A política de implantação de assentamentos israelenses na Cisjordânia

O plano de Israel de construir milhares de novas casas para colonos judeus na Cisjordânia ocupada e em Jerusalém Oriental gerou duras críticas de dois especialistas independentes nomeados pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas). Michael Lynk e Balakrishnan Rajagopal emitiram um relatório nesta quarta-feira (3) no qual alegam que a expansão dos assentamentos “atropela” as leis de direitos humanos.

Quase 700 mil colonos israelenses vivem agora em assentamentos ilegais em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia. Nas últimas semanas, as autoridades israelenses aprovaram planos para mais de 1,7 mil novas unidades habitacionais em dois assentamentos em Jerusalém Oriental. Os desenvolvimentos também estão em andamento para cerca de outras 9 mil unidades em Atarot, além de 3,4 mil em uma área a leste de Jerusalém.

Na Cisjordânia, os planos para construir cerca de 3 mil unidades habitacionais também estão sendo desenvolvidos, enquanto relatórios indicam que o governo israelense deseja legalizar retroativamente vários assentamentos.

A política de implantação de assentamentos israelenses na Cisjordânia
Vista da cidade de Belém, na Cisjordânia (Foto: Daniel Case/Wikimedia Commons)

“As próprias razões de ser dos assentamentos israelenses em território ocupado, quais sejam a criação de fatos demográficos no terreno para solidificar uma presença permanente, a consolidação de controle político estrangeiro e a reivindicação ilegal de soberania, atropelam os preceitos fundamentais de caráter humanitário e dos direitos humanos”, disseram os especialistas.

Motor da ocupação

Os dois relatores especiais caracterizaram os assentamentos israelenses como “o motor da ocupação”, sendo eles responsáveis ​​por uma ampla gama de violações dos direitos humanos contra o povo palestino. Isso inclui confisco de terras, severas restrições à liberdade de movimento e discriminação racial e étnica.

“Mais seriamente, o propósito da implantação dos colonos, que é romper a relação entre um povo nativo e seu território, caracteriza a negação do direito à autodeterminação, que está no cerne da legislação moderna de direitos humanos”, disseram os especialistas.

A ONU afirmou repetidamente que os assentamentos israelenses em território palestino ocupado são uma violação flagrante do direito internacional. “Da mesma forma, os assentamentos israelenses são um presumível crime de guerra segundo o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (TPI) e devem ser tratados como tal pela comunidade internacional”, acrescentaram.

Ação dos governos

Os relatores acolheram as críticas aos planos de expansão, inclusive por parte dos Estados Unidos e da União Europeia (UE), embora enfatizem que “críticas sem consequências pouco significam nessas circunstâncias”.

Os especialistas em direitos exortaram a comunidade internacional a apoiar a investigação em andamento sobre os assentamentos israelenses pelo Ministério Público no Tribunal Penal Internacional. Eles também pediram aos governos que garantam que as empresas e instituições sob sua jurisdição “não tenham envolvimento em auxiliar ou investir nos assentamentos”.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A política de implantação de assentamentos israelenses na Cisjordânia

Mapa da Cisjordânia com os assentamentos israelenses na cor magenta (janeiro de 2006).

A política de implantação de assentamentos israelenses na Cisjordânia

As assentamentos israelenses (português brasileiro) ou israelitas (português europeu), ou colonatos judaicos (português europeu), são colônias construídas por Israel, a partir de 1968, na Palestina, no Egito, no Líbano e na Síria, em territórios ocupados por Israel durante a Guerra dos Seis Dias (1967). Desde então, esses territórios são controlados pelo Estado de Israel.[1]

A ocupação dos territórios não é reconhecida internacionalmente, e os assentamentos israelenses são considerados ilegais pela Organização das Nações Unidas. Atualmente, e com a desocupação israelense de territórios do Egito e do Líbano, esses assentamentos estão localizados em três áreas principais:

  • Cisjordânia,[2][3] território dividido em áreas sob ocupação militar de Israel e outras áreas sob controle da Autoridade Nacional Palestina.
  • Jerusalém Oriental, considerada a capital do Estado da Palestina mas que, em 1980, através da chamada Lei de Jerusalém, foi anexada formalmente por Israel, que considera toda a cidade de Jerusalém como sua capital, "única e indivisível", conquanto, para comunidade internacional, sejam ilegais todos os assentamentos judaicos na parte oriental da cidade, conforme a Resolução 478 do Conselho de Segurança da ONU. Os palestinos pretendem que esta parte seja a capital do seu futuro Estado.
  • As Colinas de Golã, parte da Síria, ocupadas por Israel em 1967 e integradas ao sistema administrativo israelense desde 1981, constituindo o Distrito Norte de Israel .[4]

Também existiram outros 18 assentamentos judeus na Península de Sinai, desmantelados em 1982, depois dos acordos de Camp David com o Egito. Foram igualmente removidos todos os 21 assentamentos na Faixa de Gaza e quatro no norte da Cisjordânia, em 2005, em consequência da implementação do Plano de retirada unilateral de Israel.

