Análise das demonstrações financeiras para tomada de decisão

1 Instituto Politécnico de Setúbal Escola Superior de Ciências Empresariais ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS COMO FATOR DETERMINANTE NA TOMADA DE DECISÃO: Estudo de caso de entidades angolanas Jackson Sebastião Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de MESTRE EM CONTABILIDADE E FINANÇAS Orientador(a): Professora Doutora Maria Teresa Alves Setúbal, 2014

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3 Dedicatória Aos meus pais (Guimarães & Lando); Aos irmãos. i

4 Agradecimentos A Deus, o Omnipotente, pelo dom da vida e pela oportunidade que me tem dado de desfrutar todos momentos; Aos meus país e aos meus irmãos pelo apoio e dedicação constante; À minha orientadora e à instituição pelos conhecimentos e dedicação na arte do ensinar; Agradeço, ainda, ao grupo teatral Henda Yame, ao grupo de acólitos de Fátima, ao grupo caridade e amizade e aos ministros e deputadas. Agradeço, também, aos meus amigos e colegas. N tondele! A todos o meu muito obrigado! ii

5 ÍNDICE GERAL ÍNDICE DE TABELAS... iv ÍNDICE DE QUADROS... v INDICE DE SIGLAS E ABREVIATURAS... vi RESUMO... vii ABSTRACT... viii I. INTRODUÇÃO REVISÃO DA LITERATURA As demonstrações financeiras Objetivos e importância das demonstrações financeiras Conjunto completo de demonstrações financeiras Análise das demonstrações financeiras A tomada de decisão Estudos anteriores Método de Investigação Caracterização da amostra Recolha e tratamento dos dados ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS OBTIDOS Indicadores calculados Resultados das entrevistas CONCLUSÃO, LIMITAÇÕES E LINHAS DE INVESTIGAÇÃO FUTURAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Fonte: Dados da pesquisa Fonte: Dados da pesquisa Fonte: Dados da pesquisa ANEXOS iii

6 ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1: Características das empresas Tabela A1: Indicadores das empresa Tabela A2: Medidas estatísticas (máximos, mínimos, médias e desvios padrão) destes indicadores por setor Tabela A3: Medidas de tendência central de modo geral iv

7 ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1: Demonstrações financeiras utilizadas Quadro 2: Respostas das demonstrações financeiras às necessidades de informação Quadro 3: Periodicidade das análises Quadro 4: Técnicas utilizadas na análise Quadro 5: Metodologia de tomada de decisão Quadro 6: Indicadores para a tomada de decisão Quadro 7: Nível de comparação dos resultados das entidades com os do setor v

8 INDICE DE SIGLAS E ABREVIATURAS AC Ativo Corrente AF Autonomia financeira AT Ativo Total BADF Base de Apresentação das Demonstração Financeiras CP Capital Próprio D Disponibilidades DACP Demonstração das Alterações no Capital Próprio DR Demonstração dos Resultados DFC Demonstração dos Fluxos de Caixa E Endividamento EC Estrutura Conceptual GAF Grau da Alavanca Financeira GAO Grau da Alavanca Operacional GCA Grau Combinado da Alavanca I Inventário LC Liquidez Corrente LI Liquidez Imediata LR Liquidez Reduzida NCRF Norma Contabilística e de Relato Financeiro PC Passivo Corrente PT Passivo Total RCP Rendibilidade dos Capitais Próprios RL Resultado Líquido RLV Rendibilidade Líquida das Vendas RO Resultado Operacional ROV Rendibilidade Operacional das Vendas RV Rendibilidade das Vendas SNC Sistema de Normalização Contabilística VN Volume de Negócios vi

9 RESUMO A análise das demonstrações financeiras permite extrair informações que podem auxiliar na tomada de decisão. O objetivo principal do presente estudo consiste em compreender como as empresas angolanas utilizam a análise das demonstrações financeiras no processo de tomada de decisão, uma perceção de empresas financeiras e não financeiras. Como delineamento do estudo utilizouse a pesquisa descritiva, com abordagem qualitativa. A amostra constituída por 14 entidades, 50 do setor financeiro e 50 do setor não financeiro, foi obtida com a utilização da técnica de amostragem intencional. A entrevista semiestruturada, efetuada aos contabilistas das entidades, foi a técnica de recolha de dados usada. As entrevistas foram efetuadas por Skype, Viber e telefone no período de março a maio do corrente ano. Os resultados da pesquisa revelam que todas as demonstrações financeiras eram utilizadas como instrumento de controlo de gestão mas nem todas eram usadas por todas entidades e, que as entidades estudadas utilizavam a análise das demonstrações financeiras e faziamno maioritariamente em períodos trimestrais. Verificase, ainda, que os gestores recorriam às demonstrações financeiras para tomar decisões, embora, os gestores das entidades financeiras o fizessem com maior frequência. No entanto, o nível de perceção pelas entidades financeiras quanto à utilização da análise das demonstrações financeiras no processo de tomada de decisão, parece ser mais elevado, sendo que estas entidades observavam o maior nível de utilização das informações fornecidas pelas demonstrações financeiras e ao mesmo tempo obtiveram maiores rendibilidades durante os anos 2011 e 2012, em análise. Palavraschave: Análise das demonstrações financeiras. Processo de tomada de decisão. Entidades financeiras e não financeiras. vii

10 ABSTRACT The main objective of this study is to understand how the Angolan companies use financial statement analysis in the decision making process, a perception of financial and nonfinancial companies. We used the descriptive research method with a qualitative approach as study design. The sample consists of 14 entities, 50 are included in the financial sector and 50 are included in the nonfinancial sector. It was obtained using the purposeful sampling technique. A semistructured interview technique was used for data collection. The interviews were conducted via Skype, Viber and telephone in the period from March to May of the current year. Respondents are accountants working for the entities under study. The survey results reveal that all financial statements were used as instruments of management control but not all were used by all entities and that the entities studied used the financial statements analysis and they did it mostly in quarterly periods. It also appears that managers recurred to the financial statements to make decisions, although managers of financial institutions do it more often. However, the level of perception by financial institutions regarding the use of financial statement analysis in the decisionmaking process appears to be higher, and these entities observed the highest level of use of information provided by financial statements and at the same time obtained higher returns for the years 2011 and 2012 under review. Keywords: Analysis of financial statements. Decisionmaking process. Financial and nonfinancial entities. viii

