Olhar para o céu sempre aguçou a imaginação dos povos. O ocidente se acostumou às constelações criadas na Grécia Antiga a partir da junção de estrelas: Áries, Capricórnio, Leão, Escorpião e muitas outras. Usadas na astronomia e na astrologia, essas constelações ocidentais não são unanimidade Show Povos indígenas de todo o mundo - do Egito à América, sempre utilizaram as estrelas como uma espécie de agenda do clima e como bússola para orientação. Normalmente associadas aos rituais das tribos, as constelações indígenas foram fundamentais para a sobrevivência de diferentes etnias. Mito ou astronomia? Saiba como os indígenas veem as constelações: “As constelações são usadas durante todo o ano. Algumas tem finalidades religiosas, outras são mais por curiosidade, mas elas servem, principalmente, como calendário agrícola”, explica Germano Afonso, pós-doutor em etnoastronomia e que já mapeou mais de 100 constelações indígenas Tupi-Guarani. As flutuações sazonais indicadas pelas constelações influenciam no período da pesca, caça, plantio e colheita. Cada imagem formada no céu permitia aos índios identificar que uma nova estação do ano estava por vir. O astrônomo explica que, ao saberem do inverno, os indígenas poderiam garantir sobrevivência das crianças indígenas e dos índios mais vulneráveis. As tribos planejavam qual era o melhor momento para plantar, caçar, pesçar e até para engravidar. Afinal, uma criança que nascesse no inverno (Constelação da Ema) teria poucas chances de vencer as adversidades climáticas. Para conhecer mais sobre a cosmologia indígena, detalhamos a Constelação do Homem Velho (Verão), do Cervo (Outono), Anta do Norte e Colibri (Primavera) e, por último, a da Ema (Inverno). Todas são relacionadas aos Tupi-Guarani. Limitada pelas constelações ocidentais de Cisne e da Cassiopéia. Primavera. Surge na segunda quinzena de setembro, no lado leste. Para os índios do norte, indica uma estação de transição entre a seca e a chuva Para os índios do sul, indica uma estação de transição entre o frio e o calor Curiosidade: é mais conhecida entre os indígenas que habitam o norte do Brasil, uma vez que na região sul a Anta do Norte aparece muito próxima da linha do horizonte, o que dificulta sua visão. Assim, os povos do sul utilizam a constelação do Colibri para indicar a chegada da primavera Representa um homem cuja esposa estava interessada no seu irmão. Para ficar com o cunhado, a esposa matou o marido, cortando-lhe a perna. Os deuses ficaram com pena do marido e o transformaram em constelação. Limitada pelas constelações ocidentais de Touro e Órion. É composta por outras constelações indígenas: Eixu (as Pleiades), Tapi'i rainhyakã (as Hyades, incluindo Aldebaran) e Joykexo (O Cinturão de Orion) Verão. Surge na segunda quinzena de dezembro, no lado leste Início do verão para os índios do sul do Brasil. Início da estação chuvosa para os índios do norte do Brasil.
