Frase você é responsável por aquilo que cativas

7 de dezembro de 2020

Frase você é responsável por aquilo que cativas

Quando Antoine de Saint-Exupéry escreveu a frase “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, na obra O Pequeno Príncipe, quis chamar a atenção para nosso envolvimento com terceiros – afinal, somos parcialmente responsáveis por eles também.

Casos de terceirização de serviços no Brasil são muito comuns. Isso não ocorre somente em função da legislação trabalhista, mas também do alto nível de especialização que esses profissionais passaram a ter com o aumento da demanda. O segmento de prestação de serviços gerais vem adquirindo cada vez mais envergadura, sendo a estratégia adotada por diversas organizações. Até aqui tudo bem, pois você não precisa ser empresário para já saber ou ter ouvido falar da complexidade da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

No entanto, em um mundo altamente conectado e com novas exigências por parte dos consumidores e colaboradores, é preciso entender que os terceiros que te representam devem ser “cativados” de acordo com suas regras também. No mundo corporativo, chamamos essa ferramenta de due diligence, ou diligência prévia. Significa que antes de estabelecer determinado relacionamento, a empresa tem por obrigação verificar o histórico da instituição para quem pretende terceirizar parte de seus serviços. Afinal, embora os trabalhadores sejam de outra organização, estarão lá diariamente a serviço e representando determinada marca, pouco importando para o cliente a segmentação de personalidade jurídica.

O triste e recente caso ocorrido no Carrefour nos mostrou o quanto este tema faz-se presente no dia a dia. O que pensaria Saint-Exupéry ao ouvir de uma empresa que ela não é responsável pelos seus terceiros? Um afronte ao piloto-escritor e aos mecanismos modernos de integridade corporativa. Ter e estender regras de conduta é um princípio básico para a formação e percepção de valor e de transparência de um negócio, princípio esse pelos quais as empresas devem ser cada vez mais cobradas.

Atualmente existem diversas ferramentas e mecanismos de busca capazes de um levantamento bastante detalhado acerca de informações jurídicas, reputacionais e de integridade de uma pessoa física ou jurídica. Além disso, cláusulas contratuais também são necessárias para estender esse conhecimento à outra parte. Um dos pilares de um sistema de conformidade efetivo é a gestão de terceiros, que se responsabiliza por levar informações e capacitar fornecedores acerca das normas de ética vigentes no negócio.

Porém, não basta diligenciar corretamente e deixar de lado a manutenção e o preparo desses colaboradores para situações de crise. Treinamentos recorrentes são necessários para reforçar o que por vezes, no dia a dia, esquece-se. Fortalecer uma cultura ética que seja extensiva a terceiros é desafiador em um país de tantos contrastes quanto o nosso.

A polêmica do caso em questão ressaltou a carência e o despreparo das pessoas e das instituições no Brasil em lidar com situações de crise, bem como a violência que muitas vezes impera entre os relacionamentos e acaba sendo a tentativa frustrada de solucionar impasses. O problema é que as consequências que essas condutas têm gerado para nós, enquanto sociedade, são extremamente graves e urgem por uma solução assertiva.

As relações que estabelecemos com outras pessoas são de nossa responsabilidade e por isso é importante mantê-las bem, alinhadas aos nossos propósitos e saudáveis. O senso coletivo ainda precisa ser trabalhado por aqui, pois o que se nota são resquícios de uma colônia individualista, carente de valores morais que nos orgulhem daquilo que mais nos faz brilhar: a diversidade.

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Letícia Sugai é sócia das empresas Veritaz Gestão de Riscos e Compliance e Gordion Consultoria. É presidente do Instituto Paranaense de Compliance (IPACOM) e criadora do Movimento “Integridade sempre vale a pena”.

Será que somos - e t e r n a m e n t e - responsáveis por aquilo que cativamos? Que raio de karma é esse que vai nos perseguir ao longo dos milênios?


Frase você é responsável por aquilo que cativas

Para muitos venho trazer más notícias.Isso porque, em se tratando de relações humanas, você não é responsável por aquilo que cativas e pior, não foi isso que Saint-Exupéry afirmou em sua obra.

Mas calma, vamos por partes, assim a decepção virá em conta gotas.

No mundo atual, que aceitamos sem muita resistência tudo que ouvimos e lemos como verdade absoluta, me incomodou demais alguém justificar a falta de entrega emotiva nos relacionamentos, sob a égide da frase "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."

Será que somos - e t e r n a m e n t e - responsáveis por aquilo que cativamos? Que raio de karma é esse que vai nos perseguir ao longo dos milênios?

Curiosa que sou, minha primeira providência foi entender o que é "cativar".