11 I. INTRODUÇÃO Entre várias alternativas, escolher aquelas que melhor se adequam ou favorecem a entidade é um processo pelo qual o gestor passa todos os dias. No entanto, decidir é escolher entre sim ou não, entre fazer ou não fazer, entre ir ou não ir, e no campo financeiro é escolher entre investir ou desinvestir, entre vender ou comprar, mas para que estas escolhas possam ser as mais acertadas possíveis há que ter suporte e base de informações que sejam consideradas credíveis, fiáveis, relevantes e compreensíveis (Baron, 2000; Albaneses, 1981, citados por Braga, 2010). A tomada de decisões é um dos processos mais complexos, pois são inúmeros os elementos que intervêm na decisão e existem diferentes fontes de informação. Para que se tome uma decisão de forma coerente é necessário que se siga algumas etapas. De acordo Carvalho (2011, p. 189) essas etapas são: definir o problema em função da inadequação da situação presente ou expectante; identificar a causa do problema; avaliar as medidas alternativas de decisão e suas consequências. Enquanto Nogueira (2004) refere as seguintes: o envolvimento ou perceção que o decisor detém sobre o problema em causa; o planeamento ou formulação da decisão; a execução ou implementação das mesmas; a avaliação dos resultados. Num mundo empresarial ou de negócios altamente competitivo a informação é um diferencial que determina um passo à frente dos restantes concorrentes, mas esta informação sobre o estado da entidade só pode ser possível com o uso e análise das demonstrações financeiras (Dantas, 2005). Para Salas (2005) esta análise, numa perspetiva interna, permite à direção da empresa a tomada de decisões e medidas que corrijam os pontos fracos e que amenizem o seu futuro ao mesmo tempo que tira proveito dos pontos fortes; enquanto numa perspetiva externa tem, também, grande utilidade para os agentes interessados de alguma forma na empresa. A decisão é o ponto mais alto de um gestor pois determina o rumo que a empresa seguirá a partir desse momento. As demonstrações financeiras são importantes e uteis no sentido em que auxiliam os stakeholders na obtenção de informações financeiras. Por isso, deverão estar disponíveis de forma a contribuírem para a resposta às necessidades informativas dos gestores e outros agentes tomadores de decisão. No entanto, é imprescindível que a informação contemple um conjunto de características qualitativas, em especial a compreensibilidade, a tempestividade, a relevância, a fiabilidade e a comparabilidade, de forma a não comprometer a sua utilidade. 1

12 Assegurando o grande contributo das demonstrações financeiras no fornecimento de informações financeiras no que tange ao processo de tomada de decisão por parte dos gestores das entidades, segmentouse o presente estudo em entidades (financeiras e não financeiras) que operam e movimentam a economia angolana. De acordo com o Decretolei n.º 298/92 de 31 de Dezembro (regime geral das instituições de crédito e sociedades financeiras), em vigor no estado português, as instituições financeiras constituem um intermediário de suma importância na transferência de fundos das entidades que possuem poupanças para aquelas que delas necessitam para financiar os seus investimentos ou seus gastos correntes. Embora o setor financeiro seja aquele que mais cresce na economia angolana, o setor não financeiro é o que tem maior abrangência e maior número de empresas e, também, o que mais contribui para os cofres do Estado quer com impostos quer com elevado número de empregos (KPMG, 2011). Neste estudo, tal como Lungo e Alves (2013), pretendese dar resposta à seguinte questão: qual é a perceção que os contabilistas das empresas, financeiras e não financeiras, localizadas em Angola têm sobre a utilização da análise das demonstrações financeiras no processo de tomada de decisão? Para a execução do objetivo principal detalhase os seguintes objetivos específicos: Descrever o papel das demonstrações financeiras; Perceber os métodos a ter em conta no processo decisório e os fatores que afetam a decisão; Compreender a análise das demonstrações financeiras. Para dar enfâse ao trabalho adotase uma abordagem essencialmente qualitativa com aplicação de um estudo de caso descritivo. Para efeito da recolha dos dados, recorrese à entrevista sendo a mesma efetuada a contabilistas de 14 entidades que atuam no mercado angolano e posteriormente efetuase a análise de conteúdo da informação obtida. Esperase que os inquiridos das entidades estudadas sejam jovens com habilitações literárias ao nível da licenciatura. Esperase, ainda, que as entidades do setor financeiro sejam de maior dimensão em relação as entidades do setor não financeiro. No decorrer do estudo esperase, tal como Lungo e Alves (2013), que os inquiridos reconheçam a importância da análise das demonstrações financeira na tomada de decisões no mundo empresarial, sendo que nas financeiras, o nível de perceção poderá ser mais elevado. Assim, também, como Stroeher e Freitas (2008), esperase que as opiniões dos inquiridos das entidades financeiras e não financeiras apresentem divergências nas visões 2

13 sobre as informações que são utilizadas no processo de tomada de decisão. Esperase, tal como Albuquerque et al (2013) que os resultados evidenciem que as demonstrações financeiras não são plenamente utilizadas pelas entidades objeto do estudo. Esperase, ainda, tal como Tartari (2005), que todas as entidades pesquisadas utilizem a análise das demonstrações financeiras no apoio à tomada de decisão e que a maioria utilize as análises em períodos mensais. Este trabalho contribui para a linha de pesquisa em Contabilidade Financeira do Mestrado em Contabilidade e Finanças da Escola Superior de Ciências Empresariais do Instituto Politécnico de Setúbal somandose, assim, aos trabalhos já existentes e agregando novos conhecimentos adquiridos na realização da pesquisa exploratória. O resultado da presente pesquisa pode ser útil a gestores, acionistas, professores, estudantes em contabilidade e finanças e com foco no processo de tomadas de decisão. Pode, ainda, ser útil a profissionais que objetivem compreender como as demonstrações financeiras podem tornar eficaz e eficiente o funcionamento organizacional. A presente dissertação de mestrado foi estruturada em cinco capítulos: O primeiro capítulo referese à introdução onde são apresentados os objetivos gerais e específicos, metodologia, a importância do tema e a organização do trabalho. O segundo capítulo contempla a revisão de literatura e foi dividido em três subcapítulos. Abordase os conceitos inerentes ao tema, objetivos e importância; outros aspetos inerentes às demonstrações financeiras: a análise das demonstrações financeiras, a análise financeira e a extração de indicadores de rendibilidade, de liquidez, de endividamento e indicadores de alavancagem; e o processo de tomada de decisão. No terceiro capítulo consta a metodologia utilizada para a realização da pesquisa. Inclui o método de investigação, a identificação e caracterização da amostra, as técnicas de recolha e análise dos dados. No quarto capítulo, são apresentados os resultados obtidos referentes aos indicadores calculados a partir das demonstrações financeiras das entidades estudadas e através das entrevistas aplicadas aos contabilistas das entidades angolanas e a análise comparativa. No quinto capítulo, apresentamse as conclusões da pesquisa realizada, as limitações e linhas de investigação futura possíveis. 3

