Por que rimos quando alguem cai

Cena comum em velório é a seguinte: as pessoas reunidas em volta do morto, alguns choram, outros já choraram, e vem um gaiato e conta uma piada. Apesar de ser o momento mais triste da vida da família, mesmo os mais próximos do falecido são capazes de dar risada.

Não é porque a piada é fantástica. Muito menos por desrespeito ao momento. Rir no momento da dor é um mecanismo de defesa muito normal, explica a médica psiquiatra Dânia Francine Corrêa. "Rir é uma descarga da angústia que sentimos em um momento difícil. A gente se defende sorrindo", define.

Segundo Dânia, frente a um clima pesado o cérebro tenta abrir uma brecha, rapidinho, na experiência que está sendo ruim e substituí-la por uma lembrança boa. Na verdade, fazemos isso a toda hora, porque a realidade costuma ser difícil - é o famoso rir para não chorar.

A psiquiatra lembra que substituir a verdade por uma ilusão de humor, para aliviar momentaneamente, não quer dizer que se perde a noção da realidade. "Isso também é uma técnica usada para se preparar adequadamente para lidar com a dor. É uma saída sadia e madura", define.

Portanto, dar uma gargalhada em meio a uma briga, um momento de tensão ou até um velório é perfeitamente normal - mas talvez, no caso do velório, seja mais polido sair um pouquinho da capela quando a vontade de rir for incontrolável.

Foto: Getty Images

  • Sophie Scott
  • Humorista e professora da University College, de Londres

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Rir é uma forma de criar laços sociais

Rir é algo um tanto esquisito - e que fazemos muito.

Um estudo mostrou que, a cada dez minutos de conversa, uma pessoa ri sete vezes.

E não rimos quando achamos que rimos. Se você perguntar às pessoas o que as faz rir, elas falarão de piadas e humor, mas a verdade é que rimos com mais frequência quando estamos com outras pessoas - e quase nunca das tais piadas.

A risada é uma emoção social - a usamos para manter laços.

Também emitimos uma série de sons estranhos quando rimos, e todos indicam que o músculo do peito está fazendo pressão na caixa toráxica para que o ar saia.

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Se você pensar bem, rir parece um pouco estranho, mas todos o fazemos

Meu riso é muito agudo, por exemplo - bem mais do que sou capaz de atingir quando tento cantar.

Trata-se também de uma forma bem primitiva de produzir um som.

Imagens de ressonância magnética mostram que, quando alguém ri, não existe movimento real da língua, mandíbula, palato ou lábios. Toda a ação ocorre na caixa toráxica.

A risada é uma expressão emocional não verbal, e esses sons normalmente são produzidos quando estamos prestes a experimentar emoções fortes. São mais próximos de chamados entre animais do que de nossa fala normal.

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As expressões faciais são parecidas entre algumas espécies

Nós produzimos esses sons de formas bem simples (ao contrário da fala), e eles são controlados por um sistema cerebral "mais antigo" em termos de evolução, responsável pela vocalização em todos os mamíferos (ao contrário da fala).

Por isso, um derrame pode afetar a habilidade de falar, mas preservar sua capacidade de rir e chorar. O dano terá sido nas áreas que viabilizam a fala, mas o sistema emocional mais antigo está intacto.

Por estarem presentes em todos os grupos humanos e em outros mamíferos, essas expressões não verbais são frequentemente associadas a expressões de emoções consideradas mais básicas.

Isso explica por que algumas emoções são bem similares entre espécies - pense na semelhança entre os rostos de um humano e um lobo com raiva.

As pessoas reconhecem uma risada mesmo quando ela é produzida por alguém de uma cultura bastante diferente.

Meus colaboradores Disa Sauter e Frank Eisner foram à Namíbia várias vezes para trabalhar com o povo Himba e o único som positivo em inglês que eles reconheceram (e vice-versa) foi a risada.

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A risada é um ponto em comum entre diferentes grupos e culturas

Claro, não somos os únicos animais a rir. A risada já foi observada em primatas, como gorilas, chimpanzés e orangotangos, e até mesmo ratos. Então, é ao menos possível que haja mais risos espalhados por aí no reino animal.

