(acafe) assinale a alternativa cujo texto está de acordo com as normas da língua escrita padrão.

  • Denunciar

a Barandão numa casa da cidade alta. As calças tinham ficado enormes para o negrinho, ele então as ofereceu a Dora. Assim mesmo estavam grandes para ela, teve que as cortar nas pernas para que dessem. Amarrou um cordão, seguindo o exemplo de todos, o vestido servia de blusa. Se não fosse a cabeleira loira e os seios nascentes todos a poderiam tomar por um menino, um dos Capitães de Areia. No dia em que, vestida como garoto, ela apareceu na frente de Pedro Bala, o menino começou a rir. Chegou a se enrolar no chão de tanto rir. Por fim conseguiu dizer: – Tu tá gozada... Ela ficou triste, Pedro Bala parou de rir. – Não tá direito que vocês me dê de comer todo dia. Agora eu tomo parte no que vocês fizer. AMADO, Jorge. Capitães de areia. In: GOMES, Álvaro Cardoso. Jorge Amado. São Paulo: abril Educação, 1981, p. 38-39. (Literatura Comentada). [Fragmento]. ===================================================================================== 05) Sobre o texto 3, é correto afirmar que: A  Jorge Amado incorpora a seu texto dados da linguagem popular, visando à naturalidade e espontaneidade da fala. Alternativa correta. As expressões “tu tá”, “vocês me dê de comer”, “vocês fizer” são exemplos de linguagem popular e são consideradas desvios da norma culta e da norma padrão. Quem trocou o vestido por umas calças foi a personagem Dora. Quem tinha a cabeleira loira era Dora. O pronome pessoal oblíquo átono “as” substitui “as calças”. B  numa casa da cidade alta, Barandão trocou o vestido por umas calças. C  o menino que queria se tornar um dos Capitães de Areia tinha uma cabeleira loira. D  em “Assim mesmo estavam grandes para ela, teve que as cortar nas pernas para que dessem”, o pronome pessoal oblíquo átono “as” substitui “as pernas”. ===================================================================================== 06) Sobre o texto 3, assinale a alternativa correta. A  As calças tinham ficado grandes para o negrinho, mas serviram muito bem em Dora, exceto na cintura. 9 B  Em “Amarrou um cordão, seguindo o exemplo de todos, o vestido servia de blusa”, todos os verbos têm o mesmo sujeito. C  Em “– Não tá direito que vocês me dê de comer todo dia. Agora eu tomo parte no que vocês fizer”, todos os verbos apresentam desvios da norma padrão, ou seja, não concordam com os respectivos sujeitos. D  Em “– Tu tá gozada” há dois desvios da norma padrão da língua portuguesa: (i) o verbo apresenta uma forma reduzida e (ii) o verbo não concorda com o sujeito da oração. Alternativa correta. Considerando a norma padrão e que o sujeito da oração é “tu”, o verbo “tá” deve ser grafado na forma “estás”, na segunda pessoa do singular. O sujeito de “amarrou” e “seguindo” é “Dora”, mas o sujeito de “servia” é “o vestido”. Todos os verbos apresentam desvios da norma padrão, exceto “comer” e “(eu) tomo”. As calças também ficaram grandes para Dora, tanto que ela precisou cortas as pernas (das calças). ===================================================================================== 07) Assinale a alternativa em que o texto está adequado às normas da língua portuguesa padrão. A  Tinha que desmembrar alguns juízes do STF. Ajudaria muito. Tem juízes da primeira e segunda estância que seriam muitos mais úteis do que esses balelas que estão hoje por aí. Mandar eles para o interior do Brasil sem mordomia nenhuma. B  Esse comportamento não só é permitido, como representa a opinião de 90% dos moleques mimados e ignorantes do grupo. Os outros 10% estão aqui porque chegaram a pouco tempo, vieram aqui na tentativa ingênua de que dá pra dialogar com esses imbecis ou querem zuar com a cara deles (meu caso). C  Em 1991, o analfabetismo no Rio de Janeiro era 2,5 vezes maior entre negros do que entre brancos, e quase 60% da população negra com mais de 10 anos não haviam conseguido ultrapassar a 4a série do ensino fundamental, contra 39% dos brancos. Alternativa