O que levar em consideração na escolha de um método de análise?

A pesquisa envolve uma série de procedimentos para se estudar determinado assunto, incluindo a definição de métodos para coleta de dados, seja uma pesquisa quantitativa ou qualitativa. Os métodos são diversos e o desafio é encontrar um ou mais métodos que vão de encontro com o seu objetivo na pesquisa. 

Neste ensaio em específico, o objetivo é apresentar dois métodos de pesquisa qualitativa e sua aplicabilidade em pesquisas da área de ciências sociais e, mais precisamente, em um estudo sobre as produções cinematográficas e integração regional. Portanto, para coletar dados qualitativos nessa área, dois métodos podem ser utilizados: estudo de caso e análise de conteúdo.

Estudo de caso

O Estudo de Caso é um método qualitativo que tem por objetivo, de maneira geral, analisar um caso em específico e a partir deste estabelecer similaridades e, consequentemente, uma generalização de determinado fenômeno/acontecimento. Segundo Cesar (2005), o método do Estudo de Caso possui três aspectos importantes a serem observados: “a natureza da experiência, enquanto fenômeno a ser investigado, o conhecimento que se pretende alcançar e a possibilidade de generalização de estudos a partir do método” (CESAR, 2005, p.3)

O primeiro aspecto refere-se à forma com que a realidade está ligada ao estudo, ou seja, a experiência vivida naquele caso está diretamente ligada à compreensão dessa experiência na pesquisa. Essa compreensão tem relação com o segundo aspecto que diz respeito ao conhecimento que se pretende alcançar que, segundo Cesar (2005), a pesquisa que utiliza o método de Estudo de Caso busca compreender tal aspecto estudado e não somente apresentar informações.

Por fim, quanto à generalização de estudos é preciso atentar-se ao caso, observando se este pode ser utilizado como um exemplo para generalizar determinada situação. Portanto, o caso precisa ser específico e precisa estar inserido em um determinado contexto, que pode ser delimitado em um período de tempo ou espaço. Além disso, a pesquisa pode utilizar-se de mais de um caso, o que auxilia no momento de estabelecer essa generalização ao chegar às conclusões da pesquisa. (CESAR, 2005)

Assim, a escolha do caso ou múltiplos casos, se tornam de extrema importância para evitar uma generalização equivocada e resultados pouco condizentes com a realidade do todo. Então, no momento de escolher o caso, é importante levar em consideração se este tem relevância com a pesquisa (se está inserido no mesmo contexto, contém o fenômeno que se procura analisar, auxilia nas respostas à pesquisa…); se os casos – quando escolhido mais de um – possuem algum relação de similaridade ou podem ser comparados; se possuem relação com a realidade; se é possível observá-los e estudá-los; e, se estes se encontram dentro dos princípios éticos. (CESAR, 2005). Visto isso, o estudo de caso pode ser definido como:

descrições complexas e holísticas de uma realidade, que envolvem um grande conjunto de dados; os dados são obtidos basicamente por observação pessoal; o estilo de relato é informal, narrativo, e traz ilustrações, alusões e metáforas; as comparações feitas são mais implícitas do que explicitas; os temas e hipóteses são importantes, mas são subordinados à compreensão do caso (CESAR, 2005, p.6)

Tendo como base esta definição, a aplicabilidade do método está diretamente relacionada com os objetivos da pesquisa. De fato, o Estudo de Caso é utilizado muitas vezes em pesquisas na área das Ciências Sociais, especialmente, pelas respostas e pela aplicabilidade do método. Assim, pesquisas que estão inseridas em contextos sociais e, portanto, o pesquisador não possui total controle sobre os objetos de pesquisa, tendem a ter o Estudo de Caso como um bom método para coleta de dados. (CESAR, 2005; YIN, 2015)

Yin (2015) destaca três aspectos importantes para optar ou não pelo método de Estudo de Caso. O primeiro aspecto refere-se a forma de questão de pesquisa, onde as pesquisas que adotam o método de Estudo de Caso tendem a buscar as respostas para as perguntas “como, por quê?”. 

