Qual a origem dos personagens mencionados na lenda que foram vendidos para serem escravos no Brasil

O Negrinho do Pastoreio é um personagem do folclore brasileiro muita conhecido na região sul do país. De origem africana e cristã, a lenda do negrinho do pastoreio surgiu provavelmente no século XIX.

Reza a lenda que, ainda no tempo da escravidão no país, essa personagem foi um pequeno escravo que sofreu muito com os maus tratos de um fazendeiro.

Num determinado dia, o senhor pediu-lhe que cuidasse de alguns cavalos, porém um deles acabou fugindo.

Qual a origem dos personagens mencionados na lenda que foram vendidos para serem escravos no Brasil
Quando retornou, seu dono sentiu falta do cavalo baio e, com isso, resolveu castigar o negrinho.

Após sair em busca do cavalo perdido, o negrinho chega a encontrá-lo, porém, não conseguiu capturá-lo.

Dessa maneira, o senhor resolve castigar o garoto com muitas chibatadas e, além disso, lança-o num formigueiro. Perto da morte, o fazendeiro resolve deixar o garoto ali no formigueiro, certo de que já estava morto.

Entretanto, no dia seguinte, o próprio fazendeiro se depara com o garoto e fica perplexo, pois a criança não apresentava nenhum ferimento no corpo.

Além disso, ele estava montado no cavalo perdido, e ao seu lado, estava a Virgem Maria, padroeira do garoto órfão.

Muito arrependido, o fazendeiro resolve pedir perdão, todavia, o negrinho sai galopando feliz e livre no cavalo baio.

Noutra versão da lenda, o fazendeiro foi avisado por seu filho sádico que o negrinho, responsável por cuidar de 30 cavalos, deixou um deles fugir. Isso porque ele estava muito cansado e decidiu dormir.

Ao acordar, o pequeno escravo sentiu falta do cavalo, porém, o fazendeiro já sabia do ocorrido e resolveu castigar o negrinho.

A Lenda Atualmente

Atualmente, na região sul do país acredita-se que se algum objeto está perdido, o Negrinho do Pastoreio pode ajudar a encontrá-lo. Basta acender uma vela perto de um formigueiro e pedir com muita fé que objeto reaparecerá.

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Filme O Negrinho do Pastoreio

O filme “O Negrinho do Pastoreio” (1973), dirigido por Antônio Augusto da Silva Fagundes, é um drama baseado na obra “Lendas do Sul” de Simões Lopes Neto.

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Qual a origem dos personagens mencionados na lenda que foram vendidos para serem escravos no Brasil

Daniela Diana

Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.

Galanga chegou ao Rio de Janeiro em 1740 e foi rebatizado Francisco. Ele e o filho Muzinga foram levados por um Major para trabalhar na Mina da Encardideira, em Vila Rica (atual Ouro Preto). Durante muito tempo, Chico trabalhou duro e pôde comprar a própria liberdade e a de Muzinga. Há quem diga que ele escondia ouro em pó nos cabelos e ao fim da jornada de trabalho lavava os fios para recuperar o metal.

Na sequência, Chico comprou a alforria de outros escravos e, com o passar do tempo, de olho nas dívidas do patrão, foi capaz de adquirir a Mina da Encardideira, agora mina de Francisco, o rei.

Com a prosperidade alcançada pelo garimpo, libertou mais escravos com quem teria chegado ao Brasil, muitos deles seus súditos no Congo. Os alforriados o chamavam "rei".

Um historiador brasileiro desvendou a origem histórica dos courás, um dos povos mais singulares e enigmáticos da escravidão. Também conhecidos como couranos, eles foram traficados da África para as Américas — e, no Brasil, habitaram diversas regiões, principalmente cidades de Minas Gerais.

Até então a história desse grupo de africanos sequestrados e trazidos à força para o Brasil era incerta, segundo o historiador Moacir Rodrigo de Castro Maia. "Esse era um mistério dos estudos sobre a escravidão. Embora eles fossem muito presentes em Minas, não se sabia muito sobre a origem dos courás", diz ele.