correta. A frase sobre analfabetismo no Rio de Janeiro está de acordo com as normas de língua padrão escrita. Em B, na primeira frase a conjunção “como” deve ser substituída por “mas também”; na segunda frase, “chegou a pouco tempo” deve ser corrigido para “chegou há pouco tempo”, “pra” por “para” e “zuar” por “zoar”. Em C, os termos “desmembrar” e “estância” estão mal empregados. No verbo “tem”, equivalente a “existem”, deve pôr o acento circunflexo (têm). Em “mandar eles”, como o verbo é transitivo direto, o pronome “eles” deve ser substituído pelo pronome “o”, que se modifica em “lo” (mandá-lo). Em D, “cujos os assessores” deve ser “cujos assessores”; o pronome relativo “as quais” não pode ser precedido, nesse caso, pela preposição “de” (de + as); a palavra “reinvindicação” apresenta erro ortográfico, devendo ser corrigida para “reivindicação”. D  O secretário, cujos os assessores tinham acabado de sofrer graves acusações, tinha que redigir duas portarias, das quais deveriam estabelecer novas regras para a importação, já que isso era uma reinvindação antiga da classe produtiva. ===================================================================================== 08) Preencha as lacunas com pronomes relativos que, quem, onde, cujo/cujos/cuja/cujas, precedidos ou não de preposição, conforme exige o contexto frasal. I Devido à longa estiagem, a vida na fazenda _________ sempre tirou o seu sustento tornava-se cada vez mais difícil. ll As minas de ouro ___________ profundezas foram retiradas as mais valiosas pepitas há alguns anos são improdutivas atualmente. lll Os novos escritores _________ a academia deseja prestar homenagens na sessão de amanhã são de Teresina (PI) e de Cabedelo (PB), respectivamente. lV Os policiais que foram encarregados de investigar o furto dos celulares no hangar do Galeão querem descobrir __________ as câmaras de monitoramento não capturaram nenhuma imagem dos criminosos. V A clorofila, ________ existe nas plantas, é responsável pela fotossíntese. Os pronomes e respectivas preposições que preenchem corretamente as lacunas, de cima para baixo, são: A  de quem, de onde, para quem, em que, a que B  de onde, de cujas, a quem, por que, que Justificativa: Na frase I, “na fazenda” é advérbio de lugar e, como tal, é possível a substituição pelo pronome relativo “onde”, precedido pela preposição “de” (de onde tirou / retirou de+a fazenda). Na frase II, “de cujas” exprime ideia de posse/pertencimento (profundezas das minas de ouro). Na frase III, [...] a academia deseja prestar homenagem a quem? (aos escritores). Na frase IV, “[...] descobrir por que as câmaras [...], isto é, [...] por 10 qual motivo as câmaras [...]. Na frase V, o pronome “que” retoma e substitui “clorofila”, ou seja, “a clorofila existe nas plantas”. C  a que, de cuja as, em cuja a, onde, para que D  em cujas, de que, onde, de quem, em que ===================================================================================== 09) Analise a afirmativas a seguir. I Na frase “Quando eu _______ um, dois, três, _______ correndo”, as lacunas podem ser corretamente preenchidas, respectivamente, com os verbos “disser” e “saia”. Il No texto “Encontraram-____ morto antes mesmo de conseguir vê-___ preso”, as lacunas podem ser corretamente preenchidas, respectivamente, por “lhe” e “lo”. lll Na frase “Era, de fato, um gol que não se defende”, o termo destacado é uma oração adjetiva, equivalente ao adjetivo indefensável. lV Na frase “Entrega essa caixa de tomates para a irmã de Maria Rosa, que mora perto da ponte”, existe ambiguidade de sentido, pois a oração “que mora perto da ponte” pode tanto se referir a Maria Rosa quanto à irmã dela. V Em “O governo cede a pressão e envia o projeto de lei a Câmara dos Deputados sem, ao menos, submetê- lo a revisão jurídica”, faltou indicar apenas duas ocorrências de crase. Vl A frase “Informei-lhes que não viria na próxima reunião por motivo de viagem” pode ser reescrita, em

Para responder à questão, leia o texto a seguir.

