Releia As glórias que vêm tarde, já vêm frias e pode enfim mudar-se a nossa estrela

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e à nossa
compreensão (quando consideramos a morte). O paradoxo, no entanto, é
aparente porque a palavra pó indica, a cada vez, uma diferente realidade.
Com efeito, o pó que seremos é pó mesmo (sentido literal), ao passo que
o pó que somos é a nossa insignificância, a nossa fragilidade, a fugacidade
da nossa existência (sentido, portanto, figurado, metafórico, do pó). Logo,
o pó que seremos é pó visível, mas o pó que somos não o é.
MÓDULO 10
ARCADISMO (I) – CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
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Sobre uma rocha sentado
Caladamente se queixa:
Que para formar as vozes
Teme que o ar as perceba.
(In Poemas de Cláudio Manuel da Costa. 
São Paulo, Cultrix, 1966, p. 156.)
1. (VUNESP-SP – adaptada) – Neste fragmento de “Alteia”, acu -
 mulam-se características peculiares do Arcadismo. Releia o texto
e aponte duas dessas características.
Texto para a questão 2.
Alguém há de cuidar que é frase inchada,
Daquela que lá se usa entre essa gente,
Que julga que diz muito, e não diz nada.
O nosso humilde gênio não consente
Que outra coisa se diga mais que aquilo
Que só convém ao espírito inocente.
(Cláudio Manuel da Costa)
2. O que o eu lírico entende por “frase inchada”? Qual o ideal de
linguagem que o poeta defende?
Texto para os testes 3 e 4.
Torno a ver-vos, ó montes: o destino
Aqui me torna a pôr nestes outeiros,
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Pelo traje da Corte, rico e fino.
Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Os meus fiéis, meus doces companheiros,
Vendo correr os míseros vaqueiros
Atrás de seu cansado desatino.
Se o bem desta choupana pode tanto,
Que chega a ter mais preço e mais valia
Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto.
Aqui descanso a louca fantasia,
E o que até agora se tornava em pranto
Se converta em afetos de alegria.
(PROENÇA FILHO, Domício. A Poesia dos Inconfidentes. 
Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 2002, p. 78-9.)
B
3. (ENEM) – Considerando o soneto de Cláudio Manuel da Costa e
os elementos constitutivos do Arcadismo brasileiro, assinale a
opção correta acerca da relação entre o poema e o momento
histórico de sua produção.
a) Os “montes” e “outeiros”, mencionados na primeira estrofe, são
imagens relacionadas à Metrópole, ou seja, ao lugar onde o poeta
se vestiu com traje “rico e fino”.
b) A oposição entre a Colônia e a Metrópole, como núcleo do poema,
revela uma contradição vivenciada pelo poeta, dividido entre a
civilidade do mundo urbano da Metrópole e a rusticidade da terra
da Colônia.
c) O bucolismo presente nas imagens do poema é elemento estético
do Arcadismo que evidencia a preocupação do poeta árcade em
realizar uma representação literária realista da vida nacional.
d) A relação de vantagem da “choupana” sobre a “Cidade”, na ter cei -
ra estrofe, é formulação literária que reproduz a condição histórica
paradoxalmente vantajosa da Colônia sobre a Metrópole.
e) A realidade de atraso social, político e econômico do Brasil
Colônia está representada esteticamente no poema pela referência,
na última estrofe, à transformação do pranto em alegria.
RESOLUÇÃO:
O poema exemplifica: 1) o bucolismo e o pastoralismo típicos da poesia
árcade, em que a natureza convencional aparece como cenário para a
vida dos pastores, e 2) linguagem simples.
RESOLUÇÃO:
A “frase inchada” é aquela carregada de “excessos”, ou seja, enfeites, que
a impedem de ser simples, direta e clara. O poeta defende a linguagem
simples, direta, sem os ornamentos exagerados, que considera inúteis.
Trata-se do ideal do inutilia truncat (“corta as coisas inúteis”).
RESOLUÇÃO:
A oposição cidade-campo, lugar-comum da temática árcade, é
assimilada, no caso de Cláudio Manuel da Costa, à oposição Metrópole-
Colônia. O poeta, que viveu longamente em Portugal, onde experimentou
a civilidade lisboeta, voltando ao Brasil confrontou-se com a aspereza dos
“montes” e “outeiros” de sua Minas natal, que idealiza em seus poemas
bucólicos.
