Quais foram as experiências vividas por ele no holocausto de Viktor Frankl?

Quando estive pela primeira vez em Paris, em 1993, junto com minha irmã gêmea, resolvemos visitar o cemitério Père-Lachaise. Compramos um mapa e fomos procurando os túmulos assinalados. Estávamos em busca do túmulo de Edith Piaf e acabamos por nos perder e chegar a uma parte do cemitério meio abandonada. Ao invés de sairmos pelo portão principal, pegamos uma saída no fim do cemitério. Nos deparamos, então, com uma escultura que nos impactou muito. A escultura, que aparece na foto, homenageia os mortos dos campos de concentração de Auschwitz-Birkenau. Essa imagem, de corpos esqueléticos carregando outros corpos, nos marcou profundamente. Como não se emocionar com uma lembrança de um crime hediondo cometido por seres humanos contra outros seres humanos? Mas por que, com todas as evidências apresentadas ao longo dos anos, as narrativas sobre o Holocausto ainda hoje são questionadas?

Quais foram as experiências vividas por ele no holocausto de Viktor Frankl?

Em eventos traumáticos, tal como o Holocausto, por exemplo, o desejo de deixar registrados os fato,s tais como eles aconteceram, faz parte do processo de tentar esquecer o que se passou e evitar que se repitam. Nesse sentido, Levi (2004), em sua obra autobiográfica “Os afogados e os sobreviventes”, alerta para o desejo do esquecimento de muitos dos sobreviventes dos campos de concentração nazista, no que ele denomina de “memória da ofensa”. No entanto, ele afirma que essa memória está sempre ancorada no contexto dos fatos e não é cópia fiel dos mesmos, pois ela não é a reprodução exata dos acontecimentos. Um dos riscos, ao analisar as memórias de determinado autor, é esperar que os fatos por ele narrados sejam uma cópia fiel dos acontecimentos. Quando estudamos as lembranças de uma determinada pessoa, seja através de gravações de depoimentos orais, ou mesmo em obras biográficas, não podemos deixar de levar em conta o fato de que a memória não é uma fotografia precisa dos fatos, mas as sensações que restaram dos fatos vividos. Não se trata, portanto, de reproduzir os acontecimentos, tarefa praticamente impossível, mas lembrar do que se passou. E isso é a memória. Ela é seletiva e, portanto, como Levi mesmo afirma, falaz.

Andreas Huyssen (2000) nos alerta para o boom da memória nos dias de hoje, quando vivemos uma avalanche de movimentos nostálgicos: moda retrô e obsessiva musealização. Esse terror ao esquecimento, principalmente nas questões relativas ao Holocausto, acaba produzindo, segundo Huyssen, uma sociedade obcecada pela memória. Ele afirma que este medo acabou produzindo uma enxurrada de filmes, documentários e livros sobre o assunto. No entanto, como afirma Baudrillard (1991, p. 67), ao discorrer sobre o Holocausto em sua obra “Simulacros e simulação”. “o esquecimento da exterminação faz parte da exterminação, pois o é também da memória, da história, do social, etc”.  E, que o Holocausto é um acontecimento televisivo, pois tenta “aquecer” um acontecimento histórico frio. Se, por um lado, existe a preocupação em produzir filmes, documentários e estudos sobre o tema, para que a sociedade não se esqueça do acontecimento e, dessa forma, possa evitar um novo evento dessa natureza, por outro lado, o excesso de informações sobre o assunto pode vir a produzir uma memória excessiva, tal como nos alerta Huyssen (2000).

No entanto, o excesso de informação comunicado pela sociedade pode vir a produzir um efeito contrário e relegar ao esquecimento essa memória dos acontecimentos (HUYSSEN, 2000). Huyssen questiona se esse excesso de memória não acabaria produzindo um “explosivo” esquecimento e que muito do que consumimos hoje, como memórias de massa, não seriam “memórias imaginadas”. Estas seriam mais fáceis de serem esquecidas do que aquelas por nós vividas. Segundo ele, “Quanto mais nos pedem para lembrar, no rastro da explosão da informação e da comercialização da memória, mais nos sentimos no perigo do esquecimento e mais forte é a necessidade de esquecer” (HUYSSEN, 2000, p. 20).

