Como funciona a corrida para deficientes visuais?

Paulo Cordeiro de Souza & Maria Rita Bruel


Resumo: O presente trabalho teve por objetivo pesquisar os metodos e encaminhamentos metodologicos para trabalhar a modalidade de atletismo com deficientes visuais.Por meio da pesquisa bibliografica e de uma entrevista com um profissional que trabalha com reabilitacao para portadores de deficiencia visual e participa de competicoes regionais com seus alunos/atletas na modalidade de atletismo. O atletismo para as pessoas com defici�ncia visual (cegos e com baixa vis�o) segue a mesma l�gica do esporte convencional. No entanto suas regras s�o alteradas para possibilitar a participa��o das pessoas que n�o recebem ou recebem de maneira muito limitada as informa��es visuais, acaretando adptac�es tamb�m no treinamento desportivo espec�fico. A pr�tica do ensino exige muita dedica��o e conhecimento do profissional em rela��o ao seu aluno e sobre o esporte, por�m o mais importante � a determina�ao do deficiente visual.


INTRODU��O

O objetivo deste artigo � sistematizar o resultado de uma pesquisa sobre atletismo para deficiente visual. Essa pesquisa foi feita com base em bibliografia de artigos relacionados ao tema, em debates na internet e com o apoio de uma entrevista realizada com o professor de Educa��o F�sica Jefferson Jos� Bauer que trabalha na Secretaria de Educa��o de Mafra, que j� teve a oportunidade de trabalhar a modalidade do atletismo com seus alunos e tamb�m participar de algumas competi��es estaduais.

Segundo o professor Jefferson, o m�todo a ser seguido para se trabalhar a modalidade com os deficientes visuais � bastante semelhante ao m�todo desenvolvido com as pessoas ditas normais.

Por�m necessita adaptar algumas regras em rela��o ao numeros de atletas nas provas de corridas devido a utiliza��o dos guias, e o aumento da tabua de salto no salto triplo e salto em dist�ncia e principalmente a utiliza��o de guias durante todas as provas, sendo elas de pista ou campo. O professor tamb�m relata que o treinamento geralmente � individual e gradativo, pois cada aluno/atleta tem um rendimento diferenciado, e as escolhas das provas geralmente s�o realizadas conforme as potencialidades de cada aluno/atleta. A pr�tica do ensino exige muita dedica��o e conhecimento do profissional em rela��o ao seu aluno e sobre o esporte, por�m o mais importante � a determina�ao do deficiente visual que a cada competi��o aumenta.

O treinador e o aluno/atleta criam v�nculos muito fortes, pois essa parceria requer muita confianca do aluno/atleta em seu treinador, que � seu guia e at� poder� emfluenciar em seu rendimento nas competi��es.

Quanto aos beneficios, podemos com seguran�a afirmar que s�o muitos, mas o principal � o sentimento de autonomia que o esporte possibilita, vai auxiliar na auto-estima do aluno/atleta. Os beneficios fisicos s�o os mesmos que uma pessoa sem limitac�es recebe. A Educa��o F�sica Adaptada pode proporcionar aos educandos oportunidades de utilizarem suas habilidades atrav�s de atividades motoras, a fim de desenvolverem o m�ximo de suas capacidades. Soler (2005) afirma que os esportes trazem muitos benef�cios, proporcionando o desenvolvimento global dos portadores de necessidades especiais, tornando poss�vel reconhecer suas habilidades e integr�-los � sociedade, uma vez que isso proporciona eleva��o da auto-estima. O conv�vio com outras pessoas que enfrentam as mesmas dificuldades traz para os deficientes a supera��o de suas dificuldades (f�sicas e psicol�gicas), a melhora de seus relacionamentos amorosos, costuma ser dif�cil ou at� imposs�vel que as pessoas deficientes mantenham relacionamentos estreitos e �ntimos com as outras pessoas "deficientes" e ficam � margem do casamento e da paternidade, mesmo que n�o haja empecilho nenhum para isso.


DESENVOLVIMENTO

O atletismo � hoje o esporte mais praticado nos mais de 70 pa�ses filiados � Federa��o Internacional de Desportos para Cegos (IBSA). Al�m dos Jogos Paraol�mpicos, fazem parte de seu calend�rio, maratonas, jogos mundiais e campeonatos mundiais para jovens. Um dos grandes fatores de difus�o da modalidade � o f�cil acesso e a naturalidade dos movimentos, j� que correr, saltar, lan�ar e arremessar s�o atividades inerentes � sobreviv�ncia do homem.