Os outros aspectos auxiliam o pesquisador a se decidir pelo Estudo de Caso ou por outros métodos que também tem como objetivo responder as perguntas “como, por quê?”, sendo eles: o controle dos eventos comportamentais e o enfoque em eventos contemporâneos. Pesquisas que utilizam o método de Estudo de Caso, em sua maioria, não possuem controle dos eventos comportamentais e analisam eventos mais contemporâneos. (YIN,2015)

Além disso, o Estudo de Caso pode ser utilizado também como uma espécie de complemento da pesquisa, através do uso em uma pesquisa em que já se tem uma teoria ou hipótese formulada a partir de um outro método e o Estudo de Caso é utilizado como uma forma para comprovar isto diante da realidade. (CESAR, 2005)

Porém, cabe ressaltar que isso adentra em um ponto de debate entre diferentes autores, alguns acreditam que o Estudo de Caso é um método limitado, portanto o seu uso somente como complemento seria o mais adequado, já que seria um método que tem uma maior possibilidade de distorcer alguns dados para se chegar à determinada conclusão e por ser pouco objetivo. (CESAR, 2005)

Já outros autores, defendem o uso do Estudo de Caso em outras fases da pesquisa, e não somente na fase exploratória. Sendo um ótimo método para aprofundar questões subjetivas e compreender determinado fenômeno do que somente trazer respostas objetivas a determinadas situações. Já em relação a distorção de dados, muitos acreditam que essa situação se encontra mais no pesquisador que guia a pesquisa, do que no método em si. (CESAR, 2005)

Em relação a esse debate, Yin (2015) destaca que o uso dos métodos de pesquisa de forma hierárquica, pode ser questionado, visto que o método de Estudo de Caso pode ser utilizado em outras fases. Além disso, o autor ainda define os três tipos de Estudo de Caso, sendo eles: estudos de caso explicativos ou causais;  estudos de caso descritivos; e, estudos de caso exploratórios. (YIN,2015)

Então, o Estudo de Caso é utilizado para coletar dados através da observação, de documentos, de relatos e outros elementos que estejam envolvidos na determinada situação e, como destaca Cesar (2005), pode-se extrair do Estudo de Caso inclusive dados quantitativos, sendo esta uma vantagem se comparado a outros métodos qualitativos. (CESAR, 2005)

Entretanto, em relação às suas limitações, pelo Estudo de Caso ser conduzido pelo próprio pesquisador é necessário que se tenha o cuidado de seguir procedimentos rígidos e confiáveis durante a análise do caso, demonstrando durante a pesquisa a confiabilidade e a veracidade da análise. Caso esse estudo seja feito de forma a não seguir o rigor recomendado, abre espaço para críticas em relação ao método e uma generalização não tão assertiva. (LAZZARINI, 1997).

A Análise de Conteúdo é um método que pode ser utilizado tanto em pesquisas quantitativas como em pesquisas qualitativas, mas com aplicações diferentes. Na pesquisa quantitativa, os dados extraídos são em relação a repetição de determinada característica no conteúdo estudado. Já para pesquisas qualitativas, o objetivo do uso da Análise de Conteúdo é mais subjetivo, analisando características que estão ou não em um conteúdo específico. (SILVA; GOBBI; SIMÃO, 2005) Assim, pode-se definir Análise de conteúdo 

como um conjunto de técnicas de análise de comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens (SILVA; GOBBI; SIMÃO, 2005, p.73)

Para a aplicação do método, Bardin (2016) aponta três fases fundamentais, sendo elas: pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação. A primeira fase diz respeito à organização inicial da pesquisa, tendo por objetivo “a escolha dos documentos a serem submetidos à análise, a formulação das hipóteses e dos objetivos e a elaboração dos indicadores que fundamentam a interpretação final” (BARDIN, 2016, p.125) Além disso, Silva, Gobbi, Simão (2005) destaca também que durante essa fase é definido o corpus, ou seja, o campo principal da análise que o pesquisador precisa ter mais atenção. 