14 2. REVISÃO DA LITERATURA O principal objetivo deste capítulo é reunir os conceitos mais relevantes e que melhor se adequam ao estudo a realizar com base em literatura específica de autores que trataram questões relacionados com o tema em causa, ou seja, verificar o estado da arte. Na primeira parte são apresentados os conceitos fundamentais que afetam as demonstrações financeiras, a seguir discorrese sobre a tomada de decisão e as respetivas técnicas de análise e, por último, são apresentados estudos relevantes efetuados por vários autores As demonstrações financeiras As demonstrações financeiras constituem um importante instrumento de apoio à tomada de decisão nas organizações, permitindo o conhecimento da situação financeira e económica. Talvez por essa razão, as demonstrações financeiras divulgadas pelas entidades têm sido objeto de diversos estudos. Silva e Souza (2011, p. 69) afirmam que: as demonstrações financeiras também são chamadas de relatórios contabilísticos e são a fonte de informações para análise, servindo de base, inclusive para avaliar possíveis investimentos. Para Ribeiro (2003) as demonstrações financeiras são relatórios ou quadros técnicos que contêm dados extraídos dos livros, registos e documentos que compõem o sistema contabilístico de uma entidade. O Sistema de Normalização Contabilística (SNC), na Base de Apresentação das Demonstração Financeiras (BADF), define as demonstrações financeiras como uma representação estruturada da posição financeira e do desempenho financeiro de uma entidade ; e no parágrafo 47 da Estrutura Conceptual (EC) (Aviso 15652/2009) do mesmo normativo afirma que: as demonstrações financeiras retratam os efeitos financeiros das transações e de outros acontecimentos ao agrupálos em grandes classes de acordo com as suas características económicas. Considerando estas definições, verificase que a primeira (Ribeiro, 2003) caracteriza as demonstrações financeiras como um quadro técnico de apoio ao sistema de informação de uma entidade, enquanto as extraídas da BADF e da EC (SNC) enquadraas numa vertente essencialmente financeira. Os documentos são percecionados como sendo uma representação estruturada da posição e do desempenho financeiro organizacional. Nesta dissertação utilizase tanto uma como outra definição. 5

15 A Norma Contabilística e de Relato Financeiro 1 (NCRF 1) contêm a estrutura e o conteúdo das demonstrações financeiras. Esta norma, nos parágrafos 6 a 8, relata a forma como as demonstrações financeiras devem ser identificadas no momento da sua elaboração: as demonstrações financeiras devem ser identificadas claramente e distinguidas de outra informação no mesmo documento publicada ( 6). É importante que os utilizadores consigam distinguir informação que seja preparada a partir das NCRF de outra informação que possa ser útil aos utentes mas não seja objeto desses requisitos ( 7). De acordo com a NCRF 1 ( 8), os elementos que se seguem, devem ser sempre referenciados de forma relevante e repetida, para facilitar a compreensão da informação apresentada: a) O nome da entidade que relata ou outros meios de identificação, e qualquer alteração nessa informação desde a data do balanço anterior; b) Se as demonstrações financeiras abrangem a entidade individual ou um grupo de entidades; c) A data do balanço ou o período abrangido pelas demonstrações financeiras, conforme o que for apropriado para esse componente das demonstrações financeiras; d) A moeda de apresentação, por regra o Euro; e e) O nível de arredondamento, que não pode exceder o milhar de unidades da moeda referida em d) usado na apresentação de quantias nas demonstrações financeiras. O mesmo documento (NCRF1) no seu parágrafo 9 alíneas a) e b), vem estabelecer o período em que as demonstrações financeiras devem ser apresentadas, ou seja, o período de relato: as demonstrações financeiras devem ser apresentadas pelo menos anualmente. Quando se altera a data do balanço de uma entidade e as demonstrações financeiras anuais sejam apresentadas para um período mais longo ou mais curto do que um ano, a entidade deve divulgar, além do período abrangido pelas demonstrações financeiras: a) Razão para usar um período mais longo ou mais curto; e b) O facto de que não são inteiramente comparáveis quantias comparativas da demonstração dos resultados, da demonstração das alterações no capital próprio, da demonstração de fluxos de caixa e das notas do anexo relacionadas. De acordo com EC existem dois pressupostos subjacentes à elaboração das demonstrações financeiras, que são: Regime do acréscimo (periodização económica): os efeitos das transações e de outros acontecimentos são reconhecidos quando eles ocorram e não quando caixa ou equivalentes de caixa sejam recebidos ou pagos, isto é, os registos são efetuados 6

