O som é curioso, fofo e pode ser comparado com um “kekeke”. Se você tem gato, é bem possível que já tenha visto seu gato fazendo barulho com a boca ao ver um pássaro pela janela. Ele fica como se estivesse em estado de transe com a visão da presa: olhos arregalados, voz estranha e rabo agitado. E por que os gatos fazem kekeke? Existe
mais de uma teoria para tentar explicar essa vocalização. Em inglês, essa famosa reação felina leva o nome de chatter, que quer dizer “tagarelar”. A gente preparou uma Web Story que mostra essa vocalização dos bichanos e você vai perceber que não são todas iguais. Dê o play abaixo!
Resumindo, as possibilidades apontadas para que os gatos soltem esses barulhinhos estão descritas abaixo.
- Reação involuntária ao ver uma presa, em razão de uma descarga de neurotransmissores e hormônios
- Frustração por não conseguir se aproximar da ave que esteja à vista, do outro lado da janela
- Movimentos involuntários da boca como um treino para mastigar o passarinho
- Tentativa de imitar o som da presa, a exemplo do que alguns gatos selvagens fazem
Cientistas que se dedicam ao estudo das coisas mais fofas do universo, os gatos, também já identificaram que essa vocalização vai além do kekeke. Em 2019, um estudo assinado por pesquisadores dos Estados Unidos, da Coreia do Sul e da França dividiu as vocalizações dos gatos em 20 sons distintos.
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Ao menos três dessas 20 vocalizações dos bichanos, listadas pelos pesquisadores, podem entrar nessa categoria de kekeke: chatter, tweedle e tweet. “Não se sabe o porquê da tagarelice do gato. Sabia-se que é desencadeado pela excitação e lembra a vocalização do pássaro. Parece que os gatos são capazes de produzir sons quando sua atenção é atraída por um inseto ou um pássaro. Essas vocalizações podem ser surdas (chatter) ou não (tweet e tweedle) e neste último caso notou-se uma variação entre gatos”, registraram os pesquisadores.
Chatter
Definição: gato tremendo o maxilar ritmicamente, criando um som de estalo, de baixa amplitude. Na maioria das vezes sem voz.
Contexto: ao desejar uma presa fora de alcance.
Tweedle
Definição: som prolongado ou curto, mas que quase sempre tem variação de volume.
Contexto: som emitido quando algo é desejado.
Tweet
Definição: barulhinhos fracos, suaves, com sons variados.
Contexto: som emitido quando algo é desejado.
Pesquisadora sueca foi a fundo nos kekekes
Um dos estudos mais citados sobre por que os gatos fazem kekeke é sueco — que serviu como base, inclusive, para a pesquisa que citamos neste artigo. Essa investigação sobre os kekekes foi feita em 2013 pela pesquisadora Susanne Schötz, do Centro de Linguagens e Literatura da Universidade de Lund. A instituição é a segunda universidade mais antiga da Suécia, fundada em 1666.
Schötz gravou 257 vocalizações de seus três gatos enquanto eles assistiam passarinhos pela janela. O resultado rendeu um artigo científico e virou capítulo de um livro escrito por ela: “A Linguagem Secreta dos Gatos”, ainda sem edição na língua portuguesa. Neste link você pode adquirir o livro em inglês, italiano, alemão ou holandês.
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A pesquisadora sueca dividiu os diferentes sons dos bichanos ao avistar aves pela janela.
Tagarelice
Em inglês, chattering. Schötz descreve como “k k k k k k” essas vocalizações “muito rápidas, curtas, sons cortados que são emitidos em sequências de gagueira”.
Segundo a pesquisadora, tem sido sugerido que o som seria uma imitação das mordidas que o bichano daria na presa. “Um gato quando vê um passarinho inalcançável e imita uma matança por mordidas de forma estereotipada.”
De acordo com Schötz, os kekekes podem servir para aliviar o estresse. E também podem surgir em outras situações. “Alguns gatos também tagarelam como forma de protesto, por exemplo, quando sentem que foram maltratados por seus humanos ou quando estão aborrecidos”, explica.
Chilrear
Na língua inglesa, chirping. De acordo com a pesquisadora, o chilrear dos gatos soa quase como “meh” ou “eh” e lembra o canto dos pássaros ou o som de roedores. Alguém também pode achar semelhante ao toque de um telefone.
“Esses sons são frequentemente repetidos em sequências como meh, meh, meh”, ilustra Schötz. “O chilrear, às vezes, pode ser um pouco rouco ou cru e com som semelhante a um miado ou rosnado”, compara.
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O trabalho de Schötz ainda coloca duas subdivisões no chilrear: tweeting, para sequências curtas, e tweedling, para sequências longas. Nessas duas subdivisões, são listados outros sons, como alguns iniciados com a vogal ‘u’ e outros que são sequências de vogais emitidas pelos bichanos quando “hipnotizados” pela visão de um passarinho.
Pesquisa sobre gatos fazendo kekeke foi premiada
A pesquisa de Schötz sobre por que os gatos fazem kekeke lhe rendeu, em 2021, o Prêmio Ig Nobel de biologia. A premiação, bem-humorada, lançada como uma paródia do Nobel, é dedicada a homenagear feitos inusitados no mundo científico, que fazem as pessoas rirem e depois pensarem.
“O Ig Nobel de Biologia de 2021 foi concedido a Susanne Schötz, Robert Eklund e Joost van de Weijer, por analisar variações no ronronar, chilrear, tagarelar, trinar, tweedling, murmurar, miar, gemer, chiar, assobiar, uivar, uivar, rosnar e outros modos de comunicação gato-humano”, anunciou a organização do prêmio.
Assista ao vídeo, divulgado pela organização do Ig Nobel, no qual a pesquisadora explica mais sobre seu trabalho (você pode ativar legendas em português)!
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