Em que parte da Amazônia o problema das secas tem se tornado mais grave é reicidente?

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Em que parte da Amazônia o problema das secas tem se tornado mais grave é reicidente?

Secas poderão devastar grande parte da Amazônia em 80 anos, segundo pesquisa (Foto: Christian Braga/ Greenpeace)

Se medidas urgentes não forem tomadas para conter emissões de carbono, uma porção gigantesca da Amazônia poderá sofrer secas extremas dentro de 80 anos. O alerta é resultado de um novo estudo publicado nesta terça-feira (22) no jornal científico Environmental Research Letters.

O problema das secas poderá, segundo a pesquisa, destruir a área florestada e liberar ainda mais dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, reforçando o efeito estufa e as mudanças climáticas já evidentes.

Liderado por cientistas da Universidade de Leeds, na Inglaterra, o levantamento contou com a participação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Os autores examinaram 38 modelos climáticos sobre a Amazônia, a fim de identificar os padrões de chuva no bioma.

Apenas um terço deles, contudo, revelou coerência com um trabalho de campo realizado na floresta tropical. Por isso, alguns modelos tiveram que ser descartados. Os especialistas acreditam que, com esse grupo menor, a incerteza nos dados sobre as chuvas em toda a bacia amazônica foi reduzida pela metade.

Em que parte da Amazônia o problema das secas tem se tornado mais grave é reicidente?

Especialistas analisaram modelos climáticos sobre a Amazônia para estimar qual será o impacto das secas (Foto: Jessica Baker/Universidade de Leeds)

Segundo os cientistas, a floresta tropical já sofre de estresse hídrico, mas, com o aumento previsto da seca, sua sobrevivência ficará ainda mais ameaçada e haverá maior risco de incêndios florestais. Além do mais, a secura no bioma pode resultar em danos no ciclo d’água e na diminuição da biodiversidade.

A estimativa é de que haverá reduções na chuva comparáveis às das secas de 2005 e 2010, que causaram ampla mortalidade de árvores e prejuízos para as comunidades amazônicas. O clima seco poderá afetar sobretudo a Amazônia oriental, embora a bacia ocidental passar por um processo contrário, com um aumento de precipitação.

“Este novo estudo lança luz sobre como o clima da Amazônia provavelmente mudará sob um cenário de aquecimento extremo”, afirma Jessica Baker, primeira autora da descoberta, em comunicado. “Deve soar o alarme para os governos em todo o mundo de que este recurso global vital não deve ser deixado de lado.”

Não é a primeira vez que cientistas abordam a possibilidade de clima mais seco na Amazônia. Uma outra pesquisa, publicada em abril na revista Biogeosciences, mostrou inclusive que um aumento de 50% nos níveis de CO2 na atmosfera pode reduzir anualmente em 12% o volume de chuvas no bioma.

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As secas prolongadas na Amazônia impulsionaram o desmatamento e as queimadas, acelerando o processo de degradação das terras na Amazônia. Foi o que revelou um estudo coordenado por pesquisadores do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

O trabalho realizado por cientistas do Brasil, Venezuela, Estados Unidos da América, Índia e Nepal avaliou como a seca afetou o processo de degradação das terras na bacia do rio Amazonas no período de 2001 a 2020. O estudo deu origem a um artigo publicado no periódico internacional Frontiers Earth Sciense, revista suíça de grande impacto científico. 

“Os resultados do estudo revelaram que cerca de 757 mil quilômetros quadrados da bacia amazônica, que corresponde a uma estimativa de 12,5% do total, tornaram-se terra degradada apenas nas últimas duas décadas”, alerta o coordenador do Lapis, professor Humberto Barbosa. Ele explica que “os resultados do estudo forneceram fortes evidências de que durante secas severas, o indicador de degradação da terra da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD) detectava um maior percentual de terras degradadas quando comparado a condições sem ocorrência de seca”.

De acordo com a pesquisa do Laboratório, as maiores áreas de degradação da terra foram identificadas nas porções Sul, Sudoeste e Leste da floresta amazônica, especificamente, nos estados do Pará, Mato Grosso, Amazonas e Rondônia, onde predominam grandes monoculturas e pastagens.

Atualmente, afirma o docente que é doutor em Ciências do Solo e Sensoriamento Remoto, a degradação das terras é considerada um dos mais graves problemas ambientais. “A UNCCD define esse conceito como a redução da produtividade da terra devido a uma combinação de pressões, incluindo variações climáticas e atividades humanas”, explica Barbosa.

Dados de monitoramento feito pelos pesquisadores têm mostrado o crescente processo de degradação da floresta amazônica, sobretudo, em razão de atividades humanas como desmatamento de grandes áreas. Todavia, poucas pesquisas haviam analisado como as secas prolongadas potencializam a degradação da terra na região. 

“O estudo publicado na Frontiers Earth Sciense, coordenado por pesquisadores do Lapis, concluiu que as secas prolongadas contribuíram para aumentar a taxa de desmatamento nos últimos anos, observada a partir de imagens de satélite, levando à aceleração da degradação das terras na bacia amazônica”, diz. 

Diante dos alertas de cientistas do mundo todo sobre o perigo das mudanças climáticas, Barbosa reitera que a preocupação com a Amazônia não é por acaso. “A floresta amazônica desempenha um papel essencial na regulação do clima global. Recentemente, essa região enfrentou secas extremas, seguindo uma tendência de aumento desses eventos climáticos em diferentes áreas. Em 2005 e em 2010, a bacia amazônica sofreu duas secas sem precedentes. Ambos os eventos causaram grandes perdas por meio de incêndios florestais”, relata o pesquisador da Ufal. 