ANOTAÇÕES SOBRE INOCÊNCIO DA PAIXÃO, UM HIPOCONDRÍACO

Inocêncio Paixão era hipocondríaco e viciado em remédios. Sofria de 39 doenças imaginárias, algumas tão raras que desafiavam as maiores autoridades no assunto. Bastava alguém espirrar perto para Inocêncio da Paixão ficar gripado. E não era uma gripezinha boba que vitamina C e cama curavam, não. Era gripe com direito a febre de 40 graus e a delírio. Molhava pijamas e mais pijamas, de tanto que suava, e, em seus delírios, via-se de novo na casa da mãe, na rua Paraíba.

A casa tinha um quintal, onde um sabiá cantava, e galinhas ciscavam a terra. E Prima Mariana vinha. Prima Mariana era morena, verdes, feiticeiros olhos, e já vestida de noiva, com véu e grinalda, deixou o pobre Inocêncio esperando na igreja, no dia do casamento, e disse aos pais e às amigas:

– Eu, hein Rosa, só se eu fosse uma louca de casar com Primo Inocêncio: ele ama mais os remédios que a mim: a aspirina é mulher de sua vida.

O perfume preferido de Inocêncio era o cheiro de remédio, cheiro de farmácia. Ah, com que sofreguidão Inocêncio ia às farmácias para ver os últimos lançamentos dos laboratórios. Ficava horas e horas cheirando os frascos dos novos medicamentos e ia para casa levando remédios para todos os males. Inocêncio era um ávido leitor. Mas não pensem que lia os livros mais vendidos ou indicados pelos amigos. Os best-sellers na estante de Inocêncio eram as bulas de remédios. Sabia de cor e salteado as bulas e declamava a fórmula dos medicamentos como se declamasse um poema de Adélia Prado ou de Manoel Barros.

Quando ficou noivo de Prima Mariana, Inocêncio comprou uma aliança de brilhantes e mandou flores com um cartão em que dizia: “Mariana, você é a vitamina que eu pedi a Deus.” Não por acaso, Prima Mariana era médica. Passou, por sinal, a maior parte do tempo do noivado, já formada em medicina, cuidando da hipocondria do noivo. Até essa época, Inocêncio sofria, como já foi dito, de 39 doenças imaginárias. Bastava ouvir alguém falar numa doença que sentia logo todos os sintomas. Alguém estava com úlcera? Inocêncio logo passava a cultivar uma úlcera como uma flor. Diabetes? Lá ia Inocêncio prescrevendo a si mesmo regime alimentar que quase o matava de inanição. Cortou o açúcar de sua vida e enviou flores a Prima Mariana com este cartão:

– Você é o que restou de doce em minha vida, Prima Mariana.

Uma vez, Inocêncio achou que estava sofrendo de Aids. Não, não era de nenhum grupo de risco, não. Nem era dado ao uso de droga alguma, quanto mais através de pico. Aconteceu que Inocêncio foi ao Rio de Janeiro e ficou hospedado num famoso hotel, o que não impediu que os pernilongos não o deixassem dormir. No meio da insônia, Inocêncio suspeitou que o apartamento em questão tinha sido ocupado, dois dias antes, por um famoso roqueiro, que estava com Aids. Prima Mariana foi acordada em casa, em Belo Horizonte, por um telefonema de Inocêncio perguntando:

– Pernilongo transmite Aids?

Estava certo de que os pernilongos tinham ferroado o roqueiro e, agora, transmitiam a Aids. Pobre Prima Mariana. Nunca ficou livre de Inocêncio. Noites dessas, foi acordada por Inocêncio, que ia se internar num famoso hospital. Não, desta vez não sofria mais um infarto imaginário. Desta vez sentia todos os sintomas da febre amarela. Preparou-se para morrer. Quando a equipe médica chefiada por Prima Mariana examinou-o e disse que estava são como um coco, Inocêncio ficou desolado. Consolou-se com a suspeita de que já estava na idade de ter problemas com a próstata.

(DRUMMOND, Roberto. Melhores crônicas. São Paulo: Global, 2005, p.83-85.)