16 não com base no caixa mas sim com base na ocorrência das transações. Sendo assim, informase aos utentes não apenas as transações passadas envolvendo o pagamento e o recebimento de caixa mas também das obrigações de pagamento no futuro e de recursos que representem caixa a ser recebida no futuro que seja mais útil aos utilizadores na tomada de decisões económicas (EC 22). Continuidade: as demonstrações financeiras são normalmente preparadas no pressuposto de que uma entidade é uma entidade em continuidade e de que continuará a operar no futuro previsível. Daqui que seja assumido que a entidade não tem nem a intenção nem a necessidade de liquidar ou de reduzir drasticamente o nível das suas operações (EC 23) Objetivos e importância das demonstrações financeiras De acordo com Silva e Souza (2011, p. 68) as demonstrações financeiras são utilizadas pela gestão da entidade para prestar contas e levar informações sobre o aspeto económicofinanceiro aos acionistas, credores, governo e outros interessados e apresentam informações úteis que revelam suas operações durante um determinado período de tempo, e quando analisadas facilitam a detenção dos pontos fortes e fracos encontrados na realização da sua atividade quer operacional ou não operacional. Os autores (Silva e Souza, 2011, p. 69) afirmam, ainda, que as demonstrações financeiras são os instrumentos utilizados pela contabilidade para expor a situação económicofinanceira da empresa e prover aos diversos utentes internos e/ou externos as informações que servem de base para a tomada de decisões. No mesmo sentido, segundo Martins (2011 p. 17), as demonstrações financeiras têm como finalidade: Proporcionar informação útil aos utilizadores; Avaliar a capacidade da entidade gerar dinheiro e equivalentes de dinheiro e da tempestividade e certeza da sua geração; Informar sobre os recursos económicos controlados pela entidade, estrutura financeira, liquidez e solvência. De acordo com a BADF do SNC o objetivo das demonstrações financeiras é proporcionar informação acerca da posição e do desempenho financeiro e dos fluxos de caixa de uma empresa que seja útil a uma vasta gama de utentes na tomada de decisão económica; mostram ainda os resultados As demonstrações financeiras também mostram os resultados da condução, por parte do órgão de gestão, dos recursos a ele confiados. 7

17 Para Martins (2011, p. 17) as demonstrações financeiras para atingirem os seus objetivos devem fornecer as informações relativas aos seguintes elementos: Ativos, Passivos, e Capital Próprio (CP), Rendimentos (réditos e ganhos) e Gastos (gastos e perdas), Demonstração das Alterações no Capital Próprio (DACP), Fluxos de Caixa. As definições destes conceitos estão incluídas na EC do SNC. Assim, as definições de ativo, passivo e capital próprio são apresentadas n o parágrafo 49 da EC: Ativo: é um recurso controlado pela entidade como resultado de acontecimentos passados e do qual se espera que fluam para a entidade benefícios económicos futuros; Passivo: é uma obrigação presente da entidade proveniente de acontecimentos passados, da liquidação da qual se espera que resulte um exfluxo de recursos da entidade incorporando benefícios económicos; Capital próprio: é o interesse residual nos ativos da entidade depois de deduzir todos os seus passivos. Enquanto as definições de rendimentos e gastos são apresentadas no parágrafo 69 a) da mesma EC: Rendimentos: são aumentos nos benefícios económicos durante o período contabilístico na forma de influxos ou aumentos de ativos ou diminuições de passivos que resultem em aumentos no capital próprio, que não sejam os relacionados com as contribuições dos participantes no capital próprio. A mesma Estrutura ( 72) segmenta os rendimentos em réditos e ganhos, definindo os primeiros como aqueles rendimentos que provêm do decurso das atividades correntes (ou ordinárias) de uma entidade sendo referidos por uma variedade de nomes diferentes incluindo vendas, honorários, juros, dividendos, royalties e rendas. Os Gastos (gastos e perdas): são diminuições nos benefícios económicos durante o período contabilístico na forma de exfluxos ou deperecimentos de ativos na incorrência de passivos que resultem em diminuições do capital próprio, que não sejam relacionadas com distribuições aos participantes no capital próprio (b do 69 da EC do SNC). A distinção entre gastos e perdas é apresentada na EC do SNC ( 76) da seguinte forma: a definição de gastos engloba perdas assim como aqueles gastos que resultem do decurso das atividades correntes (ou ordinárias) da entidade. Os gastos que resultem do decurso das atividades ordinárias da entidade incluem, por exemplo, o custo das vendas, os salários e as depreciações. Tomam geralmente a forma de um exfluxo ou deperecimento de ativos tais como dinheiro e seus equivalentes, inventários e ativos fixos tangíveis. 8

18 De acordo com a EC ( 80) as alterações na estrutura financeira, normalmente mostram elementos da demonstração dos resultados e modificações nos elementos patrimoniais. Para entender a importância das demonstrações financeiras importa identificar os seus utilizadores e os requisitos essenciais porque se deve pautar essa informação. Assim, de acordo com a EC do SNC ( 9), os stakeholders interessados nas demonstrações financeira da empresa para a possível tomada de decisão são: (a) Investidores Os fornecedores de capital de risco e os seus consultores estão ligados ao risco inerente e ao retorno proporcionado pelos seus investimentos. Necessitam de informação para os ajudar a determinar se devem comprar, deter ou vender. Os acionistas estão também interessados em informação que lhes facilite determinar a capacidade da entidade pagar dividendos. (b) Empregados Os empregados e os seus grupos representativos estão interessados na informação acerca da estabilidade e da lucratividade dos seus empregadores. Estão também interessados na informação que os habilite a avaliar a capacidade da entidade proporcionar remuneração, benefícios de reforma e oportunidades de emprego. (c) Mutuantes Os mutuantes estão interessados em informação que lhes permita determinar se os seus empréstimos, e os juros que a eles respeitam, serão pagos quando vencidos. (d) Fornecedores e outros credores comerciais Os fornecedores e outros credores estão interessados em informação que lhes permita determinar se as quantias que lhes são devidas serão pagas no vencimento. Os credores comerciais estão provavelmente interessados numa entidade durante um período mais curto que os mutuantes a menos que estejam dependentes da continuação da entidade como um cliente importante. (e) Clientes Os clientes têm interesse em informação acerca da continuação de uma entidade, especialmente quando com ela têm envolvimentos a prazo, ou dela estão dependentes. f) Governo e seus departamentos O Governo e os seus departamentos estão interessados na alocação de recursos e, por isso, nas atividades das entidades. Também exigem informação a fim de regularem as atividades das entidades, determinar as políticas de tributação e como base para estatísticas do rendimento nacional e outras semelhantes. 9

