O que foi a cabanagem

A Cabanagem, ou Revolta dos Cabanos, foi um movimento insurrecional ocorrido na província do Grão-Pará, entre 1835 e 1840. Seu nome deriva do fato de boa parte dos insurrectos habitarem cabanas feitas de paredes de barro e teto de palha, às margens dos rios da Região Amazônica.

Por habitarem esses locais, é possível perceber que o movimento foi composto pela população miserável da província, formada por escravos, índios, mestiços e trabalhadores independentes. Mas não só. Houve também a participação da elite econômica e política da região na insurreição, como comerciantes e proprietários de terras. O movimento chegou a proclamar a província do Grão-Pará como independente do Governo Central, sediado no Rio de Janeiro.

As origens do conflito estavam relacionadas ao processo histórico específico da colonização portuguesa da região. A província do Grão-Pará foi separada da capitania do Maranhão em 1774, sendo nomeados seus administradores diretamente pelo Reino Português. A Abertura dos Portos, em 1808, quando da vinda da Família Real Portuguesa, fortaleceu os comerciantes ingleses na região, que comercializavam madeiras e diversos outros produtos extraídos da Região Amazônica. Controlavam também esse comércio vários portugueses. Durante o processo de Independência, as elites locais refutaram a separação do Brasil em relação a Portugal, temerosos dos possíveis efeitos em seus negócios. Em 1824, aderiram ao governo monárquico de D. Pedro I.

Porém, a abdicação do Imperador, em 1831, abriu o caminho para o conflito. As elites não aceitaram as interferências administrativas realizadas pelos Governos Regenciais, reivindicando a volta de D. Pedro I. Em 1832, um levante armado impediu a posse de um governador nomeado pela Regência. Bernardo Lobo de Sousa assumiu a administração da província em 1833, utilizando de forte repressão contra os opositores a seu governo, com medidas como perseguição e deportação, o que criou um clima de tensão na região.

Somou-se a essa situação a intensa exploração a que os habitantes miseráveis da região estavam submetidos. As camadas populares apontavam os portugueses como responsáveis pela sua situação de miséria.

A Cabanagem explodiu no dia 6 de janeiro de 1835, quando os revoltosos tomaram a cidade de Belém. Era dia de Festa de Santos Reis e boa parte da elite comemorava a data. O governador Lobo de Sousa tentou fugir da população que ocupava a cidade, mas foi pego no dia seguinte e executado.

Os principais nomes ligados ao movimento eram o do cônego Batista Campos, os irmãos Antônio e Francisco Vinagre, o seringueiro Eduardo Angelim e o fazendeiro Félix Antônio Malcher.

Malcher foi escolhido como primeiro governador da província rebelde em face da liderança que exercia no momento e nomeou Francisco Vinagre como comandante de armas do governo. Este se rebelou contra Malcher, foi preso, mas conseguiu, ainda, junto a seu irmão, realizar novas investidas contra o governo, resultando na morte de Félix Malcher. Francisco Vinagre passou a ser o presidente da província.

Por outro lado, o governo regencial nomeou o marechal Manuel Jorge Rodrigues para a presidência da província do Grão-Pará. Essa medida levou a um novo levante, principalmente por serem colocados portugueses nos cargos administrativos. Os revoltosos saíram vitoriosos e Eduardo Angelim tornou-se presidente da província. Os rebeldes passaram a dominar boa parte da região. A República foi proclamada e o porte de armas foi legalizado.

A base popular do movimento, formada principalmente pelos explorados e moradores das cabanas, passou a questionar a ordem social que a mantinha na miséria. Essa radicalização da Cabanagem assustou os apoiadores do movimento mais bem posicionados na hierarquia social, como fazendeiros e comerciantes. As divergências começaram a enfraquecer a luta, pois os interesses não eram os mesmos.

O governo regencial enviou tropas para sufocar a revolta. Houve o bloqueio da cidade de Belém. Em outubro de 1836, Eduardo Angelim foi preso. Os revoltosos tiveram de ir para o interior, onde a repressão ao movimento se estendeu até 1840. Estima-se que cerca de 30 mil pessoas morreram na Cabanagem, cerca de 20% da população.

Diferente das demais rebeliões regenciais, a Cabanagem foi o único movimento em que as camadas populares chegaram a tomar o poder. Mas a divergente composição social mostrou que a unidade entre as diferentes camadas sociais, entre os exploradores e explorados, são efêmeras.

Aproveite para conferir a nossa videoaula relacionada ao assunto:

O que foi a cabanagem

Cabanos invadindo e ocupando a cidade de Belém (1835)

O que foi (aspectos gerais)

A Cabanagem foi uma revolta popular que aconteceu entre os anos de 1835 e 1840 na província do Grão-Pará (região norte do Brasil, atual estado do Pará). Recebeu este nome, pois grande parte dos revoltosos era formada por pessoas pobres que moravam em cabanas (habitações simples de madeira com telhado de palha) nas beiras dos rios da região. Estas pessoas eram chamadas cabanos.

Contexto histórico

No início do Período Regencial, a situação da população pobre do Grão-Pará era péssima. Mestiços e índios viviam na miséria total. Sem trabalho e sem condições adequadas de vida, os cabanos sofriam em suas pobres cabanas às margens dos rios. Esta situação provocou o sentimento de abandono com relação ao governo central e, ao mesmo tempo, muita revolta.