Atualmente, Jerusalém Oriental e as Colinas de Golã são governadas pela lei civil de Israel, mas ambas são consideradas pela comunidade internacional como territórios sob ocupação militar, assim como a Cisjordânia.[5][6][7][8][9][10][11][12]

Em novembro de 2009, cerca de 400 000 israelenses viviam na Cisjordânia, em 168 assentamentos oficialmente reconhecidos. Outros 280 000 viviam em Jerusalém Oriental.[13] Esses assentamentos tanto podem ser fazendas comunitárias como vilarejos de fronteira, com algumas centenas de habitantes, ou verdadeiras cidades, como Ariel. No caso de Jerusalém Oriental, trata-se de bairros dentro da cidade. Os três maiores assentamentos - Modi'in Illit, Maale Adumim e Betar Illit - são cidades com população superior a 30 000 residentes. Todavia, segundo um relatório confidencial do Ministério da Defesa de Israel, publicado pelo jornal Haaretz, em cerca de 75% dos assentamentos judaicos na Cisjordânia, construções foram erguidas sem licença ou em desacordo com as permissões emitidas pelas autoridades israelenses. Segundo o mesmo estudo, em 30 colônias foram construídos “prédios e infraestrutura, incluindo estradas, escolas e delegacias, em terras privadas de palestinos”.[14]

Em 23 de março de 2010 o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou, em Washington, que:

"se os americanos apoiam os pedidos irracionais feitos pelos palestinos com relação ao congelamento das colônias em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia, o processo político corre o risco de ficar bloqueado por um ano".

No dia seguinte, Israel anunciou que planeja construir mais 20 habitações para judeus no território ocupado de Jerusalém Oriental, no bairro árabe de Sheikh Jarrah. São as primeiras de um total previsto de cem unidades habitacionais. O projeto, aprovado pela Prefeitura de Jerusalém em julho de 2009, é um empreendimento financiado pelo milionário judeu americano da Flórida Irving Moskowitz,[15] que tem promovido a colonização do setor leste da cidade por judeus. Cerca de vinte apartamentos para famílias israelenses serão edificados no local onde está um antigo hotel, que pertenceu ao líder religioso nacionalista palestino Amin al-Husseini.[16] O negociador palestino, Saeb Erekat, disse que o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, insistirá para que Israel revogue os planos para construir em Sheikh Jarrah, assim como a decisão para construir 1 600 casas numa outra região próxima à cidade.[17]

  • A política de implantação de assentamentos israelenses na Cisjordânia

    Centro Universitário Ariel de Samaria, instituição israelense com 10.000 alunos, em Ariel, Cisjordânia.

  • Hebrom, outro assentamento israelense na Cisjordânia.

Veto dos EUA à resolução da ONU sobre assentamentos judeus em territórios palestinos[editar | editar código-fonte]

Em 18 de fevereiro de 2011, os Estados Unidos vetaram um projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU, apresentado pelos países árabes, que condena o Estado de Israel, por promover a construção de assentamentos judeus em territórios palestinos. O texto proposto reafirma que todas as atividades israelenses relacionadas aos assentamentos nos Territórios Palestinos Ocupados, inclusive em Jerusalém Oriental, são ilegais e constituem grande obstáculo para alcançar-se a paz com base na solução dos dois Estados -Israel e Palestina. Em consequência, projeto de resolução preconiza a interrupção imediata da expansão das colônias israelenses, retomada em setembro de 2010.[18]

A medida é apoiada por mais de 100 países. Todos os 14 membros do Conselho de Segurança, inclusive o Brasil, votaram a favor da resolução. Somente os EUA posicionaram-se ao lado dos israelenses, seus aliados históricos,[19] e vetaram a resolução. Desde 2001, este foi o décimo veto americano sobre o assunto (o primeiro da administração de Barack Obama).[20]

Os EUA dizem condenar a expansão dos assentamentos, mas consideram que levar o caso à ONU dificulta ainda mais a retomada do processo de paz.[21] Após a votação, a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Susan Rice, declarou:

