Qual a importância dos soldados da borracha no contexto da Segunda Guerra Mundial?

Para o Brasil, havia mais de uma frente de combate na Segunda Guerra: uma delas era na batalha, e a outra na extração de látex para fazer borracha

Os soldados da borracha compreendem um exército de migrantes da Segunda Guerra Mundial que foi formado pelo estado brasileiro na base de promessas e chantagem, enviados para a Amazônia com a missão de fazer extração de látex para produção de borracha. 

Contudo, nem mesmo receberam a pensão que é concedida a ex-combatentes, ainda que se possa considerá-los dentro dessa classificação, uma vez que foram parte de uma operação de guerra que teve papel essencial no cenário nacional de sua época. 

A maioria compreendia jovens em idade militar quando foram recrutados como soldados, e tiveram a opção ou ser enviado para lutar na guerra, ou fazer extração de borracha. 

No entanto, uma vez terminada a operação, em um ápice de ingratidão estatal os órgãos oficiais viraram a página e não mais falaram a respeito das contribuições desse exército. “É como se tivessem passado uma borracha na História”, sintetizou o cineasta cearense Wolney Oliveira, à Revista Época em 2004. Oliveira filmou um documentário abordando o episódio, chamado “Borracha para a Vitória”. 

Como surgiram 

Qual a importância dos soldados da borracha no contexto da Segunda Guerra Mundial?
Soldados da borracha / Crédito: Divulgação 

O governo do período, que era controlado por Getúlio Vargas, precisava abastecer suas Forças Armadas com equipamento bélico. Com esse objetivo em mente foram firmados os chamados Acordos de Washington, em que o Brasil passou a vender certos materiais exclusivamente para os Estados Unidos. 

Estavam entre esses o café, o alumínio, o cobre e a borracha. Em troca, o país mais rico iria entregar armamento e munições, algo que já fazia antes, porém menos porque nutria certa desconfiança dos militares brasileiros. A parceria firmada pelo novo acordo, todavia, tinha o objetivo simbólico de vencer essa desconfiança. 

Em meio a esse trato, todavia, havia um problema: o ciclo da borracha, um dos produtos estratégicos nos quais os EUA tinha interesse, estava quase no seu fim, e os seringais estavam abandonados. Não havia, nem de longe, pessoal suficiente para extrair a quantidade de látex prevista no acordo. 

O plano pensado para resolver essa questão foi a criação dos soldados da borracha, nordestinos deixados sem fonte de renda por conta da seca que foram então enviados para a Amazônia. 

Como a operação funcionou

“Estava no roçado com papai e chegou um soldado que me mandou subir no caminhão para ir para a guerra. Eu queria só pedir a bênção à mãe, mas o soldado disse que não tinha esse negócio, não. O caminhão estava apinhado de homem", contou Lupércio Freire Maia, de 83 anos, em entrevista à revista Época em 2004. 

Esse foi o início do recrutamento como soldado do exército da borracha, quando tinha 18 anos. Foi só meses depois que descobriu o que iria fazer, já quando estava próximo de embarcar em um navio que o levaria para os seringais. Também é preciso dizer que não conseguiu mais reencontrar sua família.

Com outros recrutas, o que os levou para a extração de látex foi a promessa de 35 mil cruzeiros para o seringueiro com a maior produção anual, ou então de uma terra de fartura, um conceito muito distante da seca impiedosa do Nordeste. 

Era falada ainda na honra de servir como seringueiro, afinal foi com a borracha que foi possível ter os equipamentos militares necessários para que o Brasil tivesse alguma participação na guerra. O exército da borracha era tão importante para o país quanto qualquer outro. 

Desenlace 

Ainda assim, quando a Segunda Guerra terminou, os soldados da borracha foram os primeiros a serem abandonados à própria sorte. Isso porque os Estados Unidos voltaram a receber borracha da Malásia, que foi temporariamente dominada pelo Japão durante o conflito, e não precisava mais do produto brasileiro. 

Logo, os seringueiros perderam sua utilidade nacional, e foram abandonados pelo governo. Não houve sequer expedição de retorno para o Nordeste, de forma que só voltou para casa quem conseguiu fazer dinheiro suficiente para pagar a própria passagem, o que não foi à realidade da maioria.


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Qual a importância dos soldados da borracha?

Entre 1943 e 1945 cerca de 60 mil pessoas foram recrutadas para trabalharem nos seringais da região amazônica, onde extrairiam borracha imprescindível para o esforço de guerra empreendido então pelos Estados Unidos e seus aliados, contra o avanço dos regimes fascistas.

Como os soldados da borracha foram tratados no final da Segunda Guerra Mundial?

Só a partir da Constituição de 1988, mais de quarenta anos depois do fim da Guerra Mundial, os soldados da borracha passaram a receber uma pensão como reconhecimento pelo serviço prestado ao país. Uma pensão irrisória, dez vezes menor que a pensão recebida por aqueles que foram lutar na Itália.

Qual foi o papel da Amazônia durante a Segunda Guerra Mundial?

A Segunda Guerra Mundial fez ressurgir no cenário da economia brasileira a produção da borracha, fazendo da Amazônia a maior produtora de “látex” novamente.

Por que a guerra não terminou para os soldados da borracha?

Para os soldados da borracha, a guerra não acabou em 1945, mas perdurou por décadas. A adaptação a esse novo ambiente, para esses soldados da borracha, foi muito difícil. Tiveram de se adaptar para sobreviver, pois inúmeras eram as mudanças, como a geografia e, principalmente, o clima, para a maioria vinda do Nordeste.