E é intrigante que, sempre que há risada, sua origem esteja em brincadeiras, dos humanos aos ratos. Todos os mamíferos brincam quando são jovens e, alguns, como humanos, cachorros, lontras e ratos, brincam por toda a vida.

Talvez rir tenha evoluído para se tornar um importante símbolo de brincadeira, um sinal de que estamos nos divertindo - e de que ninguém ficará machucado, não é nada sério.

Há inclusive uma teoria sobre o que acontece com a comédia: as pessoas usam a comunicação de uma forma divertida, e é por isso que rimos.

Talvez as raízes de todas as risadas estejam nas interações sociais.

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  • Ontem a noite a minha filha tropeçou em um fio e acabou batendo a cabeça na batente da porta. A minha primeira reação foi a de rir. Mas, Graças a Deus, eu consegui segurar o riso e ela se envolveu em meus braços e começou a chorar.

    Foi quando eu me fiz as seguintes perguntas:

    Por que damos risada quando alguém cai ou se machuca?

    Por que algumas pessoas riem tanto com as video-cassetadas e outras não?

    Será que existe alguma explicação científica para isto?

    Dizem os especialistas que quando uma pessoa cai no chão, não tem graça nenhuma. Mesmo assim damos risada, mesmo sabendo que não tem graça.

    Alguns especialistas dizem que quando uma pessoa cai no chão, nós rimos ou pelo menos sentimos vontade de rir dela por alívio de não ter sido a gente que caiu. De tanto alívio a gente ri.

    Outros dizem que o inesperado faz a gente rir, quando a pessoa cai no chão de repente, a surpresa é engraçada.

    Já outros defendem a tese de que quando uma pessoa cai no chão, nós rimos porque nos sentimos superiores a ela. É como se a gente pensasse:

    -Que tonto, caiu no chão!

    Se eu o chamo de tonto é porque eu sou inteligente então, automaticamente eu estou me valorizando, me sentindo superior a esta pessoa. Esse sentimento de superioridade nos faz rir de felicidade. É como se a gente se sentisse bem ao ver o outro se dar mal.

    Segue abaixo um trecho da explicação dada por William Fry, psiquiatra e pesquisador do riso, da Universidade de Stanford. ( Publicação da revista Scientific American Brasil )

    "Cada pessoa desenvolve um tipo de senso de humor e a predileção de cada um é ligeiramente diferente.” Mas certos aspectos fundamentais do humor ajudam a explicar porque um passo em falso pode despertar o riso.

    O primeiro requisito é o “jogo da situação” quando um evento da vida real é colocado em um contexto de pouca seriedade, deixando espaço para uma reação psicológica atípica. A forma como o jogo da situação é encarada explica porque a maioria das pessoas não acha engraçado alguém cair de um prédio de dez andares e morrer: Nesse caso, a agonia da pessoa que cai impede que uma situação de pouca seriedade se estabeleça. Mas se uma mulher andando normalmente pela rua tropeça e cai, o jogo da situação pode se estabelecer e o observador achar o fato divertido. Outra característica fundamental é a incongruência de uma situação, que pode ser interpretada como uma relação improvável ou contraditória entre a parte final e o contexto de experiência. Os tombos são uma incongruência no decorrer da vida, por serem inesperados. Dessa forma, apesar de nossa reação inata de empatia a percepção da incongruência pode ser mais forte, uma vez que uma queda cria uma distorção da situação e a hilaridade logo aparece.

    O jogo da situação e as incongruências são conceitos psicológicos; só recentemente a neurobiologia começou a estudá-los. No início dos anos 90 a descoberta de neurônios-espelho levou a um novo caminho para entender o lado da incongruência no humor. Quando caímos fazemos movimentos desconexos, tentando recuperar o equilíbrio e procurando um apoio em nós mesmos. Os neurônios do nosso cérebro controlam esses movimentos. Mas quando observamos outra pessoa tropeçar alguns de nossos neurônios agem com se fossemos nós a pessoa em queda – nossos neurônios-espelho reproduzem os padrões de atividade do cérebro da pessoa que está caindo. 

    Minha hipótese a respeito da importância desse mecanismo para explicar o riso é que o cérebro do observador “sente as cócegas” feitas por aquele “fantasma” neurológico. O observador experimenta um estímulo inconsciente que reforça a percepção da incongruência."

    Qual é a sua reação? Você dá risada ou não?