19 (g) Público As entidades afetam o público de diversos modos. Por exemplo, podem dar uma contribuição substancial à economia local de muitas maneiras incluindo o número de pessoas que empregam e patrocinar comércio dos fornecedores locais. As demonstrações financeiras podem ajudar o público ao proporcionar informação acerca das tendências e desenvolvimentos recentes na prosperidade da entidade e leque das suas atividades. Quanto aos requisitos essenciais da informação financeira, a EC identificaos como características qualitativas das demonstrações financeiras e defineos como os atributos que tornam a informação proporcionada nas demonstrações financeiras útil aos utentes. Acrescenta que as quatro principais são a compreensibilidade, a relevância, a fiabilidade e a comparabilidade ( 24). Nos parágrafos 25 a 46 deste mesmo normativo encontrase as definições de cada uma delas: Compreensibilidade: Uma qualidade essencial da informação proporcionada nas demonstrações financeiras é a de que ela seja rapidamente compreensível pelos utentes. Para este fim, presumese que os utentes tenham os seguintes pressupostos: os utentes têm um razoável conhecimento das atividades económico empresariais e da contabilidade, e vontade de estudar a informação com razoável diligência. Relevância: Para ser útil, a informação tem de ser relevante para a tomada de decisões dos utentes. A informação tem a qualidade da relevância quando influencia as decisões económicas dos utentes ao ajudálos a avaliar os acontecimentos passados, presentes ou futuros ou confirmar, ou corrigir, as suas avaliações passadas. Fiabilidade: Para que seja útil, a informação também deve ser fiável. A informação tem a qualidade da fiabilidade quando estiver isenta de erros materiais e de preconceitos, e os utentes dela possam depender ao representar fidedignamente o que ela ou pretende representar ou pode razoavelmente esperar se que represente Conjunto completo de demonstrações financeiras De acordo com a EC do SNC ( 8), um conjunto completo de demonstrações financeiras inclui: balanço; demonstração dos resultados (DR); demonstração das alterações no capital próprio (DACP); demonstração dos fluxos de caixa (DFC); e anexos. Todas estas demonstrações são retratadas na NCRF 1, com exceção da DFC que é desenvolvida na NCRF 2. 10

20 O balanço: é um instrumento contabilístico que apresenta ou demonstra a posição financeira da entidade num determinado período de tempo. O balanço para poder retratar a respetiva situação, mostra de forma contabilística os ativos (bens e direitos, ou seja, aquilo que a organização possui), os passivos (as suas dívidas) e evidencia a diferença entre ambos (Salas, 2005). O balanço é como uma fotografia da entidade. A partir desta ferramenta os gestores podem aceder a informações úteis à sua atividade e a partir daí passam a ter uma ideia mais ampla dos meios monetários disponíveis, do estado das suas dívidas e das suas fontes de financiamento. Neves (2000) defende que o balanço de uma entidade retrata três ideias cruciais: A comparação entre o ativo e o passivo, evidenciando o capital próprio; um conjunto de contas, com valores de sinal contrário, em equilíbrio; e um mapa ou documento em que se representa aquela comparação e o equilíbrio de contas. É de notar que o balanço é constituído por bens e direitos que compõem o ativo, as obrigações que constituem o passivo e a situação líquida correspondente ao capital próprio. O capital próprio e o passivo representam as origens de capital e o ativo as devidas aplicações. De acordo com a NCFR 1 ( 10) uma entidade deve apresentar ativos correntes e não correntes, e passivos correntes e não correntes, como classificações separadas na face do balanço. Adiante ( 14) a norma determina as condições que levam a considerar um ativo como corrente: (a) Esperase que seja realizado, ou pretendese que seja vendido ou consumido, no decurso normal do ciclo operacional da entidade; (b) Esteja detido essencialmente para a finalidade de ser negociado; (c) Esperase que seja realizado num período até doze meses após a data do balanço; ou (d) É caixa ou equivalente de caixa, a menos que lhe seja limitada a troca ou uso para liquidar um passivo durante pelo menos doze meses após a data do balanço. Os elementos que não se enquadram neste âmbito podem ser considerados como ativo não corrente ( 14). O mesmo normativo ( 17) determina que um elemento deve ser considerado como passivo corrente quando: (a) Se espere que seja liquidado durante o ciclo operacional normal da entidade; (b) Esteja detido essencialmente para a finalidade de ser negociado; (c) Deva ser liquidado num período até doze meses após a data do balanço; ou (d) A 11

21 entidade não tenha um direito incondicional de diferir a liquidação do passivo durante pelo menos doze meses após a data do balanço. Os restantes passivos devem ser entendidos como não correntes ( 17). Demonstração dos resultados: A demonstração dos resultados também pode ser chamada de demonstração dos resultados do período. Segundo Gitman (2010, p. 102) fornece um resumo financeiro dos resultados operacionais da entidade durante um período específico de tempo, sendo mais comum o período que vai até 31 de Dezembro de cada ano. Portanto, com este documento avaliase a eficiência económica da entidade. Com a implementação do SNC, este documento contabilístico também foi modificado, adotouse um formato vertical em substituição do formato horizontal. De acordo com a NCRF 1 ( 35) uma entidade não deve apresentar itens de rendimento e de gasto como itens extraordinários, quer na face da demonstração dos resultados quer no anexo, o que constitui uma alteração significativa relativamente ao Plano Oficial de Contabilidade (POC) que permitia o reconhecimento de elementos como extraordinários. A demonstração dos resultados é uma verdadeira combinação entre rendimentos e gastos de forma a saberse qual o resultado da entidade no final de um determinado período de tempo. Isto é, a utilização da demonstração dos resultados permite realçar os seguintes aspetos: o crescimento de cada resultado, indicando rubrica a rubrica o valor produzido pela entidade; e os custos fixos e variáveis possibilitando, o estudo dos seus efeitos na criação da rendibilidade de exploração do negócio. Demonstração dos fluxos de caixa: é um balanço integrante do conjunto completo das demonstrações financeiras, sendo desenvolvida exclusivamente na NCRF 2. De acordo com Kuster e Nogacz (2002) esta demonstração é um instrumento que permite ao gestor monitorar a evolução do equilíbrio ou desequilíbrio entre a entrada e saída de dinheiro durante um determinado período, possibilitando a adoção antecipada de medidas que venham assegurar a disponibilidade de recursos para o suprimento das necessidades de caixa. Para estes autores toda a atividade realizada por uma entidade resumese na entrada e saída de dinheiro e é nesse jogo de entra e sai que o Fluxo de Caixa é importante, uma vez que ajudanos a perceber antecipadamente quando vão faltar ou sobrar recursos. De acordo a NCRF2 ( 7 e 8) a demonstração dos fluxos de caixa tem como objetivo principal relatar os fluxos de caixa do período, classificandoos quanto ao seu destino ou origem por tipo de atividade, proporcionando deste modo informação que termite determinar o impacto dessas atividades na posição financeira da entidade e quantias de 12