Os comerciantes e fazendeiros da região também estavam descontentes, pois o governo regencial havia nomeado para a província um presidente que não agradava à elite local.

Principais causas e objetivos do movimento

Embora por causas diferentes, os cabanos (índios e mestiços, na maioria) e os integrantes da elite local (comerciantes e fazendeiros) se uniram contra o governo regencial nesta revolta. O objetivo principal era a conquista da independência da província do Grão-Pará. 

Os cabanos pretendiam obter melhores condições de vida (trabalho, moradia, comida). Já os fazendeiros e comerciantes, que lideraram a revolta, pretendiam obter maior participação nas decisões administrativas e políticas da província.

Como foi a revolta

Com início em 1835, a Cabanagem gerou uma sangrenta guerra entre os cabanos e as tropas do governo central. As estimativas feitas por historiadores apontam que cerca de 30 mil pessoas morreram durante os cinco anos de combates.

No ano de 1835, os cabanos ocuparam a cidade de Belém (capital da província) e colocaram na presidência da província Félix Malcher. Fazendeiro, Malcher fez acordos com o governo regencial, traindo o movimento. Revoltados, os cabanos mataram Malcher e colocaram no lugar o lavrador Francisco Pedro Vinagre (sucedido por Eduardo Angelim).

Contando com o apoio inclusive de tropas de mercenários europeus, o governo central brasileiro usou toda a força para reprimir a revolta que ganhava cada vez mais força.

Fim da revolta

Após cinco anos de sangrentos combates, o governo regencial conseguiu reprimir a revolta. Em 1840, muitos cabanos foram presos ou mortos em combates. A revolta terminou sem que os cabanos conseguissem atingir seus objetivos.

O que foi a cabanagem

Os cabanos, pobres que moram em habitações precárias as margens de rios, foram os principais integrantes do movimento social e popular conhecido como Cabanagem.

Atualizado em 14/03/2022Por Jefferson Evandro Machado Ramos

Graduado em História pela Universidade de São Paulo - USP (1994).

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A Cabanagem (que não deve ser confundida com a Cabanada) foi uma revolta do período regencial ocorrido no norte do Brasil, mais precisamente na antiga província do Grão Pará, que reunia, à época, os atuais estados do Amazonas, Pará, Amapá, Roraima e Rondônia.

A província do Grão Pará era à época do governo regencial, a mais ligada ao antigo governo colonial português. Isso faz com que tanto o governo quanto a própria sociedade não reconheçam de pronto a independência proclamada por Dom Pedro I em 1822.

Essa revolta tinha como grandes objetivos aumentar importância do Pará no governo central brasileiro e enfrentar a questão da pobreza em que estava o povo da região, cuja maior parte morava em cabanas de barro (daí o nome da revolta). Além disso, a revolta foi um protesto pela retirada do poder de governantes que eram nomeados para administrar a região, mas não se importavam com a situação social e, muitas vezes, sequer já tinham ido à região.
A rebelião representava as classes mais baixas da população. As forças rebeldes eram formadas, em sua maioria, por índios, mestiços e membros de uma classe média desejosa de mais influência.

Os rebeldes, após o início das hostilidades, chegaram a tomar a capital, Belém, em duas ocasiões.

Na primeira tomada, em agosto de 1835, liderados por Félix Melcher e Francisco Vinagre, o controle da cidade foi rapidamente retomado pelas forças governistas destacadas para enfrentar a revolta. Essas forças governistas contavam com a presença de mercenários estrangeiros contratados pelo governo.

Outro fator que interferiu no fracasso das forças rebeldes foi o desacordo entre os líderes do movimento. A ausência de coesão comprometeu o andamento da revolta.

Percebendo a dificuldade na capital, os cabanos que lutavam no interior rumaram para Belém, chefiados por Eduardo Angelim, para somar forças. Com esse reforço, a capital foi novamente ocupada. No entanto, a atuação de Angelim em favor dos mais pobres incomodou as lideranças do movimento, pertencentes à classe média.

Mesmo com a resistência interna, Angelim inicia seu governo na capital em agosto de 1835. Porém, essa discordância entre lideranças enfraquece o movimento, prejudicando sua coesão, levando à perda de apoio do governo Angelim, que deixa o poder em 1836.

A firme repressão do governo ao movimento, com a ocorrência de massacres, enfraquece ainda mais os revoltosos. A luta cessa na capital, mas continua ativa entre 1836 e 1840 no interior da Amazônia. Os revoltosos passaram a utilizar-se de táticas de guerrilha no intuito de sobreviver à repressão e reestruturar o movimento, o que não logrou êxito. O saldo final da revolta foi de 30 mil mortos, Belém fora destruída e a revolta, sufocada.

Bibliografia:

http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo02/rev_norte.html

http://escola.britannica.com.br/article/483137/Cabanagem

CHIAVENATO, Júlio José. Cabanagem, o povo no poder. São Paulo: Brasiliense, 1984.

CHIAVENATO, Júlio José. As lutas do povo brasileiro. São Paulo: Moderna, 1988.