Milhares de couranos foram traficados para as Américas — dos Estados Unidos e Caribe à América do Sul —, e parte significativa desembarcou na colônia portuguesa para trabalhar nas primeiras décadas da produção de ouro e diamantes em cidades como Diamantina, Ouro Preto e Mariana — há também registros deles no sul da Bahia, em Goiás, Pernambuco e Rio de Janeiro.

Quando chegavam, eles eram batizados por outros courás que já estavam por aqui (ao entrar no Brasil, os escravizados eram obrigados a trocar de nome). Viravam Francisca ou João Mina, por exemplo — e Mina era uma referência à chamada Costa da Mina, região africana que abrigava um forte português e onde hoje ficam os países de Gana, Togo, Nigéria e Benim.

A pesquisa de Maia apontou precisamente o litoral da República do Benim, país da região ocidental do continente africano, como o local de origem dos courás.

"Essa descoberta pode abrir uma série de possibilidades de estudos sobre a escravidão, o tráfico de africanos e esse povo tão conhecido na época. A história dos courás é trágica e surpreendente", diz Maia, que atua no Núcleo de Pesquisa em História Econômica e Demográfica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Na verdade, a palavra "courá" foi a chave para o pesquisador desvendar o mistério. O povo vivia no chamado Reino de Uidá—- também conhecido pelos portugueses como Ajudá —, que por alguns séculos ocupou a região litorânea do Benim até ser conquistado por outro reino africano, o Daomé.

"A palavra courá era como traficantes e os próprios africanos traduziram para o português a identidade da população do Reino de Ajudá", explica Maia.

O historiador encontrou referências ao reino em documentos históricos de outros Estados europeus que exploraram o comércio de escravos nos séculos 17 e 18.

O Reino de Ajudá era chamado de Whydah pelos ingleses, Judá ou Juidá por franceses, e Fida pelos holandeses.

"Um documento português contava que os couranos invadiram um forte durante um conflito com membros do Reino de Daomé. Cruzando a documentação, descobri que aqueles courás eram o povo chamado de judaiques pelos franceses e whydahs pelos britânicos. Eram do mesmo local", explica Maia.

No Brasil, tanto os huedas quanto os hulas (os dois povos habitantes de Ajudá), passaram a se declarar como "nação courá".

Essa união dos dois povos revela que, no Brasil, a população de parte do Golfo do Benim teceu uma identidade própria e lutou para reconstruir suas vidas sob uma mesma identidade.

O estudo de Moacir Maia sobre o grupo, em princípio uma tese de doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), deu origem ao livro De Reino traficante a povo traficado: a diáspora dos courás do golfo do Benim para Minas Gerais (Arquivo Nacional), vencedor do prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa de 2019 e lançado recentemente.

A pesquisa mostra que os courás viveram e sofreram com escravização, conflitos e violências na África e no Brasil, mas também lutaram para manter sua identidade, história e religiosidade mesmo em terras estrangeiras.

A história da "nação courá" trafega da fartura de um reino rico e poderoso para a decadência de um povo conquistado por invasores africanos e vendido como escravo aos europeus.

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O tráfico de pessoas da África para as Américas durou mais de três séculos

No século 17, o pequeno Reino de Ajudá, casa dos couranos, tinha um importante porto (na atual cidade de Ouidah), utilizado por algumas nações europeias para exportar especiarias e principalmente traficar pessoas.

"Ajudá conseguiu negociar uma trégua entres Estados europeus que estavam em conflito na época, como Inglaterra e França. Naquele domínio, eles atuavam lado a lado", diz Moacir.

Esse comércio duplo na África, de produtos diversos e de pessoas, rendeu a Ajudá um período de prosperidade econômica.

"Importante dizer que, na época, os reinos não capturavam o próprio povo para a escravidão, mas, sim, gente de outros lugares, de regiões mais distantes que eram conquistadas ou em conflitos com estados vizinhos... Estrangeiros eram capturados e vendidos aos europeus", afirma.

