Porque os rios voadores são importantes para a produção de energia?

Climatologistas apontam sinais de agravamento da seca na Bacia do Paraná, que concentra os principais reservatórios de hidrelétricas, desde 2014.

Imagem Ilustrativa

A chuva em Curitiba pode trazer uma esperança de alívio na seca recorde na Bacia do Paraná. Mas não passará disso, esperança que escorrerá com rapidez pelo ralo. A recuperação dos principais reservatórios de hidrelétricas no centro-sul do país — que podem chegar secos em novembro, segundo alerta do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) — não se resolverá em pouco tempo, alertam cientistas.

Tampouco a crise hídrica, resultado do somatório de fenômenos climáticos acumulados nos últimos anos na região e com raízes tão profundas que chegam à Amazônia.

A estiagem que ameaça a geração de energia é a mais recente prova da dependência da economia brasileira do ambiente, destaca o climatologista Carlos Nobre, conhecido mundialmente por seus estudos das mudanças climáticas.


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Energia

Além da segurança energética, dependem da chuva o agronegócio exportador e o abastecimento de água nas cidades.

— O clima é um sistema complexo e conectado. Existem relações diretas e indiretas, e a forma como lidamos com o meio ambiente está ligada a isso. Não existe boa gestão de energia sem boa gestão do clima — salienta Nobre.

O que a Bacia do Paraná sofre agora é o ápice de uma crise agravada pelo fenômeno La Niña, uma das grandes anomalias do clima.

Começou em 2019 e só veio intensificar a redução das precipitações na parte da alta da bacia identificada desde 2014 devido à redução dos chamados rios voadores, os canais da umidade da Amazônia que ajudam a alimentar as chuvas em boa parte do centro-sul do país.

Os rios voadores se formam quando os ventos vindos do Atlântico atravessam a Amazônia e recebem a umidade da floresta. Eles viajam junto aos Andes e descem em direção ao sul do continente, chegando ao sul do Brasil.

Avanço do desmatamento

Em anos de seca na Amazônia, diminui a chuva no sul do Brasil no inverno, quando as hidrelétricas, a agricultura e o abastecimento de água mais precisam dela, porque é a estação naturalmente menos chuvosa.

Um estudo de Nobre com outros pesquisadores, de 2012, revelou fortes sinais de que é a umidade amazônica que permite a existência da Mata Atlântica no Oeste do Paraná, das matas do Parque Nacional do Iguaçu e de toda a água dali.

Estima-se que 18% das chuvas das bacias do Prata e do Paraná venham dos rios voadores. Mas, segundo o climatologista, ainda é desconhecido o impacto que os índices recordes de desmatamento na Amazônia nos últimos anos têm tido nas chuvas do centro-sul.

Fonte: O Globo.

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A manutenção da natureza e consequente provisão dos serviços ecossistêmicos se dá a partir de diversos fenômenos. Tais aspectos estão diretamente relacionados com a estrutura, composição e funcionamento dos ambientes naturais. Os Rios Voadores são um exemplo destes tão importantes fenômenos.

O que são rios voadores?

O fenômeno conhecido como rios voadores são cursos de vapor d’agua em grandes volumes, formados por massas de ar, muitas vezes com nuvens, que são carregadas pelo vento para outros locais.

As massas de ar são oriundas da Bacia Amazônica e precipitam nas Cordilheiras dos Andes e diversos estados brasileiros, localizados na região Centro-Oeste, Sudeste e Sul. A exemplo de estados brasileiros, citam-se o Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo.

Esses rios tem dimensões gigantescas, com cerca de três quilômetros de altura e milhares de quilômetros de extensão. Para efeito de comparação, esses rios são ainda maiores que o Rio Amazonas

Como se formam os rios voadores?

A formação dos rios voadores acontece primeiramente no Oceano Atlântico, que leva grande quantidade de umidade de água para a Floresta Amazônica. A floresta funciona como uma bomba d’agua, puxando do oceano a umidade para dentro do continente. Esse fenômeno decorre na precipitação da chuva na floresta.

Com a elevada umidade, as árvores executam o processo de transpiração e devolve para a atmosfera a chuva em forma de vapor de água. Dessa forma, originam-se os Rios Voadores, que são levados pelos ventos alísios para a Cordilheira dos Andes. A saber, os ventos alísios se caracterizam pelo deslocamento de massas de ar quentes e úmidas para regiões com menor pressão atmosférica nas zonas equatoriais da Terra.

Ao encontrar-se com a barreira natural das Cordilheiras, uma parte das massas de ar úmidas precipita na área leste, formando a cabeceiras dos rios amazônicos. A outra parte das massas de ar, isto é, uma quantidade considerável de vapor d’água é carregada pelos ventos. Assim, com o encontro com os grandes paredões dos Andes, as massas de ar úmidas fazem a curva e migram em direção a determinados estados brasileiros, bem como para regiões nos países da Bolívia e do Paraguai.