A frase, desde sua tradução para a língua portuguesa, tem sido utilizada de forma romântica, amorosa, como se fossemos eternamente responsáveis por quem nós conquistamos. A psicologia há muito tem rebatido esse amor possessivo e "irresponsável", que terceiriza ao outro a responsabilidade por nossos afetos: você me conquistou, agora você será eternamente responsável por mim! Ora, se pra você isso não soa como uma birra de uma criança mimada, para mim, chega a fazer eco. Posso até ver a criança esperneando, fazendo bico e se jogando no chão.

Mas então, por que essa frase tem sido tão utilizada?

Porque, como diria Nietzsche, criou-se uma convicção e assim, uma verdade absoluta. Verdade esta, como pondera o filósofo que chega a ser pueril (infantil), afinal, poucos se sacrificam para conhecer a verdade, a maioria, acrescento, aceita as coisas como estão, e são. Quem disse que a palavra cativar, tem algum elemento romântico? Cativar,vem do latim CAPTIVARE, que significa “escravizar, dominar”.

Mas então, Saint-Exupéry estava errado?

Não, a frase original em francês é a seguinte: "Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé." cuja tradução mais correta seria: *Você se torna eternamente responsável pelo que doma *(ou domestica).

Decepcionado?

Não, não fique, existe uma explicação lógica:

Se você leu o livro, sabe que é uma raposa muito esperta que tenta convencer o príncipe a "domá-la", isso porque, os caçadores estão à espreita.

Mas, alguém já viu uma raposa domada, ou domesticada? O fim de toda raposa diante de um caçador é a morte mas se o Pequeno Príncipe, que sequer sabia que animal era ela fosse capaz de domesticá-la, ela estaria a salvo - com a condição - é claro, de ser eternamente responsável por ela. Assim como somos por nossos animais de estimação.

Então, tratando de seres humanos, ninguém é responsável por cativar ninguém e, se assim for, será um ato de puro egoísmo, de quem cativou e de quem foi cativado e delega ao outro a responsabilidade por sua vida.

Quer continuar a usar a frase? Use, mas para mostrar sua responsabilidade pelos seus animais de estimação e ponto.


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A frase original, escrita em francês, “Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé” é retirada do clássico da literatura mundial Le petit prince (em portuguê… 

Frase você é responsável por aquilo que cativas

Antoine Jean-Baptiste Marie Roger Foscolombe, Conde de Saint-Exupéry, popularmente conhecido como Antoine de Saint-Exupéry, profetizou em sua célebre obra 'Le Petit Prince': "Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé". Ou popularizada em nosso tupiniquim por "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".

Por muito tempo, muito mesmo, para não dizer minha vida inteira, sempre interpretei referida frase com os "melhores" propósitos possíveis. Todavia, de uns tempos para cá, venho percebendo o quão ela é pesadíssima e faz com que nutramos um sentimento de culpa eterna: calma lá, cara pálida, quer dizer então que seja o bem ou o mal que eu faça, terei que eternamente me responsabilizar?

Evidentemente que não... O propósito do imortal adágio é nobre, mas se trazido para uma culpabilização/vitimização pode trazer sequelas trágicas: quantos de nós evitamos situações prazerosas, renegamo-nos, porque 'apita' em nossa consciência aquela raposinha maldita falando isso para o principezinho... E isso hoje se traduz como 'e sua responsabilidade afetiva?...'

Eis que decidi, pela terceira vez, reler a festejada obra para não 'colocar na conta' do Antoine, do Príncipe ou da Raposa: existem alguns pormenores, que se referem até a própria tradução do francês para o português, que nos exigem uma releitura.

Lendo um texto da profa. Roberta Fuks no site Cultura Genial, vi que: "Apesar da tradução brasileira ter escolhido transformar o verbo francês "apprivoisé" em "cativar", na realidade a tradução mais literal seria "domar" ou "domesticar"." E assim prossegue: "Dom Marcos Barbosa (primeiro tradutor) optou por tirar uma licença poética e adaptou "apprivoisé" para "cativar", um verbo que pode ser tido como sinônimo de encantar, seduzir, atrair, enfeitiçar, fascinar e envolver. O verbo escolhido por Dom Marcos Barbosa envolve entrega, necessidade um do outro, dedicação". Logo, o 'cativar' lido com ressalvas, não significa propriamente você trazer para si um fardo e o 'eternamente' seria um advérbio de constância, sem um prazo definido mas não necessariamente que seja infinito (que seja eterno enquanto dure, como profetizou nosso Poetinha).

O que quero com esse texto? Que tanto o 'cativador' quanto o 'cativado' sejam adultos (afinal a Raposinha ensina isso ao Pequeno, não?!) e entendam que a sinceridade, o diálogo e, principalmente, a lealdade, não façam com que uma poética passagem se torne uma prisão perpétua: sejamos leves e deixemos fluir como Heráclito de Éfeso ensinou lá atrás ("Ninguém entra em um mesmo rio uma segunda vez, pois quando isso acontece já não se é o mesmo, assim como as águas que já serão outras").