Resposta: B
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4. (ENEM) – Assinale a opção que apresenta um verso do soneto de
Cláudio Manuel da Costa em que o poeta se dirige ao seu inter lo cutor.
a) “Torno a ver-vos, ó montes: o destino” (v. 1)
b) “Aqui estou entre Almendro, entre Corino” (v. 5)
c) “Os meus fiéis, meus doces companheiros” (v. 6)
d) “Vendo correr os míseros vaqueiros” (v. 7)
e) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto.” (v. 11)
LEITURA
Texto 1
Num sítio ameno,
Cheio de rosas,
De brancos lírios,
Murtas viçosas;
Dos seus amores
Na companhia,
Dirceu passava
Alegre o dia.
(Tomás Antônio Gonzaga, 
Marília de Dirceu, Primeira Parte, Lira XXIII)
Texto 2
Se me visses com teus olhos
Nesta masmorra metido,
De mil ideias funestas
E cuidados combatido,
Qual seria, ó minha bela,
Qual seria o teu pesar?
(Tomás Antônio Gonzaga,
Marília de Dirceu, Segunda Parte, Lira XX)
Texto 3
Minha bela Marília, tudo passa;
A sorte deste mundo é mal segura;
Se vem depois dos males a ventura1,
Vem depois dos prazeres a desgraça.
Estão os mesmos2 deuses
Sujeitos ao poder do ímpio Fado3:
Apolo já fugiu do céu brilhante,
Já foi pastor de gado.
A devorante mão da negra Morte
Acaba de roubar o bem que temos;
Até na triste campa4 não podemos
Zombar do braço da inconstante sorte:
Qual5 fica no sepulcro6,
Que seus avós ergueram, descansado;
Qual7 no campo, e lhe arranca os frios ossos
Ferro do torto arado.
Ah! enquanto os Destinos impiedosos
Não voltam contra nós a face irada,
Façamos, sim, façamos, doce amada,
Os nossos breves dias mais ditosos8.
Um coração que, frouxo,
A grata posse de seu bem difere9,
A si, Marília, a si próprio rouba
E a si próprio fere.
Ornemos nossas testas com as flores
E façamos de feno um brando leito;
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
Gozemos do prazer de sãos Amores.
Sobre as nossas cabeças,
Sem que o possam deter, o tempo corre;
E para nós o tempo que se passa
Também, Marília, morre.
Com os anos, Marília, o gosto falta,
E se entorpece o corpo já cansado;
Triste, o velho cordeiro está deitado,
E o leve filho sempre alegre salta.
A mesma formosura
É dote que só goza a mocidade:
Rugam-se as faces, o cabelo alveja,
Mal chega a longa idade.
Que havemos de esperar, Marília bela?
Que vão passando os florescentes dias?
As glórias que vêm tarde já vêm frias,
E pode, enfim, mudar-se a nossa estrela.
Ah! não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
O estrago de roubar ao corpo as forças
E ao semblante a graça!
(Tomás Antônio Gonzaga,
Marília de Dirceu, Primeira Parte, Lira XIV)
1 – Ventura: felicidade. 2 – Mesmo: próprio. 3 – Ímpio Fado: impiedoso
destino. 4 – Campa: túmulo. 5 – Qual: um. 6 – Sepulcro: sepultura. 7 – Qual:
outro. 8 – Ditoso: feliz. 9 – Diferir: adiar.
RESOLUÇÃO:
No verso 1, “ó montes” é uma apóstrofe — um vocativo dirigido ao
interlocutor imaginário do eu lírico. Em outras palavras, é como se o
poeta falasse com os montes.
Resposta: A
MÓDULO 11
ARCADISMO (II) – TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA
ANÁLISE DE TEXTO
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Releia com atenção o texto 3 da Seção Leitura e responda ao que se
pede.
1. Qual é, em síntese (em bem poucas palavras), o sentido da
primeira estrofe do poema?
 2. Qual é, na segunda estrofe, o sentido da expressão “o bem que
temos”? Que nome se dá a essa forma de expressão em que se
empregam várias palavras em vez de uma?
3. “...se vem depois dos males a ventura, / vem de pois dos prazeres a
desgraça”. Que figura de lingua gem aparece duas vezes nos versos
trans critos? Mencione as palavras que compõem cada uma das
duas ocor rências da figura.
4. Nos últimos dois versos da segunda estrofe há uma figura de som
chamada aliteração. Indique-a