Cântico Negro é um poema de José Régio, pseudônimo de José Maria dos Reis Pereira. Foi publicado em 1926 no seu primeiro livro, chamado Poemas de Deus e do Diabo. Show O "poema-manifesto" contém algumas premissas modernistas que ditaram a obra poética de José Régio e da geração presencista. Cântico Negro
AnáliseCântico Negro é considerado um poema-manifesto, pois dentro dele há elementos comuns da poética de José Régio. O seu primeiro livro de poemas, onde se encontra esta poesia, tem como tema central a religiosidade, Deus e o Diabo. Essa temática será recorrente na obra de José Régio, sendo um dos pilares de suas reflexões metafísicas. A religiosidade em Régio se aproxima um pouco do simbolismo, ao mesmo tempo que faz uma eterna passagem em círculos entre o grotesco e o sublime, como em Baudelaire. No poema em questão, Deus e o Diabo, o grotesco e o sublime estão em eterno movimento. A união das duas figuras é marcante, como nos versos:
Apesar de só aparecer formalmente na penúltima estrofe, essas figuras estão presentes em todo o poema. O indivíduo poético, que é fruto dessa relação, se apresenta logo na primeira estrofe. É por meio dele que elas agem ao longo do poema. A atitude do sujeito é uma espécie de reflexo das relações entre Deus e o Diabo. Sua gênese única possibilita ações que fogem à regra. Assim o sujeito se torna individualizado e, ao mesmo tempo, fragmentado. Sua individualidade reside nas suas escolhas: não seguir o caminho de todos, procurar um caminho diferente, mesmo que seja mais difícil e obscuro. O indivíduo é extremamente importante para a poesia de José Régio. É por meio dele que Deus se manifesta e através de Deus que ele se anula. Também é graças ao indivíduo que a própria poesia existe, tanto na realidade como na metafísica.
Aqui o indivíduo aparece em contraposição com "os outros", e a individualidade é afirmada de modo incisivo com a negação do caminho sugerido pelos outros. O olhar é essencial para a compreensão da atitude do "eu", olhos cansados e irônicos indicam a atitude em relação às outras pessoas. A ironia, para além de um estado do "eu", é também uma forma de linguagem presente no poema. A própria estrofe é recheada de ironia, a negação do indivíduo em acompanhar os outros é colocada de forma irônica, com os versos "e cruzo os braços, e nunca vou por ali...". A figura do grotesco também está presente em todo o poema. São imagens que remetem a coisas baixas, o caminho escolhido pelo "eu" é cheio delas.
Essas figuras aparecem em contraposição com o desejo dos outros. Enquanto eles desejam o fácil e o alto, o indivíduo busca o baixo e o difícil. É como se os outros fossem em busca do sublime e o "eu" buscasse o grotesco. O jogo entre luzes e sombras está feito e acompanha o contraste entre Deus e o Diabo.
A individualidade do sujeito é marcada sempre pela oposição com os outros e seus desejos. Mesmo não tendo em si um desejo claro, o "eu" se afirma ao negar o que advém de fora. O estado do indivíduo é quase "natural", como "uma onde que se alevantou". SignificadoTemos neste poema dois temas muito caros à poesia de José Régio: individualidade e religiosidade. A importância do indivíduo está presente em todo o poema. Ao longo do versos, o poeta vai afirmando essa necessidade de ser único, contrariando a vontade e os desígnios dos outros. Tomar o seu próprio caminho, em vez de seguir, é o único modo de viver aceito por José Régio, mesmo que o conduza a lugares desagradáveis como lamaçais. A força do indivíduo reside nessa negação do meio corrente e da afirmação de uma identidade própria. Seu caminho é o caminho dos loucos, dos poetas com o cântico entre a boca. A religiosidade entra na poesia com as figuras de Deus e o Diabo. Ela também é um motivo para que o "eu" seja assim. É por meio dessa dialética que o sujeito se relaciona com o mundo, seu espaço é definido por Deus e o Diabo. Sua individualidade advém de sua relação com o sagrado e, mesmo assim, o indivíduo é definido pela ciência ("É um átomo a mais que se animou..."). A poesia de José Régio é cheia de ondulações que partem do indivíduo, são como as ondas formadas por uma pedra jogada na água. Nessa metáfora Deus e o Diabo são os lançadores da pedra "eu" que causa a ondulação na superfície, que se repete e se propaga partindo do centro. José Régio e a revista PresençaPresença foi uma revista moderna, focada em literatura e publicada em Coimbra entre 1927 e 1940. Régio foi um dos fundadores e principais colaboradores dessa revista, que junto com Orfeu foram os grandes pilares da literatura modernista em Portugal. A revista Presença não se dedicava apenas à publicação de textos literários, mas também de crítica. José Régio escreveu diversos artigos para essa revista, dentre eles dois artigos chamados Literatura Viva e Literatura livresca e Literatura viva. Estes dois artigos são manifestos literários onde o autor expõe as suas convicções estéticas. Uma das ideias mais importantes de Régio que se encontra nestes artigos é o conceito de classicismo moderno. Para o escritor toda obra clássica é moderna, no sentido de captar uma imanência das coisas. As grandes obras, desde Homero até a modernidade, seriam modernas, pois existe nelas um individualismo, sobrepondo-as aos diversos rótulos literários. O individualismo na criação literária é um elemento essencial na obra de José Régio, que por meio destes artigos e outros ensaios tentou teorizar de uma forma prática. Para ele, o modernismo se encontra na obra por meio do individualismo na criação e o classicismo como forma, como arquitetura da obra. A pesquisa e os ensaios de José Régio se refletem na sua obra, já que o autor procura exercer o que propõem, através de seus poemas. Cântico Negro e Maria BethâniaO poema de José Régio ganhou popularidade no Brasil pela voz da artista Maria Bethânia, que o declamava em algumas apresentações. Foi gravado no álbum ao vivo Nossos Momentos, de 1982, e precedia a música Estranha forma de Vida, um fado de Amália Rodrigues e de A.Duarte Marceneiro. Em 2013, o poema foi gravado novamente no DVD do show Carta de Amor seguido pela música de Caetano Veloso Não enche o saco. O concerto de Bethânia foi feito após a polêmica da cantora com a Lei Rouanet, e a leitura do poema seguido da música foi interpretado por muitos como um desabafo. Conheça também
Porque o eu lírico deseja que o caminho?Resposta. O eu lírico quer traçar seu caminho e descobrir suas verdades, ele quer ter sua independência moral e ideológica.
O que o eu lírico expressa no poema *?Em primeira pessoa, o eu lírico não enuncia uma particularidade de sua vida, mas a dissolução de uma relação amorosa – que não necessariamente precisa partir de um dado biográfico. O eu lírico dá voz a um sentimento universal e não é necessário que o autor pessoalmente tenha vivido o que esse eu enuncia.
Qual é o desejo de eu lírico?Na primeira estrofe, o eu lírico manifesta o desejo de conhecer a beleza, a formosura. No entanto, quando realiza o seu desejo, passa a sofrer. Qual a causa do sofrimento do eu lírico? a)O eu lírico sofre porque a beleza da mulher perturba seus sentidos, estimulando-o sensualmente.
Que o eu lírico se compara para explicar sua identidade?Resposta. Resposta: Ele se compara a cor das flores para dizer que a sua identidade pode mudar.
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