22 caixa e seus equivalentes. Segundo Almeida et al. (2010) este documento contabilístico auxilia os stakeholders a obter informações concernentes à: necessidade de recurso ao financiamento externo; capacidade de gerar fluxos de caixa positivos no futuro; relação entre o resultado patenteado nos documentos de prestação de contas e os fluxos líquidos de caixa originados pelas atividades operacionais, de investimento e de financiamento; capacidade da empresa em solver os compromissos e pagar dividendos; explicação das variações ocorridas na situação financeira entre o início e o final de um período contabilístico. A NCRF 2 ( 3) apresenta e define os seguintes elementos que integram a demonstração dos fluxos de caixa de forma a permitir a sua compreensão: Atividades de financiamento: são as atividades que têm como consequência alterações na dimensão e composição do capital próprio contribuído e nos empréstimos obtidos pela entidade. Atividades de investimento: são a aquisição e alienação de ativos a longo prazo e de outros investimentos não incluídos em equivalentes de caixa. Atividades operacionais: são as principais atividades produtoras de rédito da entidade e outras atividades que não sejam de investimento ou de financiamento. Caixa: compreende o dinheiro em caixa e em depósitos à ordem. Equivalentes de caixa: são investimentos financeiros a curto prazo, altamente líquidos que sejam prontamente convertíveis para quantias conhecidas de dinheiro e que estejam sujeitos a um risco insignificante de alterações de valor. Fluxos de caixa: são influxos (recebimentos, entradas) e exfluxos (pagamentos, saídas) de caixa e seus equivalentes Com o POC, a demonstração dos fluxos de caixa podia ser apresentada pelo método direto e/ou pelo método indireto, mas o SNC veio determinar que os fluxos de caixa das atividades operacionais sejam relatados pelo método direto. Esta demonstração é de divulgação obrigatória, e hoje é considerada uma das mais importantes por revelar as diferentes fontes de entrada e os diferentes destinos de saída de meios monetários na entidade. A demonstração das alterações no capital próprio: evidencia as alterações no capital próprio ocorrido no período. A NCRF 1 ( 40) refere que: as alterações no capital próprio de uma entidade entre duas datas do balanço refletem o aumento ou a redução nos seus ativos líquidos durante o período. Com a exceção das alterações resultantes de 13

23 transações com detentores de capital próprio agindo na sua capacidade de detentores de capital próprio (tais como contribuições de capital, reaquisições de instrumentos de capital próprio da entidade e dividendos) e dos custos de transação diretamente relacionados com tais transações, a alteração global no capital próprio durante um período representa a quantia total de rendimentos e gastos, incluindo ganhos e perdas, gerada pelas atividades da entidade durante esse período. Para Grenha et al. (2009, p. 272) as variações no capital próprio têm três origens possíveis: as que resultam das transações com detentores de capital próprio, na sua figura e capacidade de detentores; o resultado líquido que representa a diferença entre rendimentos e gastos em cada período, ou seja, a gerada pelas atividades da entidade; Todas as alterações que são geradas pelas atividades da entidade mas que não transitam pela demonstração dos resultados. Esta demonstração financeira introduz o conceito de resultado integral que, tal como dispõe a NCRF 2 ( 41), é composto pelo resultado líquido do período e pelas variações (alterações) ocorridas em capital próprio não diretamente relacionadas com os detentores de capital, agindo enquanto tal. O anexo: é um documento que está fortemente ligado às demais demonstrações financeiras. Nele é divulgada informação acerca das bases de preparação das demonstrações financeiras e políticas contabilísticas usadas, e outras divulgações exigidas pelas NCRF que não sejam apresentadas noutras demonstrações financeiras. Serve, também para proporcionar informação adicional que não seja apresentada noutras demonstrações financeiras mas que seja relevante para uma melhor compreensão de qualquer uma delas (NCRF 1, 43). Ainda de acordo com a NCRF 1 ( 45) as notas do anexo devem ser apresentadas pela seguinte ordem: a) Identificação da entidade; b) Referencial contabilístico de preparação das demonstrações financeiras; c) Principais políticas contabilísticas; d) Informação de suporte de itens apresentados na face as demonstrações financeiras; e) Passivos contingentes e compromissos contratuais não reconhecidos; f) Divulgações exigidas por diplomas legais; g) Informações de carácter ambiental. Portanto, cada entidade deve conceber a estrutura e a forma de organização alfanumérica dos seus anexos de modo a encontrar a melhor estrutura e que a facilite na obtenção de dados e/ou informações adicionais às outras demonstrações financeiras. 14

24 2.2. Análise das demonstrações financeiras Para Salas (2005, p. 7) a análise das demonstrações financeiras, também conhecida como análise económicofinanceiro, análise de balanços ou análise contabilística, é um conjunto de técnicas utilizadas para diagnosticar a situação e perspetivas da entidade com a finalidade de tomar decisões mais adequadas. Rosillón e Alejandra (2009) e Rego (2005) defendem esta mesma posição. Rosillón e Alejandra (2009, p. 610) acrescentam, ainda, que a utilização de ferramentas e técnicas adequadas procura avaliar a posição financeira e os resultados da atividade empresarial no presente e passado para se obter as melhores estimativas para o futuro. Segundo Rego (2005, p. 72) esta análise é relativa e somente, por comparações históricas com outras entidades e com o setor, poderá indicar qual a real condição da entidade. Nenhum indicador é bom ou ruim isoladamente. Para autores como Bernstein e Wild (1998) a análise das demonstrações financeiras visa reduzir a dependência de palpites e intuição e, por sua vez, diminui a incerteza na tomada de decisão, pois deteta forças e fraquezas económicas e financeiras da entidade, sendo deste modo a terapia precisa para a entidade. Para Silva e Souza (2011) a análise das demonstrações financeiras é feita tendo em conta algumas técnicas, a fim de transformar os dados em informações que sejam de maior e melhor utilidade para os stakeholders. As técnicas mais utilizadas para a análise das demonstrações financeiras são a análise financeira, a análise horizontal e a análise vertical. Apenas a primeira será objeto de reflexão neste trabalho. De acordo com Deari (2010); Pinho e Tavares (2005); Salas (2005); entre outros, as informações proporcionadas pelas demonstrações financeiras servem como fonte de dados para o analista financeiro, em conjunto com outras fontes. Segundo Rosillón e Alejandra (2010, p. 610) esta análise tem como objetivos: analisar a tendência das variáveis financeiras e operacionais envolvidas na entidade; avaliar a sua situação económica e financeira para determinar o nível de cumprimento de metas prédeterminadas; verificar a consistência das informações financeiras com a realidade da entidade; identificar os problemas existentes, implementar medidas corretivas adequadas e servir de guia para um planeamento de gestão financeira eficiente e eficaz. Pinho e Tavares (2005, p. 51) acrescentam que a mesma análise permite uma compreensão simultânea mais rápida e profunda das informações disponíveis, sempre com vista à sua utilidade percebida pelos utilizadores. 15