A segunda fase consiste em aprofundar o que foi definido na fase de pré-análise. A partir disso, o pesquisador conseguirá estabelecer quadros de referências e coincidências e divergências de ideias. (SILVA; GOBBI; SIMÃO, 2005) “consiste essencialmente em operações de codificação, decomposição ou enumeração, em função de regras previamente formuladas” (BARDIN, 2016, p.131)

Por último, a terceira fase é a análise em si, ela tem como base todo o conhecimento teórico, juntamente com a realidade a qual está inserida e com a reflexão e intuição do pesquisador que irá aprofundar essa análise. Segundo Silva, Gobbi, Simão (2005) esse ato de aprofundar é importante para se extrair informações além do que está mais superficial no conteúdo analisado, é entender a partir de toda essa base o que está subentendido no conteúdo.

 Apesar de apresentar essa estrutura básica para se realizar uma Análise de Conteúdo, Silva, Gobbi, Simão (2005) destaca que esse método não segue estruturas rígidas se pautando mais na percepção do pesquisador para determinada característica do conteúdo que vai investigando e aprofundando a sua análise a fim de compreender o significado dessas características.

Por esse motivo, muitos outros autores também estruturaram algumas etapas para a Análise de Conteúdo. Todas essas estruturas possuem, no geral, uma busca por trazer recortes ao conteúdo a fim de aprofundá-lo e fazer a reconstrução das ideias; e, destacar a importância do pesquisador para a condução da análise, sendo esperado dele um bom conhecimento acerca do assunto que aquele conteúdo está inserido e boas percepções para entender características que serão relevantes ou não para a pesquisa. (SILVA; GOBBI; SIMÃO, 2005)

Entretanto, justamente por esse método precisar do envolvimento do pesquisador e ser muito subjetivo, Cavalcante, Calixto, Pinheiro (2014) alerta do risco dos pré conceitos do pesquisador, assim como a sua aproximação com o objeto de estudo, podem se sobressair no momento da análise dificultando a encontrar as respostas pertinentes. Por esse motivo, o pesquisador precisa ter essa habilidade mais investigativa, o que também pode ser uma limitação ao método.

Por fim, outro contratempo que poderá aparecer durante a aplicação do método de Análise de Conteúdo, é a dificuldade em se encontrar comunicações que sejam realmente relevantes para a pesquisa, visto que, alguns discursos, por exemplo, que teria mais informações subentendidas e que tragam respostas efetivas na pesquisa não são de fácil acesso. (CAVALCANTE; CALIXTO; PINHEIRO, 2014)

Aplicação dos métodos em pesquisas que envolvem o audiovisual

Visto a definição dos dois métodos, sua aplicabilidade, bem como suas limitações, cabe analisar como ambos podem auxiliar em uma pesquisa sobre Integração Regional, em especial, que se utiliza de produções cinematográficas como principal objeto da pesquisa. De fato, a análise de como essas produções podem impactar nas relações entre países e em uma maior aproximação deles é algo que vai além da produção audiovisual em si. Portanto, o uso de diferentes métodos nas diferentes fases da pesquisa pode ser mais benéfico para a coleta de dados relevantes e que auxiliem a compreender este fenômeno.

O uso do Estudo de Caso é essencial para entender os pontos em comum das produções audiovisuais através de uma destas produções que tenha características em comum e dê a possibilidade da generalização para os demais casos. Em especial, pode-se citar como exemplo uma fase do cinema latino-americano, delimitado por um período de tempo específico em que os filmes produzidos retratavam, em sua maioria, características nacionais em uma busca pela identidade do cinema nacional e para valorizar a cultural local. Portanto, um Estudo de Caso de um filme produzido durante esse período ou até mesmo de um conjunto de filmes de diferentes países, poderá mostrar pontos em comum com outros filmes e entender como essa narrativa impactou no cinema latino-americano e na aproximação desses países.