O atletismo para deficientes visuais � constitu�do basicamente por todas as provas que comp�em as regras oficiais da Federa��o Internacional de Atletismo (IAAF), com exce��o de salto com vara, lan�amento do martelo, corridas com barreira e obst�culos. As provas s�o divididas por grau de defici�ncia visual (B1, B2 e B3) e as regras s�o adaptadas para os atletas B1 e B2. Para esses, � permitido o uso de sinais sonoros e de um guia, que corre junto com o competidor para orient�-lo. Eles s�o unidos por uma corda presa �s m�os, e o atleta deve estar sempre � frente. As modalidades para os competidores B3 seguem as mesmas regras do atletismo regular.

A Confer�ncia Internacional de Classifica��o de Defici�ncias em 1993 apresenta duas classes dentro da defici�ncia visual: a cegueira e a baixa vis�o. Para definir as classes segue-se o seguinte crit�rio: a cegueira � definida como acuidade visual inferior a 3/60 metros ou campo visual baixo no melhor olho de corre��o; a baixa vis�o corresponde a acuidade visual entre 3/18 e 6/60 no melhor olho e com a melhor corre��o (OMS, 2001). Para a pr�tica esportiva utiliza-se uma classifica��o separando as pessoas com cegueira e baixa vis�o (a classifica��o esportiva chama este �ltimo de deficientes visuais), em classes distintas. Esta classifica��o, respeita uma avalia��o oftalmol�gica, realizada para que os atletas possam competir dentro de classes, desenvolvendo, assim, o desporto de maneira mais igualit�ria conforme o grau de defici�ncia.

A classifica��o esportiva � dividida em tr�s grupos funcionais: B-1 � aquele considerado cego, podendo perceber ou n�o luminosidade, mas n�o conseguindo distinguir o formato de uma m�o colocada a sua frente; B-2 aquele que possui res�duo visual, tendo um campo visual de at� 5 graus e/ou acuidade visual de at� 2/60 metros ou 20/400 p�s; j� o B-3 � aquele que tem campo visual variando de 5 � 20 graus e/ou acuidade visual entre 2/60 metros ou 20/400 p�s � 6/60 metros ou 20/200 p�s. Sendo que esta capacidade visual � aquela obtida no olho de melhor corre��o, ap�s cirurgia e com o uso corretivo de lentes (IBSA, 1998).

Segundo a literatura existente devemos desenvolver uma proposta pedag�gica para as pessoas com defici�ncias visuais incluindo a troca do significado de termos que usualmente utilizamos na defini��o e caracteriza��o dessa parcela da sociedade. O termo capacidade deve substituir as palavras que normalmente agregamos ao termo defici�ncia, j� que ao falarmos de defici�ncia, o que vem logo em nossa mente � impossibilidade, incapacidade e inadequa��o.

Devemos pensar que a pessoa tem, por exemplo, a vis�o como um problema estrutural ou fisiol�gico, o que o deixa incapacitado de enxergar com nitidez, mas por causa do problema no olho ele n�o � necessariamente deficiente em suas a��es di�rias, apenas o seu �rg�o visual � deficiente e trazendo sim uma incapacidade funcional na percep��o visual e uma limita��o nas a��es di�rias (OMS, 2001). � preciso pensar o Homem como um ser que sofre influ�ncias diversas e complexas do meio (Gallahue e Ozmun, 2000 apud Prof. Ms. Ciro Winckler de Oliveira Filho. Esta l�gica ajuda na constru��o de uma interven��o pedag�gica baseada na diversidade. As respostas ocorrem de modo a sempre adequar o sujeito da melhor maneira na busca de sua autonomia seja ela biol�gica, psicol�gica, f�sica ou social.