25 Schier (2007, p. 57) considera que a análise das demonstrações financeiras extrai o máximo possível de informações, através da interpretação dos dados disponibilizados pelas demonstrações contabilísticas e financeiras, tratadas em conformidade com os princípios da contabilidade. Esta análise fornece informações aos investidores e acionistas para a tomada de decisão. Silva e Souza (2011) acrescentam que é possível realizar a análise de todas as demonstrações financeiras, no entanto, normalmente as atenções concentramse, de forma especial, no balanço e na demonstração dos resultados, pois é através destes que se evidencia de uma forma objetiva, a situação económicofinanceira da entidade. Morozini et al (2006, p. 90) defendem que é preciso estar sempre muito atento quando está em causa a análise das demonstrações financeiras que deve ser tratada com cuidado, pois não existe um roteiro padronizado. Os autores acrescentam que os limites e desafios da análise das demonstrações financeiras têm sido objeto de estudos e pesquisas, fazse necessária a compreensão da função e do objetivo da análise dentro da gestão empresarial, em que esse instrumento deve gerar informações comprometidas com a continuidade e com o desenvolvimento sustentável dos negócios ou da entidade. Rosillón e Alejandra (2010, p. 610) e Pinho e Tavares (2005, p. 51) referem que para a análise financeira podem ser enumeradas duas metodologias fundamentais: verificação de alguns agregados de demonstrações financeiras; e, cálculo e análise de indicadores económicos e financeiros. Pinho e Tavares (2005) acrescentam que é imprescindível a experiência e o bom senso do analista par a obtenção de análises fiáveis e úteis. De acordo com Gitman (2010) a análise de indicadores envolve métodos, cálculos e interpretações de indicadores financeiros para compreender, analisar e monitorar a performance da entidade. O autor acrescenta, ainda, que indicador é a relação entre um grupo de contas das demonstrações financeiras que busca informar sobre a situação económicofinanceira da empresa. Dentre os vários grupos encontramse indicadores de rendibilidade, de liquidez, de endividamento e indicadores de risco. Assim, em seguida refletese sobre estes indicadores. Indicadores de rendibilidade: os elementos deste grupo mostram a rendibilidade dos capitais investidos, ou seja, permitem verificar o grau de êxito económico da entidade e ver, também, o retorno dos investimentos efetuados. Neste grupo de indicadores encontrase: a rendibilidade líquida das vendas (RLV), rendibilidade operacional das vendas (ROV) e a rendibilidade dos capitais próprios (RCP). 16

26 Rendibilidade líquida das vendas: para Pinho e Tavares (2005) este indicador visa informar o que se denomina de ganho ou lucro da entidade após a dedução de todos os gastos da entidade. Segundo Madeiros et al (2012) este é um indicador que relaciona o resultado líquido (RL) e o volume de negócios. maior melhor. Rendibilidade líquida das vendas = 17 Resultado líquido Volume de negócios 100 Não é confortável para a entidade que este indicador seja baixo, pelo que quanto Rendibilidade operacional das vendas (ROV): segundo Pinho e Tavares (2005, p. 63) este indicador permite refletir em que medida a margem bruta é reduzida, após a dedução de todos os gastos operacionais. Este indicador relaciona o resultado operacional (RO) com o volume de negócios (VN). Rendibilidade operacional das vendas = Resultado operacional Volume de negócios 100 Este indicador é muito importante para a entidade, sendo que quanto maior melhor é a condição económica da entidade. Rendibilidade dos capitais próprios: segundo Nabais e Nabais (2011, p. 103) este indicador relaciona o nível de resultados líquidos gerados pela entidade em função do montante investidos pelos sócios ou acionistas (CP). Afirmam, ainda, que este indicador é muito utilizado pelos bancos e pelos investidores. Rendibilidade dos capitais próprios = Resultado líquido Capitais próprios 100 Este é um dos indicadores mais utilizados para medir a rendibilidade da entidade, sendo que quanto maior melhor. Indicadores de liquidez: de acordo com Nabais e Nabais (2011, p. 166) e Rosillón e Alejandra (2010) liquidez é a capacidade que a entidade possui de fazer face aos compromissos com terceiros, indica ainda o risco corrido pelos credores em resultado da concessão de créditos a entidade. Matarazzo (2003, p. 164) realça que os indicadores de liquidez não são indicadores extraídos do fluxo de caixa que comparam as entradas com as saídas de dinheiro. Para o autor são indicadores que, a partir do confronto dos ativos correntes com as dívidas, procuram medir quão sólida é a base financeira de uma entidade. Por sua vez,