"Apesar de concordarmos com os outros membros, e de fato com o mundo em geral, sobre a insensatez e a ilegitimidade de continuar as atividades nos assentamentos israelenses, não nos parece sensato que o Conselho trate de resolver os assuntos cruciais entre israelenses e palestinos." [22]

No entanto, os palestinos afirmam que somente voltarão às negociações de paz - cuja pauta inclui, entre outros assuntos, a questão dos refugiados palestinos e o status de Jerusalém - se os israelenses interromperem completamente as construções.[23] No mesmo dia em que o ocorreu o veto americano, o governo de Israel convocou os palestinos a retomarem, imediatamente e sem condições, as negociações diretas de paz entre as duas partes.[24] O Brasil apoia a condenação à política de Israel de continuar avançando sobre os territórios palestinos, considerando que esses avanços causam o congelamento das conversações de paz com a Autoridade Palestina. A então representante permanente do Brasil nas Nações Unidas em Nova York, embaixadora Maria Luiza Viotti, declarou, na sua explicação de voto, que:

"a continuada expansão dos assentamentos israelenses nos territórios palestinos ocupados tornou-se o obstáculo mais grave a progressos concretos nas negociações para uma solução justa e duradoura da questão da Palestina". A embaixadora acrescentou que "o desrespeito continuado das obrigações internacionais relacionadas à construção de assentamentos constitui ameaça à paz e à segurança na região."[18]

Os árabes já esperavam o veto americano, mas a proposta foi apresentada justamente para mostrar o isolamento dos EUA em seu apoio a Israel, ainda que o governo conservador do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu insista em prosseguir a construção de bairros judaicos além das fronteiras estabelecidas em 1967 pela ONU.[25]