A pessoa com defici�ncia visual apresenta: locomo��o insegura, com pouco controle e pouca consci�ncia corporal, problemas posturais e inseguran�a, o que pode gerar comprometimento no equil�brio (est�tico), na coordena��o, na agilidade, bem como no controle corporal e postura (ADAMS et al., 1985). As estruturas prejudicadas pela defici�ncia visual, segundo Cobo, Rodrigues e Bueno (2003) s�o a recep��o e interpreta��o de informa��es, aprendizagem de esquemas motores e por imita��o, na auto-avalia��o e controle das a��es. O esporte pode ser uma ferramenta para minimizar estes problemas, sua pr�tica oportuniza a experi�ncia motora diferenciada, o que pode diminuir as defasagens apresentadas como perfil desta popula��o. Sendo assim, vale refor�ar esse estudo sobre a pr�tica do atletismo, que pode atuar como um auxiliar no desenvolvimento global da pessoa.

O processo ensino aprendizagem da pessoa com defici�ncia visual no atletismo deve respeitar a individualidade do aprendiz, partindo do conhecimento corporal (Gallahue e Ozmun, 2000) e das incapacidades sensoriais do aluno. A pessoa vidente corre durante toda a inf�ncia e juventude, enquanto a pessoa cega normalmente apresenta um n�vel menor de est�mulos nestas fases e por medo do desconhecido e, conseq�entemente, de se machucar, ela n�o se arrisca sem ter o aux�lio de um guia ou conhecer muito bem o meio que ir� percorrer, o que reflete em menores oportunidades de a��es e acarretar� em um n�vel acentuado de sedentarismo.

Os m�todos de ensino de uma atividade corporal e de sua movimenta��o no espa�o e tempo n�o diferem muito daqueles que tratam o indiv�duo n�o deficiente visual, por�m existe a especificidade de encaminhamento ao se considerar as necessidades de se vencer as adversidades naturais da defici�ncia ou da incapacidade.

O primeiro passo para uma aula de corrida � o reconhecimento do espa�o, tanto para o aluno cego quanto para o de baixa vis�o. � fundamental conhecer as dimens�es (largura e comprimento) do local, percebendo os obst�culos, se houverem, e reconhecendo refer�ncias que possam auxiliar na orienta��o espacial (sons, cheiros ou luz em determinados pontos). Assim � poss�vel criar, o mapa mental do ambiente, diminuindo o medo do imprevisto. Toda vez que existir alguma altera��o do meio � muito importante que aluno saiba desta mudan�a.

Para correr, o aluno poder� estar acompanhado de um guia, que ir� orientar o corredor em seu deslocamento. O guia poder� correr ao lado do aluno e ligado a este por uma corda entre as m�os, ou m�o e bra�o ou ainda segurando na camisa do corredor cego. Nunca poder� puxar, empurrar ou lan�ar o atleta � frente, estas a��es prejudicam o desenvolvimento motor do iniciante, exceto quando, durante o in�cio da aprendizagem, tais a��es s�o caracterizadas por um comando que traga prote��o aos alunos. Com o aluno de baixa vis�o o guia pode correr, tamb�m, ao lado dando informa��es verbais, al�m da t�til.

Para as provas de lan�amento e de saltos os est�mulos ser�o direcionados pelas informa��es verbais explicativas. Por isso pode-se combinar diferentes informa��es em um mesmo exerc�cio.

Exerc�cios para arremesso de peso podem ser desenvolvidos da seguinte maneira: o chamador ir� posicionar o atleta no setor de arremesso, orient�-lo espacialmente (atrav�s de informa��es t�teis e sonoras), coloc�-lo pr�ximo dos implementos e ir�, ap�s isto, colocar-se em frente do atleta batendo palmas para indicar a dire��o do arremesso, assim, no caso de um giro, o atleta saber� qual a dire��o correta de soltar o peso. Nas provas de salto o aluno/atleta poder� ter aux�lio de at� dois guias, um que o ajudar� a reconhecer o espa�o a ser percorrido at� o salto, e o segundo que se posicionar� a sua frente orientando atrav�s de informa��es t�teis e sonoras.

Os giros s�o elementos complexos na aprendizagem do atleta com defici�ncia visual, pois, com a aus�ncia da vis�o o sistema vestibular ser� imprescind�vel no equil�brio, lembrando que este funciona por movimenta��o e o giro em uma pessoa n�o treinada ir� atrapalhar na orienta��o da lateralidade no atleta.

Na constru��o do m�todo pedag�gico pode-se usar mais alguns elementos auxiliares como as informa��es t�teis diretas e indiretas ou informa��es sonoras verbais ou sinal�ticas.