27 uma empresa com bons indicadores de liquidez tem de ter boa capacidade de cumprir com as suas obrigações financeiras com terceiros, mas fálo, obrigatoriamente, em função de outras fatores como prazo, renovações de dívidas e as vezes também por causa das políticas de gestão adotadas. Entre os indicadores de liquidez podese considerar: a liquidez corrente (LC), a liquidez imediata (LI) e a liquidez reduzida (LR). Liquidez corrente (LC): mostra a relação direta entre ativo corrente (AC) e passivo corrente (PC). Este indicador representa o quanto foi aplicado em bens e direitos e quanto a entidade deve a curto prazo. Liquidez corrente = índice de liquidez enquanto outros exigem menor índice. 18 Ativo corrente Passivo corrente Sendo que, quanto maior melhor. Para Pinho e Tavares (2005) em abstrato essa visão é verdadeira mas há que complementala com informações adicionais, como setor de atividade e outras. Liquidez imediata (LI): Para Pinho e Tavares (2005) este indicador mede a capacidade financeira da entidade em pagar as suas dívidas imediatamente usando as disponibilidades sem ter em consideração os outros elementos do ativo corrente. Segundo Santos e Oliveira (2010) este indicador relaciona as disponibilidades com o passivo corrente. insere. Liquidez imediata = Disponibilidades Passivo corrente É evidente que o valor ideal depende do setor de atividade em que a entidade se Liquidez reduzida (LR): Segundo Santos e Oliveira (2010, p. 40) tem como objetivo apresentar a capacidade de pagamento da entidade no curto prazo sem levar em conta os inventários (I), que são considerados como elementos menos líquidos do ativo corrente. Para Rosillón e Alejandra (2009) o indicador é a relação entre clientes e disponibilidades com o passivo de curto prazo. Liquidez reduzida = Ativo corrente Inventários Passivo corrente Assim como os outros indicadores deste grupo quanto maior, também, pode ser melhor mas deve levarse sempre em conta o setor, pois há setores que permitem maior

28 Indicadores de endividamento: Segundo Pinho e Tavares (2005, p. 67) fazem parte deste grupo o endividamento (E) e autonomia financeira (AF), sendo que este grupo de indicadores mensura em que medida os ativos são financiados por capitais próprios ou por capitais alheios, aprofundando a tipificação desses capitais alheios. Para Rosillón e Alejandra (2009, p. 618) o endividamento relaciona o passivo total (PT) pelo ativo total (AT). Endividamento = Passivo total 100 Ativo total Avalia de forma rápida se a empresa possui condições para endividarse e se os capitais próprios conseguem financiar os capitais alheios de curto médio e longo prazo. Autonomia financeira: Para Nabais e Nabais (2004, p. 61) este indicador é um fator relevante na análise e na contratação de operações de financiamento e é um elemento importante na avaliação do risco financeiro e global da empresa. Para os mesmos autores este indicador relaciona os capitais próprios com o total de ativos aplicados. Autonomia financeira = Capitais próprios 100 Ativo total Segundo Pinho e Tavares (2005, p. 67) este indicador é o complemento do endividamento, visto que quanto maior o valor deste indicador maior a proporção de capitais próprios aplicados, o que implica dizer há menor risco de insolvência a prazo. De acordo com estes autores, não existem medidas predefinidas. Indicadores de risco: Estes indicadores medem o risco que a empresa corre de não concretizar os seus objetivos económicos e financeiros. Destacase, assim, o grau de alavanca operacional (GAO), o grau da alavanca financeira (GAF) e o grau combinado da alavanca (GCA). Grau da alavanca operacional: para Pinho e Tavares (2005, p. 74) este indicador mede a variabilidade percentual dos resultados operacionais face a variações percentuais unitárias do volume de negócios e se não há gastos fixos o grau da alavanca operacional terá o limite de um, portanto, quanto maior o indicador maior é o peso dos gastos fixos e maior o risco operacional da entidade (Nabais e Nabais, 2004, p. 92). Grau da alavanca operacionais = Margem bruta Resultados operacionais

29 Quanto maior for este indicador maior será o risco da entidade, ainda, que a entidade tenha um grande volume de negócios. Grau da alavanca financeira: segundo Pinho e Tavares (2005, p. 75) este indicador mede a variação ocorrida nos resultados correntes (RC) derivados de variações percentuais unitárias nos resultados operacionais. Grau da alavanca financeira = Resultados operacionais Resultados correntes 100 Este indicador quanto menor for menor será o risco financeiro da entidade, demonstrando menor variação do resultados correntes. Gau combinado de alavanca (GCA): para Pinho e Tavares (2005, p. 75) é o efeito combinado do GAO e GAF, sendo que mede a variação percentual ocorrida nos resultados correntes de variações percentuais unitárias no volume de negócios. GCA=GAO GAF Segundo Caldeira (2001) este indicador evidencia se os resultados da entidade se situam a um nível inadequado ao cumprimento dos seus objetivos essenciais. Para o mesmo autor o risco global será maior quanto mais elevados forem os seus gastos fixos, GAO e GAF. A análise destes indicadores permite, tal como referem Nabais e Nabais (2011, p. 17) estudar a situação económicofinanceira da entidade através do estudo dos documentos contabilísticos e dotar os responsáveis da organização e outras entidades de informação financeira adequada para a tomada de decisão A tomada de decisão A decisão é o processo que determina o rumo quer da sociedade, quer do individuo e/ou principalmente de uma organização. Mas para Miglioli (2006, p. 39) tomar decisões faz parte de qualquer atividade humana, desde a ação individual mais simples e rotineira, à ação conjunta e complexa de qualquer organização. Em cada situação poderão estar envolvidos problemas distintos com diferentes níveis de dificuldade para se tomar uma decisão. Miglioli (2006, p. 43) defende que as decisões de gestão afetam diretamente a sobrevivência das empresas assim como a vida de todos os que estão relacionados com a mesma sejam eles empregados, acionistas, fornecedores, clientes ou até a própria 20

Qual a importância das demonstrações financeiras para a tomada de decisão?

Sua maior função é evidenciar e refletir a posição econômica da organização e dentre as suas finalidades, contribui para o processo de tomada de decisão, tanto para investimentos quanto para se obter empréstimos.

Como a análise das demonstrações contábeis pode auxiliar no processo de tomada de decisão?

Através da análise das demonstrações pode-se avaliar a situação da empresa, em aspectos operacionais, econômicos, patrimoniais e financeiros, orientando qual decisão a ser tomada em determinada situação.

Quais são as análises das demonstrações financeiras?

Podemos subdividir a análise das demonstrações financeiras em análise da situação financeira (Liquidez e Estrutura) e análise da situação econômica (Rentabilidade e Atividade).

Como o empresário utiliza as análises financeiras para a tomada de decisão?

Analisar as demonstrações financeiras, em empresas de qualquer ramo, ajuda a definir os pontos positivos e negativos de todo o desemprenho operacional e capital. E em posse dessa análise é possível detectar problemas de gestão, tomar decisões estratégicas e expandir as atividades econômicas.