Page 2

Leia o texto a seguir para responder a questão.

Texto

Nem aqui, nem lá: os efeitos da transnacionalidade sobre os migrantes*

    Ao se mudar para um novo país, um imigrante enfrenta as dificuldades da distância de amigos e de familiares e, a curto prazo, sofre adversidades no processo de integração. Por mais que uma rede de contatos se forme aos poucos, com a distância, os obstáculos são enfrentados sozinhos, e enquanto o migrante estiver fora de seu país de origem, vai passar por uma situação comumente conhecida como “nem aqui, nem lá.”

    Nem aqui, pois dificilmente o imigrante ficará 100% integrado, sempre levando consigo a cultura e os costumes do país de origem. E nem lá, pois, enquanto estiver afastado, estará distante de seu país de residência habitual, perdendo acontecimentos importantes e querendo estar próximo dos entes queridos. Assim é a vida de todos que escolhem ou que precisam continuar suas vidas longe de seus países de origem.

    Quer seja um imigrante, quer seja um refugiado, os momentos difíceis são os mesmos no que diz respeito à cultura, aos entes queridos e aos momentos para se dividir. Estar com alguém do mesmo país ameniza as dificuldades, e com a tecnologia fica relativamente possível estar mais próximo, mas ainda assim, estar em outro país, longe dos costumes e da vida habitual, mexe com todos aqueles que emigram.

    Como nação, as pessoas geralmente dividem um sentimento de identidade e de pertencimento, envolvendo uma consciência nacional. O Brasil, tendo sempre sido um país que acolheu e acolhe diversas nacionalidades, fez da heterogeneidade algo natural.

    No entanto, para que essa identidade coletiva seja formada, geralmente há um conjunto de dialetos, de línguas, de religião nacional, de cidadania, de serviço militar, de sistema educacional, hinos e bandeiras que precisam ser usados como ferramentas para criar algo mais homogêneo. É preciso olhar para a sociedade que está recebendo e perceber suas características. Mas como os imigrantes podem perceber as mudanças que estão ocorrendo no processo migratório? É uma dinâmica que muitas vezes leva ao “nem aqui, nem lá”. Através da assimilação, os imigrantes aos poucos deixariam de lado sua cultura do país de origem e se tornariam parte do país que os recebeu. Com a integração, no entanto, ambas as culturas se acomodam: os recém-chegados se adaptam gradualmente, mas há também transformações no país que decide hospedar.

    Desse modo, o “nem aqui, nem lá”, um efeito da transnacionalidade, é um processo simultâneo que mexe com os imigrantes nos países de destino e seu envolvimento com a sociedade local. O que pode minimizar esse choque são comunidades que promovam a incorporação desses imigrantes, para que haja esforços mútuos das nacionalidades envolvidas e essas saiam ganhando com um ambiente mais diverso e plural.

    Ao mesmo tempo, a transnacionalidade permite que esses indivíduos mantenham identidades múltiplas, contatos e afiliações. Esse fenômeno tem efeitos positivos e negativos, tanto para aqueles que se mudam para outro país, como para os que ficam. Como impactos negativos, pode ser mencionado que geralmente pessoas transnacionais têm que lidar com um sentimento de não pertencimento, quando inicialmente é difícil se estabelecer em um lugar onde eles tentam fazer parecer como um lar. Além disso, alguns expatriados podem viver numa “bolha nacional” fora de seu país de origem, não dispostos a integrar, nem de aprender a língua ou fazer alguns esforços para se adaptar à nova cultura. Como pontos positivos, os transnacionais têm a possibilidade de enviar remessas e de dividir conhecimentos e experiências culturais com os que ficaram para trás.

    Migrantes transnacionais têm que lidar com desafios diferentes quando se movem. Embora pudesse ser dito que seja mais fácil migrar agora por conta da tecnologia e lugares mais heterogêneos, ainda é difícil passar por um processo de integração, algo que depende dos esforços dos imigrantes, pois a integração é uma via de mão dupla, que pode ser amenizada quando a população local é mais aberta ao diverso e ao acolhimento.

