileiras a integrarem a plataforma, iniciativa mantida como uma atividade científica ...
Qual foi o nome da primeira revista modernista que tinha como intenção anunciar a modernidade os novos tempos o que significa seu nome?Klaxon foi uma revista mensal de arte moderna que circulou em São Paulo de 15 de maio de 1922 a janeiro de 1923. Foi a primeira publicação modernista brasileira após Semana de Arte Moderna. Seu nome é derivado do termo usado para designar a buzina externa dos automóveis.
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