Quem é paulo pavesi

O filho de Paulo Airton Pavesi morreu em 2000, aos 10 anos, após médicos dizerem que ele tinha sofrido morte cerebral e fazerem a retirada dos órgãos de forma ilegal. Criança ainda estava viva e até hoje caso está na Justiça

Paulo Veronesi Pavesi com o pai, Paulo Airton Pavesi/ Foto: Paulo Airton Pavesi/ Arquivo pessoal

Paulo Airton Pavesi, o pai do menino Paulo Veronesi Pavesi, morto em abril de 2000, em Poços de Caldas (MG), criticou o fato do médico Álvaro Ianhez, condenado a 21 anos e 8 meses de prisão pela morte e retirada ilegal de órgãos da criança, ter sido julgado por videoconferência, sentado no sofá da própria casa, em vez de ocupar o banco dos réus. O médico foi condenado por homicídio duplamente qualificado por motivo torpe e pelo fato da vítima ter menos de 14 anos.

O caso teve início em 19 de abril de 2000, quando Paulo Veronesi Pavesi, de 10 anos, sofreu acidentalmente uma queda no prédio onde morava, em Poços de Caldas. O menino foi levado ao Hospital Pedro Sanches e, dois dias depois, em 21 de abril de 2000, foi transferido para a Santa Casa da cidade, onde foi constatada morte cerebral, e o menino teve os seus órgãos retirados e transplantados.

Segundo a Justiça, os médicos foram responsáveis por procedimentos incorretos na declaração de morte e remoção de órgãos do garoto. O exame que apontou a morte cerebral foi forjado e a criança ainda estava viva no momento da retirada dos órgãos.

Como resultado, o caso deu origem a vários processos e escancarou denúncias de irregularidades no esquema de transplantes de órgãos em Poços de Caldas.

Em vídeo divulgado nas redes sociais, Paulo Pavesi disse que passou mal antes do julgamento e pensou em não participar. Para ter uma melhor estrutura, ele foi para um hotel, de onde deu seu testemunho, em Milão, na Itália. Ele vive asilado na Europa após denunciar médicos e autoridades por acobertamento pela morte do filho.

O pai do menino criticou o fato de o julgamento não ter sido aberto à imprensa e a ausência do principal acusado do crime no julgamento.

“O réu Álvaro Ianhez, o assassino do meu filho, o réu confesso, não está participando do julgamento, está em casa, em outro estado, não está em Belo Horizonte, é a primeira vez que vejo um réu participar de um julgamento do sofá da casa dele, é um absurdo, ele não tem nenhuma defesa, não tem absolutamente nada que desminta as denúncias que fiz até hoje”, desabafou Paulo Pavesi.

O julgamento de Álvaro Ianhez foi transferido para Belo Horizonte a pedido do Ministério Público, para evitar abuso de poder econômico. O julgamento já era para ter acontecido há 10 anos, mas foi adiado por três vezes.

“Ele matou uma criança de 10 anos de idade e outros sete pacientes, ele removeu os órgãos do meu filho vivo, ele não teve clemência, ele não teve um pingo de sentimento pelo meu filho e agora eu passo a entender tudo que está acontecendo. Ele sabia da impunidade, já estava tudo acertado”, diz Paulo Pavesi.

Apesar da condenação, Pavesi não acredita que o médico será preso. “O tribunal sabia que os habeas corpus foram negados e ele sairia preso do tribunal, então por isso fizeram o acordo para ele ficar em casa. Porque se ele vai, sai o mandado para ele ser recolhido. Ele vai fugir e esperar habeas corpus para dar liberdade para ele responder com recursos de mais 15, 20 anos, em casa”, lamenta o pai.

Fonte: g1

Por Bianca Morais 

Há 21 anos atrás, a morte de um garoto de dez anos na cidade de Poços de Caldas, em Minas Gerais, colocou em dúvida a credibilidade do sistema de transplantes do país. O Caso Pavesi, como ficou conhecido, teve repercussão nacional após a denúncia de que Paulo Veronesi Pavesi havia sido morto pelos médicos que o atenderam para venda de seus órgãos.

Conheça o caso

No dia 19 de abril de 2000, Paulinho Pavesi caiu acidentalmente de uma altura de 10 metros do prédio onde morava. O garoto sofreu traumatismo craniano e foi levado ao Hospital Pedro Sanches, onde recebeu os primeiros atendimentos. Após alguns problemas durante uma cirurgia, o menino foi transferido para a Santa Casa da cidade, local onde foi constatada a morte cerebral da vítima, que teve seus órgãos retirados para transplantes. 

Paulo Airton Pavesi, pai da criança, começou a desconfiar das circunstâncias da morte do filho, após receber uma conta de quase 12 mil reais do hospital, entre as informações que constavam nela, estava a cobrança de medicamentos para remoção de órgãos. Então, ele levou o caso ao Ministério da Saúde e à Associação de Transplantes de Órgãos. Segundo o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), a equipe médica responsável constatou morte encefálica, mas as investigações apontaram que o laudo teria sido forjado e o garoto ainda estaria vivo no momento da retirada dos órgãos.

Algumas testemunhas na época disseram que Paulinho teria chegado com um quadro estável, conversando, o que só aumentou as suspeitas de que os médicos prestaram o serviço de forma inadequada para prejudicar a recuperação do paciente para ele se tornar um doador de órgãos. 

Em 2002, quatro médicos, José Luis Gomes da Silva, José Luis Bonfitto, Marco Alexandre Pacheco da Fonseca e Álvaro Ianhez, foram denunciados pelo Ministério Público. Entre as acusações estavam a demora no atendimento neurocirúrgico e a inexistência de um tratamento efetivo e eficaz. Outros três médicos chegaram a ser acusados por participação, porém a sentença foi anulada pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais e o processo retornou para Poços de Caldas.

Denominado Caso Zero, a morte da criança deu início a uma investigação que trouxe à tona denúncias de irregularidades no esquema de transplantes de órgãos em Poços de Caldas. O pai do menino chegou a pedir asilo à Itália, pois sofria ameaças pelos envolvidos na morte de seu filho e pela população local da cidade que o apontavam como alguém que queria destruir a Santa Casa.

Foram duas décadas à espera de um julgamento, o caso que começou em Poços de Caldas foi transferido para Belo Horizonte, em agosto de 2014, para evitar que a influência dos médicos recaísse sobre os jurados. O júri popular dos quatro médicos aconteceria no dia 6 de abril, mas acabou sendo suspenso.

Retomado em janeiro deste ano, apenas três deles foram julgados, o quarto acusado Álvaro Ianhez teve o caso desmembrado e ainda não existe previsão para seu julgamento. Quanto a José Luis Gomes e José Luis Bonfitto, foram denunciados pelo Ministério Público por homicídio qualificado e pela retirada ilegal dos órgaos de Paulo Pavesi, ambos condenados a 25 anos de prisão e não poderão recorrer em liberdade. Marco Alexandre Pacheco da Fonseca, foi absolvido pois chegaram a conclusão que a atitude do médico anestesista não teve influência na morte do garoto.

O que aconteceu em abril de 2000 foi uma irresponsabilidade médica, órgãos de uma criança foram retirados de forma irregular e sem consentimento dos pais, e ainda foram transferidos para receptores fora da lista oficial de espera. Não existem dúvidas que os médicos responsáveis, por isso, são criminosos e a justiça, mesmo que tardia, foi feita. 

Toplist

Última postagem

Tag