Viktor Frankl (2008) é outro sobrevivente do Holocausto que narra como as atrocidades cometidas pelos nazistas nos campos de concentração e de extermínio produziam, nos prisioneiros, vários tipos de reação: do inconformismo à profunda apatia. Segundo ele, a sobrevivência nos campos dependia muito mais do estado de ânimo dos prisioneiros do que suas próprias condições físicas. Acreditar que haveria futuro após o Holocausto era parte do processo de sobrevivência daqueles que estavam ali à mercê de um tempo e um espaço que não eram seus. Nesse sentido, tanto Levi, quanto Frankl apontam que um dos objetivos dos guardas dos campos era desprovir os prisioneiros de qualquer sentimento de humanidade que, por acaso, ainda restava. Somente a desumanização dos prisioneiros possibilitaria o seu total aniquilamento. Para Frankl, assim como tantos outros que sobreviveram aos campos, a “existência provisória” era a pior parte da experiência. Os prisioneiros não sabiam quanto tempo teriam que ficar naquela situação e isso os angustiavam mais do que as próprias experiências traumáticas. Para Viktor Frankl (2008), aqueles que sobreviveram só o conseguiram, porque buscaram sentido até no sofrimento cotidiano.

Levi (2004), quando narra as suas experiências vividas no campo de concentração de Auschwitz, faz parte daquele grupo de pessoas que resolveu não se calar diante das atrocidades cometidas pelos nazistas. Ele relata a preocupação dos nazistas em destruir as câmaras de gás e os fornos crematórios no outono de 1944 como forma de apagar a memória, destruindo as provas do extermínio. Segundo Levi, essa “guerra contra a memória”, promovida pelo Terceiro Reich, foi perdida não somente pelos vestígios dos campos que restaram, mas também graças aos testemunhos dos sobreviventes. Conforme nos aponta Todorov (2000), essa atitude também está presente na destruição de monumentos astecas que os espanhóis promoveram nas colônias latino-americanas como forma de suprimir a grandeza dos vencidos. A essa atitude, Todorov dá o nome de “supressão da memória”, uma tentativa de suprimir a memória do que aconteceu como forma de apresentar outra realidade. Nesse sentido, a memória é sempre vista como um inimigo nos regimes totalitários, nos quais o total esquecimento é sempre providencial e, tal como aponta Le Goff (2003, p. 422), “Os esquecimentos e os silêncios da história são reveladores destes mecanismos de manipulação da memória coletiva”.

Ao discorrer sobre a permanência dos rastros, Gagnebin (2006) aborda sobre a questão do apagamento dos rastros, sejam eles de um extermínio, tal como aconteceu no Holocausto descrito por Levi em suas obras, ou o desaparecimento dos corpos de mortos pelas ditaduras sul-americanas. Apagar os rastros, afirma Gagnebin (2006), é negar a própria existência do assassínio. Sem rastros, não há assassinato.

Mesmo sendo o Holocausto o crime mais bem documentado da história, ainda hoje há quem duvide de sua existência. Se a memória daqueles que sobreviveram para contar suas histórias não é reverenciada, o passado pode vir a se repetir, não como tragédia, mas como farsa.

 

Referências

BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e simulação. Lisboa: Relógio D´Água, 1991.

FRANKL, Viktor. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes, 2008.

GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Editora 34, 2006.

HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2000.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas: Editora da Unicamp, 2003.

LEVI, Primo. Os afogados e os sobreviventes: os delitos, os castigos, as penas, as impunidades.  2ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004.

Qual foram as experiências vividas por Viktor Frankl no Holocausto?

Resposta verificada por especialistas Ele buscou pensar, por meio da ciência, um sentido para a vida no meio da brutalidade e da violência em que os prisioneiros eram submetidos. Sendo assim foi criado um método próprio. O método psicoterapêutico tinha como objetivo encontra uma razão para viver.

Quais foram as experiências de Viktor Frankl?

Neuropsiquiatra, Frankl descreve suas experiências com o olhar científico desse período no livro que o tornou famoso: Em busca de sentido. Ele tenta usar a ciência para explorar o sentido da vida em meio à crueldade e violência vivida pelos presos. Daí o método foi inventado.

Qual a história de vida de Viktor Frankl resumo?

Viktor Emil Frankl (Viena, 26 de março de 1905 — Viena, 2 de setembro de 1997) foi um neuropsiquiatra austríaco e fundador da terceira escola vienense de psicoterapia, a Logoterapia e Análise Existencial.

Qual foi a conclusão de Viktor Frankl sobre a existência humana depois da experiência nos campos de concentração nazistas?

O autor em foco considera que o ser humano não está no vácuo, mas se encontra sempre em relação a algo que o condiciona. De fato, o homem como ser-no-mundo está enraizado na existência, sempre está em relação a algo ou alguém.