*Migrante: o que muda de lugar, de região ou de país. (DICIONÁRIO ON LINE). Disponível em: www.dicio.com.br/migrante/. Acesso em: 30 jan. 2020 (adaptado).

Page 3

Para responder a questão, leia o trecho do drama , de Álvares de Azevedo.

MACÁRIO (chega à janela): Ó mulher da casa! olá! ó de casa!

UMA VOZ (de fora): Senhor!
MACÁRIO: Desate a mala de meu burro e tragam-ma aqui...

A VOZ: O burro? MACÁRIO: A mala, burro!

A VOZ: A mala com o burro?

MACÁRIO: Amarra a mala nas tuas costas e amarra o burro na cerca.

A VOZ: O senhor é o moço que chegou primeiro? MACÁRIO: Sim. Mas vai ver o burro. A VOZ: Um moço que parece estudante?

MACÁRIO: Sim. Mas anda com a mala

A VOZ: Mas como hei de ir buscar a mala? Quer que vá a pé?

MACÁRIO: Esse diabo é doido! Vai a pé, ou monta numa vassoura como tua mãe!

A VOZ: Descanse, moço. O burro há de aparecer. Quando madrugar iremos procurar.

OUTRA VOZ: Havia de ir pelo caminho do Nhô Quito. Eu conheço o burro...

MACÁRIO: E minha mala?
A VOZ: Não vê? Está chovendo a potes!...

MACÁRIO (fecha a janela): Malditos! (atira com uma cadeira no chão)

O DESCONHECIDO: Que tendes, companheiro?
MACÁRIO: Não vedes? O burro fugiu...

O DESCONHECIDO: Não será quebrando cadeiras que o chamareis...

MACÁRIO: Porém a raiva...

[...]

O DESCONHECIDO: A mala não pareceu-me muito cheia. Senti alguma coisa sacolejar dentro. Alguma garrafa de vinho?

MACÁRIO: Não! não! mil vezes não! Não concebeis, uma perda imensa, irreparável... era o meu cachimbo...

O DESCONHECIDO: Fumais?

MACÁRIO: Perguntai de que serve o tinteiro sem tinta, a viola sem cordas, o copo sem vinho, a noite sem mulher – não me pergunteis se fumo!

O DESCONHECIDO (dá-lhe um cachimbo): Eis aí um cachimbo primoroso.

[...]

MACÁRIO: E vós? O DESCONHECIDO: Não vos importeis comigo. (tira outro cachimbo e fuma)

MACÁRIO: Sois um perfeito companheiro de viagem. Vosso nome?

O DESCONHECIDO: Perguntei-vos o vosso?

MACÁRIO: O caso é que é preciso que eu pergunte primeiro. Pois eu sou um estudante. Vadio ou estudioso, talentoso ou estúpido, pouco importa. Duas palavras só: amo o fumo e odeio o Direito Romano. Amo as mulheres e odeio o romantismo.

O DESCONHECIDO: Tocai! Sois um digno rapaz. (apertam a mão)

MACÁRIO: Gosto mais de uma garrafa de vinho que de um poema, mais de um beijo que do soneto mais harmonioso. Quanto ao canto dos passarinhos, ao luar sonolento, às noites límpidas, acho isso sumamente insípido. Os passarinhos sabem só uma cantiga. O luar é sempre o mesmo. Esse mundo é monótono a fazer morrer de sono.

O DESCONHECIDO: E a poesia?

MACÁRIO: Enquanto era a moeda de ouro que corria só pela mão do rico, ia muito bem. Hoje trocou-se em moeda de cobre; não há mendigo, nem caixeiro de taverna que não tenha esse vintém azinhavrado¹. Entendeis-me?

O DESCONHECIDO: Entendo. A poesia, de popular tornou-se vulgar e comum. Antigamente faziam-na para o povo; hoje o povo fá-la... para ninguém...

(Álvares de Azevedo. Macário/Noite na taverna, 2002.)

1azinhavrado: coberto de azinhavre (camada de cor verde que se forma na superfície dos objetos de cobre ou latão, resultante da corrosão destes quando expostos ao ar úmido).

Observa-se expressão empregada em sentido figurado na seguinte fala:

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