Importância dos rios voadores

Os Rios Voadores são de suma importância para o bem-estar da sociedade, além de serem responsáveis pela economia do país. Esse fenômeno é responsável pelo equilíbrio da biodiversidade, assim como, por serviços ecossistêmicos fundamentais para sobrevivência da sociedade.

Os rios são responsáveis pela chuva em áreas de grande impacto na economia brasileira, tornando essas regiões mais verdes e úmidas. Essa realidade contraria a expectativa de serem áreas desérticas, devido a sua localização. As chuvas oriundas dos Rios Voadores nessas regiões alimentam as indústrias hidrelétricas, lavouras, agricultura, dentre outros diversos tipos de indústrias. Ressalta-se que estas atividades em tais áreas são responsáveis por 70% do Produto Interno Bruto (PIB) da América do Sul, comprovando assim a importância do fenômeno.

Além das importâncias supracitadas, a partir das chuvas decorrentes dos Rios Voadores, rios e represas se enchem.

O papel das florestas

As florestas amazônicas funcionam como promotoras do ciclo das chuvas por meio dos Rios Voadores. Estima-se que uma árvore com 20 metros de diâmetro de copa, pode evapotranspirar mais de 1000 litros de água por dia. Esse valor é equivalente a mais que seis vezes que um brasileiro usa diariamente. Na Floresta Amazônica tem cerca de 600 bilhões de árvores, o que pode produzir cerca de 20 bilhões de toneladas por dia de água. Assim, pode-se considerar como um volume impressionante de vapor de água, sendo superior a própria vazão do Rio Amazonas

Tendo em vista a atuação e influência dos ambientes naturais, o papel das florestas vai muito além da sua localidade, elas são responsáveis por serviços ecossistêmicos inegociáveis. Além disso, tais formações florestais estão diretamente associadas aos recursos hídricos que levam água para uma grande parte da população brasileira e irrigam plantações, sustentam indústrias e abastecem a vegetação. Por isso, falar de Rios Voadores é falar em manutenção, conservação e proteção das florestas.

O grave erro do desmatamento na Amazônia

O alarmante desmatamento que vem sendo realizado na Amazônia tem causado danos irreparáveis para toda a sociedade. Grandes extensões de floresta foram substituídas pela agricultura, pecuária e o agronegócio de forma totalmente predatória e inconsequente. Ao ampliar as áreas desmatadas, ao mesmo tempo ocorre a diminuição da quantidade de chuva que poderia ser produzida por essas florestas.

O impacto das atividades antrópicas na sociedade é evidente, uma vez que já vem ocorrendo a diminuição das chuvas em áreas importantes para economia do Brasil, alterando também o clima mundial. Existem extensas áreas de florestas que se transforaram em áreas campestres, com uma menor umidade relativa do ar. Por isso, manter as florestas é fundamental não só para o Brasil, mas também para a atenuação do clima global.

Conhecer e compreender os fenômenos naturais é de suma importância, uma vez que estes regem os ecossistemas naturais. A interação dos eventos naturais pode ter influência direta, por exemplo, na regulação climática, como é o caso dos Rios Voadores. Além disso, entender o funcionamento destes fenômenos é tomar ciência dos aspectos que movem os pilares sociais, ambientais e econômicos.

Porque os rios voadores são importantes para a produção de energia?

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Qual é a importância dos rios voadores?

Os Rios Voadores são de suma importância para o bem-estar da sociedade, além de serem responsáveis pela economia do país. Esse fenômeno é responsável pelo equilíbrio da biodiversidade, assim como, por serviços ecossistêmicos fundamentais para sobrevivência da sociedade.

O que são rios voadores e qual a importância desses rios?

Rios voadores são imensos volumes de vapor de água que vêm do oceano Atlântico, precipita sob a forma de chuva na Amazônia – onde ganham corpo – e seguem até os Andes, encontrando a muralha rochosa presente nessa região, que os faz desviar e flutuar sobre a Bolívia, o Paraguai e os estados brasileiros de Mato Grosso, ...

Qual a relação dos rios voadores com a produção de energia no Brasil?

Como dito acima, mais da metade da chuva na região centro-sul do Brasil é causada pelos rios voadores que se originam na floresta amazônica. São fundamentais, por exemplo, para abastecer as represas que geram energia hidrelétrica e os rios terrestres. E, é claro, irrigar as lavouras dos produtores agrícolas.

Qual a importância dos rios voadores para o ciclo da água?

Como já dissemos, os rios voadores interferem no clima da maior parte do território brasileiro. Isso porque a umidade do ar que é barrada pela Cordilheira dos Andes e que não se precipita é “rebatida” de volta para o continente, fornecendo umidade para as demais regiões do país.