CONCLUS�O

Apartir deste artigo posso concluir que para trabalhar com portadores de deficiencia visual ou qualquer outra pessoa, o profissional precisa ter muita dedica��o, for�a de vontade e se entregar pela causa. Assim como uma pessoa sem limitacao os deficientes visuais tambem querem ser desejados ter prestigio� querem ser reconhecidos�, o esporte pode proporcionar essa conquista . O atletismo adaptado para deficiente visual como qualquer outro esporte tem suas dificuldades. Espero com esse artigo ajudar a voc� leitor ter uma compreens�o maior sobre o assunto, e abrir espa�o para novas pesquisar.


REFER�NCIAS

  • ADAMS, R. C. et al.. Jogos, esportes e exerc�cios para deficientes f�sicos. 3. ed. S�o Paulo: Manole, 1985.
  • COBO, A.D., RODRIGUEZ, M. G. BUENO S.T. Aprendizagem e Defici�ncia visual. S�o Paulo: Santos Livraria e Editora 2003
  • CONDE, A.J.M. Actividades f�sicas adaptadas ao deficiente visual, Revista Integra��o - Bras�lia, SENEB, ano 3, n. 07, Ed. Especial, p. 10-11, 1991.
  • GALLAHUE, D.L. & OZMUN, J.C. Compreendendo o desenvolvimento Motor: Beb�s, crian�as, Adolescentes e Adultos. Phorte Editora: S�o Paulo, 2000
  • OLIVEIRA FILHO, Ciro Winckler de et al. A inicia��o no atletismo para pessoas cegas e com baixa vis�o. Lecturas: EF y Deportes: revista digital, Buenos Aires, a.10, n.75, ago. 2004. Dispon�vel em: <www.efdeportes.com/efd75/cegas.htm>. Acesso em: 22 jul. 2008
  • OMS, CIDDM 2: Classificaci�n Internaccional del Funcionamento, la Discapacidad y la Salud. //www.who.ch/icidh, consultado 01 de maio de 2008 SOLER, Reinaldo. Educa��o f�sica inclusiva na escola em busca de uma escola plural. 1ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2005.

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t�tulo: ATLETISMO PARA DEFICIENTE VISUAL
autores:
Paulo Cordeiro de Souza
(Acad�mico da 6�fase do curso de Educacao Fisica da Universidade do Contestado-UnC-MAFRA) &
Maria Rita Bruel
(Professora orientadora. Mestre em Educa��o F�sica e professora titular da disciplina Metodologia da Pesquisa no Curso de Educa��o F�sica da UnC-Mafra).
publica��o:
�GORA : revista de divulga��o cient�fica v. 16, n. 2(A), N�mero Especial: I Semin�rio Integrado de Pesquisa e Extens�o Universit�ria

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13.Jun.2022
Maria Jos� Alegre

Como é realizada a corrida para deficientes visuais?

O atletismo para deficientes visuais tem as seguintes provas: corridas de velocidade (100, 200 e 400 metros), corridas de meio fundo (800 e 1500 metros), corridas de fundo (5000 e 10000 metros), corridas de revezamento (4×100 e 4×400 metros), corridas de pedestrianismo (provas de rua e maratona), saltos (triplo, ...

Como os atletas com maior grau de deficiência visual fazem as corridas?

Nas corridas, os atletas com deficiência visual mais alta podem ser acompanhados por guias, ligados a eles por uma corda. Já entre os deficientes físicos, há corridas com o uso de próteses ou em cadeiras de rodas.

Como os atletas com deficiência visual competem no atletismo?

Para os atletas deficientes visuais, as regras de utilização de atletas-guia e de apoio variam de acordo com a classe funcional. Nas provas de 5000m, de 10.000m e na maratona, os atletas das classes T11 e T12 podem ser auxiliados por até dois atletas-guia durante o percurso (a troca é feita durante a disputa).

Como funciona a corrida paralímpica?

O atletismo paraolímpico é praticado por atletas com deficiência física ou visual. Há provas de corrida, saltos, lançamentos e arremessos, tanto no feminino quanto no masculino. Os competidores são divididos em grupos de acordo com o grau de deficiência constatado pela classificação funcional.

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