Porém, a análise deste fenômeno vai além do retratado durante as produções em si, envolvendo também os encontros entre países latino-americanos, os discursos de líderes e das secretarias de cultura, os esforços para uma integração cultural, entre outros mecanismos que poderão ser analisados através da Análise de Conteúdo, que promoverá esse aprofundamento e a compreensão de como isso está afetando o social.

Considerações Finais

Assim, entender as limitações e as aplicações de cada método, auxilia para obtenção de dados mais qualificados para a pesquisa, assim como ajuda a entender em como o método pode contribuir de maneira efetiva para a pesquisa, combinando estes métodos de forma que eles não contrastem entre si e promovam uma clareza e confiabilidade ao leitor da análise final obtida através destes dados.

Além disso, deixa claro o desafio do pesquisador em aplicar os métodos em sua pesquisa de forma a trazer o aprofundamento que os métodos subjetivos podem trazer a pesquisa qualitativa, assim como, aprender a contornar os desafios que essa subjetividade provoca.

Por fim, cabe destacar que ambos os métodos apresentados durante esse ensaio possuem sua importância dentro da pesquisa qualitativa, mas que o pesquisador pode optar pela escolha de outros métodos pensando sempre na melhor forma de contemplar a pesquisa com dados qualificados e que tragam as respostas e compreensão que estão sendo buscadas.

Referências

BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. [tradução: Luís Antero Reto, Augusto Pinheiro. São Paulo: Edições 70, 2016.

CAVALCANTE, Ricardo Bezerra; CALIXTO, Pedro; PINHEIRO, Marta Macedo Kerr. Análise de conteúdo: considerações gerais, relações com a pergunta de pesquisa, possibilidades e limitações do método. Informação & Sociedade: Estudos, v. 24, n. 1, p. 13-18, 2014.

CESAR, AMRVC. Método do Estudo de Caso (Case studies) ou Método do Caso (Teaching Cases)? Uma análise dos dois métodos no Ensino e Pesquisa em Administração. REMAC Revista Eletrônica Mackenzie de Casos, São Paulo-Brasil, v. 1, n. 1, p. 1, 2005.

LAZZARINI, Sergio Giovanetti. Estudos de caso para fins de pesquisa: aplicabilidade e limitações do método. Estudos de Caso em Agrobusiness. São Paulo: Pioneira/PENSA, v. 997, p. 9-23, 1997.

SILVA, Cristiane Rocha; GOBBI, Beatriz Christo; SIMÃO, Ana Adalgisa. O uso da análise de conteúdo como uma ferramenta para a pesquisa qualitativa: descrição e aplicação do método. Organizações rurais & agroindustriais, v. 7, n. 1, p. 70-81, 2005.

YIN, Robert K. Estudo de caso : planejamento e métodos. [tradução: Cristhian Matheus Herrera]. – 5.ed – Porto Alegre : Bookman, 2015

Que considerações devem ser feitas para escolher um método de análise?

A escolha do método vai depender da composição química dos analitos, isto é dos possíveis interferentes em potencial. Em análise de materiais de composição extremamente complexa, o processo analítico se complica com a necessidade de efetuar a separação dos interferentes antes da medida final.

Quais os parâmetros devem ser considerados na escolha do método analítico nos laboratórios?

Os parâmetros de validação de métodos analíticos envolvem Especificidade/Seletividade, Função da Resposta (gráfico analítico), Intervalo de Trabalho, Linearidade, Sensibilidade, Exatidão, Precisão (repetitividade, precisão intermediária e reprodutividade), Limite de Detecção (LD), Limite de Quantificação (LQ) e ...

Quais qualidades um método analítico deve ter?

“A metodologia analítica deve ser exata, precisa, estável, reprodutível e flexível. Com isso, as análises devem reproduzir valores consistentes.” A validação de métodos se trata de um processo contínuo que define que o método de análise sob estudo apresenta desempenho consistente em aplicação.

Como são classificados os métodos de análise?

Os métodos analíticos são classificados em clássicos ou instrumentais. Esta classificação é histórica, com os métodos clássicos precedendo os instrumentais por um século ou mais. Os métodos clássicos são subclassificados em métodos gravimétricos e volumétricos.