Mas o aumento desse comércio escravista acirrou a violência e as tensões na região, diz Maia.

E uma derrota mudou para sempre o destino do Reino de Ajudá e de sua população.

No início do século 18, a região foi invadida e conquistada pelo Reino de Daomé, que estava em expansão por conta de sua estreita e lucrativa parceria com o comércio escravista comandado pelos europeus.

"Daomé se transforma em uma potência escravista servindo como intermediário dos europeus. Os courás então se transformam de uma população que comercializava escravos em um povo escravizado nas Américas. Esse tráfico aconteceu ainda por mais um século e só diminuiu em meados do século 19", diz Maia.

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Nascido em Mariana (MG), o historiador Moacir Maia estuda a origem do povo courá, que foi escravizado na mineração de ouro e diamante

Na África, os courás viviam principalmente da agricultura, pesca, produção de sal marinho e participação no tráfico de pessoas. Mas, no Brasil, ficaram conhecidos como "bons mineradores" por conta de sua ampla atuação na produção de ouro e diamante em Minas Gerais.

Segundo Maia, eles aprenderam o ofício ao entrar em contato com outros africanos que já trabalhavam na área.

O modelo escravista incentivava o apagamento da história e da identidade dos africanos que entravam aos milhares no Brasil — essa é uma das razões da mudança obrigatória dos nomes em um batismo cristão, por exemplo.

Temia-se que a preservação do senso de identidade e dos laços comunitários pudesse ensejar revoltas contra os senhores de escravos.

Porém, segundo o historiador, a "nação courá" conseguiu de certa forma preservar sua história e cultura na colônia portuguesa, pelo menos na geração dos próprios traficados.

"Vários courás que chegavam ao Brasil eram batizados e acolhidos por outros couranos. Dessa forma, eles conseguiam manter um senso de identidade e de comunidade, pois eram da mesma região e partilhavam a convivência e uma história de violências", conta Maia.

Crédito, Rugendas/Villa Rica 1825

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Os courás ocuparam principalmente as regiões de produção de ouro e diamantes em Minas Gerais

A religiosidade foi outro fator que mantinha viva a identidade e a cultura dos filhos do Reino de Ajudá no Brasil.

O livro de Moacir Maia conta a história da sacerdotisa africana Ângela Maria Gomes, uma mulher negra liberta, dona de casa própria e padeira em Itabira do Campo — hoje município de Itabirito, a 57,5 km de Belo Horizonte.

Nascida no litoral do Benim, a courana Ângela Maria se reunia secretamente com mulheres em noites de "lua branca" na cidade mineira. Famosa na região, chegou a ser denunciada à Inquisição como uma "mestra das feiticeiras".

Ela era uma sacerdotisa do vodum, uma prática religiosa comum no Golfo do Benim. "Para muitos seguidores das divindades voduns, o indivíduo encontraria equilíbrio e proteção ao respeitar e incorporar outros protetores sobrenaturais", escreve Maia.

Por outro lado, a padeira Ângela Maria também era uma destacada devota de Nossa Senhora do Rosário, fazendo parte da irmandade da santa em Minas Gerais como rainha do Rosário — essa informação, no entanto, não constava na denúncia à Inquisição.

"Muitos sacerdotes e adeptos dessa religião chegaram por aqui. Embora o homem fosse o sacerdote supremo, quem incorpora a divindade no vodum eram as mulheres", diz Maia.

Segundo ele, a religião, a cultura e o modo de vida dos courás têm "grande importância" na história do Brasil, ainda que mais estudos sejam necessários para entender melhor essa influência.

"Quando se fala que o indivíduo era escravizado, normalmente a gente não sabe qual é a história dele, de onde ele vinha, como era sua sociedade e o que aconteceu para que caísse na teia do tráfico humano. A história dos courás é global, está em vários países da América e da Europa. Todos somos herdeiros dessa história e, por isso, precisamos entendê-la", completa o historiador.