Expansão da fronteira agrícola 

Barbosa informa que o processo de degradação da terra ocorreu em razão de uma queda significativa na dinâmica da produtividade da terra no bioma Amazônia, seguido pela tendência de queda combinada na produtividade da terra, degradação do Carbono Orgânico do Solo (CSO) e degradação da cobertura vegetal da terra.

 “A maioria dessas terras degradadas circunda lavouras e pastagens, apresentando apenas degradação na produtividade da terra. Nesse contexto, podem corresponder à expansão da fronteira agrícola durante o período de 2001 a 2020”, explica. 

Segundo o pesquisador, o desmatamento assume o primeiro lugar no processo de degradação da terra na bacia amazônica. “Cerca de 82% da degradação da terra no bioma se deve, predominantemente, à conversão de áreas de floresta em terras agrícolas”, afirma. 

Realização do estudo 

Para avaliar o estado da degradação da terra na Amazônia e sua relação com a severidade das secas prolongadas, o professor da Ufal conta que foram utilizados três índices de seca, produtos de monitoramento baseados em dados de satélites. São eles: Índice Padronizado de Precipitação (SPI), Índice Padronizado de Precipitação-Evapotranspiração (SPEI) e Índice de Severidade da Seca de Palmer (scPDSI). 

“Esses indicadores de seca foram combinados com o indicador Sustainable Development Goal (SDG), adotado pela Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD). Esse método, usado para monitorar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), permite uma avaliação abrangente dos impactos da degradação da terra, devido ao seu caráter multifatorial e escalabilidade”, informa. 

O indicador de terra degradada da UNCCD é baseado em três subindicadores: 1) tendência de mudança da cobertura da terra; 2) tendência de mudança na produtividade da terra a longo prazo, derivada do Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) anual; e 3) tendência dos estoques de Carbono Orgânico do Solo (COS). “Durante o estudo, esses três subindicadores foram integrados para gerar o mapa de degradação da terra na Amazônia”, explica o professor. 

Impactos da seca 

Os resultados da pesquisa do Lapis também revelaram uma característica interessante quanto aos impactos da seca sobre a degradação das terras na Amazônia. 

Embora as áreas de floresta conservada tenham sido expostas à alta severidade das secas durante o período da pesquisa, elas apresentaram uma incidência relativamente baixa de degradação (20% delas). Esse resultado implica que as regiões florestais apresentam maior resiliência às secas em relação a outros tipos de cobertura da terra, em termos de mudança no NDVI anual. 

“Essa evidência está alinhada aos dados da literatura científica disponível. Estudos anteriores já sugeriam que durante secas prolongadas, a fenologia da floresta tropical foi impulsionada, principalmente, pela disponibilidade de água no solo e outras estratégias de adaptação. Alguns mecanismos, como o fechamento dos estômatos, evitam a perda excessiva de água, utilizada pelas plantas”, explica Barbosa. 

O pesquisador comenta que o aumento da disponibilidade de missões de satélite, dedicadas à observação da Terra, permitiu o desenvolvimento de índices para monitorar a seca em grandes regiões. Áreas com acesso limitado a dados de campo, como é o caso da bacia amazônica, são especialmente beneficiadas. 

“A seca é um fenômeno complexo para se monitorar em razão das suas várias características-chave, tais como intensidade, extensão espacial, frequência e duração. Além disso, existem quatro diferentes tipos de secas: meteorológica, hidrológica, agrícola e socioeconômica. Existem vários indicadores para se avaliar atributos específicos de uma seca. Porém, ainda não existe um índice universal para monitorar e quantificar a complexidade do fenômeno”, esclarece Barbosa. 

O professor argumenta que a publicação do artigo avança nas estratégias de monitoramento, ao permitir fazer uma avaliação abrangente do fenômeno, integrando vários índices de seca. “Essa integração possibilitou capturar processos que não são aparentes, devido à complexidade das interações vegetação, água e atmosfera”, afirmou. 

Mais informações sobre a pesquisa podem ser conferidas neste endereço

Em que parte da Amazônia o problema das secas tem se tornado mais grave?

O ponto mais crítico dessa seca se encontra na parte central da Amazônia, mas ele se alastra por toda a área sul da Amazônia e somente mais ao norte que encontramos uma área livre se secas. Esse problema é causado pelas mudanças climáticas que estamos vivendo, além também de ser causado pelo desmatamento.

Quais são os quatro estados que se encontram nas áreas mais afetadas pelas secas deste século na Amazônia?

Pará, Mato Grosso, Amazonas e Rondônia registraram 8213km² de área desmatada entre agosto de 2018 e julho de 2019. Quatro estados da Amazônia Legal foram responsáveis por 84,13% do desmatamento na região, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Por que a floresta amazônica está correndo risco?

São eles: Desmatamento: desmatamento com solo exposto, desmatamento com vegetação e mineração. Degradação: degradação, cicatriz de incêndio florestal.

Como a destruição da Amazônia pode interferir no clima do planeta?

Isso porque o bioma tem papel decisivo na regulação do clima e na distribuição de chuvas de toda a América do Sul. Além disso, a redução da área de floresta faz com que mais carbono seja emitido para a atmosfera, contribuindo para o aquecimento global.