Referências

  1. Donald MacIntyre, The Big Question: What are Israeli settlements, and why are they coming under pressure?, The Independent 29-05-2009
  2. «Com gesto histórico dos EUA, ONU condena colônias de Israel». Agência Ansa + Agência Brasil. 24 de dezembro de 2016. Consultado em 24 de dezembro de 2016. Cópia arquivada em 24 de dezembro de 2016
  3. "Palestinian Awareness Month aims to educate Stanford students" Arquivado em 16 de março de 2008, no Wayback Machine.. Stanford Daily, April 20, 2006. "As Forças de Defesa de Israel continuariam com sua ocupação da Cisjordânia e incursões na Faixa de Gaza." "Chronological Review of Events Relating to the Question of Palestine" Arquivado em 27 de março de 2008, no Wayback Machine., Monthly Media Monitoring Review, Sistema de Informação sobre a Questão Palestina das Nações Unidas (UNISPAL). Divisão para os Direitos Palestinos. Março 2003.
  4. O Artigo I, Seção 9, da Basic Policy Guidelines of the Government of Israel afirma: "O governo considera as Colinas de Golan como essenciais à segurança do estado e dos seus recursos hídricos. A soberania de Israel sobre Golan será a base para uma negociação com a Síria." GPO Background Paper issued in February 1994 (updated).
  5. BBC NEWS | In Depth | Israel and the Palestinians | issues | Jerusalem: Crucible of the conflict
  6. «B'Tselem - The Israeli Information Center for Human Rights in the Occupied Territories. East Jerusalem». Consultado em 21 de março de 2010. Arquivado do original em 15 de junho de 2009
  7. Conselho de Segurança das Nações Unidas. Resolução 497 de 1981 (em inglês).
  8. GORENBERG, Gershom The Accidental Empire: Israel and the Birth of the Settlements, 1967-1977. Macmillan, 2007 p. 363. Gershom Gorenberg examina o nascimento do movimento de ocupação nos dez anos que se seguiram à Guerra dos Seis Dias, mostrando que foi gerado tanto pelo socialismo do Partido Trabalhista de Israel como pelo extremismo religioso. Grandes figuras da história de Israel — Moshe Dayan, Golda Meir, Eshkol, Allon — assim como os contemporâneos Ariel Sharon, Yitzhak Rabin e Shimon Peres. Gorenberg também mostra como três presidentes dos Estados Unidos fecharam os olhos para o que estava acontecendo nos territórios e as razões estratégicas subjacentes.
  9. GRENVILLE, John Ashley Soames A History of the World from the 20th to the 21st Century. Routledge, 2005, p. 937
  10. What next for Gaza and West Bank? BBC, 30-08-2005. A maioria dos israelenses apoia a retirada, mas alguns acham que o governo cedeu aos grupos militantes palestinos e temem que outras desocupações possam ocorrer. Os palestinos, por sua vez, criticam o fato de que Gaza permaneça sob controle de Israel e reclamam por terem sido impedidos de se pronunciar acerca do processo de desocupação.
  11. Nations, United (outubro de 2007). Yearbook of the United Nations 2005 (em inglês). [S.l.]: United Nations Publications. ISBN 9789211009675
  12. YISHAI, Yael Land Or Peace p. 58. Hoover Press, 1987. Todos os assentamentos do Sinai foram evacuados após os acordos de Camp David, mas o estabelecimento de novas colônias nos demais territórios prosseguiu. Poucos dias depois de completada a retirada do Sinai, Menahem Begin anunciou que baixaria uma resolução proibindo que os futuros governos removessem assentamentos, mesmo como parte de negociações de paz.
  13. Palestinians shun Israeli settlement restriction plan.
  14. Construções em assentamentos na Cisjordânia disparam por Gustavo Chacra. Estadão, 1° de fevereiro de 2009. Reprodução do artigo publicado.
  15. Irving Moskowitz's bingo madness. How an American gambling mogul is forcing a showdown between the Obama administration and Israel oversettlements. Por Richard Silverstein. The Guardian, 6 de agosto de 2009.
  16. Israel to use Hitler shot for PR - BBC News, 22 de julho de 2009.
  17. Israel anuncia mais 20 casas em Jerusalém Oriental; palestinos condenam. Folha Online, 24/03/2010
  18. a b «Nota nº 67 do Itamaraty, sobre a votação no Conselho de Segurança sobre os assentamentos israelenses nos Territórios Palestinos Ocupados». Consultado em 19 de fevereiro de 2011. Arquivado do original em 24 de janeiro de 2012
  19. Com amigos assim, quem precisa de inimigos? Dois neo-realistas reduzem a amizade entre os EUA e Israel ao tráfico de influência, por Peter Demant. Novos Estudos - CEBRAP, nº76. São Paulo novembro de 2006. ISSN 0101-3300.
  20. EUA vetam resolução da ONU que considera colônias de Israel ilegais. Estadão, 18 de fevereiro de 2011.
  21. Política Externa Brasileira Vídeo de entrevista concedida pela embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, sobre o veto americano à resolução.
  22. EUA vetam resolução contra assentamentos judaicos no Conselho de Segurança da ONU Arquivado em 4 de novembro de 2011, no Wayback Machine.. Opera Mundi/ Efe, 18 de fevereiro de 2011
  23. Após veto dos EUA, palestinos dizem que 'reavaliarão' processo de paz. Estadão, 18 de fevereiro de 2011.
  24. Israel convoca palestinos a retomarem diálogo direto de paz. Estadão, 18 de fevereiro de 2011.
  25. Brasil apoia resolução crítica a Israel, vetada pelos EUA Arquivado em 15 de julho de 2015, no Wayback Machine.. R7, 18 de fevereiro de 2011.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

  • Settler Societies, Education and Decolonisation, por John Docker. Holy Land Studies: A Multidisciplinary Journal 5.1 (2006) 113-118
  • Quality of Life Settlers, por Lara Friedman e Dror Etkes. Peace Now, janeiro de 2007 (em inglês). O que estimula os colonos judeus a ocuparem a Cisjordânia - ideologia, religião, vantagens econômicas.

O que são os assentamentos judaicos na Cisjordânia?

As assentamentos israelenses ou israelitas, ou colonatos judaicos, são colônias construídas por Israel, a partir de 1968, na Palestina, no Egito, no Líbano e na Síria, em territórios ocupados por Israel durante a Guerra dos Seis Dias (1967). Desde então, esses territórios são controlados pelo Estado de Israel.

Qual o objetivo da construção do muro da Cisjordânia?

A barreira começou a ser construída em 2002, durante o governo do primeiro ministro israelense, Ariel Sharon, para evitar a infiltração de terroristas suicidas palestinos em Israel. A iniciativa suscitou críticas da comunidade internacional, que considera o muro como um símbolo de segregação.

Qual é o interesse de Israel na Cisjordânia?

Por que alguns israelenses querem morar na Cisjordânia? Algumas pessoas se mudam para assentamentos porque neles dispõem de moradia mais barata, subsidiada pelo governo israelense.

Quem controla a Cisjordânia?

A decisão do Tribunal Internacional de Justiça de 9 de julho de 2004, no entanto, concluiu que a Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, é um território mantido por Israel sob ocupação militar, independentemente de sua situação anterior à ocupação israelense, e que a Quarta Convenção de Genebra aplica-se de jure.