Limitada pelas constelações ocidentais Vela e Cruzeiro do Sul. Outono. Surge na segunda quinzena de março, no lado leste Para os índios do sul, indica uma estação de transição entre o calor e o frio. para os índios do norte, indica uma estação de transição entre a chuva e seca É limitada pelas constelações ocidentais Cruzeiro do Sul e Escorpião. Inverno. Surge na segunda quinzena de junho, no lado leste Início do inverno para os índios do sul do Brasil. Início da estação seca para os índios do norte do Brasil. O valor da mitologia como método de aprendizadoAssim como os gregos, os indígenas sempre valorizaram o papel da mitologia em sua cultura, a começar pela relação com o sol. “Para nós, o sol e a lua são irmãos gêmeos que deram origem de tudo. É o princípio de tudo, assim temos que conhecer a origem, que é o mito do sol e da lua”, comenta Kerexu Yxapyry (Eunice Antunes), líder indígena da etnia Mbiá Guarani, que vive no Sul do país. Conheça o mito do Sol e da Lua durante o eclipse lunar total nesse vídeo*: As histórias envoltas de cada constelação tinham um papel pedagógico para que as crianças indígenas se interessassem pelas constelações. “De todas, eu gosto mais da Ema, que significa a ave da sabedoria. A partir dela, temos conhecimento de todas as outras constelações”, destaca Kerexú. De acordo com o mito, a Ema no céu quer devorar duas outras estrelas que ficam em frente a seu bico. Além disso, o Cruzeiro do Sul é responsável por segurar a cabeça da ave que, uma vez solta, poderia beber toda a água da Terra. O que aconteceria com a Ema sem o Cruzeiro do Sul? Saiba a resposta no vídeo*: Seja ao amanhecer ou ao anoitecer, os povos indígenas buscam manter uma relação cotidiana com o céu. “No dia a dia, quando vamos fazer o nosso ritual à tarde, a gente se orienta muito pelo Cruzeiro do Sul”, conta Kerexu. De acordo com o astrônomo Germano Afonso, os indígenas não separam o céu da Terra e muito menos a fé da ciência. Para os indíos, tudo que eles fazem tem algum tipo de aplicação prática. “Quando o ser humano parou de ser nômade, eles precisaram cultivar e, pra isso, tinham que ter uma agenda. Então, eles olhavam para o céu e faziam as coisas na Terra”, relaciona o astrônomo. Contudo, Afonso alerta que, devido à globalização, esse saber corre o risco de se perder em pouco tempo. Afonso destaca como uma das causas a diminuição do interesse das novas gerações indígenas em relação ao conhecimento que os mais antigos mantém sobre o céu. Na visão de Kerexu, a transmissão das informações astronômicas depende muito do local em que os jovens estão. "Quando a criança é criada em uma aldeia, ela recebe o conhecimento e não esquece. Mas quando moram fora e veem apenas outros conteúdos didáticos, elas perdem essa parte, sim", compara. Primeiros estudos no BrasilPor volta de 1612, o missionário capuchinho francês Claude d’Abbeville acompanhou os indígenas Tupinambá do Maranhão e registrou 30 constelações conhecidas pelos indígenas da ilha (São Luís do Maranhão). Essas informações foram publicadas no livro “Histoire de la Mission de Pères Capucins en l’Isle de Maragnan et terres circonvoisins” em 1964 na cidade de Paris e é considerado umas das mais importantes fontes da etnografia dos Tupi. A partir desses dados, Germano Afonso conseguiu encontrar semelhanças entre as constelações conhecidas pelos índios da América do Sul e pelos aborígenes australianos. Até hoje, indígenas de várias regiões brasileiras também reconhecem a maioria das constelações descritas pelos Tupinambá (extintos) ao missionário frânces. *Trechos do documentário Cuaracy Ra’Angaba – O céu Tupi Guarani, dirigido por Lara Velho e Germano Bruno Afonso. Saiba mais:
Tags: astronomia indígena, constelações indígenas, astronomia Creative Commons - CC BY 3.0 Dê sua opinião sobre a qualidade do conteúdo que você acessou.Para registrar sua opinião, copie o link ou o título do conteúdo e clique na barra de manifestação. Você será direcionado para o "Fale com a Ouvidoria" da EBC e poderá nos ajudar a melhorar nossos serviços, sugerindo, denunciando, reclamando, solicitando e, também, elogiando. Como era a contagem do tempo para as tribos tupi?O calendário tupi-guarani, da primitiva Cronologia dos primitivos habitantes do Brasil, era praticamente exato, por ser fruto da simples observação do céu, das estrelas. O ano tinha 365 dias, mais um quarto de dia, sem que houvesse necessidade de marcação de ano bissexto.
Como os tupiOs tupis-guaranis determinam o meio-dia solar, os pontos cardeais e as estações do ano utilizando o relógio solar vertical, ou gnômon, que na língua tupi antiga, por exemplo, chamava-se Cuaracyraangaba.
Como se diz Lua em tupi?JACI: Significa “Lua”. Tem origem na palavra do tupi yacy, que quer dizer literalmente “Lua”.
Como e o calendário dos povos indígenas?Um dos calendários desenvolvidos por eles é dividido em três círculos principais. O primeiro deles, no centro, considera os rituais de passagem, como benzimentos. O segundo representa o calendário agrícula, e o teceiro inclui períodos de pesca, caça de animais e coleta de insetos.
|